A racionalização e o funcionamento da psique humana é estudado pelas ciências humanas com o objetivo de compreender os mais variados comportamentos da sociedade ao longo de gerações. Entre muitas abordagens que envolvem diferentes concepções e teorias, a psicanálise de Freud apresenta e investiga a mente a partir das tópicas propostas pelo autor.
Nesta abordagem, Id, ego e superego são as instâncias da mente que integrem entre si para encontrar algum ponto de equilíbrio entre as pulsões e a vida social externa. Dessa forma, não é difícil imaginar que entre essas instâncias haverá conflitos que podem perturbar a qualidade de vida de uma pessoa.
Neste artigo, iremos apresentar um mecanismo de defesa do ego muito comum entre as pessoas que, quando se torna comum nos diferentes aspectos da vida, pode revelar uma falta de consciência de si mesmo sobre questões da vida.
A formação do ego e a racionalização
A concepção de uma consciência racional, lógica e que tem contato com o meio externo é uma particularidade da espécie humana e permite a transformação do espaço e da vida social como um todo. Entretanto, essa instância da consciência entendida como ego na teoria psicanalítica, se forma a partir de estímulos dos cuidadores do bebê, da aquisição da linguagem e do simbolismo e também das frustrações e recalcamentos.
Entendemos como ego uma instância que se forma a partir do Id e toma a realidade como seu norteador principal que junto com o superego irá fazer as decisões entre o desejo e a realidade. Na perspectiva da psicanálise freudiana, não existe ser humano sem conflitos uma vez que o Id e suas pulsões demandam a realização dos desejos enquanto o superego faz a proibição e a censura cabendo ao ego a decisão final.
Para resolver parcialmente esses conflitos, o ego utiliza de mecanismos de defesa para “aliviar “sentimentos, desejos e pensamentos que seriam de difícil superação ou entendimento. Esses mecanismos são de base inconsciente e não percebidos pela pessoa, e podem chamar atenção na prática clínica quando aparecem de maneira constante.
A racionalização como resposta para tudo
Com as inúmeras mudanças no estilo de vida e o consumo de informações sobre o mundo, é de se esperar que a mente tenha dificuldade em acompanhar todo esse ritmo frenético. Na busca por uma vida mais plena e menos estressada, vemos no comportamento das pessoas uma tendência em em ter respostas para todas as situações da vida sejam elas simples ou complexas. Determinadas frases e pensamentos são adotados pelas pessoas com muita naturalidade como uma justificativa para acontecimentos que poderiam ser explicados de outra forma.
Frases como: “era para ser assim”, “há males que vêm para bens”, não era o momento de acontecer” entre outros pensamentos não estão necessariamente ligadas com a sorte ou destino, mas de um poderoso mecanismo de defesa do ego que vai tentar driblar uma situação. Exemplos do cotidiano podem ser citados para demonstrar esse mecanismo que vem do inconsciente, mas liderado por uma instância consciente.
Quando fazemos uma prova como um concurso público e não atingimos a pontuação para sermos aprovados, racionalizamos a situação da maneira mais lógica possível. Dizemos para nós mesmos que estávamos nervosos demais na prova, que não tivemos tempo suficiente para estudar ou alguma situação emocional em casa atrapalhou o desempenho. Todas essas afirmações que fazemos a nós mesmos é apenas uma forma do ego não lidar com o sentimento principal que seria o fato de que simplesmente não obtivemos uma pontuação aceitável para a aprovação.
Sensação de derrota
Lidar com essa constatação pode gerar uma intensa sensação de derrota, frustração como se não fossemos bons o suficiente para o mundo. Portanto, lidar com essa sensação de maneira racional encontrando uma justificativa no mundo torna-se mais fácil do que olhar para nós mesmos.
Como lidar com a situação de modo frio e objetivo causa desprazer e sofrimento, o ego nos defende dessa situação lançando mão de afirmações lógicas o suficiente que de certa forma nos convencem de que estamos certos.
A racionalização exagerada
É preciso entender que os mecanismos de defesa do ego são importantes para manter uma vida saudável e com menos conflitos. O problema pode aparecer quando a pessoa está muito envolvida dentro desse mecanismo a ponto de não ser capaz de enxergar a vida e as situações mais conscientemente. Quando frente às diversidades da vida a pessoa não lidam com os problemas e tem neles uma resposta pontual e racional que a impede de progredir, podemos pensar em uma racionalização que foge ao funcionamento esperado do ego.
Neste sentido, a intervenção psicanalítica pode ser de grande ajuda para que a pessoa compreenda que tomar a frente das situações ocorridas pode ser de grande ajuda para lidar com os eventos em que devemos ser responsáveis e atentos tomando nossa posição como donos de nossas vidas.
Vale destacar que a abordagem psicanalítica bem como seu próprio fundador defendem a ideia de que precisamos, antes de tudo, termos mais consciência de nossa realidade interna e externa. Conhecer nossos limites, desejos, formação como pessoa bem como a relação com as pessoas ao nosso redor, faz com que estejamos mais atentos a nós mesmos e à nossa constituição como sujeito.
Este artigo foi elaborado por Renan Gaudencio Vale, Professor, linguista, mestre em semântica e futuro psicanalista, sempre tive intenso interesse pelo funcionamento da mente humana. Acredito que a linguagem é parte constitutiva do sujeito e a psicanálise a forma mais íntegra para a compreensão de nós mesmos.
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One thought on “Racionalização: mecanismo de defesa ou válvula de escape?”
Obrigado por nos presentearmos com mais conhecimentos!