O que é formação em psicanálise

O que é formação em psicanálise

Posted on Posted in Formação em Psicanálise

No “trato” à saúde mental a psicanálise tem seu próprio percurso; e a essencial e primeira questão de imensa profundidade e intensidade é: o que é formação em psicanálise?

Diferenciando psicanálise, psiquiatria e psicologia

Psiquiatria, psicologia e psicanálise; DEVEM SIM CONCORRER! Mas, juntas em prol do sujeito. Concorrer a um mesmo ideal comum. Tanto a psicologia como a psiquiatria não trazem consigo mais tantas “dúvidas”, desinformação ou informações inadequadas quanto a questão da formação.

É sabido que a psiquiatria é uma especialização inerente ao campo da medicina; e a psicologia, como se conhece hoje, surgiu, intramuros, nas universidades, por volta de 1879 (Wilhelm Wundt, em Leipzig na Alemanha), como uma disciplina científica, de estudo experimental, para questões metafísicas do humano.

O vocábulo “universidade” citado, imbrica a condições “sine qua non” que preconizam a formação em psiquiatria e psicologia: graduação específica, grades curriculares, preceitos, regras, condutas, manuais e procedimentos padrão. Questões, sem dúvida, importantes e pertinentes à formação universitária!

Entendendo o que é formação em psicanálise

Há cerca de um século, Freud – médico neurofisiologista – pensou e quis fazer diferente, uma outra opção, um outro método científico, outros profissionais da saúde mental para “novas” demandas! E assim se deu!

Hoje, no Brasil, “A profissão de Psicanalista é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego / CBO 2515.50, de 09/02/02, pelo Conselho Federal de Medicina (Consulta nº 4.048/97), pelo Ministério Público Federal (Parecer 309/88) e pelo Ministério da Saúde” (Aviso 257/57). (Blog, Psicanálise Clínica Oficial: Campinas, SP, IBPC, 2019: https://www.psicanaliseclinica.com/como-clinicar-psicanalista/; acessado em 03.07.21).

Retorno a Freud na formação psicanalítica

Em “Um estudo autobiográfico”, volume XX (1925 – 1926), entre outras questões, Freud disserta sobre a análise leiga (analista não-médico)! De forma magistral, em sua genialidade, rebeldia científica e amplitude criativa, neste trabalho, Freud expõe, “em forma de diálogo, de modo claro e preciso, para um interlocutor imaginário, os princípios da teoria e da clínica, assim como as bases para a formação” (Tanis, 2018).

“Coincidências” à parte, tal texto de Freud fora escrito por ocasião de uma acusação e processo judicial, nos tribunais de Viena (Áustria), apresentada contra o Dr. Theodor Reik – um membro não-médico, psicanalista, da Sociedade de formação de Freud. O caso contra Reik, óbvio, fora anulado!

Theodor Reik fora um psicanalista (Doutor em filosofia) formado por Freud (um de seus primeiros “alunos” em Viena, na Áustria) e foi pioneiro como analista leigo, de percurso psicanalítico, nos Estados Unidos.

Especificidades e o que é formação em psicanálise

“A psicanálise nasceu, como consciência crítica da Modernidade. Vale dizer que, por meio dela, os reinos do eu e da razão soberana foram destronados” (Tanis, 2018).

A psicanálise teria, neste caso, operado uma ruptura com o saber existente e produzido o seu próprio lugar. O fato é que, ao percorrermos o – ou recorrermos ao – caminho empreendido por Freud, verificamos que seu começo – da psicanálise – é a produção do conceito de Inconsciente que resultou na clivagem da subjetividade.

A partir deste momento, a subjetividade deixa de ser entendida como um todo unitário, identificado com a consciência e sob o domínio da razão, para ser uma realidade dividida em dois grandes “sistemas” – o Inconsciente e o Consciente – e dominada por uma luta interna em relação à qual a razão é apenas um efeito de superfície.

A subjetividade em Consciente e Inconsciente e o que é formação em psicanálise

Paralelamente à clivagem da subjetividade em Consciente e Inconsciente, dá-se uma ruptura entre enunciado e enunciação, o que implica admitir-se uma duplicidade de sujeito na mesma pessoa. Essa divisão não se faz em nome de uma unidade harmoniosa do sujeito, mas produz uma fenda entre o “dizer” e o “ser”, entre o “eu falo” e o “eu sou”.

Quanto a esta “duplicidade”, esta “ruptura” não harmoniosa do sujeito, esta fenda dolorosa, Freud (1925 – 1926), cita: “procuramos enriquecê-lo a partir de suas próprias fontes internas, colocando à disposição do seu ego aquelas energias que, devido à repressão, se acham inacessivelmente confinadas em seu inconsciente, bem como aquelas que seu ego é obrigado a desperdiçar na tarefa infrutífera de manter essas repressões”.

A Psicanálise e a Farmacologia Médica

Fica a questão: por que o ser que sofre precisa da psicanálise se tem a psicofarmacologia para cuidar dos sintomas de seu sofrimento?

A partir de 1950, as substâncias químicas modificaram a paisagem do sofrimento; substituindo os tratamentos de choque pela redoma medicamentosa. Embora não curem nenhuma doença mental ou nervosa, elas – as substâncias químicas – revolucionaram as representações do psiquismo, “fabricando um novo homem”, polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhado por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    Os remédios têm o efeito de normalizar comportamentos e eliminar os sintomas – só os sintomas! – mais dolorosos do sofrimento psíquico, sem lhes buscar significação” (Roudinesco, 2000).

    Afinal, O que é formação em psicanálise?

    Ponto fulcral desde de Freud, a formação em psicanálise tem seu próprio percurso fora de qualquer enquadramento ou engradeamento existente à época – e até hoje.

    Deve ela – a formação – abranger: “elementos das ciências mentais, da psicologia, da história e do estudo da evolução” (Freud, 1925 – 1926). “Os institutos de formação nasceram com o objetivo inicial de garantir um ensino fiel à descoberta psicanalítica e, ao mesmo tempo, disciplinar uma prática que corria o risco de se tornar selvagem em mãos de charlatões sem uma formação adequada.

    O Instituto de Psicanálise de Berlim, fundado em 1926, será seu primeiro modelo (Eitingon), a partir do qual fica estabelecido o famoso tripé: análise didática, supervisão e seminários teóricos” (Tanis, 2018).

    Sintetiza-se, de Freud e Lacan:

    • Formação continuada do analista (por toda vida);
    • Tripé freudiano: análise pessoal, supervisão e estudos teóricos;
    • Tripé lacaniano: clínica (análise pessoal atendimento), escrita, transmissão.

    No entanto, há de se destacar que, condições necessárias a um psicanalista erguem-se, de fato, muito além de tripés sintetizados.

    Zimerman (2008), cita claramente que, “mais do que uma necessária bagagem de conhecimentos (provindos de seminários e estudos continuados), de uma, igualmente, competente habilidade (resultante de supervisões), o psicanalista deve possuir uma adequada atitude psicanalítica (mercê de seus atributos naturais e daqueles desenvolvidos por meio da análise pessoal) ”.

    Considerações finais

    A experiência clínica demonstra a importância dos atributos da pessoa real do analista, caracterizados pela absoluta necessidade de funções de percepção, juízo crítico, visão multifacetada, respeito, empatia, coragem, capacidade de ser continente (expressão de Bion), paciência, intuição, capacidade de síntese, amor as verdades.

    Inúmeras outras condições poderiam ser citadas, detalhadas, subdivididas, para que a pessoa real do possa “enfrentar as angústias e os imprevistos de uma longa viagem pelos meandros do inconsciente, do paciente e dele mesmo” (Zimerman, 2008).

    Referências Bibliográficas

    FREUD. S. Um estudo autobiográfico, volume XX, análise leiga: 1925 – 26.

    NASIO. J.-D. Um psicanalista no divã. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

    Psicanálise Clínica Oficial (Blog): Campinas/SP – IBPC, 2019

    ROUDINESCO, E. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zafar Ed., 2000.

    TANIS, B. A formação psicanalítica. Especificidade e transformações. São Paulo: Jornal da Psicanálise, 2018

    ZIMERMAN. David E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008.

    O presente artigo foi escrito por Marcos Castro. Psicanalista clínico, pesquisador, professor, escritor, palestrante. Residente em Ouro Fino – Sul de Minas Gerais. Atendimento presencial e online. Contato: Instagram – @marcos_castro_castro

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *