lugar do outro

O lugar do outro e a questão do Fetiche em psicanálise

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Neste artigo, Gabriel Felipe Montes Lima aborda o tema sobre o fetichizado lugar do outro, abrangendo aspectos da sexualidade e do fetiche a partir da visão da psicanálise.

Definição de sexo e o lugar do outro

Sexo é um encontro de essências. Sexo não é estética; não é poesia; não é dança e, ao contrário do que se reluta em admitir: sexo não é moral. Sexo são vísceras, ossos e sangue postos na mesa da ancestralidade. É o asco e a fantasia; o nojo e o desejo rodopiando violentamente contra o sacro e o indizível.

Sexo é o contato do primitivo e do pulsional, donde podem sair todos os tipos de horror e beleza. Sexo é o alto do Inexprimível que se ergue do material; as delícias do Céu que ululam pelo Inferno. Sexo é a manifestação mais abrupta da vida em seu aspecto animal. Aqui, não se pensa em arcanjos ou filosofias do sublime.

Há apenas a completa entrega a um desejo que ultrapassa o que se convencionou chamar de “humanidade”, pois tudo o que rege essa expressão da existência é carnal, pulsante e ardente. O sexo, como é, não é lodo nem estrela. Ele é uma verdade concebível que se escolheu negar.

Pulsão, desejo e o lugar do outro

Encarar com realidade o que é o sexo em sua mais ampla definição é encarar de frente todos os aspectos ignorados do que é ser humano. Afinal, é precisamente no sinuoso mergulho na(s) alma(s) do outro que se destacam as formações de um desejo que é um grito do incontrolável ser da vida. A pulsão grita e não cessa antes de ser ouvida.

O desejo queima e corrói a existência. Se não saciado, ele consome o sujeito em uma espiral infinita de querelas infrutíferas contra quem se é. O desejo é um apelo do que é Ignoto no Eu e que, em última instância, é o maior terror do próprio ser. Mais se teme, pois, o próprio desejo do que a própria destruição.

Digo isso porque, não embalde, muitos se destroçam em vãs tentativas de se esquivarem de algo que é inerente. Homens diversos temem o desejo homossexual que sentem ao mesmo passo que fetichizam até os limites do concebível as nuances dos corpos dotados de masculinidade, sejam eles de pessoas cis ou trans.

Uma sexualidade em descoberta

Ao mesmo passo, a pubescência lança sobre todos os gêneros a inerência conflitante de desejo e temor no campo de uma sexualidade em descoberta.

É precisamente esse movimento o que alimenta um mecanismo que age como a enorme boca de uma baleia prestes a engolir sem mastigar tudo o que há a sua volta. Se por um lado há o desejo pelo proibido, profano, imundo e desprezível; pelo outro há uma curiosidade consumidora pelo que representa o fantasiado lugar da alteridade.

Isso é um jogo que se opera em rede e que deve ser compreendido em um contexto amplo de cultura, sociedade, pornografia, tabus e religião: precisamente as engrenagens que sustentam uma lógica de negação do Eu, que luta para extravasar sua essência pelas frestas do mecanismo social.

A inoportuna depressão que surge após o prazer

Por outro lado, para além da insaciedade do desejo, há o gozo ao qual se sucede a profunda depressão pela auto entrega à cegueira do prazer. Esse momento parece ser produto precisamente de uma lógica de concepção do mundo marcada pela negação beatífica do desejo.

No entanto, negar o desejo é também, ao mesmo tempo, negar a própria humanidade. Pensar uma realidade marcada pela autonegação é, no mínimo, entristecedor. Afinal, a entrega à inconsciência do ato sexual é uma liberdade necessária que já foi sacralizada em diversas religiões de cunho pagão e violentamente renegada pela Igreja Cristã.

Contudo, conforme já afirmei, negar o prazer é negar à humanidade o que há de mais antigo em si mesmo. Não se deve, pois, olvidar que a relação sexual é elemento constituinte da vida: o necessário ato que antecede a concepção do sujeito. Para além disso, sexo é mais do que dois corpos nus numa cama: é um singular encontro de potências libidinais que se entregam em um descarrego (re)energizante recíproco; é uma manifestação da Natureza agindo sobre seres que não são um etéreo, mas um eu corpóreo.

Conclusão

Compreender que o ser é corpo: que a mente não se divide do cérebro e o cérebro, do corpo que o sustenta é a chave -ao meu ver- para se repensar a complicada relação que se concebeu com o Eu e o fetichizado lugar do outro.

Sumamente, sexo é um fundamento da vida que ultrapassa o mero ato sexual: é a energia vital se manifestando no mundo em uma glória distinta e incompreendida.

Esse artigo foi escrito por Gabriel Montes, psicanalista egresso do IBPC e acadêmico de Letras e História. Sua área de pesquisa aborda Literatura, Psicanálise, História e Feminilidade. Também atua com atendimento virtual. Contato: [email protected]

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    3 thoughts on “O lugar do outro e a questão do Fetiche em psicanálise

    1. Para mim, a Sexualidade exercida quer no afeto conjugal ou de amizade, é a mais vital energia! Todo corpo e mente, se mantendo saudável, com hormonios “acionados” que nos revigoram sempre, por inteiro! Havia uma expectativa minha, por ser cisgenero, mas sentindo atração pelo mesmo gênero, como seria se buscassem me penetrar (sexo oral, já havia amadurecido a idéia). Para minha surpresa, fluiu com colega da faculdade, presumo que por sermos homens mais amadurecidos na faixa etária acadêmica (eu 27 anos e ele 35 anos), a sintonia ficou implicita: fiquei para dormir na casa dele, no banho já me preparei para o que tinha uma certa curiosidade e, na cama, ele se posicionou para me penetrar, mas antes bem carinhoso para me relaxar. Ele “entrou” com maestria, tudo acontecendo como vontades se completando, tanto que a ereção foi mutua! Ele até brincou, amigos sem até então cogitar, ato sexual, mas como nossos corpos foram sentindo a necessidade de saciedade, pela complementariedade!

      1. Gabriel Montes disse:

        Interessantíssimo relato. Obrigadx por compartilhar. Acho esse tema de enorme importância no nosso contexto atual.

        1. Obrigado. Gabriel! E muita coisa que fui “aprendendo com a vida”, assim como que evolução, acaba se consolidando! Onde o chamado “hetero” nada mais é o Bissexual que depois da fase da “reprodução” ou se a esposa ou namorada, sinalizam não querer filhos, ele parte para relacionamento com homem! Em 2018, um colega e eu tivemos relacionamento; depois da “fase procriativa” dele! Colegas de setores vizinhos, mas bem a vontade, ficamos desde a primeira transa, onde ele até comentou numa ocasião, mesmo sem o contato direto que há quando se trabalha junto, mas como estavamos, entrosados fisicamente e afetuosos!

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