por que sonhamos, os 4 mecanismos dos sonhos

Por que sonhamos? 4 mecanismos do sonho

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Afinal, por que sonhamos o que sonhamos? Na Antiguidade pensava-se que os sonhos revelavam desígnios divinos. Vê-se que, desde os primórdios, havia uma relação estrita entre sonho e profecia. Veremos que, com a Psicanálise, o sonho passou a ser uma forma de autoconhecimento.

 

Freud descobre que a questão vai além da relação sonho e profecia

Freud, entretanto, identificou 4 mecanismos do sonho, isto é, 4 formas de processamento, que faz com que memórias, desejos e conteúdos recalcados venham à tona nos sonhos.

Freud, teve a ousadia de levantar a seguintes questões: Por que sonhamos? Como os sonhos se formam?

 

Duas visões sobre Por que Sonhamos

Com o passar do tempo a interpretação dos sonhos passou a ter praticamente apenas duas vertentes:

  • aquela que considerava necessária uma decifração científica e simbólica dos mesmos,
  • aquela que considerava necessário interpretar o sonho em seu aspecto metafísico, místico, profético.

 

A diferença entre essas duas vertentes sobre os sonhos

A primeira lida com a arbitrariedade e é destituída de uma lógica subjacente, por supor que fosse necessário decifrar conteúdos ocultos e muitas vezes extremamente confusos.

A segunda traz a relação sonho e profecia que, durante muito tempo e, mesmo hoje, em diversas situações, sempre contou com um grande número de adeptos e seguidores.

Há uma sugestão de eventos futuros, ou seja, uma forma de adivinhação, propiciando o surgimento de curiosos e mistificadores, sem qualquer condição de fornecer uma visão profissional acerca do assunto.

 

A contribuição de Freud na interpretação dos sonhos

Na sua grande obra A Interpretação dos Sonhos (1900), Freud propõe, com base em suas observações e estudos, que o sonho é uma das manifestações do Inconsciente humano, contrariando a relação sonho e profecia.

Nos estudos e nas observações de Freud, podemos encontrar um meio de grande eficiência para o acesso ao inconsciente.

Freud acredita que o sonho se liga a realização de um desejo reprimido pela consciência que está inserida no moral vigente da cultura na qual o indivíduo se encontra. O material que compõe o sonho vem de nossas experiências, daquilo que vivenciamos, mas que não é reconhecido pelo próprio indivíduo.

 

Conteúdo manifesto e latente

Com isso, Freud supõe a existência de dois conteúdos:

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    • conteúdo manifesto
    • conteúdo latente

    O conteúdo manifesto é o que o indivíduo relata ter experimentado como algo que lhe é estranho, incomum, absurdo.

    O conteúdo latente corresponde às ideias, impulsos, desejos e sentimentos reprimidos que permeiam o inconsciente.

    A verdadeira tarefa da interpretação é a passagem do conteúdo manifesto ao conteúdo latente. Nas palavras de Freud, “A elaboração de um sonho ocorre porque existe algo que não quer conferir paz à mente”.

     

    Por que sonhamos aquilo que sonhamos, segundo Freud?

    Acredita-se que a distorção a qual é submetido o sonho é produto da não absorção de algo, proibido pela nossa censura interna. Assim, a função do sonho é a realização disfarçada dos desejos recalcados.

     

    Os 4 mecanismos do sonho descobertos por Freud

    Com essa finalidade, Freud destaca quatro mecanismos importantes, que nos ajuda a compreender por que sonhamos as coisas que sonhamos:

     

    Mecanismos dos sonhos segundo Freud

     

    1. Condensação

    Segundo Laplanche e Pontalis (2001), na condensação “uma representação única representa por si só várias cadeias associativas e traduz-se, no sonho, pelo fato do relato manifesto, comparado com o conteúdo latente ser lacônico.” É uma versão abreviada dos pensamentos latentes.

     

    2. Deslocamento

    O deslocamento nos sonhos é um dos mais importantes fatores para a diferenciação entre o pensamentos dos sonhos e os seus conteúdos. Por força do deslocamento um aspecto significativo do sonho pode passar despercebido, enquanto aspectos secundários surgem com riqueza de detalhes. Há uma retirada da intensidade de elementos com alto valor psíquico para deslocá-los para elementos de menor valor psíquico.

     

    3. Simbolismo

    Os pensamentos advindos do inconsciente são transformados pelo recurso do simbolismo nos sonhos. O conteúdo do sonho surge carregado de metáforas, residindo aí a forma distinta que o conteúdo manifesto assume com uma inteligibilidade bem distinta do pensamento original. Freud cria uma série de interpretações para símbolos inconscientes que se referem, na sua maioria, a símbolos sexuais.

     

    4. Dramatização

    Às diversas operações mentais inconscientes, mediante as quais um conteúdo latente se torna manifesto, dá -se o nome de elaboração onírica ou dramatização do sonho. Nesse suposto teatro, os fragmentos do sonho, condensados, deslocados, carregados de simbolismo, são transformados em cenas nas quais uma elaboração secundária retira as incongruências e os absurdos, remanejando seus elementos e dando importância a conceitos antes levados a segundo plano.

     

    Por que sonhamos? Passado, presente e futuro

    É de suma importância reconhecer que o material dos sonhos e sua análise revela preocupações atuais e passadas que se entrelaçam, influenciando umas às outras. O inconsciente é atemporal, ou seja, não restringe à passagem do passado para o presente.

    Esse reconhecimento evidencia a existência da necessidade dessa aceitação revolucionária, distinta do senso comum, de uma visão complexa da experiência do tempo. O eu consciente e percebe a passagem do tempo, seus efeitos e a existência do eu num momento específico do mesmo, mas isso não acontece necessariamente com o inconsciente.

    Como o próprio Freud assinalou, “Não há nada no id que corresponda à ideia do tempo, não há reconhecimento da passagem do tempo e, nenhuma alteração em seus processos mentais é produzida pela passagem do mesmo”.

    Ou seja, no mundo psíquico, o passado coexiste com as preocupações do presente e a esperança para o futuro.

     

    Conclusão: por que sonhamos?

    Segundo a premissa inicial de Freud o “o sonho é a via régia para se chegar ao inconsciente” e sua interpretação não pode ser reduzida à relação de sonho e profecia, mas sim à motivação individual, que não pode ser expressa por nenhum simbolismo universal.

    Autor: Alceu Barbosa, exclusivo para o site do Curso de Formação EAD Psicanálise Clínica.

     

    26 thoughts on “Por que sonhamos? 4 mecanismos do sonho

    1. Marcos Luiz Castro Silva disse:

      Olá, bom dia!
      Muito bom, excelente para mim, que estou iniciando meus estudos.
      Um abraço.

    2. Luciene B. R. Borges disse:

      Gostei do texto, objetivo e esclarecedor. Um tema realmente fascinante!

    3. Flávio Veloso disse:

      Ótima leitura, principalmente para quem se interessa pelos processos psicanalíticos.

    4. No texto de Garcia-Roza sobre A Interpretação dos sonhos, c o autor explica que a pessoa que sonha pode não ter uma compreensão clara do sentido do sonho. Por que isso acontece? Como se dá o processo de distorção que faz o sonho parece incoerente?

    5. Monforte Lopez disse:

      Sonhos: Veem do interior do cérebro. São pensamentos ou imagens mentais que a pessoa tem enquanto este dormindo. Nas Escrituras Sagradas ( para os cristãos), mencionam sonhos:
      * Da parte de Deus. Exemplo: Números 12:6
      * Sonhos naturais. Exemplo: Jó 20:8
      * Sonhos falsos (inventados). Exemplo: Jeremias 29:8,9; Zacarias 10:2.

    6. Juliana Carla Cekaitis Cenci disse:

      Esclareceu bastante os mecanismos de formação do sonho.

    7. Maria Aparecida Ferreira Prado disse:

      Muito bom esse artigo, esclarecendo cientificamente, consciencializando os mecanismo dos sonhos.

    8. Antonio Garisto disse:

      “Somos o que sonhamos” como disse Freud.

    9. Antonio Garisto disse:

      É no sonho que o criminoso mostra sua sanha perversa.. . e os pervertidos sexuais também manifestam seus desejos inconscientes, através do sonho.

    10. Francisca Maria da Graça Cezar Alves disse:

      Me esclareceu bem. Obrigada

    11. Emilio Mansur disse:

      Mas por que o bebê sonha ? Algumas vezes dentro do útero.

    12. Muito bom !
      Quanto à motivação individual em sendo influenciada também pela coletiva e pelos arquétipos como cita Jung em seus estudos sobre o inconsciente, eis temos aí um antagonsmo no que se refere à conceituação onírica e sua relação consciente/inconsciente tais como no processo de individuação, que é a função precípua da integração do “self” na psicologia analítica. Creio que Freud e Jung, apesar de suas diferenças, se complementam em vários aspectos …

    13. Gladimir Moacir disse:

      Eu penso que o sonho é uma manifestação oriunda de viagem que o pensamento faz. O pensamento anseia por percorrer outro ambiente além do corpo que pertence.
      Pode ser uma viagem de um presente, passado ou futuro.
      Pode ser que seja sentimento, inclusive de horas passadas.
      Já sonhei que vi espíritos, parentes meus que faleceram, me observando muito seriamente, por exemplo.

    14. Eu sou estudante do curso de psicanálise clínica do IBPC, é um máximo muito bem elaborado o curso. Estou nessa parte sobre a interpretação dos sonhos, e estou amando esse assunto também e tudo que aprendemos acaba explicando algumas coisa, mas algo em mim acredita que tivemos vidas passadas e teremos outras vidas após a morte. Apesar de eu não ter nenhuma religião, eu acredito muito nisso e acredito também que parte dos nossos sonhos dizem sobre oque vivemos nessas vidas, acho que não seja algo necessariamente físico do funcionamento do corpo, mas talvez da alma, assim como quando nos encontramos em lugares ou situações que nunca estivemos mas nos familiarizamos. Enfim… Vai saber! Rsrsrs

    15. Walter Moura de Araujo disse:

      Muito enriquecedor. Muito obrigado.

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