Neurose Obsessiva

Neurose Obsessiva: significado em psicanálise

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A Neurose Obsessiva compõe um dos principais quadros da clínica psicanalítica. No artigo, As Neuropsicoses de Defesa (1894), presente na obra Primeiras Publicações Psicanalíticas (1893 – 1899), Freud tenta formular uma teoria sobre a histeria adquirida, fobias, obsessões e algumas psicoses alucinatórias.

Laplanche e Pontalis (2004) elucidam que “A Neurose obsessiva, antes de ser isolada por Freud como afecção autônoma, fazia parte de um quadro geral — as obsessões eram relacionadas à degenerescência mental ou confundidas como neurastenia”

Entendendo a Neurose Obsessiva

A obsessão ocorre após um deslocamento do afeto de sua representação original, reprimida após um intenso conflito psíquico. Assim, o sujeito de estrutura neurótica, desprovido de capacidade de conversão [no caso dos neuróticos obsessivos], mantém em sua psique o afeto. A representação original continua na consciência, mas perde a força; o afeto, agora livre, desloca-se livremente às representações incompatíveis.

Essas representações incompatíveis ligadas ao afeto caracterizam as representações obsessivas. Freud (1894 [1996], p. 59) destaca que “Em todos os casos que analisei, era a vida sexual do sujeito que havia despertado um afeto aflitivo, precisamente da mesma natureza ligada à sua obsessão” Antes de suas últimas formulações acerca da etiologia das neuroses, Freud acreditava que todas as crianças — na tenra idade — eram seduzidas pela figura paterna.

Nesse mesmo ano [1896], Freud utiliza pela primeira vez o termo Psicanálise para descrever seu novo método psicoterápico — formulado para investigar a obscuridade que é o inconsciente — baseado no método catártico de Josef Breuer (1842 – 1925). Através de seu novo método, Freud investiga os sintomas histéricos desde sua raiz. Na tentativa de investigar a origem dos sintomas histéricos, em suas análises, Freud percebeu que a origem dos sintomas estava relacionados a um trauma ocorrido na infância — trauma esse de gênese sexual.

Neurose Obsessiva e a Psicanálise

Segundo o psicanalista, “o evento do qual o sujeito reteve uma lembrança inconsciente é uma experiência precoce de relações sexuais com excitação real dos órgãos genitais, resultante do abuso sexual cometido por outra pessoa” (1896 [1996], p. 151).

Freud acreditava que a origem da histeria era causada por uma experiência sexual passiva (traumática) na infância — dos 8 aos 10 anos — antes de a criança atingir a puberdade e todos os acontecimentos ulteriores à puberdade não seriam por si só responsáveis por originar as neuroses, mas sim agentes provocadores, ou seja, eventos que fizeram aparecer o que estava latente: a neurose.

Durante muito tempo, o terapeuta acreditou que tanto a histeria quanto a neurose obsessiva nasciam de uma forma muito parecidas. Enquanto na histeria o sujeito exerce um papel passivo, na neurose obsessiva há uma relação ativa, em que há um evento que proporcionou prazer, mas, em simultâneo, o gozo desse prazer é cheio de autorrecriminações uma vez que depende de um intenso conflito psíquico.

Neurose Obsessiva Freud e Wihelm Fliess

Numa das múltiplas cartas trocadas entre Freud e Wihelm Fliess (1858 – 1928), Freud conta que estava com algumas dúvidas sobre o que dissera a respeito da etiologia das neuroses, ele diz ser muito improvável acreditar que todos os pais [figura paterna] cometam atos perversos. Dessa forma, o psicanalista abandona a ideia de que as neuroses — histeria e neurose obsessiva — eram originadas por uma relação sexual passiva/ativa e indesejada com seu progenitor.

Somente na obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1901-1905), Freud desenvolve a sua nova teoria: a sexualidade infantil – na infância, a criança é totalmente tomada por desejos que são satisfeitos através das suas zonas erógenas, que variam de acordo com a fase do desenvolvimento psicossexual em que ela se encontra.

Ele desenvolve também sua teoria sobre o complexo de édipo e como as fantasias atuam na esfera psíquica. No artigo Uma Contribuição ao Problema da Escolha da Neurose (1913), Freud desenvolve uma questão já problematizada em artigos anteriores.

A escolha da neurose

Agora, para entender como funciona o processo de “escolha da neurose”, ele retorna a uma das fases do desenvolvimento psicossexual infantil: a fase sádico-anal [pré-genital], em que há um investimento libidinal que Freud chamou de “ponto de fixação”. “[..] Assim, a fixação na fase anal estaria na origem da neurose obsessiva e de certo tipo de carácter” (LAPLANCHE; PONTALIS, 2004, p. 190).

A neurose obsessiva parte de uma fixação da libido na fase anal (1 – 3 anos), quando a criança ainda não chegou ao seu período de escolha objetal, ou seja, está em sua fase autoerótica. Posteriormente, se o sujeito vivenciar uma experiência dolorosa, é bem provável que regrida à fase em que houve a fixação.

Em um dos casos de neurose obsessiva analisados por Freud — uma mulher que durante a infância sentia um desejo intenso de ter filhos, desejo esse motivado por uma fixação infantil. Na fase adulta, esse desejo continuou até o momento em que ela percebeu que não poderia engravidar do seu marido, seu único objeto de amor. Diante disso, ela reagiu a essa frustração com uma histeria de ansiedade.

Neurose Obsessiva e os primeiros sintomas obsessivos

Inicialmente, ela tentou esconder do seu marido o profundo estado de tristeza que estava; no entanto ele percebeu que a ansiedade de sua esposa fora causada justamente pela impossibilidade de possuir filhos com ele e se sentiu fracassado com toda a situação, então começa a falhar nas relações sexuais com sua esposa. Ele viaja. Ela, acreditando que ele tinha se tornado impotente, produz na noite anterior os primeiros sintomas obsessivos e, com isso, sua regressão.

A necessidade sexual dela foi transferida para uma intensa compulsão por lavagem e limpeza; mantinha medidas protetoras contra certos danos e acreditava que outras pessoas tinham motivo para temê-la. Ou seja, ela utilizou formações reativas para ir contra seus próprios impulsos anal-eróticos e sádicos.

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    Na maioria das vezes, o neurótico obsessivo possui um temperamento forte e agressivo, com muita frequência se torna impaciente, irritante e impossibilitado de se desprender de determinados objetos. Esse temperamento, ou como Freud fala – caráter, relaciona-se com a regressão ao estágio pré-genital sádico e anal erótico.

    Considerações finais

    Conforme Ribeiro (2011, p.16), “o encontro do sujeito com o sexo é sempre traumático e, na neurose obsessiva, é acompanhado por um excesso de gozo que acarreta culpa e autorrecriminação (sic)”. Sendo assim, o obsessivo entra em conflito com seu desejo – desejo esse que é o ponto principal da neurose obsessiva.

    “O recalque incide sobre a representação do trauma e o afeto é deslocado para uma ideia [sic] substitutiva. Desse modo, o sujeito obsessivo é atormentado pela autorrecriminação [sic] sobre fatos aparentemente fúteis e irrelevantes” (ibid, p. 16).

    Logo, o sujeito realiza um esforço enorme para negar o seu desejo e, após um intenso conflito psíquico, a representação original é recalcada, surgindo assim as representações obsessivas, que possuem muito menos intensidade que a original; mas agora estão supridas pelo afeto, que continua o mesmo.

    Referências Bibliográficas

    FREUD, Sigmund. A Hereditariedade e a Etiologia das Neuroses. Rio de Janeiro: IMAGO, v. III, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud). Título original: L ‘HÉRÉDITÉ ET L’ÉTIOLOGIE DES NÉVROSES (1896). LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. Fixação. Tradução: Pedro Tamen. 4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Título original: VOCABULAIRE DE LA PSYCHANALYSE. LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. Neurose Obsessiva. Tradução: Pedro Tamen. 4º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Título original: VOCABULAIRE DE LA PSYCHANALYSE.04 FREUD, Sigmund. As Neuropsicoses de Defesa. Rio de Janeiro: IMAGO, v. III, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud). Título original: DIE ABWEHR-NEUROPSYCHOSEN (1894) .RIBEIRO, Maria Anita Carneiro. A neurose obsessiva. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. (PSICANÁLISE PASSO-A-PASSO).

    O presente artigo foi escrito por Luckas Di’ Leli ([email protected]). Estudante de filosofia e estou em processo de formação em Psicanálise pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC).

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