sexualidade e estereótipos

Sexualidade e estereótipos comportamentais

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Falar sobre sexualidade e estereótipos requer uma postura cuidadosa para ser possível debater um dos comportamentos mais intrínsecos dos seres humanos e também o mais visto como tabu. Apesar dos impulsos sexuais dominarem a vida de uma pessoa, muitas das suas nuances sequer são comentadas ou mesmo compreendidas.

Entendendo a sexualidade e estereótipos

Tema central da psicanálise, Freud fundou essa ciência com base na teoria da sexualidade infantil que previa que a energia sexual denominada pulsão se iniciava ainda nos primeiros anos de vida. Mais do que servir como um instinto de preservação da espécie, Freud propôs que essa energia sexual era dinâmica e se manifestava de diferentes maneiras a partir das experiências psíquicas vividas na infância.

Neste artigo, iremos apresentar, considerando o ponto de vista da psicanálise, como a questão da homossexualidade está fortemente ligada a determinados estereótipos que muitas vezes escondem o verdadeiro sentido da vida sexual e afetiva de alguém.

Psicanálise, sexualidade e estereótipos

Três ensaios sobre a teoria da sexualidade publicado em 1905 é um dos textos mais basilares da psicanálise freudiana por apresentar como tema central que o autor definiu como os “invertidos”.

Freud definiu, considerando diversas teorias biológicas, que a pulsão sexual estava relacionada com o objeto sexual, isto é, a pessoa que proveria a fonte de prazer. No caso dos invertidos, a pulsão sexual encontrava como objeto uma pessoa do mesmo sexo para a satisfação do prazer sexual.

Mesmo sendo um assunto polêmico e pouco discutido durante o século XIX, Freud defendeu com os princípios da psicanálise que os “invertidos” não poderiam ser categorizados como patológicos ou perversos sendo essa inversão sexual uma variação da sexualidade humana.

A atração sexual

Isso significa dizer que a atração sexual, a afetividade, a constituição de pares, de uma família entre outros movimentos comportamentais continuam preservados nos invertidos sendo praticados com uma pessoa do mesmo sexo.

Entretanto, as questões pessoais e emotivas que estão presentes nas pessoas que hoje se identificam como homossexuais estão longe de serem acolhidas ou mesmo compreendidas pela sociedade.

Mesmo com o avanço das lutas na comunidade LGBT, a orientação sexual homoafetiva se mostra como um comportamento ilegítimo por um grande número de pessoas.

O Efeito do Estereótipo sobre a homossexualidade

Se reconhecer como homossexual é um esforço que gera muitas angústias e reclusão da própria identidade por falta de aceitação e tolerância. Vale destacar que a chamada homofobia pode começar com o próprio sujeito que passa por longos períodos de negação até compreender sua orientação sexual, sendo que, em muitos casos, essa compreensão nunca acontece.

Soma-se a essa questão um conjunto de estereótipos que marcam negativamente a orientação homossexual dentro de padrões percebidos de forma rasa e sem conhecimento. Discutiremos, portanto, a homossexualidade masculina por ser alvo mais fácil e mais agressivo por parte das pessoas intolerantes que envolvem diretamente questões sociais.

Considerando o pensamento central de Michel Foucault em História da Sexualidade de 1976, o autor define que ser explicitamente homossexual (ou qualquer outra definição que se remeta a isso) é visto negativamente. Isso porque, na maioria das sociedades ocidentais e industrializadas, a posição de ser homem é considerada superior e altamente valorizada sendo que um homem que cede a esses valores com atributos considerados femininos, ou próximos do feminino, estaria renunciando a esse posto de poder, o que é considerado inaceitável.

Comportamentos diferentes

Tendo essa perspectiva como plano central dos homens homossexuais, pode-se pensar alguns estereótipos comportamentais percebidos na vida cotidiana que direcionam o comportamento de diversos deles. Um discurso muito repetido a respeito desses indivíduos é de que todo homem quando muito bonito, muito inteligente e muito simpático seria possivelmente homossexual pode ser explicado nesta visão.

Ao pensarmos em altas capacidades intelectuais, esportivas, militares, ou mesmo um forte cuidado com a beleza e à educação social, é possível pensarmos que essas habilidades não são propriamente inatas ou especiais, mas são potencializadas pelo preconceito e não aceitação.

Quando se percebe como homossexual, o jovem homem teria então uma atitude comportamental diferente dos homens heterossexuais justamente por entender que sua conduta, mesmo não sendo patológica, não é bem tolerada. Dessa forma, enquanto os garotos gastam seu tempo flertando as meninas e firmando amizades com outros garotos, é possível que homens homossexuais estejam em outras práticas como as intelectuais ou esportivas quase como uma forma de “compensação” pela sua orientação sexual.

Homossexualidade, sexualidade e estereótipos

Quando amadurecem, esses homens estão mais preparados socialmente para o mundo do trabalho e ascensão pessoal, podendo também ser menos preparados para as relações afetivas.

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    É importante destacar que, como o próprio Freud apontava, as causas que definem a homossexualidade são variáveis e nem mesmo o autor fechou uma conclusão exata a respeito da expressão da sexualidade humana.

    Nem todos os casos de garotos e jovens homens homossexuais podem ser descrito dentro desta perspectiva que destacamos aqui, mas pode explicar uma parte do discurso estereotipado dirigidos injustamente a muitas pessoas.

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    Conclusão: comportamento, sexualidade e estereótipos

    Quando consideramos o pensamento freudiano sobre a sexualidade em conjunto com os estereótipos sobre a homossexualidade, concluímos que muitos dos discursos e pensamentos sobre pessoas que se identificam com outra sexualidade não são adequados.

    Freud foi inovador em sua própria época em apontar que os “invertidos” não configuravam uma patologia.

    Para o século XXI, vale o pensamento de que a forma como uma pessoa constrói e obtém seu prazer de vida é indiferente cabendo a nós o exercício da promoção do amor e da fraternidade às pessoas que nos estão próximas.

    Este artigo sobre sexualidade e estereótipos foi escrito por Renan Gaudencio Vale(renangaudencio@gmail.com)0, Professor, campineiro, linguista, mestre em semântica e futuro psicanalista, sempre tive intenso interesse pelo funcionamento da mente humana. Acredito que a linguagem é parte constitutiva do sujeito e a psicanálise a forma mais íntegra para a compreensão de nós mesmos.

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