Marilyn Monroe

Marilyn Monroe: personalidade, terapeutas e relação com a psicanálise

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Entenda sobre a vida de Marilyn Monroe e sua relação com a Psicanálise.

“Ao tentarmos impedir um perigo pela vontade, frequentemente precipitamos seu advento” (Anna Freud).

Quem era Marilyn Monroe?

Nascida Norma Jeane Mortensen, em 1.º de junho de 1926, em Los Angeles, teve uma infância conturbada, tendo sido entregue a uma família adotiva logo após seu nascimento (LESSANA, 2006, p.16). Em 1933 voltou a morar com a mãe, mesmo ano que seu bisavô se suicidou por problemas financeiros. Gladys, sua mãe, convenceu-se que “havia herdado um desequilíbrio que corria na família, começou a beber, consultou médicos que lhe receitaram remédios” (LESSANA, 2006, p.19).

No início de 1934, Gladys foi hospitalizada em um asilo – mesmo lugar que sua mãe já ficara e Marilyn também receberia tratamento no futuro. Além do suicídio do bisavô, as internações da avó materna e da mãe, também um seu tio, Marion Monroe também teria se suicidado – nome este que seria uma inspiração para seu nome artístico posteriormente (LESSANA, 2006).

Tanto em LESSANA (2006) quanto em The Mystery of Marilyn Monroe (2022) são encontrados relatos de que ela sofreu abusos sexuais na sua infância e adolescência. Após a internação de sua mãe, passou por 10 lares adotivos, orfanato, outro lar adotivo, 4 anos com guardião e seu primeiro casamento foi arranjado para que ela não tivesse que voltar ao orfanato (THE… 2022 ).

Marilyn Monroe e o início de sua carreira

Iniciou sua carreira como modelo fotográfica em meados de 1944-45. Começou a ser muito bem sucedida e era muito perfeccionista com os resultados das sessões. Ela se divorcia em 1946, e nasce o sonho de ser atriz.

Segundo LESSANA (2006), por sugestão do estúdio no qual ela iria trabalhar, Norma Jean Dougherty optou por assumir o sobrenome de solteira da mãe Monroe e o prenome Marilyn, inspirado em uma outra atriz e também por lembrar a sonoridade do nome de seu tio materno Marion.

Blonde: a trajetória de Marilyn Monroe

Em 16 de setembro de 2022 , estreou uma nova versão biográfica romanceada de Marilyn Monroe. Pode-se observar que muitos fatos de suas biografias são reelaborados e contados de maneiras bastante diferentes na obra cinematográfica.

Infelizmente, nem todos os fãs, admiradores, curiosos se atentarão para a nota da autora do livro Blonde, onde ela mesma afirma que “Fatos biográficos relacionados a Marilyn Monroe não devem ser buscados em Blonde” (OATES, 2021).

Border. Marilyn era mesmo assim?

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, explica que em seu entendimento, para realizar o diagnóstico de um paciente com TPB (transtorno da personalidade borderline) ela destaca ainda ser necessária a presença de, no mínimo, cinco das características descritas por um período de pelo menos um ano (em contextos sociais diferentes) para que o diagnóstico possa ser estabelecido de fato:

1. Impulsividade potencialmente perigosa em pelo menos duas áreas (como gastos excessivos, promiscuidade, direção perigosa, abuso de drogas, compulsão alimentar etc.).

2. Ira inapropriada e intensa ou dificuldade para controlá-la.

3. Instabilidade afetiva devido a uma grande reatividade do estado de humor.

4. Ideias paranoides transitórias relacionadas a estresse ou sintomas dissociativos graves.

5. Alteração de identidade: instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento do self.

6. Um padrão de relações interpessoais instáveis e intensas.

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    7. Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginário.

    8. Ameaças, gestos ou comportamentos suicidas recorrentes ou comportamentos de automutilação: 90% dos borderlines irão cometer uma ou algumas tentativas de suicídio e, infelizmente, 10% dessas culminarão em óbito.

    9. Sentimentos crônicos de vazio. (SILVA, 2018, p.48-49) Um dos primeiros traços de TPB que podemos observar em Marilyn Monroe, é a projeção que ela faz de uma nova identidade ao assumir um novo nome para uma “personagem” dela mesma que interpretaria a partir de então.

    Marilyn Monroe e a validação

    Ana Beatriz Barbosa afirma que em não sendo nada, ser um artista supre a necessidade e o vazio (SILVA, 2022). Outro traço TPB muito importante é a questão de “o mundo acabar” a cada decepção, da reação exacerbada a alguma frustração como podemos perceber no relato sobre a razão de seu primeiro contrato na Fox não ter sido renovado por não ser “suficientemente fotogênica”: “Chorei durante uma semana, sem comer, sem falar, como se tivesse ido ao enterro de Marilyn Monroe” (LESSANA, 2006, p.37).

    O border tem uma necessidade imensa de validação, de ser reconhecido por ser bom em algo (Silva, 2022). Elia Kazan dizia sobre ela: “Ela tinha a alma ávida por ser aceita pelas pessoas que pudessem respeitar […] ela media seu amor-próprio pela quantidade de homens que pudesse seduzir (LESSANA, 2006, p.43).

    Silva afirma sobre os artistas borderline que “eles fazem trabalhos extraordinários, porém de forma pontual, e suas carreiras são permeadas de altos e baixos profundos, assim como suas vidas afetivas e suas relações interpessoais em geral” (SILVA, 2018, p.134). Sua carreira, apesar de toda a dedicação que encontramos em diversos relatos, teve muitos altos e baixos. Sabemos que Marilyn casou-se algumas vezes.

    Se envolveu em vários relacionamentos abusivos

    O primeiro deles foi com sua primeira tutora Grace, que foi quem arranjou o primeiro casamento e o primeiro divórcio de Norma Jean: “Norma casou-se e depois se divorciou por decisão de Grace” (LESSANA, 2006, p.30). Para conseguir chegar onde ela queria, teve vários amantes, chegou a ser call girl (LESSANA, 2006, p.36) e todos os seus relacionamentos foram muito conturbados.

    Seu segundo casamento teve relatos de abusos físicos e seu terceiro marido a controlava (LESSANA, 2006; The Mystery of Marilyn Monroe, 2022). Marilyn, tentou o suicídio algumas vezes, teve vários abortos, além de várias crises de depressão. Abusava de calmantes e álcool, se tornou dependente e isso atrapalhou muitos momentos de sua carreira.

    Segundo Silva (2002) o border se torna dependente para tentar minimizar o vazio, a angústia: “O border não se vê uma pessoa inteira. Ele tem um vazio, tem a consciência deste vazio que torna ele dependente do outro. É um vazio existencial” (SILVA, 2022).

    Psicanalistas na vida de Marilyn

    O livro Marilyn – Retrato de Uma Estrela (LESSANA, 2006), usa também como fonte a preciosa correspondência entre psicanalistas que trataram de Marilyn, e também entre eles e Anna Freud. Marilyn chegou a ser analisada por Anna Freud durante o tempo que ficou em Londres e depois disso teve três psicanalistas relacionados a ela: “ter a filha de Freud como referência significava muito para ela, pois gostava imensamente de Freud” (LESSANA, 2006, p.154).

    Seus psicanalistas se correspondiam com Anna Freud, mas muitas dessas cartas acabaram por não serem mais encontradas. A primeira tentativa, em fevereiro de 1955, Marilyn consultou Margaret Hohenberg, e durante um ano se sentiu satisfeita e com melhora. Porém, decidiu trocar de maneira impulsiva, após se sentir “traída por sua psicanalista” (LESSANA, 2006, p.155).

    Sua segunda terapeuta, também indicada pela própria Anna Freud, foi Marianne Kris. Ela tinha preocupações a respeito das overdoses de Marilyn. Kris temeu pelo suicídio de sua paciente e a internou em uma clínica e o resultado foi catastrófico. Seu psiquiatra nos últimos anos de sua vida foi Ralph Greenson, recomendado por Marianne Kris. Greenson não a internou e também não teve um tratamento efetivo. Falaremos mais sobre a relação deles mais adiante. Ainda segundo Lessana (2006, p. 176), “nenhum dos psicanalistas de Marilyn se permitiu depositar confiança nela, escutar sua fala, sua língua pessoal, suas bad words, e parar de sentir medo por ela […]. Queriam segurá-la nesta vida.”

    Relação com Greenson

    Ao iniciar o tratamento de Marilyn, segundo Lessana (2006), ele queria libertá-la das drogas e curá-la das insônias. Em uma de suas cartas à Anna Freud, ele a diagnostica como “borderline com distúrbios paranoides” (LESSANA, 2006, p.158). Ainda segundo a mesma autora, ele a via como uma órfã, uma criança abandonada. Também cita paranoia e esquizofrenia.

    Ele não acreditava que a psicanálise fosse indicada no tratamento da atriz neste momento, mas sim uma intervenção ativa. Lessana (2006) também afirma que Marilyn passava horas com Greenson ao telefone e ele estava sempre disponível para ela. Abriu as portas de sua própria casa e quis lhe apresentar seus próprios valores.

    Incentivou que ela comprasse uma casa próxima à casa dele para que ela fosse mais independente e também indicou uma governanta para que pudesse “vigiá-la”. O Filho de Greenson afirma, em seu depoimento ao documentário The Mystery of Marilyn Monroe: The Unheard Tapes (Original), que seu pai “nunca tratou ninguém de forma tão pouco ortodoxa”.

    O abandono

    Marilyn fazia muitas das coisas que o psicanalista indicava com medo do abandono. Greenson acabou se envolvendo nas negociações com os estúdios, a recebeu em casa, com sua família (a quem deixava a responsabilidade de “dar uma força” quando ele estava ausente) entre outros assuntos da vida de Monroe que ele esteve presente (LESSANA, 2006; The Mystery of Marilyn Monroe, 2022).

    Greenson também acreditava que “por ser quem ela era” ela nunca poderia ser internada. Ele acreditava que ela precisava de uma família (THE… 2022) e usa também esta justificativa para os tratamentos não convencionais que dirigiu à sua famosa paciente. Marilyn por sua vez percebia que seu psicanalista não a escutava (LESSANA, 2006, p.166), acabou por sufocá-la com sua “presença e vigilância”.

    Da mesma maneira que a paciente de Freud pede a ele que faça menos perguntas, Marilyn só queria ser ouvida. Sugere que Greenson patenteie um novo método para liberar as “associações livres”, onde o paciente fala diretamente ao gravador e envia as fitas ao analista. (Idem). E na tentativa de se fazer entender pelo grande psiquiatra, ela se utiliza de sua ideia para lhe falar francamente (LESSANA, 2006, p.176).

    Considerações Finais sobre Marilyn Monroe

    Especialmente observando as transcrições realizadas das fitas gravadas por Marilyn Monroe ao seu psicanalista, pode-se perceber “um limite na técnica de Greenson, que imerge totalmente a paciente em sua vida privada e seus valores” (LESSANA, 2006, p.171).

    Lessana (2006, p.165) nos apresenta também que em depoimento à uma revista médica, Greenson justifica seu método com esta paciente, visto que os outros tinha fracassado. O tratamento realizado por Greenson foi muito questionado posteriormente, especialmente em relação às suas atitudes e posturas muito divergentes do que é indicado ao psiquiatra ou psicanalista (MARILYN MONROE: BORDERLINE -PERSONALIDADE LIMÍTROFE, 2022).

    Nas palavras de Anna Freud em uma de suas correspondências transcritas por Lessana (2006, p. 165) ao referir-se à tentativa dos psicanalistas em segurar MM nesta vida: “Ao tentarmos impedir um perigo pela vontade, frequentemente precipitamos seu advento”.

    REFERÊNCIAS

    BLONDE. Roteiro: Andrew Dominik e Joyce Carol Oates. EUA, 2022 (157 min.). Color. Legendado. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/80174263?s=a&trkid=13747225&t=wha&vlang=pt&clip=81619582 . Acesso em: 03 out. 2022. MARILYN MONROE: BORDERLINE -PERSONALIDADE LIMÍTROFE. SP: Pombo Produções, 2022. (16 min.), son., color. Série CADA CASO UM CAOS. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=trFYJu0F8sE . Acesso em: 22 set. 2022. LESSANA, Marie-Magdeleine. Marilyn – Retrato de Uma Estrela. RJ: Zahar, 2006. 200 p. Tradução de André Telles. OATES, Joyce Carol. Blonde: parte 1. RJ: Harper Collins, 2021. 400 p. tradução Luisa Geisler. SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes que Amam Demais – o Jeito Borderline de Ser. 2. ed. RJ: Principium, 2018. 240 p. THE Mystery of Marilyn Monroe: The Unheard Tapes (Original). Direção de Emma Cooper. EUA, 2022. (101 min.), color. Legendado. Disponível em: https://www.netflix.com/br/title/81216491?s=a&trkid=13747225&t=wha&vlang=pt&clip=81592897. Acesso em: 03 out. 2022. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE – ANA BEATRIZ BARBOSA. [S.I.]: Cortes do Inteligência [Oficial], 2022. (14 min.), color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8XBR1i8xdro&t=104s . Acesso em: 22 set. 2022.

    Este artigo sobre Marilyn Monroe foi escrito por Vivian Tonini de Godoy Strauss Mello Vieira([email protected]). Professora de inglês, leciona há 12 anos no ensino público na cidade de São Paulo. Pós-graduada em Ensino de Língua Inglesa, em formação de psicanalista e mestranda em Psicologia Criminal.

    3 thoughts on “Marilyn Monroe: personalidade, terapeutas e relação com a psicanálise

    1. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom comentário, parabéns! Pena que ela teve uma vida infeliz do início ao fim!

    2. Rosangela Barboza disse:

      So falam da Marilyn como se ela fosse uma pessoa triste ,fracassada e nåo sos seus sucessos e ela nåo se suicidou ,ela foi uma empresaria de sucesso tinha sua propia produtora foi uma mulher revolucionarias deixem de distorcionar a imagem de yma pesdoa morta esquisofrenica da onde,porque toda loira tem que ser burra desequilibrada e insegura me poupe

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