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A psicologia hoje – reflexões

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A psicologia hoje tenta responder às demandas de uma era não mais calcada na neurose pura e simples, na confrontação com o estado e os valores repressores, mas sim a uma era líquida – Bauman -, sem ideais e horizontes ou modelos claros.

Entendendo a psicologia hoje

Uma era com ares niilistas e hedonistas, calibrados por replicadores midiáticos digitais pessoais, ou seja, as redes sociais e a internet.

De uma era novecentista de Freud, em que pulsões do id eram contidas por um superego vigoroso e evidente, de cunho social e tradicional, com valores cristãos e exigências idem, partiu-se para o vazio supra, em que o individualismo impera e a ansiedade e o vício em pequenos estímulos e validação vicejam.

Vazios se refletem nos âmagos dos indivíduos sequiosos por validação dos pares. As comparações entristecem e geram mais ansiedade. A psicologia tenta servir de anteparo e trazer meios para se superar tal estresse psíquico, tal sinuca de bico.

Tal labirinto do eu e a psicologia hoje

O primeiro passo é conhecer a si mesmo e ler o ambiente em que se insere. De fato há um narcisismo coletivo sendo engendrado com as redes sociais.

Narcisismo esse que estava no peito de cada um, mas que agora encontra amplificador e gerador de câmaras de confirmação e validação – os grupos que pensam igual – e viés também de confirmação, ecos das próprias posições e ideias, inclusive políticas, como se viu recentemente.

Daí o papel relevante da psicologia em aclarar primeiro o indivíduo, a pessoa, e depois o teatro do social nos termos acima, destrinchando-o junto de ciências outras como a antropologia e a sociologia. O ego deve ser calibrado não só na pessoa, mas também no social. A distância entre o que se é e o que se apregoa ser nunca fora tão gritante e grande.

A coletividade e a psicologia hoje

Há como se maquiar com tintas fortes tal fosso e negá-lo, com sérias repercussões para o ser e a coletividade, algo como um adoecimento psíquico grupal, gerando muito mais que o narcisismo das pequenas diferenças de Freud, mas chegando a clivar e cindir o tecido social e gerar cada vez mais polarização e o senso de nós e eles, aliados e inimigos, unilateralismos ou visões 0 ou 1, binárias, que não comportam os tons intermédios.

A economia dos afetos deve ser lida. O que permeia o peito de muitos e é o Zeitgeist ou espírito do tempo deve ser lido. Trabalhado. Perscrutado.

A psicologia ela só não dá conta, tampouco as demais ciências de forma isolada. Há que se integrar e buscar um entendimento sistêmico, sinérgico, e soluções idem para o impasse descrito, da ausência de chão para um eu, um sujeito, uma visão de si e do mundo florescerem.

Polarização e nacionalismo

Em uma era de acirramento, polarização e nacionalismo, com toques de xenofobia, evocar o humano e o que perfaz humano é de suma importância e deve estar na pauta do dia de disciplinas do conhecimento e da ciência como o é a psicologia, que deve ler desde os cenários mais comezinhos da busca do corpo perfeito à perda massiva de ideais e elementos motivadores e norteadores, coesão social, integração, cumplicidade, empatia, participação.

A assistência psicológica deve estar disponível às classes menos favorecidas, seja no escopo do serviço público de acompanhamento da saúde psíquica e preventiva, seja no escopo da atuação de profissionais do ramo, que podem buscar formas de aumentar o quórum e as possibilidades de aglutinação e cooptação de analisandos, a exemplo de terapias de grupo, sob os auspícios dos conhecimentos pertinentes de Zimmermann e outros expoentes, Freud e Lacan inclusos.

A psicologia tem diante de si relevantes desafios e possibilidades nos século XXI, em era de revoluções digitais, pandemias, embates entre democracia e autocracia, mundo multipolar, perda da intimidade e da privacidade, redes sociais, espionagem industrial, revoluções dos papéis masculino e feminino e novas versões de famílias e de estar no mundo.

A saúde mental

A saúde mental tem ganhado cada vez mais relevância em uma época acelerada e calcada em grandes centros urbanos e vidas compartimentalizadas, segregadas do outro, por vezes dentro da própria família, da submissão às telas, do deixar de lado da vida lá fora, ativa e com trocas olho no olho e integração social.

Algo que ao fim e ao cabo levam a um adoecimento psíquico, dado que o humano pregresso das savanas africanas habita em nosso peito e suas pulsões pela aventura do viver clamam por implementação e viabilização, em contraponto ao mundo sedentário e movido a metas e pseudo obrigações e corridas armamentistas consumistas, mormente no mundo ocidental.

Novos mundos e novas psicologias humanas são possíveis, talvez uma volta aos primórdios na forma de ver a vida e o mundo, ainda que em uma sociedade tecnológica, com as vantagens que isso encerra, qualidade de vida e expectativa de vida inclusive, adequando, como pregam alguns, um viver ao nosso aparato biológico e psicológico inato, buscando sinergias e equilíbrios, e não colisão e sofrimento nesta era do cansaço.

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    Este artigo sobre a psicologia hoje foi escrito por Luís Eduardo, amante das letras e da mente humana (instagram: @luis2049psicanalista).

     

    2 thoughts on “A psicologia hoje – reflexões

    1. Olá.Parabéns pelo excelente artigo…e nós, psicanalistas, não podemos deixar de falo do conhecimento da construção social e dos grupos humanos. A história, a sociologia e até a filosofia, permeiam nosso fazer e modo de estar…a psinalise não pode fechar os olhos a sociedade.

    2. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns! Muito bom artigo. Realmente assistência psicológica têm que estar ao alcance de todos.

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