Fuga da realidade

Fuga da Realidade

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O que você sabe sobre a fuga da Realidade? Desde os tempos remotos é possível observar a tendência dos seres humanos a fugir da realidade, ainda que essa fuga seja muitas vezes momentânea.

Entendendo a fuga da Realidade

Quando se estuda antropologia, pode-se perceber que há muito tempo, histórias de ficção eram criadas entre os primeiros conglomerados humanos, e a existência de mitos e contos são presentes em todas as culturas e civilizações até os dias atuais. Esta necessidade de escapar da realidade está atrelada à fuga do desconfortável, da dor, das angústias e medos.

Seria uma forma alternativa de ignorar as vivências que não estão em conformidade com os desejos intrínsecos de cada um, ou que não podem ser explicadas de modo racional. Através da capacidade humana de pensar, é possível imaginar uma realidade diferente da que se vive, porém, essa realidade criada corresponde à fantasia, que se limita apenas ao campo das ideias, e em muitas ocasiões, nunca se materializa.

Todo indivíduo com suas faculdades mentais funcionando com perfeição já fantasiou em algum momento da vida. Sonhar acordado a respeito de um futuro ideal ou passar horas imaginando como seria viver um romance avassalador com alguém são exemplos de fantasias comuns.

Fuga da Realidade e a fantasia

A fantasia passa a ser prejudicial quando se sobrepõe à realidade, e a pessoa se mantém presa na idealização, recusando-se a encarar o mundo externo e concreto. As crianças são especialistas em fantasiar, vivem no mundo da imaginação, onde tudo é possível.

Elas amam contos e historinhas, passam horas brincando e dando vida à bonecos inanimados, se identificam e se consideram super-heróis, afirmam ter superpoderes, e imergem num mundo paralelo onde podem ser fadas, duendes ou até mesmo um adulto.  Nas brincadeiras de “faz de conta” se comportam como atores nas novelas e filmes, vestem o personagem e os interpreta dentro da sua capacidade de imitação.

Mas à medida que o tempo vai passando, e a criança vai se desenvolvendo gradualmente, ela percebe que o mundo não é tão belo e tão doce quanto se apresentava nos desenhos animados. Aos poucos, vai percebendo que o papai noel não virá trazer presentes no Natal, e que quem colocava o presente no lugar do dentinho, era a mamãe e não a fada do dente.

Um mundo de responsabilidades

A criança começa a ser inserida num mundo de responsabilidades, e então o tédio passa a fazer parte de suas vidas. Agora ela não pode mais brincar o tempo inteiro, ela precisa estudar também, ir para a escola, dividir brinquedos, obedecer aos mais velhos, e a lista de obrigações só aumenta com o tempo, até chegar ao ponto em que os bonecos são deixados de lado, os livros de historinhas infantis são doados para uma biblioteca, as fantasias de super-heróis são guardadas no porão.

O psicanalista Freud estudou sobre esse processo de amadurecimento, em que a criança deixa de ser regida pelo princípio do prazer e passa a ser regida pelo princípio da realidade. Ele afirma ser um processo que acontece à medida que os pais, familiares, professores e a sociedade em geral passa a integrar a criança na civilização e na cultura vigente.

É então que se ensina os valores morais, as tradições, os costumes e as regras presentes na vida adulta. Esse processo de amadurecimento gera sofrimento psíquico, porque agora não se pode mais realizar todos os desejos, e é nesse momento que a repressão começa a acontecer.

Fuga da Realidade e os desejos

Alguns desejos precisam ser reprimidos e passar pelo crivo social. Logo, é comum ouvirmos pessoas dizerem “como eu queria voltar a ser criança, a vida do adulto é muito difícil”, ou “aproveitem enquanto são crianças, essa é a melhor fase da vida, porque a vida de um adulto é repleta de responsabilidades e obrigações”.

A realidade se apresenta ao adulto como um conjunto de impossibilidades e obstáculos, que o mesmo terá que enfrentar e superar para realizar seus desejos. A percepção adquirida é a de que para tornar os sonhos realidade é muito mais complicado do que se pensava.

Tirar as ideias do campo da imaginação e concretizá-las é desafiador. As frustrações agora fazem parte da rotina cotidiana. Mesmo fazendo tudo que se espera, os planos podem não acontecer de acordo com as expectativas, pois existe um mundo exterior onde os fenômenos naturais, a cultura, a sociedade influenciam diretamente nesses acontecimentos.

Expectativas reais

As expectativas agora precisam ser reais, pois se não são, causam angústias e decepções contínuas. No desenvolvimento da personalidade humana, surgem os mecanismos de defesa do ego, que servem exatamente para manter o indivíduo na esfera do ideal, e afastá-lo de tudo que possa provocar dor ou sofrimento ao mesmo, tudo que possa abalar a visão subjetiva que o mesmo possui do mundo e de si mesmo.

O intuito é a proteção, mas muitas vezes esses mecanismos de defesa se tornam prejudiciais, pois ao evitar a exposição aos problemas, aos desafios, e às dificuldades, afasta-se da realidade e não se consegue evoluir, conquistar, avançar e amadurecer. Um dos mecanismos de defesa mais observados é o de negação. A pessoa nega a realidade exterior e a substitui pela criação de uma realidade ficcional.

Um exemplo claro disso são pessoas que perderam entes queridos e normalmente não aceitam a perda de início, e em casos mais graves, permanecem negando ao ponto de ignorar o luto e agir como se o ente querido ainda estivesse vivo. É nesse contexto que surgem as psicoses, e transtornos relacionados a esse traço de personalidade.

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    A fuga da Realidade e a regressão

    A regressão é outro mecanismo que busca fugir da realidade, recorrendo a um comportamento infantil. São aqueles adultos que quando sofrem pequenas frustrações no dia a dia, reagem de maneira infantil, choram, fazem birras e se comportam exatamente como crianças mimadas quando não conseguem aquilo que desejam. Podemos constatar a fuga da realidade em várias situações do cotidiano.

    Pessoas que passam horas jogando vídeo game, pessoas que ingerem excessivamente bebidas alcoólicas, que passa dias maratonando séries na netflix, que abusam de entorpecentes químicos, que recorrem à experiências alucinógenas com frequência, que dormem demais e etc. Esses exemplos e muitos outros mostram que a fuga da realidade é mais comum do que se possa imaginar.

    E a pergunta que fica é: o que você está tentando esquecer, ou do que está tentando fugir quando passa horas jogando vídeo games? Ou quando se embriaga? Ou menos quando usa drogas pesadas? O que você está evitando olhar?

    Conclusão

    Fugir da realidade momentaneamente traz a falsa sensação de descarte dos problemas. Mas a fuga da realidade não dissolve os problemas, pelo contrário, os perpetua e intensifica. Empurrar a poeira para debaixo do tapete não faz com que a poeira deixe de existir, só a acumula, até chegar ao ponto de não ter mais como ignorá-la.

    Portanto ao invés de evitar os problemas, os desafios e as dores na vida, é necessário compreender que a evitação dos mesmos gera ainda mais conflitos e dores, porque no fim o sofrimento é inevitável. A vida é cercada por problemas, e eles existem para serem solucionados.

    Sendo assim, é importante compreender que quando se é adulto, se faz essencial assumir responsabilidades, tomar decisões e arcar com as consequências das mesmas. Fantasiar é bom, sonhar acordado de vez em quando traz sensações maravilhosas, mas é preciso abrir os olhos, pôr os pés no chão e abraçar a realidade com coragem.

    Esse artigo foi escrito pela aluna Ivana Oliveira do IBPC, graduanda de psicopedagogia. Para entrar em contato, é só enviar um email para este endereço: [email protected]

    2 thoughts on “Fuga da Realidade

    1. Muito esclarecedor! Ótimo texto. Bem escrito

    2. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns! Muito bom artigo, É da natureza das crianças terem fantasias, o problemas é que nós adultos potencializa. Tem um verso bíblico que diz: “Quando eu era criança, falava,pensava e raciocinava como criança. Mas quando me tornei homem, meus pensamentos se desenvolveram muito, além dos meus pensamentos da minha infância, e deixei para trás as coisas de criança.” I Corintios.13:11 NBV-P

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