Paul Morphy

Paul Morphy, o gênio do xadrez e suas neuroses

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Em 1858, Paul Morphy (1837-1884) cruzou o atlântico com o objetivo de desafiar os maiores jogadores de xadrez da Europa. No ano anterior ele havia conquistado o campeonato americano e não encontrava nenhum adversário no novo mundo.

Na Europa seu êxito foi ainda maior consagrando-o como o maior de todos os tempos. Quando retornou a Nova York recebeu inúmeras homenagens até mesmo uma estátua sua em ouro, mas por alguma razão logo após abandou o xadrez e desenvolveu vários sintomas psicológicos.

Conhecendo mais Paul Morphy

Há uma famosa citação atribuída a Clarice Lispector: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. / Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”.

O que levou Morphy a parar com uma atividade que o tornou famoso mundialmente até os dias de hoje? Suas neuroses o ajudaram a chegar onde chegou? O Xadrez em um ponto extremo pode levar seu praticante a desenvolver algum desequilíbrio mental?

A inesperada morte de seu pai, o quanto o afetou? A desilusão amorosa por uma jovem rica e bonita pode ter afetado o seu equilíbrio emocional? Neste artigo vamos delinear sobre algumas destas questões.

Quem foi Paul Morphy?

Paul Morphy nasceu em Nova Orleães, em uma família rica. Seu pai, Alonzo era advogado e atuou como legislador, possuía nacionalidade espanhola. Sua mãe, Louise Thérèse, era musicalmente talentosa, filha de uma família créole francesa. Morphy cresceu em uma atmosfera civilizada e cultural, onde o xadrez e a música estavam sempre presentes. Ninguém ensinou Morphy jogar xadrez, ele aprendeu por conta própria quando criança apenas vendo as pessoas jogarem.

Com 12 anos já era considerado um gênio, pois adquiriu um nível de jogo excepcional e jogava partidas simultâneas “às cegas” (sem ver o tabuleiro). Estudante de Direito e dotado de fantásticas capacidades de memorização, forma-se advogado aos 19 anos. Jovem demais para exercer a profissão, ele decide se dedicar ao xadrez. Paul Morphy torna-se aos 20 anos o primeiro campeão dos EUA em Nova Iorque (1857).

Morphy decide então viajar para a Europa, onde venceu todos os grandes jogadores do Velho Continente. Foi a primeira vez na história em que um americano provou ser superior a qualquer representante em seu campo vindo dos países mais antigos.

Paul Morphy e o xadrez

Bobby Fischer (1943-2008) americano campeão mundial de xadrez em 1972, afirmava:” em um jogo definido, Morphy venceria hoje qualquer um. No xadrez, Morphy foi provavelmente o maior gênio dentre todos.”, e o colocava na sua lista(1964) em 1ª lugar como o maior jogador de xadrez de todos os tempos.

Morphy, tinha uma personalidade jovial e doce, extremamente educado com todas as pessoas independente de classe social, possuía uma estatura de 1,60m e se vestia de maneira soberba e um “rosto como uma jovem na adolescência” (FM Edge).

O caso Paul Morphy

Freud em seu artigo “Aqueles destruídos pelo sucesso”, diz que as decisões catastróficas e explosões na vida particular não acontecem depois de um fracasso, mas após uma vitória. Exemplos inúmeros temos ao longo da história e atuais. Inúmeros músicos, Hugh Grant e a prostituta, Maradona e etc.

Freud já entendia que todos somos um pouco neuróticos. Paranoias dos fatos Após seu retorno da turnê na Europa, em pouco tempo Morphy desenvolveu paranoias onde imaginava-se perseguido por pessoas tentando envenená-lo , conspirações onde seu cunhado e amigo íntimo conspirava para destruir suas roupas e matá-lo , chegando a agredi-lo inesperadamente. Durante um certo período tinha a mania de andar para cima e para baixo na varanda declamando palavras desconexas.

Todos os dias ao meio-dia e minunciosamente vestido passeava e depois se retirava ao seu quarto saindo novamente a noite para ópera, nunca perdendo uma única apresentação. Ele não via ninguém somente sua mãe. E principalmente não podia escutar ou ouvir alguém falar em xadrez e até mesmo evitando locais onde havia jogado e obtido grandes êxitos. Sua saúde mental degrada-se e ele morre na sua banheira de uma “congestão mental” com 47 anos.

Neurose e Psicose

É importante distinguir a neurose da psicose para melhor compreender o comportamento de Morphy . Conforme Freud “a diferença genética entre uma neurose e uma psicose, é que a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo.”

Seguindo essa afirmação podemos dizer que a Neurose é causada por um desejo represado, conflito entre o ID/EGO , e está presente na maioria das pessoas , pois quando o ego não suporta mais esta pressão causa sintomas neuróticos com Histeria (tiques, dores, espasmos, tremores); Obsessiva (pensamentos incontroláveis); Fóbica(medo de certas coisas ou situações, escuros, gato, circo)

A Psicose é o conflito entre o ID+EGO com o mundo externo, onde a pessoa coloca toda a culpa ao mundo exterior e pode ser: Esquizofrênica (afastamento de si mesmo a ponto de não se reconhecer); Maníaca depressiva (transtorno bipolar); Paranoica (ciúmes, grandeza). Notas para uma análise Em novembro de 2021 , em Dubai o campeão mundial de xadrez Magnus Carlsen defendia seu título contra o russo Ian Nepomniachtchi. Nesta partida ocorreu o jogo mais longo da história das disputas mundiais. Foram 7 horas e 45 minutos com 136 lances.

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    Uma probidade mental

    São poucos que conseguem manter esta pressão por mais de 3 horas, mas nos gênios não, pois a probidade mental encontra-se essencialmente na integridade moral, sendo que a estabilidade mental só pode existir enquanto houver ausência de culpa. Ao descarregar a energia do id ao longo de um caminho desviado, Morphy protege contra os perigos para o ego que sabemos proceder do acúmulo excessivo dessa energia.

    A perturbação mental de Morphy foi provocada por seu próprio sucesso. Freud assinala que as pessoas que sucumbem à tensão de um sucesso muito grande o fazem porque só podem suportá-lo na imaginação, não na realidade. A motivação inconsciente de Morphy só poderia ter sido o desejo de superar o pai de maneira aceitável. Castrar o pai em um sonho é uma questão muito diferente de fazê-lo na realidade.

    A situação real provoca a culpa inconsciente em toda a sua força, e a pena pode ser o colapso mental. Uma conclusão geral emerge da análise da vida de Morphy e fornece alguma pista para a associação bem reconhecida entre genialidade e instabilidade mental, podendo ser que o caso de Morphy seja um caso geral.

    Conclusão

    Concluímos que gênio é evidentemente a capacidade de aplicar dons incomuns com concentração intensa, mesmo que apenas temporária. Arte e Gênio em Morphy. No Café de la Régence em Paris, local de referência do xadrez na Europa, Morphy jogou oito partidas as cegas(olhos vendados) simultaneamente contra adversários muito fortes. Após dez horas venceu a todos, neste período ele não bebeu água ou ingeriu qualquer alimento.

    Ao final houve um tumulto causado pela excitação de todos no local, o que fez Morphy fugir para seu hotel. Na manha seguinte ao acordar ditou todas as jogadas das oitos partidas ao seu secretário e o mais impressionante que analisa cada linha de suas jogadas e tudo mentalmente.

    No diagrama a seguir uma partida ocorrida no ano de 1858, também em Paris e é chamada a “Partida da Ópera,” a obra-prima informal de Paul Morphy jogada contra o Duque de Brunswick e encanta do princípio ao fim. Mostra o valor do desenvolvimento, o valor verdadeiro das peças e evidentemente a arte, gênio e a beleza empreendidas por Morphy . Após 9. … b5 , Morphy tem mate em 7 lances .

    Referências: texto baseado no artigo DE ERNEST JONES- THE PROBLEM OF PAUL MORPHY.

    O presente artigo sobre Paul Morphy foi escrito por Emilio Mansur, Engenheiro Civil-Eletricista, e estudante de psicanálise pelo Instituto de Psicanálise Clínica (IBPC), contato: [email protected]

    2 thoughts on “Paul Morphy, o gênio do xadrez e suas neuroses

    1. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom comentário histórico! Vimos que apesar da capacidade mental de Paul Morphy, a mente humana tem seus limites! Tem uma frase de um antigo escritor que diz: ” O que as suas mãos tiverem que fazer,que o façam com toda a sua força,(…)” Entendo que cada um de nós temos nossos limites, quando tentamos superá-lo, de alguma forma nos prejudicamos.

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