os mecanismos de defesa

Os Mecanismos de Defesa: uma viagem ao ego

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O presente escrito sobre os mecanismos de defesa terá como objetivo discorrer sobre aspectos diversos de uma temática bastante discutida no meio psicanalítico, tanto no que tange às abordagens práticas, quanto no que diz respeito a todo meio conceitual e teórico.

Os Mecanismos de defesa do qual esse trabalho será dedicado a discorrer, são fonte de abrangentes estudos no seio da psicanálise desde Freud.

Entendendo sobre os mecanismos de defesa

Esse trabalho tanto buscará apresentar o conceito de mecanismos de defesa, expondo suas formas variadas, quanto avultar sua atuação e importância na compreensão do meio social, cultural e literário, evidenciando assim o valor múltiplo dessa pesquisa, que não se detém somente em simples apresentações conceituais. Será defendido que os mecanismos de defesa se manifestam de tal forma na vida e no cotidiano de cada indivíduo, que são capazes de influenciar em suas decisões e atitudes, desde as mais rotineiras, como ir ao mercado fazer compras, até as mais decisivas, como relacionamentos amorosos e profissionais.

Será tido como objetivo principal apresentar o conceito de mecanismo de defesa, e desmembrar suas várias “faces”, trazendo à tona de forma individual como cada uma delas apresenta suas principais características, como também apresentar, mesmo que de forma célere, sua manifestação nas atitudes sociais, artísticas e culturais diversas. Serão descritos somente alguns tipos de mecanismos de defesa, levando em consideração o fato de serem inúmeros, e de que tentar abordar a todos é basicamente impossível, como tentar catalogá-los também o é.

Será utilizado como apoio teórico quase que em totalidade, escritos psicanalíticos dispostos em suportes diversos como livros, revistas, artigos, monografias, sites e blogs. Foram realizadas diversas pesquisas, em exaustivas leituras para que se fosse sintetizado ao máximo o assunto, mantendo o máximo de informações, para que o leitor possa saciar seu anseio de conhecimento, com um conteúdo dinâmico e direto, que provém desde informações retiradas de livros dos primórdios da psicanálise, até escritos contemporâneos publicados em artigos científicos.

Id, ego, superego

Um dos assuntos mais discutidos em todo âmbito psicanalítico, independentemente do período histórico em que nos dispusermos a buscar, é a interminável batalha entre as três instâncias da personalidade humana, ID, EGO e SUPEREGO, descobertas e exemplificadas por Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise.

Durante todo o percurso desde a invenção da psicanálise por Freud, nenhum outro assunto foi tão exaustivamente discutido, debatido e pesquisado quanto esse, dessa forma, parece redundante voltarmos a abordá-lo, porém é plausível dizer que esse tema permeia por entre todos os outros que possam ser discutidos por psicanalistas e estudantes de psicanálise, dessa forma, é quase certo dizer que ele é, junto dos estudos sobre o inconsciente, um dos, se não o principal assunto da psicanálise, além do fato de que a partir dele, surgem a grande maioria das discussões do meio, transformando-o em um tema recorrente de extrema necessidade.

Tais instâncias tiveram suas primeiras menções na obra de Sigmund Freud Além do princípio do prazer publicada no ano de 1920, mais foi realmente aprofundada no ensaio feito três anos depois chamado O EGO e o ID, ficando conhecidas como segunda tópica, ou segunda tópica Freudiana, lembrando que, a primeira tópica consistia nas definições de Inconsciente, pré-consciente e consciente, e que essa segunda tópica, não sobrepõem a primeira, e sim, agrega a ela.

Os mecanismos de defesa e o Id

Inicialmente podemos classificar o ID como uma das três instâncias que compõem o aparelho psíquico dos seres humanos, e como todas as outras instâncias, é responsável por moldar a personalidade dos seres, possuindo em si suas próprias regras e formas, sendo detentora da maior porção da psique humana.

O ID é uma instância nata dos seres humanos, constituída de todos os desejos, instintos e pulsões primitivas, regida pelo princípio do prazer, o ID tem como único objetivo, a obtenção de prazer imediato, não levando em consideração regras, imposições políticas, sociais ou culturais, sua busca por saciedade não traz consigo limites, fazendo de tudo para que seus impulsos e pulsões sejam realizadas.

Pelo fato de não possuir limites, os desejos do ID nem sempre podem ser realizados, pois parte deles pode não ser coerente com a realidade externa de cada pessoa, pois como já foi dito, a única coisa que o ID busca é a obtenção de prazer, independentemente de como esse prazer será alcançado, e isso muitas vezes pode representar um prejuízo enorme tanto interna quanto externamente ao indivíduo. É evidente que quando esses desejos são rechaçados na primeira investida, o ID irá buscar formas diversas de satisfazê-los, e uma das formas mais conhecidas é o sonho, por meio dele, o ID pode satisfazer suas pulsões, mesmo que não da forma desejada, e com vários desafios até a obtenção.

Pulsões, desejos e o ego

É importante salientar que a não satisfação das pulsões e desejos do ID irá causar tensões diversas no indivíduo, que podem manifestar-se tanto psíquica quanto somaticamente. Deixemos claro, que sem a energia fornecida pelo ID, que é responsável pela alimentação da libido, a energia que direciona os seres as suas realizações nas mais diversas atividades, muitas de nossas atividades seriam impossibilitadas, pois não se teria força suficiente, força essa, provida pelo ID.

A segunda instância da personalidade humana na qual nos deteremos em exemplificar será o EGO, responsável por mediar a batalha direta entre o ID e o SUPEREGO, e caracterizada por ser a mediadora das demandas dessas demais instâncias, é o EGO para muitos a “personalidade” em si, pois as vontades e imposições das demais dependem de seu julgamento.

Diferentemente do ID, o EGO é regido pelo princípio da realidade, que tem como característica principal a proximidade com as imposições do mundo real, suas regras e normas, atendendo a exigências feitas pelo SUPEREGO, para que se mantenha uma conexão harmoniosa com todo o meio social. Sendo assim, o EGO atende a cobranças por satisfação feitas pelo ID, levando em consideração as imposições e regras estabelecidas pelo SUPEREGO, para que se mantenha um equilíbrio psíquico, e o indivíduo possa viver em harmonia tanto com sua psique quanto com a sociedade em que vive.

O superego

Além de mediador, o EGO tem inúmeras outras funções que serão abordadas mais à frente em nossos estudos, e como tal instância será um dos pontos “alfa” deste trabalho, deixaremos para aprofundar um pouco mais em outro tópico, vale apenas ressaltar aqui, que o EGO é um desdobramento do ID.

A terceira e última instância que será apresentada aqui, contida na segunda tópica Freudiana e o SUPEREGO, responsável direto por todas as regras e costumes advindos do mundo social e seus desdobramentos políticos e culturais, sendo o SUPEREGO assim, o ditador das regras, que irão refrear as pulsões e desejos do ID. É sugerido que o SUPEREGO surge junto do complexo de édipo na fase fálica do desenvolvimento psicossexual da criança.

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    Quando a criança começa a ter contato e internalizar a moral social e suas regras, começa também a descobrir o que pode ou não fazer, por medo do que pode acontecer a ela caso desobedeça, receio das possíveis consequências, é exatamente nesse momento que o SUPEREGO começa a ganhar forma.

    O EGO além do papel de mediador

    Durante décadas, inúmeros autores têm exaustivamente estudado ID, EGO e SUPEREGO, revirando teorias e teorizado sobre suas funções e importância para a psique humana. Mas o fato é, que quando se trata de estudos que visam a prática clínica e suas manifestações, somente o ID tem recebido real atenção, sendo o SUPEREGO e principalmente o EGO, diminuídas a meras menções ou simples auxiliares, componentes da psiquê.

    Porém como diz Anna Freud em sua obra O Ego e os mecanismos de defesa de 1937: Desde o começo, a análise, como método terapêutico, preocupou-se com o ego e suas aberrações: a investigação do id e de seus processos de funcionamento foi sempre um meio, apenas, para se alcançar um fim. E o fim era invariavelmente o mesmo: a correção dessas anormalidades e a recuperação do ego, em sua integridade. (Pg. 10) Dessa forma, fica evidente que no final, todos os esforços em compreender e agir sobre o ID tem como motivação principal organizar o funcionamento do EGO, e dar a ele o equilíbrio necessário.

    Anna Freud defendia, que por mais que existisse a preocupação de compreender o EGO teoricamente, o mesmo era ignorado quando em clínica. O fato de o trabalho terapêutico não buscar uma análise do EGO a intrigava, pois o mesmo era responsável pela interação das instâncias. Em clínica, vemos analistas em trabalhos árduos para acessar os conteúdos do ID, aguardando pequenos sinais que possamos encaminhar até as fronteiras inconscientes da mente. A questão é, que esses “pequenos sinais” que surgem do ID, se fazem expor dentro EGO, em deslizes orais, ou até em sonhos.

    Anna Freud e os mecanismos de defesa

    Anna Freud deixa claro que (1937 – pg.11) “Várias moções pulsionais estão perpetuamente forçando sua introdução no ego, a partir do id, para ganharem acesso ao aparelho motor, por meio do qual obtêm gratificação”, sendo assim, é no terreno do ego que em análise se encontram rastros do ID, que servem de caminho para acesso a essa instância. Como se encontram dentro do ego, presumimos que seu acesso se deu de alguma forma conturbada, pois se essas pulsões não se apresentam completas, é porque foram combatidas por não serem julgadas como “benéficas”.

    O id é um ser em terras estranhas quando adentra ao ego, como diz a própria Anna Freud (1937 – pg.11) “No seu trajeto para a gratificação, os impulsos do id têm de cruzar o território do ego, onde se encontram em uma atmosfera estranha.”, com isso, vê-se necessária uma compreensão maior dos processos do ego, já que pelo que parece, são eles que se responsabilizam por refrear os impulsos inaceitáveis do id, usando de mecanismo específicos para isso. Em terapia, deveria ser obrigatória a análise do ego, pois é para sua restauração que a análise está acontecendo, e é a partir de seu terreno que são encontradas as nuances do id tão almejadas por todo analista.

    Saber como se daria essa análise é a grande questão. Segundo Anna Freud (1937): (…) definiríamos a tarefa da análise da seguinte maneira: adquirir o máximo conhecimento possível de todas as três instâncias que acreditamos constituírem a personalidade psíquica e aprender quais são as suas relações mútuas com o mundo externo. O que significa: em relação ao ego, explorar o seu conteúdo, suas fronteiras e funções e apurar as influências no mundo externo, no id e no superego pelas quais foi moldado; (PG.10).

    Uma outra análise

    Uma análise completa dedicaria seus esforços em compreender todas as instâncias e seu funcionamento, enxergar o ego como além de um mero mediador, enxergando-o como um campo de análise real, que deve ter seu funcionamento compreendido, para assim, chegar ao resultado almejado em análise.

    Os conteúdos do id surgem no ego durante a análise, na grande maioria das vezes, deturpados, desfigurados, o que dificulta muito o processo e aumenta a carga de trabalho do analista. Pelo fato de serem incompatíveis com a realidade do ego, o mesmo trabalha para refrear as pulsões do id, e se utiliza do que ficou conhecido como mecanismos de defesa.

    Os mecanismos de defesa do EGO

    Os mecanismos de defesa são estratégias usadas pelo ego para evitar os conflitos entre o id e o superego que lhe seriam extremamente dolorosos. Compreender essas defesas em análise é essencial, para que assim o analista possa inverter esses processos e chegar ao seu destino que é a compreensão do id. Os mecanismos de defesa são automáticos, sendo assim, não dependem da vontade do indivíduo para que entrem em ação imediata.

    São requisitados sempre que o ego percebe que uma invasão por meio do id pode causar atrito com as imposições do superego, essa luta entre instâncias pode causar prejuízos ao ego, que se vê na necessidade mais uma vez de intervir. A forma com que isso acontece é por meio dessas “defesas”, termo utilizado desde os primórdios da psicanálise, como cita Anna Freud (1937): A palavra “defesa”, que empreguei tão livremente nos três capítulos anteriores, é a mais antiga representante do ponto de vista dinâmico.

    Na teoria psicanalítica. surge pela primeira vez em 1894, no estudo de Freud as neuropsicoses de defesa, sendo empregada aí e em muitos de seus trabalhos subsequentes (a etiologia da histeria, observações adicionais sobre as neuropsicoses de defesa), para descrever a luta do ego contra ideias ou afetos dolorosos ou insuportáveis. (pg.37). O ego defende-se daquilo que enxerga como perigoso, como diz Anna Freud (1937 – pg.55) “(…) todas essas medidas têm por finalidade garantir a segurança do ego e poupá-lo à experiência da “dor”.”, e essa dor é consequentemente advinda ou das pulsões indesejadas do id ou do superego, FREUD.

    Situação analítica

    Anna – 1937, pg. 47, “O ponto crucial é que, quer se trate de medo do mundo exterior ou medo do superego, a angústia é que desencadeia sempre o processo defensivo.”, os mecanismos são acionados automaticamente em investida contra essa batalha que gerará como consequência a angústia. O dever do analista é compreender esses mecanismos, para assim descobrir que tipo de afeto está por trás daquelas defesas, pois segundo FREUD.

    Anna – 1937, pg.28, “(…) na situação analítica, todo o material que nos ajuda a analisar o ego faz sua aparição na forma de resistência à análise do id.”, sendo necessária sua compreensão, num momento de análise não do id, e sim do ego. Os mecanismos de defesa são diversos, e assim como disse FREUD. Anna – 1937: (…) uma classificação dos mecanismos de defesa, de acordo com a posição no tempo, inevitavelmente compartilha de todas as dúvidas e incertezas que ainda hoje afetam os pronunciamentos cronológicos em análise. (pg.43)

    É extremamente complicado e incerto tentar classificá-los, a única coisa que podemos fazer com propriedade é defini-los, pois os mesmos possuem características bem subjetivas, que tornam sua ação funcional heterogênea.

    Recalque/Repressão

    Inúmeros são os mecanismos de defesa que aqui poderiam ser descritos, porém, iremos nos deter a exemplificação teórica e prática de apenas alguns deles, demonstrando em exemplos, como se manifestam na vida cotidiana de cada indivíduo. Sendo provavelmente um dos mecanismos mais conhecidos dentro do seio psicanalítico como deixa claro Anna Freud (1937): Aqui temos a refutação direta da noção de que o recalcamento ocupa um lugar único entre os processos psíquicos, bem como a aceitação, na teoria psicanalítica, de outros processos que servem à mesma finalidade, isto é, “a proteção do ego contra as exigências pulsionais”. o significado do recalcamento é reduzido ao de “um método especial de defesa”. (Pg.37) e o mais abordado por Sigmund Freud, pois desde os primórdios da psicanálise, ele é abordado de diversas formas.

    O processo de repressão acontece inconscientemente, assim como basicamente todos os outros mecanismos, nele o ego reprime um pensamento, impulso ou desejo inaceitável para o inconsciente, eliminando assim o risco de que esse material afete o ego daquele indivíduo. Como exemplo, um indivíduo pode reprimir um acontecimento traumático de sua infância tão profundamente em seu inconsciente, a ponto de não conseguir mais o recordar, evitando dessa forma, uma possível recaída ao mero contato com a lembrança desse evento.

    Projeção

    O mecanismo de projeção é um dos mais comuns e facilmente detectáveis, nele o indivíduo projeta ou aponta no outro um traço ou condição reprovável pelo seu superego, dessa forma, retira-se toda carga de culpa e dor ao atribuir essa característica a outra pessoa. Podemos tomar como exemplo nesse caso, uma pessoa que corriqueiramente enxerga nos outros um alto grau de preconceito contra si própria, quando na verdade, ela própria o comete.

    Formação reativa

    A formação reativa é mais um mecanismo extremamente recorrente no meio social, assim como diz FREUD. Anna – 1937, pg.34, “(…) não me surpreendeu descobrir que se tratava de um neurótico obsessivo, isto é, havia na sua vida pulsional uma tendência para converter os impulsos indesejáveis nos seus opostos”, trata-se exatamente desse processo de inversão dos impulsos, um indivíduo que tem inclinação a um impulso considerado por ele com inaceitável, pode agir de forma completamente oposta, buscando assim ficar distante daquilo que considera como ruim.

    É um mecanismo que exige bastante do ego, assim como diz FREUD. Anna – 1937, pg.69: “A manutenção de formações reativas obsessivas exige o dispêndio constante de energia, aquilo a que chamamos de contra investimento.” Essa “máscara” não é criada somente para o disfarce externo, pois como mais uma vez cita FREUD.

    Anna – 1937, pg.12, “(…) formação reativa bem sucedida, que é uma das mais importantes medidas adotadas pelo ego, como proteção permanente contra o id.”, a pessoa busca esconder dela mesma tal característica. Um exemplo bem comum é o de pessoas extremamente agressivas, que buscam empregos onde precisem ser muito gentis e delicados, como cuidar de crianças ou idosos.

    Racionalização e os mecanismos de defesa

    O processo de racionalização acontece quando um indivíduo comete algo reprovável ou completamente inaceitável, mas usa da racionalização para amenizar ou simplesmente excluir a culpa daquele ato, exterminando a possibilidade de que o seu superego o reprove e consequentemente o aplique alguma punição. Um indivíduo que agrediu um animal pode racionalizar sua ação dizendo que se sentiu ameaçado, ou que cometeu tal atitude para que aquele animal não viesse a machucar ninguém, mesmo que para as duas situações citadas não houvesse nenhum indício de que isso poderia realmente acontecer, e esse animal pudesse vir a oferecer algum risco a ele ou a outro.

    Negação

    A negação é um mecanismo que pode acontecer de duas formas, a negação da realidade, quando um indivíduo nega um fato doloroso para assim evitar a carga de dor que esse evento carrega, protegendo-se psicologicamente assim como exemplifica a autora e estudiosa dos mecanismos de defesa FREUD.

    Anna – 193, pg.71, “O método de negação, no qual se baseia a fantasia de inversão dos fatos reais nos seus opostos, é empregado em situações em que é impossível evitar uma impressão dolorosa externa.”, ou negação de um desejo considerado com inapropriado.

    Na negação da realidade podemos tomar como exemplo a esposa que perde seu marido em um acidente, mais continua diariamente a realizar as mesmas tarefas que se ocupava quando ele estava vivo, como passar sua roupa, fazer seu café da manhã e dar boa noite antes de dormir; na negação de desejos, podemos utilizar como exemplo a pessoa de dieta, que ao olhar para uma comida saborosa diz não sentir desejo por ela, mesmo sendo evidente a todos que presenciam a cena, de que é o contrário.

    Isolamento, Deslocamento e Regressão

    No isolamento, temos a separação das imagens e das emoções que viam junto delas, havendo assim uma desconexão entre os pares, para que determinados sentimentos não estejam ligados a lembranças que podem ser recorrentes em seus pensamentos e causarem dor. Como exemplo, podemos citar o indivíduo que experimenta um evento traumático, e consegue relatá-lo sem que expresse nenhum sentimento durante sua oralidade.

    No deslocamento temos o direcionamento de um sentimento por um outro indivíduo ou circunstância para uma outra coisa ou pessoa considerada pertinente para tal ato. Uma criança agredida na escola por uma outra criança pode direcionar seu sentimento de fúria pelo acontecido em seus brinquedos, que não representam para ela um perigo real, e que são veículos para a descarga de energia acumulada durante o evento traumático.

    No mecanismo de regressão a um retorno a etapas anteriores do desenvolvimento do indivíduo, onde o mesmo toma atitudes na qual sentiu-se confortável perante situações semelhantes em períodos anteriores. Uma criança que quando posta em situações de dificuldade e pressão tomava a atitude de isolar-se em seu quarto para sentir-se protegida, pode torna-se um adulto que sempre abandona seus relacionamentos quando é cobrado de alguma forma por seu par, repetindo assim o ato de isolamento quando em situação de perigo ou pressão.

    Sublimação

    A sublimação é sem sombra de dúvidas um dos mecanismos mais nobres e funcionais já abordados pela psicanálise, do qual o próprio Freud discorria com entusiasmo, nela, a energia ou instinto que cunho sexual ou destrutivo é redirecionado para alguma outra atividade que seja socialmente aceita.

    São inúmeros os exemplos que podem ser apresentados aqui; um homem traído com instintos suicidas, pode direcionar a energia do seu sentimento na criação de uma canção sobre o evento traumático, um indivíduo agressivo pode direcionar sua energia destrutiva na prática de artes marciais com a Capoeira e o Karatê.

    Anna Freud em sua célebre obra

    O ego e os mecanismos de defesa do ano de 1937, diz o seguinte: A esses nove métodos de defesa, que são muito conhecidos na prática e foram exaustivamente descritos nos trabalhos teóricos de psicanálise (regressão, recalcamento, formação reativa, isolamento, anulação, projeção, introjeção, inversão contra o ego e reversão), devemos acrescentar um décimo método, que pertence mais ao estudo da mente normal do que ao da neurose: a sublimação ou deslocamento dos anseios pulsionais. (Pg.38) evidenciando assim, a importância do processo de sublimação.

    Conclusão: os mecanismos de defesa

    Muito foi explanado acima do ego e de seus mecanismos de defesa até o presente momento, como se da o seu funcionamento, e quais mecanismos utilizados na batalha por proteção. O cerne deste trabalho foi deixar claro o valor e importância crucial da compreensão teórica e prática do ego, como o estudo do seu funcionamento por meio de seus mecanismos de defesa pode e é essencial para a análise, sendo que todo analista deveria tecer uma análise do ego para então penetrar no id.

    As manifestações do id se dão em um terreno estranho a ele, e esse terreno é repleto de forma e funcionamentos subjetivos que devem ser compreendidos e invertidos, para que o id se mostre com realmente é. Esse terreno estranho pode ser classificado como o universo do ego e seus mecanismos.

    Referências bibliográficas

    FREUD, Anna. O ego e os mecanismos de defesa / Freud, Anna; tradução Francisco Settineri. — Porto Alegre: Artmed, 2006. FREUD, A., & Carcamo, C. E. (1961). El yo y los mecanismos de defensa (Vol. 3). Barcelona: Paidós. br.psicologia-online.com/mecanismos-de-defesa-para-anna-freud-tipos-e-exemplos-46.html >. Acessado em: jun. 2022. www.diferenca.com/ego-superego-e id/ >. Acessado em: jun. 2022. www.psicanaliseclinica.com/o-que-e-ego/ >. Acessado em: jun. 2022. super.abril.com.br/especiais/id-ego-e-superego-deus-e-o-diabo-na-terra-do-eu/ >. Acessado em: jun. 2022.

    Este artigo sobre os mecanismos de defesa foi escrito por Mateus de Paiva Lima, para o Curso de Formação Psicanálise Clínica.

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