queda de Eros

A queda de Eros: análise de Freud e Marcuse

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Você já ouviu falar na queda de Eros? O corpo não consegue mais “colar” em ninguém. E mesmo que ocorra, grande parte das ações humanas estão subordinadas a um modo de produção que determina seu modo de ser e estar no mundo. Continue a leitura e entenda mais sobre a queda de Eros.

Entendendo a queda de Eros

Muitos não percebem que esta droga da obediência os faz seres autômatos; defensores de algo que os destrói. O corpo que deveria mover-se diante do outro, para se constituir e se relacionar com aquele que diverge, me provoca e sobretudo, me faz ser quem sou; mas esse não está mais aqui. E em meio ao cansaço contemporâneo, de si, os homens não conseguem manter a dialética entre o princípio do prazer e princípio da realidade, só mantém aquilo que Marcuse, leitor de Freud, chamou de princípio do desempenho.

Se em Freud, (2019) o Id é guiado pelo princípio de prazer, o Ego é guiado pelo princípio da realidade e há esta busca de equilíbrio para manter os desejos do Id, de uma forma saudável. O que temos hoje com o avanço tecnológico e científico são processos cada vez mais apurados de dominação e é justamente aí que entra o princípio de realidade, este que deve se adequar às inúmeras exigências cotidianas que faz os homens seres cada vez mais desprovidos de prazer, para estarem adaptados às normativas da sociedade que a sociedade impõe.

Marcuse, (2019) ao ler criticamente Freud, propõe uma outra denominação para o princípio de realidade Freudiano, mais adequada para dar conta do processo repressivo que submete os homens na sociedade industrial avançada. Seria adequado na ótica deste autor falar em princípio de desempenho, ou seja, uma modalidade de repressão sobre as pulsões que adequa os homens ao aparato técnico, político e econômico de dominação.

A queda de Eros para Freud e Marcuse

Através da hierarquia do trabalho na sociedade industrial, efetiva-se a imposição de todos os requisitos adicionais de repressão institucionais requeridos por este aparato e ao mesmo tempo que os corpos, desejos e paixões são controlados em nome do desempenho e satisfação individual do capital. Cabe lembrar que a sociedade não é mais a mesma descrita por Marcuse.

Porém, suas análises são muito atuais e pertinentes se verificarmos as condições de submissão em que estão postas os homens. Byung Chul Han (2020) por exemplo, nos fala em sujeito do desempenho, aquele que faz tudo para alcançar o inalcançável proposto por uma ideologia neolieberal que tem como pilares fundamentais o individualismo exacerbado.

Han e Marcuse estão corretos ao falar em desempenho, pois, na medida em que os aparatos de repressão são cada vez mais sofisticados, a ideologia do desempenho efetiva-se como imposição, não de maneira direta, mas de maneira indireta, pois há uma espécie ilusória de liberdade muito bem colocada por Han e que faz o homem contemporâneo acreditar que é livre para fazer suas escolhas.

As rebeliões e a queda de Eros

Como se vê, a organização do trabalho, além de racionalizar a dominação, também impede qualquer tipo de rebelião. Marcuse, por exemplo, aponta que todas as rebeliões serviram para substituir um grupo dominante por outro e não alcançaram seu objetivo principal: a abolição da dominação e da exploração.

Outro aspecto importante que deve ser levado em consideração é a própria ideia de civilização, que em Freud pode ser vista como uma organização que reprime os instintos humanos, ou seja, se apresenta como a dominação da natureza humana pela vontade do homem. Sem contar também os elementos regulatórios que fazem a condução das relações humanas.

Isto é levado adiante por Marcuse ao observar o funcionamento da sociedade industrial. Tanto em Freud como em Marcuse, é possível perceber a ideia de limite para a realização das pulsões, o que acarreta sofrimento para o homem em em meio a tantas exigências impostas.

A racionalização do poder e da repressão

Como o princípio de desempenho transformou-se em imperativo e impôs restrições aos instintos, nota-se uma espécie de racionalização do poder e da repressão. Obrigando-os ao eterno trabalho, em que não se reconhecem como sujeitos, mas apenas como meros atores sociais no interior deste sistema. E é neste mesmo contexto que a liberdade prometida pela sociedade, na verdade se tornou um instrumento de dominação.

Byung Chul Han nos fala de liberdade episódica, na qual o indivíduo, emergido pela ideologia neoliberal acredita piamente na ideia de desempenho e que ele mediante seus esforços pode alcançar algum lugar. Nesta suposta liberdade colocada em cima do indivíduo, o deixa mais cansado de si mesmo e distante do outro que, diferente de mim, me constitui como gente. Mas não. O outro não está. Cansado de si mesmo, tem de alcançar metas, mesmo com toda pressão psicológica imposta.

Em um contexto como esse, tanto Freud como Marcuse perceberam que a existência de uma civilização ocorre por meio de um excessivo controle dos corpos. Será possível a existência de uma sociedade que leve em consideração os impulsos e desejos dos homens como forma constituinte do ser? Será possível superar esta espécie de mal estar? Por enquanto, as evidências que temos é a existência de inúmeros mecanismos de controle da psique e de toda forma de liberação do corpo.

Referências

FREUD. Sigmund. O mal estar na civilização. São Paulo. Companhia das letras, 2020. (Edição de obras completas) MARCUSE, Hebert. Eros e a civilização. São Paulo. Companhia das letras. 2020.

O presente artigo foi escrito por Marco Rodrigues([email protected]). Doutor em Filosofia e educação pela Emil Brunner World University (Eua), Mestre em Filosofia – Universidade Federal de São Paulo e Graduado em Filosofia e Pedagogia pela Universidade Metodista de São Paulo. Escritor e professor. Autor das Obras. Arquitetura do golpe – Editora multifoco. 2018. Ódio à politica, ódio ao pensar – Clube dos autores. 2020. Linguagem e ideologia. Clube dos autores, 2020. Restos da decadência: pequenas histórias de todos os tempos. Atualmente mantém um canal no YouTube chamado Polêmicas de nosso tempo.

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