Hoje falaremos sobre o mediador psíquico. Dentro do nosso aparelho psíquico, temos um mediador que desempenha um papel fundamental na regulação de nossos desejos.
Frequentemente, observamos o ID como o elemento bagunceiro e inconsequente, aquele que impulsiona nossos desejos primitivos e instintivos sem considerar as normas sociais ou éticas. Esse aspecto do ID pode ser visto como a parte mais instintiva e não civilizada da psique.
Entendendo sobre o mediador psíquico
No entanto, à medida que o desenvolvimento psíquico avança, surgem mecanismos que atuam para moderar e equilibrar essas forças mais primitivas. Podemos pensar na esquematização de que, após a castração simbólica, surge esse tal mediador, que é crucial para a nossa adaptação ao mundo social.
Muitos teóricos também consideram esse mediador como um substituto do complexo de Édipo, que é um conceito central na psicanálise freudiana. O complexo de Édipo é a fase do desenvolvimento psíquico em que a criança experimenta desejos inconscientes em relação ao pai ou à mãe e a sensação de rivalidade com o pai do mesmo sexo.
A castração simbólica, então, marca o momento em que o indivíduo começa a internalizar as normas e os valores sociais e morais. É fato que, para vivermos em sociedade, precisamos seguir regras que nos são impostas.
O mediador psíquico e o sistema social
Essas regras não são diretamente escolhidas por nós, mas, em vez disso, são estabelecidas por um sistema social e cultural mais amplo. No entanto, temos uma participação indireta nesse processo.
Por exemplo, em uma república democrática, elegemos governantes que, através de processos de votação, tomam decisões que moldam as regras e as leis pelas quais somos governados. Embora não possamos aprovar diretamente todas as decisões, confiamos na capacidade de nossos representantes para tomar decisões em nosso nome.
Caso contrário, enfrentamos punições ou consequências, que podem variar desde sanções legais até exclusão social. Essa situação pode levar à reflexão sobre a natureza da liberdade e segurança, uma questão que foi abordada por filósofos como Thomas Hobbes.
O mediador interno
Hobbes argumentava que, ao aceitar a autoridade de um governante ou de um sistema político, os indivíduos trocam uma parte de sua liberdade pessoal em troca de segurança e ordem. Esse conceito pode ser comparado à dinâmica psíquica da castração e do surgimento do mediador interno.
Se considerarmos que a castração simbólica representa a internalização de normas e regras sociais, isso pode ser visto como um mecanismo que nos protege da anarquia interna e externa. A metáfora da castração nos leva a questionar se a dinâmica psíquica relacionada à castração é o oposto do mecanismo político descrito por Hobbes.
No contexto da psicanálise, a castração não se refere apenas à perda de um órgão físico, mas ao processo psicológico de internalização de normas e restrições. Esse processo resulta na formação do superego, que atua como um mediador entre o ID e o Ego, regulando nossos impulsos e desejos para que possamos funcionar de maneira adequada na sociedade.
O mediador psíquico e o id
Assim, podemos pensar na castração como uma etapa essencial para a formação de um mediador interno que controla e modera os desejos e vontades do ID. No entanto, essa mediação não ocorre de forma direta; em vez disso, acontece de maneira indireta.
Após a castração simbólica, que ocorre quando a criança começa a internalizar as regras e normas sociais, ela não está mais presa ao complexo de Édipo. Esse processo permite a transição para uma nova fase de desenvolvimento psíquico, marcada pela busca de liberdade e autonomia, conceito que difere do que Hobbes descreveu em sua teoria.
A partir da castração, o sujeito não procura mais o aconchego e a segurança que o complexo de Édipo proporcionava. Em vez disso, é necessário um investimento maior de energia e uma vontade mais forte para superar o complexo de Édipo e alcançar uma nova forma de liberdade psíquica.
O amadurecimento psíquico
A ideia de que não há uma idade específica ou um momento determinado para essa quebra é relevante, pois indica que o processo de amadurecimento psíquico é contínuo e pode ocorrer em diferentes estágios da vida. Um indivíduo pode, portanto, ter 40 anos e ainda estar preso ao complexo de Édipo, o que sugere que a teoria de Hobbes pode influenciar esse comportamento ao enfatizar a troca de liberdade por segurança.
O conceito de vontade desempenha um papel crucial nesse processo. Mesmo que a vontade não seja sempre consciente, ela pode impulsionar a realização da castração simbólica e o desenvolvimento do superego.
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A vontade é o motor que nos permite superar as limitações impostas pelo complexo de Édipo e buscar uma forma de equilíbrio mais madura e autônoma.
A castração
A realização da castração e o surgimento do superego são, portanto, um reflexo da capacidade do indivíduo de integrar e equilibrar as forças internas e externas. Quando a vontade é estabelecida e a castração ocorre, o superego emerge como o mediador que regula o ID e o Ego, promovendo uma busca por equilíbrio e humildade.
Essa busca por equilíbrio não é uma forma de moralismo, mas sim uma tentativa de alcançar uma harmonia psíquica que permita uma convivência mais funcional e adaptativa com os outros.
A humildade, nesse contexto, refere-se à capacidade de reconhecer e respeitar as regras e normas que governam a vida social e pessoal.
Conclusão sobre o mediador psíquico
Dessa forma, a natureza psíquica nos oferece um mediador e um ajudante, como o recalque, que contribui para a nossa capacidade de lidar com os desejos e impulsos do ID de maneira mais controlada.
Seguindo esse raciocínio, a presença do mediador interno permite que superemos o complexo de Édipo e, consequentemente, a castração simbólica, alcançando uma nova forma de desenvolvimento psíquico que nos ajuda a viver de maneira mais equilibrada e harmoniosa.
Artigo escrito por Jackson Henrique – jacksonhenriqueponteslima64@