interpretação de desenhos infantis

Interpretação de desenhos infantis em Psicologia

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Ao contrário do que muitos pensam, o ato de desenhar na infância revela bem mais do que simples mensagens. Nele está implícito a visão da criança em relação ao ambiente em que mora e pessoas que convive. Por isso, vamos entender melhor a interpretação de desenhos infantis no campo da Psicologia.

Embora a análise dos desenhos infantis seja uma ferramenta útil na psicanálise, é importante também considerar outros meios de expressão artística na infância, como:

  • as dramatizações,
  • as brincadeiras,
  • os desenhos feitos pelas próprias crianças,
  • os heróis e vilões preferidos de cada criança e
  • a construção de histórias.

Os jogos imaginativos, como brincadeiras de casinha ou de super-heróis, oferecem aos psicanalistas um vislumbre importante do mundo interno da criança. Apresenta uma dinâmica mais ativa e tridimensional do simplesmente assistir a desenhos animados.

A interpretação pelas mãos de um profissional

É preciso deixar bem claro que a interpretação dos desenhos infantis somente deve ser feita com profissionais qualificados. Tocamos neste ponto porque muitos adultos cometem o equívoco de fazer esse trabalho sozinhos. Por isso que acabam fazendo pré-julgamentos e interpretando de forma incorreta suas crianças.

Existem protocolos específicos que protegem e guiam a realização desse trabalho. Sem contar que é preciso avaliar a condição familiar e regional da criança. Ademais, a história de vida do pequeno até então, já que serve de cenário para o que ele sente e desenha.

Por fim, precisamos entender que o desenho em si é relevante, mas não define tudo o que ele vive. Funciona como uma expressão materializada de desejos e sentimentos que mostram o fluxo atual da criança. Os desenhos de Psicologia servem como um dos guias para entender como o jovem se sente em relação ao mundo.

interpretar desenho de criança

Quais desenhos mais comuns?

É difícil levantar dados precisos a respeito dos desenhos mais comuns em consultório. As crianças carregam uma rica visão em relação ao mundo que as cerca e isso reflete de forma direta nos seus trabalhos. Por causa disso que os traços variam nas localidades, já que a cultura também influencia na interpretação do desenho infantil.

Ainda assim, é bem comum ver desenhos de pessoas, sobretudo da família. Isso porque as crianças têm os adultos mais próximos como referenciais, destacando seus sentimentos sobre eles. Mesmo que possuam traços simples, as expressões das figuras representadas devem ser levadas em conta.

Além das pessoas, é comum também encontrar desenhos de lugares e a forma como as crianças os enxerga. Sem contar que figuras abstratas também entram em questão, como animais da imaginação ou com formas curiosas. Ademais, brinquedos, personagens de animações e comida também.

Formas de interpretar, o que interpretar?

A interpretação de desenho infantil gera detalhes sobre a comunicação da criança com o seu ambiente externo. Embora os pais possam se ater a alguns detalhes, é o psicoterapeuta que vai fazer uma observação mais detalhada do trabalho. Para isso, ele vai estudar:

Cores

As cores mostram mensagens não verbais e sem perceber a criança transpira suas emoções por meio delas. Contudo, é preciso deixar claro que o uso de uma única cor pode demonstrar falta de criatividade ou preguiça. Ademais, as cores acabam por serem usadas com significados. A título de referência (é importante não tomar como verdade absoluta, mas observar em cada caso), alguns sentimentos e valores normalmente atribuídos às cores:

  • Marrom: planejamento e segurança;
  • Preto: inconsciente;
  • Azul: tranquilidade;
  • Verde: maturidade, intuição e sensibilidade;
  • Amarelo: alegria, curiosidade;
  • Laranja: necessidade em ter contato social
  • Vermelho: ardor, o que é ativo ou forte.

Dimensões do desenho

Em geral, desenhos grandes indicam que as crianças se sentem seguras e confortáveis. Por outro lado, os desenhos com formas pequenas indicam jovens com pouca confiança, bastante reflexivo, ou que precisa de um espaço reduzido para se expressar.

Pressão na folha

Quanto mais forte a pressão na folha, mais agressiva a criança se encontra. Do mesmo modo, traços mais superficiais mostram fadiga ou falta de vontade.

Traços

Os traços do desenho feito de forma falha ou apagada mostram indícios de uma criança com insegurança e impulsividade. Já as que fazem traços contínuos mostram um lado dócil e mais confortável.

Posicionamento

É preciso observar a posição do desenho e as correspondências naturais dela:

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    • Desenhos no topo mostram imaginação, inteligência e curiosidade.
    • Desenhos na parte de baixo mostram necessidades materiais e físicas.
    • Já desenhos na esquerda mostram o passado.
    • Enquanto na direita é ligado ao futuro e o meio representa o presente.

    Podemos pensar nos motivos muitas vezes inconscientes que levaram a criança a:

    • desenhar o que desenhou: os conteúdos como os personagens, a história imaginada etc.
    • desenhar do modo como desenho: a forma como as cores, os tamanhos, o tipo de traço, a sutileza ou agressividade dos traços etc.

    Alguns aspectos que podem ser observados ao interpretar desenhos infantis feitos por crianças:

    Tabela – Elementos comuns nos desenhos infantis e suas possíveis interpretações:

    Elemento Possível Interpretação
    Tamanho dos personagens Pode indicar a importância percebida ou sentimentos de poder/insegurança.
    Cores vibrantes vs cores escuras Pode representar emoções positivas vs emoções negativas.
    Presença/ausência de certos personagens Pode indicar relacionamentos significativos ou conflitos.
    Detalhes específicos (ex: armas, flores) Podem indicar interesses específicos, medos, desejos.

    Como identificar pensamentos e sentimentos da criança nos desenhos?

    As nuances do trabalho podem ajudar no significado de desenho infantil em Psicologia. Linhas acima comentamos a respeito da estrutura básica da projeção das crianças nos desenhos. Embora não sejam coisas concretas, pois cada criança é única, serve de guia para trabalhar os pequenos.

    Por exemplo, crianças que fazem desenhos com marcação firme na folha estão agressivas, com muita energia ou angustiadas. É possível deduzir que a força que ela usa vem de algum estresse enfrentado em seu cotidiano. Se for o caso, desenvolver a atividade com ela pode dar algumas respostas se a sessão for bem conduzida.

    Crianças retraídas, por exemplo, tendem a fazer desenhos menores. Talvez pode se sentir acuada, de modo que não consiga se expressar além dos pequenos traços. Nisso, deve encontrar um modo de fazê-la se expressar de maneira confortavel e entender por qual motivo não consegue fazer emissões espontâneas.

    Fases dos desenhos das crianças

    Em Psicologia de Piaget e na Educação Artística, costuma-se dividir em fases e tipos de desenhos feitos pela criança. A tabela abaixo sintetiza algumas dessas ideias dos desenhos, mas é importante reforçar que não se trata de etapas totalmente rígidas:

    Tabela. As etapas do desenvolvimento do desenho infantil.

    Etapa Descrição
    Rabiscos ou Garatujas (2 a 4 anos) A criança explora livremente as formas e o movimento, sem o objetivo de representar algo específico.
    Pré-esquematismo (4 a 7 anos) A criança começa a dar significado aos seus desenhos, geralmente representando pessoas e objetos de seu ambiente.
    Esquematismo (7 a 9 anos) As representações tornam-se mais padronizadas e simbólicas, com características e proporções semelhantes entre os desenhos.
    Realismo e Pseudo Naturalismo (9 a 12 anos) A criança busca mais precisão e detalhes em seus desenhos, representando perspectivas e sombreamento.

    Jean Piaget é conhecido no mundo todo pelo trabalho no desenvolvimento de crianças com base também em interpretação de desenho infantil. De acordo com ele, a criança faz o conhecimento de modo espontâneo e que a aprendizagem se liga com seu desenvolvimento. Nisso, a interpretação de desenhos infantis ocorre em fases:

    Fase do Rabisco ou Garatuja

    Mesmo que a figura humana seja pouco vista através dos rabiscos, a criança adora desenhar. Começa da fase sensório motora, do 0 aos 2 anos, e depois na pré-operacional (4 anos), podendo ir até os 7 anos de idade.

    Fase do Pré-esquematismo

    Começa na metade da fase pré-operatória (por volta dos 4 anos), seguindo até os 7 anos. É neste ponto em que o desenho é associado com pensamento e realidade.

    Fase do Esquematismo

    É a fase onde há representação de formas mais concretas, sendo mais direcionada na construção da figura humana. Aqui pode haver omissão de partes ou exagero de outras por volta dos 7 aos 9 anos.

    Fase do Realismo

    Ocorre no fim das operações concretas onde formas geométricas aparecem mais maturadas. Neste ponto, se dá início à autocrítica e maior consciência do sexo.

    Fase do Pseudo naturalismo

    Por fim, acontece o fim da arte espontânea, já que a criança passa a investigar a própria personalidade. Com isso, se dá origem a operações abstratas quando o menor transfere ao papel suas angústias e inquietações.

    Desenhos repetidos

    É bastante comum a criança se repetir nas suas produções artísticas, chamando a atenção na interpretação de desenhos infantis. É certo que há uma mensagem aí que não está sendo emitida por palavras. Por isso que os adultos devem se manter atentos a e nunca deixando de valorizar obras anteriores.

    Há alguns fatores para a criança persistir em desenhar o mesmo cenário. Por exemplo, pode se sentir satisfeita com os elogios recebidos e investir no mesmo desenho com poucas alterações. Por outro lado, isso pode indicar um cenário em que ela foi impactada de maneira emocional.

    No segundo caso, ela tenta reproduzir as emoções que sentiu para reviver aquele momento. Ainda assim, o desenho repetido também mostra que há algo na cabeça dela que pode incomodar em algum nível.

    Complexidade

    Nem sempre é fácil ter significado de desenhos na Psicologia de modo acessível. Isso porque algumas crianças conseguem trabalhar uma variedade grande de temas. Dessa forma, a avaliação precisa ser feita com os elementos usados, tais como:

    • cores;
    • posicionamentos;
    • tamanhos.

    Esses pequenos costumam ser bem influenciáveis pelo ambiente e pelas pessoas ao redor. É comum que tenham humor estável e transmitam de maneira frequente o seu humor aos desenhos. Contudo, isso não tem  ver  com o seu lado afetivo ou social, sendo apenas uma parte do seu temperamento.

    Frases e Livros sobre interpretação de desenhos infantis

    Aqui estão algumas citações de frases relevantes para a compreensão do tema da infância, especialmente sob a perspectiva da psicanálise:

    • “As crianças são, em muitos aspectos, como os poetas: geralmente são capazes de expressar uma sensação ou uma percepção de maneira mais vívida e clara do que os adultos.” – Sigmund Freud.
    • “A mente da criança é uma lousa em branco.” – John Locke.
    • “Toda criança é um artista, o problema é permanecer artista quando se cresce.” – Pablo Picasso.
    • “A infância é um reino onde ninguém morre.” – Edna St. Vincent Millay.
    • “A infância é medida por sons, aromas e visões, antes que o tempo obscuro da razão cresça.” – John Betjeman.

    Alguns livros abordam o tema da interpretação de desenhos infantis. Vamos destacar alguns desses livros:

    • “A Psicanálise dos Contos de Fadas” (de Bruno Bettelheim): Explora a importância dos contos de fadas na compreensão do desenvolvimento psicológico das crianças. Utiliza conceitos da psicanálise e mostra como o inconsciente do adulto também se revela nesses contos.
    • “A Interpretação dos Desenhos Infantis” (de Florence Goodenough). Um dos primeiros livros a explorar seriamente a interpretação dos desenhos infantis do ponto de vista da psicologia.
    • “O Desenho da Criança” (de Luquet). Nesta obra clássica, Luquet explora a evolução dos desenhos infantis à medida que as crianças crescem e se desenvolvem.
    • “Interpretação Psicanalítica dos Desenhos Infantis” por M. A. Kaplan e B. J. Sadock. Este livro oferece uma abordagem mais aprofundada e clínica para interpretar os desenhos das crianças, com base em princípios da psicanálise.
    • “O Desenho Infantil” (de Cesar Coll): Este livro fornece uma visão abrangente do desenho infantil, considerando-o como uma ferramenta de expressão e comunicação.
    • “Os Desenhos das Crianças: Guia para a Interpretação dos Desenhos dos Meninos” (de Maria Luisa Dias): A autora (psicóloga e professora) explora como os desenhos podem ser utilizados como uma forma de entender melhor as crianças e o seu mundo interior.

    Considerações finais

    As histórias inventadas pelas crianças, sejam escritas ou orais, também são uma rica fonte de interpretação psicanalítica. A escolha dos personagens, temas e eventos dessas histórias podem revelar muito sobre os sentimentos e pensamentos inconscientes da criança. Sejam personagens criados pela criança, sejam personagens da vida (como pai e mãe) ou personagens extraídos de filmes e desenhos animados.

    Apesar de ser algo simples, o desenho funciona como uma forma de aprendizado e desenvolvimento à criança. Por isso que a interpretação de desenhos infantis mostra como a criança pode ser de forma interna. Mais do que nunca, a arte serve de mecanismo comunicativo para o estudo da estrutura do comportamento e da mente.

    Mesmo que sejam eficazes, esses tipos de interpretações trabalham a criança de maneira superficil. Já que cada criança tem sua individualidade, todas as percepções não devem se generalizar. Use o desenho para entendê-lo melhor, mas sempre procure ajuda especializada.

    Mas se quer e entender melhor do seu filho, se inscreva em nosso curso online de Psicanálise Clínica. Com a ajuda dele, você vai estar  bem habilitado para compreender melhor as manifestações artísticas dos pequenos. A interpretação de desenhos infantis vai ser mais uma forma de compreender aqueles que mais amamos.

    12 thoughts on “Interpretação de desenhos infantis em Psicologia

    1. Muito bom a exposição das explicações e seu cuidado na interpretação dos desenhos infantis chamando atenção seu uso exclusivo para profissionais qualificados.

    2. Delzenil Ferreira dos SSantoa disse:

      Boa tarde! Ótima explicação! Muito obrigada!

    3. Cátia Rodeghiero disse:

      Adorei , simplesmente enriquecedor !

    4. Tamiles leão cruz disse:

      Muito boa a explicação,ótima abordagem linguagem escrita está muito boa de fácil entendimento,existe pessoas que fazem esses conteúdos com muitas palavras difíceis para o leitor acaba não dando nem um interesse em ler o artigo,você escritor está de parabéns.

    5. Angélica Fune C. Oliveira disse:

      Que leitura agradável (fácil de compreensão); obrigada por compartilhar seus conhecimentos.

    6. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo, de fácil compreensão e muito obrigado pelo compartilhamento!

    7. Maria Helena ferreira disse:

      Muito bom esse artigo ,nos ajuda a entender melhor ,as emoções da criança.

    8. maria valente disse:

      Olá, achei interessante. Actualmente trabalho com dois grupos de crianças meninas e rapazes de centros de acolhimento em Luanda. A fase 1 para compreender algumas realidades e tomar decisões sobre a ajuda juntamente com outros elementos.

    9. Ana Lúcia Soares disse:

      Quando criança gostava de desenhar, mas mais ainda de colorir. Dizia que queria ser “colorideira”. Tinha fixação em vestidos de noiva e na cor laranja. Era vestido de noiva laranja, queria uma casa laranja… Ficava incomodada com os desenhos de casinha que as crianças faziam o telhado reto de um dos lados. Sou muito detalhista até hoje, com 51 anos. Meu pai me chamava de milimetrada. Detalhe: sempre tive horror a casamento, mas sempre gostei da cerimonia de casamento. O que isto pode falar sobre mim?

    10. Vera Lúcia Ferreira Cruz disse:

      Boa noite!
      Excelente material! Amei a sua aula pela manhã!
      Trabalho com pessoas com deficiência visual.
      Sempre tive interesse pela interpretação de desenhos
      Gratidão pela oportunidade de ouvi-lo!

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