Você sabe o que é a síndrome do pânico? Em 1837, apenas alguns meses depois de voltar de sua épica viagem de cinco meses pelo mundo a bordo do Beagle, Charles Darwin, aos 28 anos, começou a experimentar uma série de sintomas estranhos e angustiantes, como palpitações, falta de ar, tremores, náusea, desmaio e medo repentino.
A síndrome do pânico e o medo
Eu acordei à noite me sentindo um pouco mal e tive muito medo, embora minha razão risse de mim e me dissesse que não era nada e tentasse se agarrar a objetos aos quais temer.
Os ataques persistiram até o fim da vida de Darwin, 45 anos depois, e o cientista aventureiro logo se tornou um recluso sem disposição nem mesmo para sair de casa a não ser na companhia da esposa.
Os médicos de Darwin diagnosticaram uma série de doenças, entre as quais “dispepsia com caráter agravado”, dispepsia catarral” e “gota suprimida”. Hoje as discussões em publicações clínicas concluem que na verdade, ele possivelmente sofria de síndrome do pânico.
O que é a síndrome do pânico?
Pânico, descreve para a maioria de nós, uma sensação repentina de ansiedade intensa. É o que sentimos quando não encontramos o passaporte no aeroporto, ou quando suspeitamos que deletaram um arquivo crucial no computador. No meu caso foi o Play Store que sumiu como app do meu celular. Sei que isso é loucura e perversidade quem fizera, mas não deixa de existir essa sensação.
Existe o pânico genuíno que é ser tomado por uma onda de medo visceral e aterrador, acompanhada de uma série de sensações físicas, entre elas respiração ofegante, sudorese, dores no peito, tremor, vertigem, entorpecimento, formigamento nos braços e nas pernas, náusea, calafrios e ondas de calor. O ritmo cardíaco pode acelerar em mais de vinte batimentos por minuto.
O pânico traz consigo uma gama de pensamentos assustadores tais quais estamos prestes a perder o controle ou desmaiar, que estamos ficando loucos, ou que estamos morrendo. Os ataques surgem rapidamente, com seu pico ocorrendo em apenas quatro ou cinco minutos, e duram m torno de dez vinte minutos.
Características da síndrome do pânico
O pânico é uma característica comum em todos os transtornos de ansiedade e também em outros problemas psicológicos (depressão, por exemplo). De fato, um estudo revelou que 83% dos pacientes com um transtorno psicológico relataram ao menos um ataque de pânico.
Segundo o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais é definido depois de um ataque, um mês ou mais de: preocupação com possibilidade de outro ataque ou com o significado do ataque, isso significa uma doença física ou mental grave. Ataques de pânico recorrentes e inesperados, envolvendo mais de uma gama de sensações ou quatro, incluindo palpitações e outras já citadas.
Existe fobia de altura, ao andar de elevador ou em situações específicas como supermercados ou viagens de ônibus em que as pessoas têm mais probabilidade de entrar em pânico. Inclui, também estar em uma multidão ou em um transporte público (exemplo metrô) atravessar uma ponte ou andar de elevador, ou simplesmente estarem sozinhas dentro ou fora de casa.
Quão comum é a síndrome do pânico
Cerca de uma em cada cinco pessoas já sofreu um ataque e pânico inesperado, em puocas de muito estresse. Porém, acredita-s que a síndrome do pânico afete em torno de 2% da população. Quando se trata do risco ao longo da vida, o National Comorbidity Survey Replication relatou que 3,7% dos adultos americanos sofreram síndromede pânico em algum momento, e mais 1,1% deles tive síndrome do pânico com agorafobia (medo de multidão).
A síndrome do pânico costuma surgir na idade adulta, e pesquisas indicam que a idade média do primeiro ataque seja aos 22 anos. Entretanto, um estudo complementar ao National Comorbidity Survey Replication, realizado com adolescentes entre treze e dezoito anos, 2,3% dos entrevistados relataram ter padecido do transtorno em algum momento.
A síndrome do pânico é outro transtorno de ansiedade bem mais comum em mulheres do que em homens – nesse caso, em uma proporção de 2:1.
Quais as causas da síndrome?
Em 1959, o psiquiatra americano Donald Klein administrou imipramina, um antidepressivo recém-desenvolvido, a uma série de pacientes que provavelmente sofriam de síndrome do pânico (embora este não fosse um termo usado na época). Klein não estava otimista quanto ao novo tratamento: Era,antes, o caso de não saber o que mais fazer por eles e pensar que talvez esse novo princípio ativo o segue com poderes tranqüilizantes peculiares que pudesse funcionar.
Contudo, a imipramina pareceu produzir algumas mudanças notáveis nos pacientes de Klein: em alguns dias, seus ataques de pânico haviam desaparecido. Apesar disso, o nível de ansiedade geral permaneceu essencialmente inalterado.Isso levou Klein a fazer uma distinção pioneira entre pânico e ansiedade.
O pânico, segundo ele, era um fenômeno próprio, e não – como então se acreditava – apenas uma característica da ansiedade. Ao fazer isso, Klein abriu caminho para que a síndrome do pânico fosse identificada. (Ele também descobriu que a agorafobia era rara em pessoas que nunca haviam tido um ataque de pânico – outro avanço importante).
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Ainda sobre a perspectiva de Klein
Klein administrou lactato de sódio aos pacientes. O pânico, concluiu Klein era uma reação à percepção de falta de oxigênio respirável.(Não conseguimos respirar de maneira adequada: por exemplo, se há muito dióxido de carbono no cérebro e muito pouco oxigênio, no ar.)
Ninguém, por exemplo, conseguiu identificar exatamente em que lugar do corpo está situado o sistema de alarme de asfixia em ataques de pânico. As demonstrações convincentes de que os ataques de pânico têm um componente psicológico são os maiores desafios à explicação de Klein.
A teoria da interpretação catastrófica é corroborada por pesquisas sobre indicadores para ataques de pânico – os fatores que tornm as pessoas vulneráveis ao pânico. Há alguns anos, os psicólogos Normam Schmidt, Darin Lerew e Robert Jackson tiveram acesso a mais de mil jovens recrutas que estavam paticipando de um treinamento militar básico de cinco semanas na Academia das Forças Aéreas dos Estados Unidos.
A ansiedade
O treinamento é extremamente rígido – os recrutas têm de agüentar exercícios físicos pesados com poucas horas de sono, são submetidos a observação e avaliação constantes e, em muitos casos, estão longe da família e dos amigos pela primeira vez na vida. Por causa do nível elevado de estresse, talvez não seja de surpreender que alguns recrutas desenvolvam problemas de ansiedade – e maior a probabilidade de ataques de pânico.
É possível que que a sensibilidade à ansiedade meça não tanto uma vulnerabilidade a ataques de pânico no futuro, e sim os sintomas de um certo grau de pânico no presente. Outros fatores de risco foram identificados. Sofrer abuso físico ou sexual na infância, por exemplo, leva a um risco significativamente maior de ataques de pânico na vida adulta.
Fatores genéticos também exercem um papel importante, com a hereditariedade estimada em torno de 40%. Como os outros transtornos, porém, estamos longe de saber exatamente quais genes ajudam a causar a síndrome do pânico.
Considerações finais
Talvez a mais significativa de todas as perspectivas biológica e psicológica seja o sucesso notável de tratamentos psicológicos para a síndrome do pânico, em especial a terapia cognitivo-comportamental.
Esses tratamentos propõem mudar o modo como as pessoas concebem suas sensações físicas, seus pânicos e sua capacidade para lidar com eles. Se o pânico fosse primordialmente um reflexo biológico, é de supor que alterar padrões de pensamento faria menos diferença terapêutica.
Referências bibliográficas
Freeman, Daniel. Ansiedade: o que é, os principais transtornos e como tratar. Porto alegre, RS:L&PM,2018.
O presente artigo foi escrito por Carlos Alberto de Souza([email protected]). Licenciado em Letras/Inglês e especialista, mestre em Teoria Psicanalítica e mestre em Teologia.