Freud, Eu e a verdade

Freud, Eu e a verdade

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É a busca da verdade algo que me toma por inteiro, e não raro, fico a meditar um tempo sem fim, a pensar nessa busca do que se pode, efetivamente, entender por verdade.

Digo que não unicamente a verdade filosófica, mas a verdade da verdade.

Entendendo sobre a verdade

O fato de conhecer a verdade, e ela nos libertar; de que verdade o profeta se refere? Existe uma verdade universal? Se existe, pode ela ser corporificada? Então, o que pensar do: “Eu sou o caminho a verdade e a vida”. Estaria Eu, à busca de uma aporia?! A verdade é axiomática?

De tudo isso, percebo a dificuldade de nos conectarmos, seja a um conceito, ou mesmo a uma definição. Mas, se um conceito nos move à diversidade de possibilidades, por outro lado, a definição pode nos circunscrever à nossa prepotência e arrogância.

Percebo que a questão de se buscar entender a verdade, de algum modo, somos levados a pensar, concomitantemente, o que é real, ou o que é realidade?

A verdade e o coletivo

Em algum momento, penso ser o Real algo subjetivo, e a Realidade o coletivo. Também sou intuído a pensar de uma forma temporal, em que a Realidade é o presente, o Real é o futuro, e a Verdade o passado. Mas, não a isso somente.

Há o que em mim, de algum modo, se manifesta à busca de um ideal a me objetivar encontrar respostas a questões tão envolventes, e que pululam a mente humana em um meditar filosófico, em um momento coletivo, em outro subjetivo.

Quando penso em minha subjetividade, transporto-me para o meu imaginário, e nele, passo a entender a realidade a partir de meu universo Real. Um real que já foi construído em muitas vidas vividas e aprendidas. Ao comparar esse aprendizado “aprendido”, constato que a realidade se manifesta como mais um percurso a ser vivenciado em um processo coletivo do aprender.

Relações intersubjetivas

É esse aprender vivenciado nas relações intersubjetivas que nos conduz perceber que somos seres sociais desempenhando papéis específicos em um contínuo desconstruir de nossa dependência de acreditar sermos autônomos, quando, na realidade, somos francos dependentes de tudo e de todos.

Se nos aprisionamos nessa dependência, como se dependentes fossemos de um poder instituído, a construir discursos rígidos e repetitivos, atolados em nosso abstruso alter ego. Então, devemos nos devolver aos significados perdidos para emergir a busca da verdade travestida de uma nova forma de vida. Digo, não a vida social que nos garante sustento e comodidade, mas a vida que comunga a vida, àquela há muito instituída como realidade a depender de nós para se revelar, ou mesmo, fazer-se presente e em constante movimento de criação.

Àquela que é a realidade por ser o verbo presente a anunciá-la em sua plenitude. A vida que traduz a realidade que nos conduz a processos de adaptabilidade à vida. Uma vez que viver a realidade é nos adaptarmos a novas formas de vida, mesmo que desconhecidas ainda sejam. Então, a realidade é a vida material. É àquela; a das paixões materiais, a subserviência ao consumismo, a servidão aos preceitos sociais de um poder instituído e transgredido na forma das opressões e insubstâncias do próprio poder.

Relação de poder e a verdade

E é justamente esta relação de poder, do poder pelo poder, que sangra nos algozes, e não basta a si próprio, mas, que aos outros impinge a responsabilidade de ser a justificativa do que essencialmente ele é. Não basta ser, é necessário que alguém o habilite, que alguém seja seu motivo de ser. Que alguém seja e sofra seu motivo de poder.

Mesmo sendo carrasco do outro, ainda assim, necessita que alguém seja seu executor. Essa realidade é, não raro, o confronto com o real. O real espiritual; àquele que nos revela sem a roupagem da sociedade.

É a parte essencial e destituída do conceitual, material. Mas do espírito como essência do que realmente somos quando nos revelamos em prepotência, arrogância, mesquinharia, hipocrisia; é esse Real traumático, impenetrável, cruel, vazio, sem sentido e pavorosamente prazeroso. Há quem nos fale dele assim.

Real e realidade

É conturbador entender que Real e Realidade são, essencialmente, diferentes, antagônicos; mas, ainda que assim o sejam, ambos, de algum modo, nos suscitam o viver.

Vivendo, compreendemos que a realidade traz como função precípua nos proteger do abismo do real. Somos o real identitário de ser humano, encarnados em uma roupagem social a nos suscitar provações e expiações que são nossa essência humana, porque nos incita a perceber o outro em nós mesmos.

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    Não basta provar dos nossos equívocos, precisamos expiar o resultado deles. Há nisso uma ética a ser construída, a ser considerada, e a realidade, de algum modo, uma ética própria que seria, antes, uma ética ou ensino das dificuldades que temos com o que é ideal em nós e com o que supomos ser nosso Bem.

    A verdade nas relações

    Portanto, com nossas relações apaixonadas com nós mesmos e uns com os outros. Também assim nos falam. Então, buscamos a ética, não a do senso comum, mas a ética que não nos favorece de algum modo. Àquela que nos suscita agir; não de um ponto de vista específico, mas, agir sem ser de ponto de vista algum.

    Uma vez que se pode ver esse sujeito, que ainda em vida, é uma perspectiva específica sobre a realidade, quando não, a magia do imaginário que nos conduz a idealizar uma certeza de nossa imortalidade como perspectiva à vida.

    Nesse momento, não há como pensar uma vida qualquer, mas, a vida que transcende a vida que supomos viver. Tal consciência, uma ética que encontramos no mundo como um teatro aberto das misérias humanas; as aberrações, os holocaustos, as guerras efêmeras, e somos convidados a desenvolver um certo desapego à vida.

    Crueldades e desinteresse

    Não unicamente a vida material, mas a vida que transcende àquela vida; e assim, por uma razão intrínseca, nos tranquilizamos por saber que esse teatro de crueldades não mais nos poderá fazer mal, quando a ética da morte, não a do corpo físico, mas, das mazelas que construímos, e despojados delas, algo nos suscita pensar a morte como o recomeço, um contínuo círculo infinito de pensar o outro como a nós mesmo.

    Então, amar o próximo como a nós mesmos, de algum modo, reveste-se de uma nova ética a nos aproximar do outro, a nos convidar um desinteresse que nos ensina desfazer de nossas paixões disruptivas, e somente assim, sofrer com as aflições do outro que é nosso ser em si, tanto quanto nossa própria pessoa.

    Esse próximo, que não seja o outro, mas, nós mesmos, encarnados em nós, como dois fossem um, e somente um, habitar o que nos parece dois a viver como um, em um processo contínuo, libertar-se para ver o outro.

    A verdade e a dualidade

    Aqui, a dualidade corpo e mente se desfaz. Há muito que seja assim, uma vez que a verdadeira dualidade nos convida viver o Real e a Realidade, não como corpo e mente, mas, a mente fendida para suportar a dicotomia sofrível da vida a nos convidar entender o conflito shakespeariano. Pode-se dizer não àquele por ele teatralizado. Mas o que nos impõe uma opção.

    Então, ser ou não ser, esta é a questão! – To be, or not to be, that is the question: Quem da morte pensar, se dá vida; a lembrar que a morte não mata o que se tem a viver. A morte, ser viver sem morrer. Aqui, não falo da morte do corpo, não essa. Mas a morte da vida, àquela que se vive morrendo a cada instante que se vive para a verdadeira vida.

    É ela que nos enclausura nas égides, não como proteção de Palas e seu escudo mágico, mas, o que resulta do que dele advém. Tal resultado é o que se tem para vencer, ser ou ser, é o que de mais nobre, filosoficamente, podemos a nós mesmos propor; e quando não, ainda que nos seja a opção, ainda assim, estamos um dia fadados a ser infinitamente.

    Realidade travestida

    Esse momento filosófico, deixa claro que o sujeito da dúvida não é o indivíduo da certeza, mas, ambos buscam a certeza de ser. Seja ela Real, ou, puramente uma realidade travestida de verdades.

    O que necessito deixar claro, é que a verdade é nós. Porém, a poesia da vida é descobrirmos em nós, essa verdade de ser. Por isso, conhecer a verdade é nos libertar de nós mesmos, e o outro deixará de ser o que nos impede de ser o que devemos ser. E aí, nos resta responder uma única questão: Ser o que?

    Só vamos obter essa resposta a partir do momento que nos lançarmos ao insólito, em uma viagem sem volta, porque ignorantes nascemos, e nossa fatalidade é o conhecimento. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses. Como dito por um filósofo transcendente, vós sois deuses; e tenho dito, os limites de um Deus é ele mesmo.

    Processo de aprendizagem

    Então, obrigado por terem chegado até aqui. Agora, podem ir adiante, e o que se sucede é um pouco do que me conduziu entender um pouco mais de mim, consequentemente, passei a entender o outro em mim. Agora, viver é um sentido circular, quanto mais aprendo, mais vivo; quanto mais vivo, mais aprendo.

    Conhecer-te, de algum modo, permitiu-me entender a vida, que para mim, antes era a morte somente. Hoje, só sei que nada sei.

    Então, a razão filosófica dessa máxima, ainda que transcende às épocas, ainda hoje me impugna a mim, e somente a mim, de algum modo, tecerei deferência. E tudo que doravante disser, é o que me contaram em meu processo de aprendizagem unicamente.

    Conclusão

    Por isso, que seja assim, um pouco de minhas verdades, e o muito das verdades que me contaram, tudo isso, certamente, é o que vai compor as nossas verdades. Como um brinde aos aprendentes, vamos uníssonos ao nosso aprendizado.

    Seja por que motivo nos conduziu a ler estes escritos, certamente, há algo em nós que nos espera concluir aqui o que buscamos entender de nós mesmos.

    Então, minhas palavras não encerram verdades, mas as busco nas muitas verdades que a gente tem para ofertar a quem de bom grado deseja aprender a aprender. Se somos a verdade um do outro, onde há verdade?

    Este artigo foi escrito por José Roberto Pinto é Psicanalista Pedagogo. Atua nos conflitos relacionais e nas dificuldades de aprendizado. Contato: [email protected].

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