diferenças entre psicose e neurose

Diferenças entre Psicose e Neurose

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Ao estudar as psicopatologias e diferenças entre psicose e neurose, conseguimos entender as mais comuns no percurso da psicanálise e como elas ocorrem na vida cotidiana atual. Exemplos são: neurose, psicose, depressão, ansiedade, entre outras. Vamos aprofundar sobre a psicose devido às dificuldades na aplicação do método psicanalítico, segundo alguns psicanalistas, porque o prognóstico é muito incerto.

Veremos as diferenças entre psicose e neurose. Para alcançar o nosso intuito, começaremos com o que é a psicose, o que Freud, o pai da psicanálise, pesquisou. E, finalmente, abordaremos o trabalho tão importante que Lacan fez, depois do trabalho de Freud, no desenvolvimento do método psicanalítico, particularmente para trabalhar com sujeitos com psicose.

As diferenças entre psicose e neurose

Há mais de uma definição de psicose e estas se modificam ao longo do tempo, à luz de novas pesquisas e dos diversos tratamentos para ela. Segundo a Psicanálise Clínica (2021), a mesma é identificada pela psiquiatria, psicologia e psicanálise como “um estado psíquico no qual se verifica certa perda de contato com a realidade, sendo esta entendida como séries de saberes, construtos e símbolos compartilhados e validados socialmente” (p. 12).

A perda da realidade, característica que se pode observar acima na definição, é o principal elemento que conforma a psicose e a mesma se manifesta como alucinações e delírios. As alucinações referem-se quando o paciente escuta que alguém está falando dele ou que fala para ele na rua de forma indireta ou direta, quando escuta insultos e grosserias como “filho da puta”, por exemplo. Os delírios são crenças não rebatíveis pela argumentação lógica que o sujeito tem; é como um saber revelado do qual ele não sabia nada, era alheio e a dificuldade principal aqui é a convicção com a qual o sujeito defende dita crença (Conde, 2004).

Em seu livro “Neurose e psicose”, Freud menciona que a segunda origina-se pela ausência da inscrição da castração e inexistência do sujeito e distingue o tipo esquizofrênico e o tipo paranóide. O primeiro tipo caracteriza-se pela cisão do eu em uma parte da qual o sujeito se apropria e é reconhecida, e por outra parte da qual o sujeito não se apropria e, portanto, não reconhece. Acontece pelo retrocesso do autoerotismo devido à inexistência de estímulos externos. O segundo tipo se faz presente quando a cisão não é apropriada nem reconhecida, sendo identificada em outras pessoas pela transferência. Acontece pela não consecução do narcisismo, por um bloqueio neste nível.

Freud e as diferenças entre psicose e neurose

O pai da psicanálise deixou como uma grande tarefa para os psicanalistas futuros o desenvolvimento de uma psicoterapia para a psicose. Alguns dos psicanalistas que pesquisaram a respeito foram: Melanie Klein, Sándor Ferenczi, Winnicott, Ronald W. Bion e um dos trabalhos mais notáveis foi o do psiquiatra Lacan, porque seus avanços são reconhecidos no mundo psicanalítico com quase unanimidade (Conde, 2004).

Diferenciando psicose e neurose

A neurose é estado psíquico onde o contato com a realidade é mantido. O sujeito neurótico sente incômodos como ansiedades e medos, mas consegue perceber seu sofrimento e buscar ajuda. É possível um olhar de fora, o que favorece a terapia psicanalítica. Comportamentos histéricos, fóbicos e compulsivos são típicos das neuroses.

Freud dizia sobre a neurose: “A neurose é o negativo da perversão.” (em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”). Isso significa que o neurótico tende a se culpar ou (inconsciente) recalcar um desejo, que o perverso por sua vez realiza sem culpas.

Hilda Doolittle considerava “a neurose é uma forma de expressão literária”. Isso porque os temas relacionados a angústias, ansiedades, medos, obsessões e impossibilidade de realizar o desejo são temas da literatura (e das artes em geral). Já a psicose leva à perda de contato com a realidade. Pode se manifestar por delírios, paranoias e alucinações.

Psicose

Sobre a psicose, Freud disse: “Nas psicoses, o ego sucumbe ao id.” (em “O Ego e o Id”). Afinal, o psicótico tende a perder certa mediação da realidade que o ego faz. Assim, o id (com sua dimensão mais selvagem e irracional) passa a dominar a vida psíquica do sujeito.

A neurose raramente é a causa de levar uma pessoa à psicose. São condições distintas. Entretanto, algumas situações mais tensas de luto ou estresse (por exemplo) podem desencadear ambos os quadros, a depender da predisposição da pessoa.

O manejo de pessoas com neurose ou psicose demanda compreensão e paciência. É preciso ajuda de profissionais, como psicanalistas. Nos casos em que são necessários medicamentos, o psiquiatra deverá ser consultado.

Uma inovação teórica

Dentro dos maiores avanços na sua inovação teórica, figura o conceito da forclusão (também denominada foraclusão) que Lacan toma do tecnicismo jurídico francês, utilizado quando um processo judicial tem uma exclusão forçada devido ao vencimento de um prazo na entrega de novas provas. No sujeito psicótico, tem a ver com que uma operação fundante do inconsciente não se produz no seu tempo, tal falha fica localizada na primeira simbolização que se produz com a repressão primitiva, sendo o novo ato psíquico necessário para a formação do eu primitivo.

Para o psiquiatra e psicanalista francês, é um problema pré-edípico e a metáfora paterna, outro termo que o autor traz para o tratamento da psicose, é uma substituição significativa que inscreve o falo e a discriminação dos três registros: simbólico, real e imaginário. Num sujeito psicótico, há a forclusão do significante no nome do pai no simbólico, porque a operação não se produziu (Conde, 2004).

O efeito da dita forclusão é a eliminação da castração simbólica, impedindo assim a inscrição da lei do significante que gera a divisão entre o significante e significado, produzindo um sujeito fora do discurso. Tal lei menciona que o sujeito surge como significado desprendido de um discurso, provém de toda a cadeia de significantes que formam o discurso; e tal significado, isto é, o surgimento do sujeito, é dado pela interação de pelo menos dois significantes. Este processo não ocorre no psicótico. A respeito, há uma frase muito conhecida de Lacan: “Se o neurótico habita a linguagem, o psicótico está habitado, possuído pela linguagem” (Lacan, apud Conde, 2004 p. 298).

Conclusão sobre as diferenças entre psicose e neurose

No que se refere ao tratamento dos sujeitos psicóticos, Lacan menciona que, assim como o sintoma neurótico tem uma lógica inconsciente, no psicótico também há uma lógica onde é importante que o psicanalista dirija sua escuta e intervenção em relação ao foracluído na história do sujeito que se faz presente no sintoma desse momento, seja uma alucinação ou delírio.

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    Com o que foi exposto até aqui, é importante mencionar que o trabalho das pesquisas que Lacan fez em torno dos sujeitos psicóticos possui vários elementos que podem ser utilizados pelos psicanalistas para orientar sua intervenção, além daqueles que não acreditam que a psicose possa ser tratada pelos psicanalistas. O elemento mais importante a considerar é, desde o primeiro momento, a escuta do sintoma presente nos delírios ou alucinações e encontrar a forclusão para estabelecer a suplência do falho na função paterna.

    Referências Bibliográficas

    Psicanálise Clínica (2023). Apostila módulo VI. Psicopatologias I.

    Conde, M. (2004). Psicoanálisis, medicina e salud mental. Editorial Síntesis: Madrid.

    Freud, S. “O Ego e o Id” e “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. Obras completas, ed. Standard.

    Este artigo sobre as diferenças entre psicose e neurose foi escrito por Nora Pineda Serrano, concluinte da Formação em Psicanálise Clínica do IBPC.

    One thought on “Diferenças entre Psicose e Neurose

    1. Romulo Caixa Ferreira disse:

      Penso que se o psicótico não tem contato com a realidade, ou pelo menos não consegue interagir com ela de forma saudável, o neurótico já estrapola sua relação com a realidade na forma de cuidados exagerados, como angústia, compulsões, “toc” e etc.

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