Se você anda acompanhando os nossos últimos posts, leu sobre alguns dos casos mais famosos interpretados por Sigmund Freud. Cada um deles geralmente é descrito e discutido em algum livro ou tratado escrito pelo psicanalista. As obras originais são facilmente encontradas para compra em sebos e livrarias, mas achamos interessante trazer artigos mais curtos explicando cada uma delas em linhas gerais. Assim, conheça hoje o caso do pequeno Hans.
Análise de uma fobia em um menino de cinco anos (1909)
No livro Análise de uma fobia em um menino de cinco anos, publicado em 1909, Sigmund Freud apresenta o caso do pequeno Hans. Nesta parte do texto, você descobrirá a história por trás do caso analisado pelo psicanalista. Além disso, ficará por dentro de conceitos importantes abordados durante o estudo de caso. Essa parte do texto é finalizada com uma visão geral do que Freud concluiu sobre o assunto.
O pequeno Hans
Hans era um menino de três anos que foi levado pelo pai para ser analisado por Freud. De acordo com o pai, Hans tinha uma fobia que não costumamos ver com frequência: ele odiava cavalos. Além disso, tinha medo de ser mordido por um ou de cair dos carros conduzidos pelo animal. Um outro problema que trazia preocupação para o pai era um afeto incomum direcionado à figura da mãe, descrito por ele como uma “superexcitação sexual”.
Inicialmente, o pequeno Hans tornou-se conhecido por Freud por meio de cartas trocadas entre o psicanalista e seu pai. Isso começou quando ele ainda era bem novo, e só aos cinco anos de idade que o garoto teve a oportunidade de conhecer Freud pessoalmente. Nesses encontros pessoais, o psicanalista verificou que o menino era astuto, comunicativo e bastante afetivo.
Ao coletar informações sobre o garoto, Freud identificou que Hans também apresentava um medo da ideia do “grande pênis” associado ao cavalo. Além de ter esse tipo de pensamento no que diz respeito ao animal, Hans também se perguntava sobre a figura de sua mãe. Uma vez que ela também era grande, talvez ela pudesse ter um membro parecido com o do cavalo, mas ele não tinha fobia dela. O que será que se passava na mente do garoto?
O conceito de fobia
Até aqui, nós imaginamos que você esteja super confuso com a história do pequeno Hans. O que poderia ter a ver a fobia de cavalos com o pênis do animal e o apego anormal com a mãe? Realmente, tudo parece muito desconexo. No entanto, se você conhece os elementos principais da teoria psicanalítica de Freud, é possível ligar uma coisa à outra com mais facilidade. Faremos essa discussão mais abaixo.
Porém, antes disso, vamos iniciar nossa explicação a partir do conceito de fobia freudiana. Para o pai da Psicanálise, a fobia tem como elementos principais o medo e a angústia. Até aí, esses são sentimentos conhecidos amplamente pelas pessoas. Contudo, além disso, sua ocorrência se dá por um recalcamento que vêm da formação de símbolos reconhecidos por um paciente após um evento traumático. Aqui a coisa fica um pouco mais complicada não?
Vamos falar em uma linguagem mais fácil: a fobia de uma pessoa se manifesta em um elemento ou indivíduo em que essa pessoa libera a angústia causada por um trauma. No caso do pequeno Hans, a angústia ocasionada por algum trauma se direcionou aos cavalos.
A análise de Freud
Talvez você não saiba disso ainda, mas o estudo de Freud sobre o pequeno Hans foi um dos principais tratados do psicanalista sobre a fobia e é estudado até hoje. Ademais, o caso não foi discutido apenas em por sua relevância para a descrição da equinofobia (fobia a cavalos), mas para entender como a psicanálise lida com as fobias de modo geral. Contudo, para compreender esse conceito, é importante conhecer vários outros.
Tendo isso em vista, decidimos ir explicando a análise freudiana do caso à medida em que vamos explicando conceitos psicanalíticos com mais detalhe. Confira!
Elementos da análise psicanalítica na história do pequeno Hans
Sexualidade
Você lembra que havia um certo elemento sexual na história de Hans? A sexualidade é tema central para a psicanálise e, nesse caso, também guarda uma relação com o surgimento da fobia. Querendo ou não, muito das explicações de Freud acaba voltando para a noção de Complexo de Édipo. No caso do Pequeno Hans, vemos uma explicação fica totalmente pautada pela maneira como Hans passou por essa experiência.
No Complexo de Édipo, a criança desenvolve um sentimento libidinoso com relação ao pai ou a mãe. Contudo, diante da impossibilidade do relacionamento sexual entre os entes, a criança acaba por recalcar o sentimento. Esse movimento de recalque é feito pelo Ego, uma espécie de mecanismo mental que impede que essa paixão agora inconsciente volte para o campo da consciência novamente.
Assim, idealmente, a paixão da criança por um de seus pais fica presa no âmbito do inconsciente e só tornaria acessível por meio dos sonhos ou neuroses. No entanto, o que aconteceu com o pequeno Hans foi que ele deslocou a sua libido para outro objeto que não o pai, em vez de recalcá-la. De acordo com Freud, esse sentimento é responsável pela formação da fobia, já que a criança precisava liberar a ansiedade.
Infância
Nesse caso, a infância é um campo de estudo muito importante porque na teoria, esse é o lugar tanto do complexo de Édipo quanto do recalcamento da libido. Contudo, com Hans esse processo de recalque ficou prejudicado. Ao deslocar a libido do pai, Hans começou a apresentar uma hostilidade com relação ao seu progenitor. Aqui é que entra o forte apego que o garoto sentia com relação a sua mãe, sentimento esse que foi notado por seu pai com estranheza.
Histeria
Por fim, vale relembrar aqui o conceito de histeria tal qual era entendido por Freud. Mais acima nós dissemos que a libido recalcada no inconsciente só fica disponível para o indivíduo de duas maneiras. Por um lado, é possível acessar o inconsciente por meio dos sonhos.
Por outro lado, há a possibilidade de recuperar elementos do inconsciente quando a pessoa apresenta quadros de neurose. A histeria é um conceito que pode ser enquadrado nesse contexto. De acordo com Freud, o pequeno Hans era uma criança histérica. Assim, fica mais clara a razão de ele conseguir acessar o que deveria ter sido recalcado.
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Considerações finais sobre o pequeno Hans
Nós temos consciência de que tudo o que dissemos aqui pode assustar muita gente. Não é simples associar um tema cheio de tabus quanto a sexualidade a um menino de 5 anos. No entanto, como dissemos, esse tipo de análise permeia as discussões de Freud e muitos tratamentos obtiveram sucesso com base no que ele defendia. Caso tenha dúvidas sobre o caso do pequeno Hans ou sobre sexualidade, matricule-se em nosso curso de Psicanálise online!
5 thoughts on “Caso do pequeno Hans interpretado por Freud”
Achei de extrema relavancia, fez me perceber as influências das neurose e a questão do recalque. Muito parabéns pelo artigo.
Quero entender melhor os conceitos psicanalíticos de Freud.
Zilda, você será bem-vinda a fazer o Curso Completo de Formação em Psicanálise (clique para se inscrever). Att., Equipe Psicanálise Clínica.
Não entendi uma coisa, se a libido era direcionada a mãe, por que em alguns contextos apresentado era o pai causianador da libido? Não era o desejo da mãe proibido q deveria ter se transformado, ou se deslocado pro cavalo de uma forma diferente, e assim gerando a fobia? Se puder me ajudar entender melhor essa questão ficarei grato. (Em formação no Curso).
Artigo muito bem explicado.