gênero e sexo

Gênero e Sexo: conceitos e diferenças na sociedade

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O presente artigo analisa criticamente as concepções e papeis de gênero e sexo na sociedade. Alguns dos problemas levantados foram: a constituição do binômio Masculino-Feminino como uma normalidade, a posição do feminino no âmbito social e quais são as outras possibilidades do sujeito se expressar no mundo.

Entendendo sobre gênero e sexo

As discussões acerca da construção e decadência de parâmetros sociais têm ganho destaque no mundo contemporâneo. Entre elas, uma das mais relevantes diz respeito aos estudos de gênero na sociedade ocidental. Com efeito, a imagem fundadora do pensamento no Ocidente e, especialmente, do pensamento Brasileiro e latino-americano é baseada no binarismo Homem-Mulher. Essa ideia se vincula intimamente a uma designação arbitrária que se atribui ao sujeito logo após seu nascimento tendo como base o sexo biológico do indivíduo.

Não obstante, semelhantes designações começam a apresentar sinais de desgaste e degradação no tempo presente. Novos estudos têm aberto espaço para retificações e reconsiderações importantes no que diz respeito à arbitrariedade da denominação binomial Homem-Mulher não somente do ponto de vista biológico e social, mas fundamentalmente a partir da ruptura desse sistema como um todo. Isto é, não apenas a ideia de que o gênero é atávico ao sexo biológico, como também principiamos a perceber que as possibilidades de posicionamento social do sujeito são muito mais amplas do que o binômio Homem e Mulher.

Novas perspectivas são lançadas sobre a percepção do ser social, como o questionamento do poder do homem e do patriarcado, o lugar do feminino por ele mesmo (e não a partir de uma posição de “Não-Fálico”) e, sobretudo, a própria indagação acerca do que é o gênero na sociedade.

Construção do sujeito, gênero e sexo

Nesse ínterim, podemos afirmar que a percepção e construção do sujeito a partir do gênero é um fato social presente em nossa cultura como um todo. Desse modo, ser Homem ou Mulher está muito além de se possuir um pênis ou uma vagina.

Gênero e sexo diz respeito ao que é esperado do indivíduo no meio familiar, social, pedagógico, político e social como um todo. Seguramente, pois, podemos afirmar que os indivíduos são percebidos antes de mais nada pelo seu gênero, de modo que apenas um olhar sobre a aparência do ser social já agrega prerrogativas do que é ou não esperado que ele seja e como se (com)porte.

A construção dos papéis de gênero

Segundo STERNS (2007) “Apesar dos avanços consideráveis das últimas décadas, a história das relações de gênero ainda é um tema em construção.” Isso implica dizer que o tema acerca do que é o gênero no âmbito social ainda é algo obscuro e ignorado. Em parte isso se deve ao fato de haver uma construção histórico-social que associa o sexo biológico (macho e fêmea) a conceitos que são sumamente sociais (homem e mulher).

Essa ordem social se ampara em uma lógica baseada na exclusão pela identidade. Ou seja, a distinção social entre masculino e feminino baseia-se na distinção entre quem possui o Falo e quem não o possui. Naturalmente, essa concepção implica o questionamento acerca do lugar de ser da mulher como sujeito, pois essa posição é questionada diante do pressuposto de que a mulher deriva do homem.

Mais especificamente, a mulher seria a “ausência do masculino”. Há muitos artifícios sociais para respaldar tal pensamento. No entanto, buscando o que há de mais próximo, o mito da criação segundo o Cristianismo oferece uma base firme de paradigmas sociais capaz de não somente sustentar como fomentar a distinção entre os gêneros dentro da concepção binária de ser.

O lugar do não-fálico,  gênero e sexo

Dentro de uma ontologia social baseada na presença ou não do falo, o lugar designado ao feminino é simbolicamente um Não-Lugar. Isto é, na medida em que a oposição entre os gêneros se fundamenta na ausência de algo, a concepção do feminino como algo distinto identitariamente do masculino é vedada e substituída pela ideia do feminino como a falta de um elemento. Esse pensamento esteve presente na cultura por séculos, tendo ganho espaço até mesmo na literatura médica dos séculos XV e XVI, na qual se acreditava ser todo espermatozoide originalmente masculino e que, por algum advento, se desenvolveriam como fêmeas.

Essa percepção é um contínuo no pensamento ocidental. No final do Séc. XIX e início do XX, Freud se deteve sobre essa ideia para conceber diversos postos-chave da teoria psicanalítica. Entre eles, enumeramos: o conceito de Falo como signo de poder, a Inveja do Pênis como elemento constituinte no desenvolvimento da mulher e a Sexualidade como algo que se desenvolve a partir de experiências.

Deve-se assinalar que o Falo está associado ao pênis, na medida em que esse último representa a posição de poder do homem na sociedade. Contudo, “fálico” é um atributo empregado na descrição de diversos objetos representantes de poder. Assim, um cargo, uma carreira, uma posição social ou familiar podem ser objetos fálicos, pois carregam simbolismos de poder.

O estigma do corpo feminino

Pode-se lançar uma mirada acerca do estigma do feminino a partir de diversos olhares. Por esse viés, diversas épocas se destacaram pondo em prática olhares que pinçaram distintos pontos de vista acerca de tal temática. Alguns dos arquétipos mais observados, ou seja, aqueles que mais estiveram presentes no trato com as distintas mulheres de cada tempo, foram: I- A Mãe II- A Amante III- A Virgem IV- A Velha Sábia

Observe-se que cada arquétipo agrega um olhar específico do sujeito masculino para com a utilidade do corpo feminino. A Mãe é simbolicamente o Corpo Gerador. Ela é aquela que traz a vida e o corpo sacralizado, sexualmente acessível apenas ao Pai. A figura da Mãe é explorada na obra freudiana, embora, deva-se ponderar que a perspectiva de Sigmund Freud é igualmente fálica. Portanto, todas as considerações por ele estabelecidas são perspectivas de observação.

A Amante é o Corpo Disponível. Ela simboliza a mulher de vida fácil, um objeto disponível para o prazer masculino. A Amante é o corpo com o qual se obtém o prazer, com o qual o sexo é livre. Porém, o amor para com a amante é impossível. A Virgem é o Corpo Desejado. A mulher virgem carrega uma sorte de “prêmio” que o homem deve conquistar e, desse modo, ela é um objeto de desejo, mas não de prazer.

A virgem desejável e o corpo misterioso

O que faz a Virgem desejável não está em si, mas sim no valor social agregado ao homem que a deve conquistar e, nesse sentido, o desejo pela virgem é narcísico. Afinal, o prazer não vem de realizar o ato sexual com a mulher, mas sim em demonstrar-se capaz de conquistá-la. Finalmente, a Velha Sábia é o Corpo Misterioso.

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    Ela representa a atonicidade do masculino frente a um feminino hermético e desconhecido. Por esse motivo, o corpo da velha sábia é comparável ao da Mãe e dele se aproxima na figura da Avó. Dele, contudo, se diferencia por não ser um objeto de desejo sexual, senão que é um símbolo do desconhecido e desconcertante.

    Conclusão

    Nesse artigo, analisamos a presença do gênero na sociedade. Constatou-se que esse é um tema ainda incipiente e cujo estudo tem se mostrado necessário para o devido aprofundamento. Nesse contexto, percebemos como o binômio Homem-Mulher é arcaico e insuficiente para abarcar a complexidade dos sujeitos e, ao mesmo tempo, opera como um mecanismo político-social de exclusão e controle.

    Também percebemos a construção dos papéis de gênero tem como premissa a relação dos sujeitos com o poder. Isto é, a noção de fálico versus não-fálico dialoga com a correspondência biológica (falo e pênis), mas também se sobrepõe a ela, na medida em que o objeto fálico é entendido como uma representação do poder.

    Finalmente, estreitando o olhar para os sujeitos cis, notamos que as divisões arquetípicas sobre os sujeitos femininos é regimentada por um arbítrio de seus corpos para a atividade sexual. Isto é, pela disponibilidade daquele corpo para o ato sexual e em sua relação com o sujeito masculino: a mãe, a virgem, a prostituta e a velha sábia.

    Referências bibliográficas

    STERNS, Peter N. A história das relações de gênero, histórias em construção. Tradução de Mirna Pinsky. São Paulo, ed.Contexto. 2007.

    O presente artigo foi escrito por Ariel Von Ocker. Escritora, psicanalista, poliglota e acadêmica de Letras e História. Também já trabalhou no teatro como dramaturga e atriz. Autora com três livros publicados, atua desenvolvendo pesquisas na área da psicanálise, literatura sob perspectivas historiográficas e estudos de gênero. Atualmente se dedica também às artes plásticas através da iniciativa Projeto Simbiose, no qual atua no núcleo de direção em parceria com Michelle Diehl e Cristina Soares, além de ser editora chefe da Revista Ikebana. Contato: @ariel_von_ocker

    One thought on “Gênero e Sexo: conceitos e diferenças na sociedade

    1. Na época que a “Roberta Close” fez a transformação com a “colocação” da “vagina”, era como que valorizada essa “área feminina” como algo que proporcionasse bem mais prazer que o ânus, que “demorou” a ser “reconhecido” como parte da libido, onde o foco se atinha as nádegas! Nos tempos atuais, o que outrora poderia ser “problema” ao prazer sexual: nádegas “magras” e “juntinhas”, já ouvi que “mexe com imaginário masculino”! Já li em sites, mulheres como que “perdendo espaço”, com a divulgação do Orgasmo Prostatico, nas “entrelinhas” como se os “homens se completassem” pelo “encontro” pênis e próstata! Mesmo as lésbicas podendo chegar ao climax pelo sexo oral e carícias, ainda “recorrem” aos sex shops! Mas o “maior trunfo” que é difícil os homens deterem: a feminilidade, a escuta interativa, que leva muitos homens “se acenderem” elas deixam de lado! A vizinha do andar de cima, bem pragmática e adora “DR”, muito raramente deu de perceber ele indo ao banheiro depois de climax com ela! E são 10 anos de “vizinhança”!

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