Segundo Freud, os atos falhos não são eventos casuais, porém, atos mentais sérios; têm um sentido; surgem da ação concorrente ou, talvez, da ação de mútua oposição, de duas intenções. Uma primeira menção feita por Freud a um ato falho está numa carta a Fliess, de 26 de agosto de 1898, onde o mesmo se refere ao termo em alemão “fehlleistung”, isto é, “operação falhada”.
Daí houve a necessidade de traduzir os termos alemães por “ato falho”. Os atos falhos podem ser classificados da seguinte forma: a) Lapsos da língua; b) Esquecimentos; c) Equívocos na ação; e d) Erros.
É importante esclarecer que os atos falhos também podem acontecer combinados entre si, ou seja, mais de um tipo de ato falho sendo manifestado em conjunto no sujeito.
Lapsos da língua e os atos falhos
Os lapsos da fala, de leitura e de escrita têm pontos de vista e observações válidos a todos os anteriores, o que, segundo Freud, não é de surpreender, considerando o íntimo parentesco entre essas funções. O lapso da fala consiste em um deslize, erro, ou operação falha na linguagem, isto é, cometido verbalmente por um sujeito. Um lapso da fala acontece quando, por exemplo, um sujeito empregou uma palavra ao invés de uma outra que tinha em mente até então.
Os lapsos de escrita são muito parecidos com os lapsos da fala, já que, segundo Freud, pode acontecer, por exemplo, que uma pessoa que pretende dizer algo venha a usar, em vez de uma palavra, outra palavra; ou que faça a mesma coisa escrevendo, podendo ou não perceber o que fez.
Já os lapsos de leitura diferem-se nitidamente dos lapsos da fala e da escrita, quando comparados com a situação psíquica de cada um. Então, neste específico caso, devido à uma das duas tendências em mútua competição ser substituída por uma estimulação sensorial, tenderá a resistir menos.
Esquecimentos e os atos falhos
Os esquecimentos fazem parte do segundo grupo dentre os três grupos classificados por Freud como um ato falho/parapraxia. Eles podem ocorrer temporário ou permanentemente, dependendo da situação.
Os esquecimentos são classificados em: esquecimentos de nomes próprios, esquecimentos de palavras estrangeiras, esquecimentos de nomes e sequências de palavras, – esquecimentos de impressões; esquecimentos de intenções; – lembranças da infância e lembranças encobridoras; e extravios e perdas.
Equívoco na ação
O ato falho, segundo Freud é a representação simbólica de um pensamento que, na verdade, não se destinava a ser admitido de maneira séria e consciente. Os atos falhos se caracterizam por atos não intencionais – a nível consciente – porém que vêm dizer de algo, e quando investigados, percebe-se que foram intencionais, porém a nível inconsciente (uma forma do conteúdo inconsciente se fazer presente nas mais diversas situações, mesmo quando não é o momento julgado apropriado, ou de vontade do Eu consciente que aquele conteúdo apareça).
Estes atos falhos ou descuidados, não diferente de outros erros e equívocos, muitas vezes aparecem como meios para satisfazer os próprios desejos da pessoa em questão, apesar de ela negar que eles existam dentro de si mesma; por isso geralmente são vistos por ela e também pelos outros, como atos acidentais.
Alguns atos que aparentam ser desajeitados e acidentais, na realidade podem ser extremamente hábeis e consequentes, pois estão regidos por uma intenção inconsciente e, na maioria das vezes, alcançam seu objetivo de maneira precisa.
Erros e os atos falhos
Segundo Freud, os erros de memória (ou então ilusões de memória) não são reconhecidos como erros propriamente ditos, pelo contrário: é lhe dado crédito como algo verdadeiro. Porém, onde surge um erro, oculta-se um recalcamento. Um erro que muitas vezes passa despercebido, é a substituição de algo que está oculto no inconsciente.
Freud atenta para o fato de que esses erros provindos do recalcamento, devem ser distinguidos de erros que se baseiam numa verdadeira. Alguns dos erros e atos falhos são mais importantes do que aparentam. Na verdade, é pelos erros e atos falhos que são faladas as maiores verdades do ser humano, mesmo sem o sujeito se dar conta disto, ou sem querer conscientemente deixar que aquela verdade seja dita ou mostrada.
É algo que ultrapassa a esfera do Eu e as vontades do Eu; aparecem porque aparecem, porque as forças do inconsciente atuam o tempo todo nos seres humanos, regem as ações, comportamentos e pensamentos.
Considerações finais
Os atos falhos são fenômenos muito comuns e podem ser observados com facilidade em cada pessoa. A questão de grande valor do ato falho é que ele pode aparecer e se manifestar em qualquer pessoa, sem absolutamente implicar em doença. Existem algumas condições para que uma situação seja classificada como ato falho. Como o ato falho ocorre em qualquer sujeito, sem a implicação de alguma doença, é necessário que este ato falho não exceda certas dimensões; pode ser uma perturbação de caráter momentâneo e temporário; além de que, geralmente quando a pessoa se dá conta do ato falho, a priori não reconhece nenhuma motivação para ele, e comumente é tentado explicar por meio da ‘desatenção’ ou ‘causalidade’.
Já que os atos falhos são a manifestação daquilo que excede ao Eu consciente, verifica-se que o não-sabido (“desconhecido”, “inconfessado”) que se opunha às intenções conscientes do ato (que se tornou falho), encontrou outra saída (uma contravontade que se volta diretamente contra a intenção em si, ou por caminhos incomuns através de associações externas) depois que lhe foi barrado o primeiro caminho.
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O primeiro caminho é barrado, muitas vezes, pois os pensamentos perturbadores provêm de moções suprimidas da vida anímica, que não se expõe ao Eu consciente, geralmente por questões morais. Apesar de o material reprimido não ser acessível à consciência em primeira instância, deve-se considerar que os atos falhos, atos casuais e sintomáticos não são criados apenas pela própria existência dos pensamentos ou moções recalcados, mas sim por uma intenção do recalcado se impor à consciência. Ou seja, pode-se concluir que mesmo quando algo não é reconhecido conscientemente, não significa que ele não exista.
Atos falhos e o inconsciente
O inconsciente (as fantasias e desejos recalcados) rege os atos e condutas do ser humano, mesmo quando este não quer ser revelado desta ou daquela forma. A verdade mais profunda do ser – aquilo que escapa do Eu consciente – sempre aparece de alguma forma.
Através deste estudo foi possível verificar a importância de pequenas ações, e algumas vezes impasses, do cotidiano; pois é nestes pequenos atos que as pessoas também se manifestam, expressam-se e declaram-se. Mesmo quando um material psíquico foi suprimido (incompletamente), apesar de ter sido repelido pela consciência, ainda assim tem a capacidade de, de algum modo, se expressar.
Por fim, além de ressaltar a importância de cada pequeno ato, o estudo realizado confirma não só a existência do inconsciente, mas também a atuação deste no dia-a-dia de todo ser humano, manifestando-se não apenas àqueles que têm alguma perturbação da ordem do “normal”/“patológico”. Todos da espécie humana estão sujeitos a imposições e influências de seu próprio inconsciente, a qualquer tempo.
Este texto sobre atos falhos segundo Freud foi escrito por Paulo Cesar, aluno IBPC MÓDULO PRÁTICO, graduando em psicologia e pedagogia – contatos Email: [email protected]
3 thoughts on “O que são Atos Falhos segundo Freud”
O texto foi muito útil para mim que estou estudando justamente este assunto no curso que realizo aqui. Cumprimentos ao autor e votos de que continue a brindar-nos com seus conhecimentos.
Muito obrigado vamos crescendo juntos!!
Muito bom texto! Obrigado por compartilhar seus conhecimentos. Parabéns!