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Mamãe Gothel de Enrolados: análise de mãe superprotetora e narcisista

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Hoje falaremos sobre a mamãe Gothel de Enrolados. Sabemos que de um modo geral as mães querem proteger e cuidar de seus filhos. Mães negligentes causam muitos estragos na vida de uma criança e adolescente. Mas uma mãe superprotetora também acarreta em muitas dificuldades.

Vamos falar sobre um estudo de personagem de uma mãe superprotetora por narcisismo: a mamãe Gothel do filme de animação Enrolados.

A personagem Mamãe Gothel de Enrolados

No filme “Enrolados”, conhecemos Rapunzel, que tem um cabelo mágico resultado da ingestão de uma flor mágica por sua mãe durante a gestação. Essa flor possuía o poder era de cura, além de restaurar força, beleza e juventude. Antes de a flor, única no mundo, era usada por Gothel, uma mulher velha e decrépita que com o poder da flor, tinha sua beleza e vigor restaurados.

Ao perceber que a flor havia sido dada à rainha, mãe de Rapunzel e que a criança havia nascido com o poder da flor, Gothel até tentou levar apenas um pedaço do cabelo da criança, podendo essa atitude ser encarada como um traço de bondade.

Mas ao perceber que não era suficiente, Gothel acaba por roubar a criança. Aqui podemos nos questionar, Gothel é bondosa às vezes? Ou ser bom quando convém não é bondade de fato, mas sim convenção social? Nesse artigo, vejamos paralelos entre os tratos de mamãe Gothel e Rapunzel e as características de uma mãe narcisista.

Cuidado versus Amor na Mamãe Gothel

Gothel cuida de Rapunzel de maneira que muitos podem achar que é um cuidado satisfatório, normal, o que se espera de uma mãe. Não fosse por um detalhe: Rapunzel, como todos sabem, fica presa em uma torre, sem qualquer contato com o mundo exterior.

A menina cresce acreditando que Gothel é sua mãe, e quando Rapunzel pergunta por que não pode sair fora, ela responde “O mundo lá fora é um lugar perigoso, cheio de pessoas egoístas. Você precisa ficar aqui dentro onde está segura” em um tom de delicadeza e cuidado.

No entanto se observarmos bem, nesse momento e em muitos outros, Gothel dirige seus cuidados e afeto ao cabelo de Rapunzel, detalhe que nos faz ver como ela não amava a criança por si só, mas sim pelo que ela podia lhe proporcionar, ela até a chama “carinhosamente” de minha flor. Esse tipo amor e cuidado tóxico teve consequências.

Rapunzel e mamãe Gothel

Por muitas vezes Gothel passava à Rapunzel a ideia de que tudo que ela fazia era pro seu bem. “Mamãe sabe mais!” é uma frase que ela usava pra mostrar que, por ser mãe e, consequentemente mais experiente, sabia o que era melhor pra ela.

Mas, uma vez que essa proteção estava deturpada pelos desejos egoístas de Gothel, tudo que ela fez foi sequestrar e manter em cárcere privado a menina desde sua infância, não apresentando o mundo real a ela.

Tirando dela muito mais do que sua verdadeira família, mas também a possibilidade de lidar com a própria vida.

“Mamãe sabe mais”: o caso das mães narcisistas

De certo, nossos pais tendem a serem mais experientes em assuntos da vida cotidiana, já passaram por situações parecidas com as que os filhos passam e já erraram e acertaram muitas vezes, no entanto essa sabedoria pode não ser bem aproveitada quando ela tem um objetivo egoísta.

Algumas mães são capazes de usar seus filhos para “alcançar o que ela não foi capaz”, muitas vezes impondo ao filho a culpa por não atingido seus objetos quando mais jovem. Mães narcisistas manipulam a vida dos filhos de tal forma que os fazem pensar que são obrigados a seguir sempre o caminho tracejado a eles por ela.

Coisas como carreira, decisões importantes, que rumo tomar na vida, tudo já está pré determinado sob a justificativa de “eu sei o que é melhor para você”.

A proibição de um sonho

Dessa forma age Gothel, dizendo a Rapunzel que ela sabe o que é mais seguro, sabe o que é melhor pra ela. Proibindo a menina de realizar um simples sonho de ver o festival de lanternas que ocorre todo ano em razão de seu aniversário, detalhe esse que até então ela não sabe, apenas se encanta com a “coincidência”.

É dito que Gothel possui centenas de anos, o que faz dela uma mulher experiente e com certeza viveu bastante coisa, mas a experiência não convertida em sabedoria não serve de nada. Gothel usa tudo o que já viveu para chantagear Rapunzel, amedrontá-la.

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    O fato é que a Mamãe Gothel não ama Rapunzel. Em todas as vezes que demonstra afeto à garota esse afeto é direcionado a seus cabelos, o que comprova que ela só ama o poder que o cabelo de Rapunzel tem de torná-la jovem.

    A obrigação do retorno na relação entre Mamãe Gothel e Rapunzel

    Rapunzel, antes mesmo de nascer, tomou de Gothel algo que ela prezava muito, sua juventude, beleza, força e vigor. Uma criança não desejada por ela lhe tirou aquilo pelo qual ela vivia.

    Isso somado a uma personalidade egoísta e maldosa, é a receita perfeita para uma cuidadora que impõe à criança, e mais tarde o adulto, a obrigação de retornar tudo aquilo que ela tirou.

    Frases como: “tudo que eu fiz por você e você não dá valor”, “você é realmente muito ingrato”, “tudo que eu fiz foi para proteger você”, ditas também por Gothel à Rapunzel, ou a ridicularização de modo geral das opiniões e vontades próprias do filho colocam a tutora no papel de vítima da situação. Sendo assim, toda atitude desregrada que ela tiver poderá ser justificada como uma reação ao comportamento inadequado do filho. No filme, Gothel, nem mesmo deixa que Rapunzel se expresse sobre suas vontades ou vivências, ela demonstra total desinteresse na vida pessoal da garota quando não desprezo.

    O cuidado excessivo

    Um exemplo, durante a cena quem que Rapunzel captura Flynn Rider (José Bezerra versão dublada), ela tenta mostrá-lo a Gothel para provar que é capaz de cuidar de si mesma, enquanto Gothel diz “Eu sei que não é capaz de cuidar de si mesma(…) essa conversa está encerrada”, sem nem mesmo saber do que a conversa se tratava.

    Quando, no final, Gothel é confrontada por Rapunzel depois que descobriu a verdade, ela diz a frase “quer me transformar na vilã?” como se ela não já tivesse tido atos vilanescos com Rapunzel desde que a raptou e a trancafiou na torre.

    Mas aqui vemos que uma personalidade narcisista não reconhece as próprias maldades que faz para se beneficiar, apenas se coloca como vilã em momentos convencionais em que seus atos são “consequências” ou “explicáveis”.

    Superproteção e suas consequências

    É claro que os pais devem sim proteger os filhos até onde for necessário. No entanto a maior proteção será o ensinar a se proteger sozinho. Desenvolver mecanismos de defesa saudáveis e aprender a lidar com a maldade e frustração do mundo. Sem impor ao filho um caminho pré determinado a ser seguido, guiado pelos desejos dos cuidadores.

    Quando é “salva” por Flinn Rider, Rapunzel se depara com o mundo externo. Ela ama a experiência nova, mas ao mesmo sofre de preocupação e excessiva culpa por ter desobedecido a mãe. Ela oscila rapidamente entre sentimentos de alegria, êxtase, tristeza, medo, culpa e ansiedade.

    Esse é um exemplo claro de como um filho se sente ao sair do controle de uma cuidadora narcisista. No filme de animação essas oscilações de humor e estado psicológico são retratadas com a leveza pedida, com um tom bem humorado, afinal é uma obra para crianças. No entanto na vida real essa libertação pode ser bastante demorada e dolorosa.

    Alcançando a vida do lado de fora: uma mensagem do filme Enrolados

    Enquanto que no filme Rapunzel consegue rapidamente se recompor e segue sua vida em busca de seu sonho com a ajuda de Flynn, aqui fora no mundo real uma vida perpetuada pelo controle de outra pessoa sob a justificativa que tudo é feito por bondade e amor pode acarretar em uma série de pensamentos confusos quanto a como realmente o amor e afeto se parecem.

    A pessoa, por não conhecer o mundo real de certa forma, passa a crer que aquilo é tudo verídico, como quando Rapunzel diz, antes de sair, “Sei que estarei segura se eu não sair daqui”.

    Anos de terapia e acompanhamento são necessários para a exclusão de crenças como “ela vai saber e vai ficar furiosa”, ou “eu sou uma péssima filha”, “eu sou um ser humano horrível”, como as ditas pela Rapunzel no filme durante o seu conflito interno.

    Crenças enraizadas

    Essas crenças enraizadas no subconsciente de uma pessoa gera um grande estresse, ansiedade, culpa, e muito medo durante o processo de libertação. Por isso o acompanhamento com um analista é essencial para a resolução desses conflitos entre a vontade e a sensação de estar fazendo algo que não deveria, quando na verdade se está em busca de seus próprios sonhos e metas.

    Se caso você se identifica com algumas dessas situações, sofre com culpa exagerada quando na verdade não faz nada além de buscar se encontrar no mundo, busque ajuda profissional. Como mamãe Gothel, muitas mães narcisistas não mudam com o tempo, não aceitam quem são, então nesses casos é importante que os filhos saibam como agir em determinadas situações.

    É óbvio que o filme, como uma obra fictícia mostra resultados mirabolantes e exagerados, mas na vida real é perfeitamente possível alcançar a independência emocional e aos poucos desfazer o estrago de uma infância e adolescência pautada em proibições extremas e superproteção combinada a desprezo ou cobranças desnecessárias.

    Conclusão

    Aprender mais sobre como funciona, psicologicamente, a dinâmica da vivencia com mães narcisistas pode ser de muita ajuda para entender os porquês dela, e se livrar de um sentimento de culpa imposto erroneamente.

    Você pode saber mais sobre a psicanálise no curso oferecido pelo site Psicanálise Clínica.

    Este artigo sobre a personagem Mamãe Gothel no filme de animação Enrolados foi escrito por Mariana Araújo([email protected]), estudante de psicanálise clínica que busca uma melhora no estilo de vida das pessoas e prega o autoconhecimento para isso.

    One thought on “Mamãe Gothel de Enrolados: análise de mãe superprotetora e narcisista

    1. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns, pelo artigo!!! Mostra-nos o estrago que muitas mães fiveram com seus filhos! Filhos inseguros, sem iniciativa, mimizendos…

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