sobre a depressão

Sobre a Depressão: defesa ou doença?

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Hoje falaremos sobre a depressão. A psicanálise traz como base a interpretação do ser humano frente aquilo manifestado, exposto, concentra-se na identificação de sinais fisiológicos, o que denominamos patologias e tudo isso advindo de um sistema preparado para se autodefender e apresentar em sinais seus distúrbios.

Entendendo sobre a depressão

Somos como espécie uma “máquina” estruturalmente fantástica, preparada para operar dinamicamente e através de todo um funcionamento bem organizado e sistêmico, dar respostas claras do que ocorre com ele; é como se estivéssemos diante de um painel de um equipamento em operação e seu display com todos os botões de alertas ali dispostos e prontos a nos sinalizar qualquer falha.

A questão é quando projetamos um equipamento, o projeto nos dá claramente todo o seu desenho estrutural e seu mecanismo funcionará de acordo com o projetado, de acordo com a “causa final”, segue sua finalidade e as influências do meio, como a atuação do seu operador por exemplo, podem trazer melhor desempenho ou não, quebras ou não, maior vida útil ou não e atrelado a este uso, o display com seus sinalizadores de falhas, acender a luz mediando alguma disfunção sistêmica.

Para as coisas, temos de certa forma os conflitos sistêmicos, mecânicos, funcionais bem mapeados e mediante uma sinalização, um sinal sonoro de falha, temos a indicação de qual botão apertar, de qual componente trocar, do tempo necessário para manutenção, manutenção esta que muitas vezes é antecipada, as nomeamos até de preventivas, preditivas, antecipamos possíveis falhas.

Mecanismos sobre a depressão

Mas, porque temos a habilidade de fazer isso com as coisas e parecemos não ter a mesma habilidade ou talvez preocupação em fazermos isso com nós mesmos?

Nitidamente somos um sistema que também apresenta falhas, que conflita, que é impactado pelo meio e pode operar melhor ou pior com isso, que tem sim seu display de sinalização de falhas, mas que ao mesmo tempo, parece não ter “mecânicos” suficientemente preparados para simplesmente verem estas falhas acontecendo e sugerirem as manutenções necessárias ou mesmo a prevenção para que uma grande manutenção ou mesmo parada mais extensa “de todo equipamento” seja necessária.

Diante desta analogia, a questão é entendermos alguns pontos de uma patologia específica como a depressão, e esta como indicativo em nosso painel de controle de que algo requer atenção, manutenção, tempo de recuperação. A identificação e mesmo Classificação Internacional de Doenças, enquadra a depressão de forma geral no CID F32 – Episódio depressivo (“que é uma condição na qual o paciente experimenta “um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade”).

A pergunta que fica é: Doença ou mecanismo de defesa?

Desenvolvendo o raciocínio, o embasamento teórico para esta provocação, quero trazer alguns pontos que possam colocar em melhor análise esta questão. Quando olhamos para alguns sintomas da depressão e que são inúmeros como: irritabilidade, ansiedade.

Cabe aqui um adendo sobre a ansiedade, que diante a ótica da psicanálise é associada a uma forma de angústia decorrente da antecipação de acontecimentos futuros e que pode ser bom ou ruim dependendo da intensidade, é uma preocupação com o “que ainda pode acontecer”.

O ponto é: seria a ansiedade um indicativo da “necessidade de atenção à uma manutenção preventiva, preditiva”, e não damos ou interpretamos com a devida atenção essa luz acesa em nosso painel de controle?

Sobre a depressão e sintomas

E continuando com os sintomas da depressão:

  • angústia;
  • desânimo,
  • cansaço fácil,
  • necessidade de maior esforço para fazer as coisas;
  • diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer;
  • desinteresse, falta de motivação e apatia;
  • sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero e desamparo;
  • pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima;
  • sensação de inutilidade, ruína e fracasso;
  • interpretação distorcida e negativa da realidade;
  • dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento;
  • diminuição do desempenho sexual; perda ou aumento do apetite e do peso;
  • insônia ou despertar matinal precoce; dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos.

O mau funcionamento de nosso sistema

Diante de tantos sintomas ligados ao mau funcionamento de nosso sistema, da identificação de perda de eficiência, do indicativo de necessidade de “parada”, de que o “botão do stop” seja acionado para que não ocorra uma sobrecarga e mesmo quebra de componentes, acabamos fazendo o contrário e tentamos resgatar as pessoas com tais sintomas com “doses de ânimo” em forma até de boas intenções como as levá-las para ambientes mais animados, acolhedores, movimentados, colocá-las em movimento, em atividades e até mesmo sob prescrição médica, iniciar tratamentos com medicamentos antidepressivos, medicamentos estes que tendem a melhorar o nível de atividade cerebral.

Nota (fonte: Harvard Health Publishing – Harvard Medical School): De acordo com a Universidade de Harvard, pesquisas estão sendo conduzidas para explorar as possíveis relações entre a produção lenta de novos neurônios no hipocampo e a depressão.

O funcionamento dos antidepressivos no cérebro apoia essa teoria: esses medicamentos aumentam imediatamente a concentração de neurotransmissores, como a serotonina, no cérebro. No entanto, o paciente só começa a sentir seus efeitos depois de algum tempo de uso, como dias ou semanas.

Sobre a depressão e estímulos

Especialistas se perguntam, então, por que as pessoas não se sentem imediatamente melhor assim que a quantidade de neurotransmissores no cérebro aumenta. Uma das possíveis explicações é que o humor só melhora à medida que os neurônios crescem e novas conexões são formadas, um processo que leva semanas.

Estudos em animais mostraram que os antidepressivos estimulam o crescimento e a ramificação aprimorada das células nervosas no hipocampo. Portanto, a teoria sustenta que o valor real desses medicamentos pode estar na geração de novos neurônios, no fortalecimento das conexões das células nervosas e no aprimoramento da troca de informações entre os circuitos nervosos.

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    Com base nos dados acima e na proposta de embasamento teórico, quando tentamos “forçar” de alguma forma um sistema que nitidamente apresenta necessidade de parada, e a ansiedade e posteriormente a depressão talvez sejam indicativos para um descanso, para manutenção, o que estamos causando de fato?

    A atividade cerebral

    Aumentar o nível de atividade cerebral para casos que indicam estado depressivo não seria talvez o mesmo que “empurrar alguém para frente já a beira do precipício?”.

    Fazendo uma comparação nossa com alguns mamíferos, temos para certos animais o período de hibernação, que está relacionado a períodos frios do ano, mas que também relaciona-se a capacidade que determinados seres vivos têm de alterar o funcionamento de seu organismo para sobreviverem a situações de extremo estresse.

    Conclusão

    Talvez a depressão, a ansiedade ao invés de simplesmente “doenças” sejam as “manifestações inteligentes” do nosso sistema tentando nos dizer, nos mostrando em nosso display uma luz de alerta de que algo necessita de manutenção, que requer uma parada, que precisamos simplesmente descansar de forma mais intensa, quem sabe até sermos “tirados da tomada” e ganharmos um reset, mas o ser humano com sua “mania” de julgamento e superioridade de que estar ou promover uma zona de conforto para sua própria segurança é ser preguiçoso, improdutivo, incapacitado, é não estar no grupo dos que fazem acontecer e muitos outros julgamentos que podemos colocar aqui, simplesmente não entenda e reconheça os sinais inteligentes manifestados por nós por nosso próprio sistema de funcionamento, mas que esbarra à nossa própria ignorância e falta de conhecimento daquilo que somos por natureza.

    Este artigo sobre a depressão (defesa ou doença?) foi escrito por Alison C. Marcolongo ([email protected]), paulista, nascido em 1976 na cidade de Araraquara. Sempre motivado a tentar auxiliar de alguma forma o melhor entendimento do ser humano por ele mesmo, tento aprender e ser mais sábio diariamente, bem como trocar esta sabedoria adquirida com o meio constantemente, visando um legado construtivo e colaborativo. Administrador de empresas com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV. Um apaixonado por pessoas.

    2 thoughts on “Sobre a Depressão: defesa ou doença?

    1. Minha tia dizia que tem pessoas que passam pela “Crise dos 30 anos”! Por experiência pessoal digo que a idade de 30 anos é um “divisor de águas”: seguimos na vida do mesmo jeito que antes ou “passamos pela Depressão”: a que viemos (vocação)? Não podemos esquecer, também, do limite que já estaremos tendo nas relações interpessoais: permitindo sermos “conduzidos” ou sendo protagonista da própria História! Outrora ouvi de um colega por volta dos 50 anos, ao sugerir fazer a tarefa com menos “rotinas”: “Me ensinaram a fazer assim e continuarei”! Não tive dúvidas que ele passou, tranquilamente, pelos 30 anos!!!

      1. Alison C. Marcolongo disse:

        Olá Geraldo, penso que nossa vida é repleta de passagens e colocamos alguns marcos com 15, 18, 21, 30, 50 e por aí vai. A certeza de fato é que nos entendendo melhor e sendo preparados para isso, tanto nós quanto nossos cuidadores (considerando que alguém nos “cuida” numa fase bem importante de nossa formação geral), provavelmente seremos capazes de não só passarmos, mas de conduzirmos com muito menos dificuldades, frustrações, repressões, conflitos cada etapa de nossas mudanças. Seguir na vida, uns seguirão mais, outros menos, mas a questão é COMO de fato cada um de nós seguirá.

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