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Individuação: como ocorre este processo na infância?

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Hoje entenderemos juntos sobre a individuação. Muito se fala no desenvolvimento físico e na educação formal das crianças, mas, qual seria a importância do desenvolvimento emocional infantil? De início já se pode frisar que os conflitos psíquicos afetam as crianças do mesmo modo que afetam os adultos e que ambos possuem plena capacidade de desenvolver suas potencialidades em totalidade.

Entretanto, é necessário considerar que crianças são seres humanos em formação e se auxiliados adequadamente possuem maior possibilidade de se transformarem em adultos mais completos e mais felizes.

As bases deixadas por Carl G. Jung e a individuação

O psiquiatra austríaco, Carl Gustav Jung desenvolveu suas pesquisas sobre o Processo de Individuação com grande ênfase na segunda metade da vida, deixando algumas bases para estudos posteriores acerca do desenvolvimento infantil.

Dentre essas bases, Jung coloca que a criança inicialmente se desenvolve por meio de um estado inconsciente, que aos poucos vai se diferenciando em uma consciência grupal, para enfim se tornar individualizada.

Dessa forma, tem-se que o ego da criança, nos primeiros anos, ainda não está totalmente diferenciado e sofre forte influência pelos afetos dos pais. Jung convoca, de pronto, os pais que desejam o bem estar da saúde psíquica dos seus filhos a lidarem com seus conflitos psíquicos, buscarem o autoconhecimento, uma vez que as crianças expressam o conteúdo inconsciente de seus pais e isso é o que mais as influenciará.

A individuação e as contribuições de Michael Fordham

Outro aspecto considerado inicialmente por Jung e posteriormente desenvolvido por Michael Fordham (1905-1995), analista junguiano e psiquiatra inglês, envolve a suscetibilidade das crianças às influências instintivas e arquetípicas. Fordham dedicou seu trabalho à observação clínica de crianças e descobriu símbolos do Self nos sonhos e fantasias das mesmas.

Por não terem o ego estruturado, elas possuiriam dificuldades para realizar a conscientização e integração dos conteúdos inconscientes, uma vez que as potencialidades arquetípicas de construção do ego de uma criança dependem do meio onde está inserida e os cuidados que recebe. Um bom vínculo de cuidado faz com que a criança se desenvolva da forma esperada.

As crianças não percebem apenas os conteúdos profundos de seu grupo familiar, mas todo bem e mal existentes nas profundezas da alma coletiva humana, o que contribui para que se tornem uma individualidade distinta.

O fortalecimento do ego

Fordham deu grandes contribuições para o entendimento da criança como indivíduo, onde a partir da consolidação e do fortalecimento do ego, ela se torna capaz de se relacionar de forma satisfatória com o mundo interior e exterior. De mesmo modo que, a partir da assimilação e rejeição dos padrões coletivos e socioculturais ela vai construindo sua identidade e adquirindo uma postura mais individualizada na maturidade.

Enquanto Jung considera o self como a totalidade e como organizador da psique, Fordham concentra-se apenas neste último conceito. Segundo Fordham, a criança é um indivíduo em pleno desenvolvimento e esses processos maturativos são reflexos de um self primário, responsável pela base da noção de identidade pessoal, da qual procede a individuação da criança

Esse self primário se desenvolve a partir de um processo de diferenciação que ocorre a partir do contato com cada objeto (self objeto), onde essas experiências vivenciadas vão desde os primeiros instantes de vida e adaptação, fortalecendo o ego desse pequeno indivíduo. Propiciar o sentimento de autoconfiança seria a principal forma de promover o amadurecimento sadio deste indivíduo.

Experiências negativas e os arquétipos materno e paterno

O acolhimento da mãe com as necessidades da criança permite que essa reconheça seu Self para que posteriormente se divida e transforme-se em núcleos egóicos e então reunirem-se em um único ego.

No entanto, experiências negativas vivenciadas na primeira fase de desenvolvimento podem afetar diretamente os aspectos do arquétipo materno e paterno do ego em formação. Em vez de experimentar a segurança e proteção da continuidade da existência, a criança pode vivenciar problemas afetivos e de autoestima, insegurança etc.

Nesse mesmo raciocínio, a interação entre pai e filho é primordial para o desenvolvimento cognitivo e social e facilitação da capacidade de aprendizagem e integração da criança na comunidade. Essas vivências negativas podem comprometer a confiança em si mesma e no mundo, resultando em uma ferida que interfere nas possibilidades de desenvolvimento e até no destino daquele ser. Como exemplo, tem-se a evidenciação em clínica, do ressurgimento de representações dessas vivências nas inúmeras possibilidades de construção psicoafetiva nas relações.

O psiquismo infantil

Teorias psicológicas e pesquisas científicas afirmam que o papel da figura paterna é fundamental no desenvolvimento e no psiquismo infantil. De acordo com a teoria psicanalítica, o pai possui papel crucial a partir da triangulação pai-mãe-filho (a), quando se instaura o Complexo de Édipo ou de Electra, por volta dos três anos de idade.

O processo de amadurecimento do indivíduo envolve a limitação dos prazeres “proibidos” em prol da manutenção do prazer permitido pelas forças externas, como convívio social, aceitação e integração ao grupo, pertencimento. Quando mal resolvidos, esses complexos podem ser fonte de angústias, neuroses, perversões e outras formas de distúrbios psíquicos e do comportamento.

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    A ausência do pai pode gerar problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e aprender regras de convivência social. O vazio decorrente pode acarretar à criança autodesvalorização, além de sentimentos de culpa, prejuízos a sua autoimagem e comportamento antissocial. Consequentemente, a qualidade da relação do filho com seus pais é fator preponderante para mediação das muitas dimensões do processo de individuação.

    Individuação desde o nascimento

    O processo de individuação se manifesta, portanto, logo a partir do nascimento, através das representações do Self. É ao longo do desenvolvimento do indivíduo que o processo de totalidade primária, ou Self originário subdivide-se, transforma-se em núcleos egóicos para, então, reunirem-se, reintegrarem-se em único ego.

    Jung pode ter dedicado boa parte de seus estudos do desenvolvimento da personalidade a partir da necessidade de uma diferenciação na idade adulta.

    Todavia, certamente, é possível afirmar que sua vasta obra sobre arquétipos, processos simbólicos manifestados pela psique, complexos psicológicos etc. constituíram um importante alicerce para que seus sucessores identificassem e ratificassem que o processo de individuação vai desde o começo da existência de um indivíduo até a sua morte e a tarefa do analista é ser um instrumento facilitador e quem sabe acelerador deste processo.

    Referências Bibliográficas

    BENCZIK, E. B. P. – A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedag. vol. 28. no.85. São Paulo. 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000100007#:~:text=%C3%89%20reconhecido%20como%20importante%20o,da%20crian%C3%A7a%20na%20comunidade7. Acesso em 27. Jul.2023.

    BINDA, F.L. A eterna criança – Autoestima e individuação. 2017. Disponível em: https://ipacamp.org.br/2017/07/14a-eterna-crianca-auto-estima-e-individuacao/ . Acesso em 24. Jul.2023.

    GOMES, A. C. Contribuições da Psicologia Analítica à Psicologia e Psicoterapia Infantil. Instituto de Psicologia Analítica de Campinas. 2017. Disponível em: https://ipacamp.org.br/2017/07/14/contribuicoes-da-psicologia-analitica-a-psicologia-e-psicoterapia-infantil/ . Acesso em 22. Jul.2023.

    JUNG, C.G. O desenvolvimento da personalidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1981.

    Este artigo sobre o processo de individuação na infância foi escrito por Aline Mesquita. Atuando na área da Química e Meio Ambiente há 20 anos, aprofundou seus estudos em autoconhecimento, autodesenvolvimento e espiritualidade e hoje também atua como Psicoterapeuta Reencarnacionista (ABPR), Terapeuta Holística, Coach e Taróloga. Especialista em Psicoterapia Junguiana. Especialista em Instrução de Meditação. Especialista em Psicologia Transpessoal. Life Coach. Realiza atendimentos psicoterapêuticos em consonância com técnicas de reequilíbrio energético e autoconhecimento, com objetivo de auxiliar as pessoas a ampliar a visão sobre si mesmo e seu momento, ter maior equilíbrio e entendimento frente aos desafios, reduzir estresse e ansiedade diário. (https://instagram.com/plenoespirito)

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