teoria das pulsões para Freud

Teoria das Pulsões para Freud e a Psicanálise

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A mente humana é um universo fascinante, povoado por uma complexidade de pensamentos, emoções e comportamentos que desafiam qualquer compreensão simplória. Para desvendar esses mistérios, Freud revolucionou a psicologia com sua teoria das pulsões, no cerne da metapsicologia psicanalítica.

Mas o que são, exatamente, essas pulsões? Como funcionam? De onde vêm? Para onde vão? Este artigo mergulha em profundidade nesse conceito essencial cunhado por Freud, explorando todos os seus principais aspectos.

O que são as pulsões para Freud?

Imagine por um momento uma caldeira fervendo no porão de uma fábrica. Ela está cheia de vapor comprimido, pressionando as paredes internas do equipamento em busca de uma saída. Esse é o ímpeto das pulsões freudianas: uma pressão interna constante, que exige ser aliviada ou descarregada.

As pulsões nascem de necessidades corporais prementes – como a fome, a sede, o sono ou a excitação sexual. Essas necessidades fisiológicas geram tensões que precisam ser suprimidas para restabelecer a homeostase orgânica. É como o acúmulo de vapor no interior da caldeira.

Porém, ao contrário do vapor que explodiria sem controle algum, as pulsões humanas encontram na psique meios de obter satisfação de modo socialmente aceitável.

Isso porque as pulsões adquirem “representantes psíquicos” – são traduzidas em imagens mentais, afetos, desejos, que buscam descarregar a tensão subjacente.

Voltando à metáfora, é como se válvulas e tubulações fossem instaladas na caldeira para liberar gradualmente o vapor, transformando sua pressão em trabalho produtivo.

Da mesma forma, por trás de todo pensamento, sentimento ou ação humana, latejam pulsões que encontram vias de satisfação criativas ou sintomáticas.

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As raízes filosóficas do conceito de pulsão

A noção de “forças internas” que impelem o comportamento já aparecia em filósofos que influenciaram Freud, como Schopenhauer, Nietzsche e seu conceito filosófico de “vontade de poder”. Também Immanuel Kant, com sua reflexão sobre “forças organizadoras” inatas aos seres vivos.

Freud aproveitou essas intuições da filosofia para cunhar o termo alemão “Trieb”, traduzido como pulsão ou impulso. Ele buscou dar bases científicas a tais ideias através de suas observações clínicas com pacientes neuróticos.

O psicanalista percebeu que sintomas físicos e psíquicos tinham uma mesma raiz: o emperramento de pulsões não descarregadas adequadamente. Ia muito além de meras “forças”: havia todo um dinamismo interno análogo à física e à termodinâmica que precisava ser investigado.

As neuroses eram o resultado de pulsões “entupidas” como em tubulações defeituosas.

Essa intuição pioneira impulsionou o desenvolvimento de toda a metapsicologia freudiana. A teoria das pulsões é um de seus pilares, trazendo ideias radicalmente novas sobre a motivação humana.

Deixava para trás visões conscientes, racionalistas ou moralistas: o motor do comportamento residia em impulsos corporais inconscientes.

Das pulsões de autoconservação às pulsões sexuais

Inicialmente, Freud dividiu as pulsões em dois grupos:

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    • As pulsões de autoconservação (ou do ego), relacionadas à fome, sede, sono e demais funções vitais do indivíduo;
    • As pulsões sexuais, ligadas à libido, buscando a satisfação erótica e a propagação da espécie.

    Essa diferenciação entre impulsos de sobrevivência pessoal e impulsos de reprodução coletiva orientou as primeiras teorizações. Está bem evidente em obras seminais, como os “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905).

    Contudo, com o amadurecimento da metapsicologia, Freud foi obrigado a complexificar essa dualidade. Afinal, onde encaixar fenômenos como as perversões sexuais, o masoquismo ou mesmo o profundo laço entre mãe e filho?

    Ia muito além de pura “conservação da vida” ou “procriação”: havia interações sociais, afetivas, identitárias. Novas teorizações complementares sobre as pulsões se faziam urgentes.

    Pulsões de vida e pulsões de morte: Eros e Tânatos

    O grande insight veio com “Além do Princípio do Prazer” (1920). Nele, Freud argumenta que comportamentos humanos muitas vezes violam o “princípio do prazer” (busca de satisfação/fuga da dor). Isso se evidencia em guerras, obsessões autodestrutivas, compulsão à repetição de traumas.

    Para explicá-los, introduz um novo dualismo pulsional, mais abrangente que o anterior:

    • As pulsões de vida ou Eros: unidades deste tipo buscam ampliar a vida, trazendo satisfação e novidade. Englobam as pulsões sexuais e de autoconservação. Tem a ver com síntese, criação, progresso.
    • As pulsões de morte ou Tânatos: unidades que buscam dissolve a tensão pela via da destruição. Expressam uma tendência primordial dos organismos vivos de retornar à inércia inorgânica. Estão por trás da agressividade, repetição, estagnação.

    Essa genial especulação freudiana lançou luz sobre muitos comportamentos humanos aparentemente irracionais e contraditórios. Ao mesmo tempo em que construímos e geramos, também sabotamos e destruímos. Dois impulsos básicos coexistem em cada psiquismo, ora harmonizados, ora em severo conflito.

    Esse dualismo permite explicar psicopatologias, violência coletiva, guerras, suicídio e todas as misérias causadas por Tânatos. Mas simultaneamente abre caminho para investigar a criatividade artística, o amor, o progresso civilizatório impelidos por Eros.

    Organismo pulsional: fonte, impulso, meta e objeto

    Outra contribuição essencial de Freud foi dissecar didaticamente a “anatomia” da pulsão. Cada unidade instintual poderia ser desmembrada em 4 elementos constituintes:

    • Fonte: a região corporal de onde emana o estímulo pulsional inicial. Por exemplo, boca no caso da sucção, genitais na sexualidade, olhos na pulsão escópica.
    • Impulso: a pressão propriamente dita que impele à ação, buscando alívio para a tensão. Analogamente, seria a combustão produzindo calor e gases no motor de um carro.
    • Meta: corresponde ao alvo visado, isto é, suprimir o estímulo na fonte, alcançando completa descarga e satisfação. Usando a analogia anterior, seria o ato de chegar ao destino desejado.
    • Objeto: tudo aquilo mediante o qual ou por intermédio do qual a pulsão pode alcançar sua meta. Ou seja, o caminho escolhido para conseguir suprimir a tensão. No exemplo do motor, seria o próprio veículo sendo impulsionado.

    As metamorfoses das pulsões: plasticidade psíquica

    Além de compreender a estrutura interna das pulsões, Freud também investigou suas possíveis transformações. Afinal, se existem forças biológicas tão arraigadas, como explicar a enorme plasticidade e diversidade do comportamento humano?

    A resposta veio com o conceito de “vicissitudes da pulsão”. Isto é: as pulsões podem assumir destinos radicalmente diversos, que dependem tanto da história singular do sujeito quanto de normatizações culturais. É uma espécie de “metamorfose instinctual”.

    Freud elencou 3 vicissitudes primordiais que uma pulsão pode passar:

    1. Inversão em seu contrário: a pulsão manifesta o oposto de seu sentido primeiro. Amor vira ódio, por exemplo. Costuma ocorrer luego de frustrações reiteradas na busca por satisfação.
    2. Volta sobre a própria pessoa: a pulsão não encontra objeto externo disponível e se volta contra o próprio ego. Surge com frequência em quadros melanchólicos e masoquistas. A agressividade aloja-se no psiquismo do próprio indivíduo.
    3. Repressão: talvez o destino pulsional mais comum na sociedade ocidental. A pulsão é total ou parcialmente recalcada, ficando de fora da consciência. No entanto, as pulsões reprimidas são a matéria-prima dos sintomas, sonhos, atos falhos. Retornam de formas deturpadas.

    Posteriormente, Freud também destacou dois outros destinos pulsionais culturalmente valorizados:

    1. Sublimação: acontece quando impulsos primitivos como a agressividade e a sexualidade são redirecionados socialmente para produções culturais elevadas. São “canalizados” para a ciência, as artes, o trabalho.
    2. Identificação: processo pelo qual o indivíduo assimila aspectos de outros significativos, tornando-os parte de seu ego. Base dos laços afetivos, da formação de ideiais e da própria estruturação psíquica.

    Essa multiplicidade de destinos é o que permite a adaptação do psiquismo à realidade compartilhada. As pulsões garantem a conexão entre corpo, mente e meio sociocultural. Freud escancarou esse dinamismo antes jamais investigado.

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    Considerações finais sobre a Teoria das Pulsões

    Em síntese, conceber o psiquismo humano a partir de pulsões foi uma manobra teórica de gênio de Freud. Ela lançou as bases para a compreensão profunda de toda a complexidade comportamental e sintomática na clínica psicanalítica.

    As pulsões são forças motrizes que impulsionam pensamentos, sentimentos e ações dos indivíduos. Elas nascem de necessidades corporais internas prementes, que geram tensões buscando descarga.

    Sua teoria permite conectar o corpo e a mente; o biológico e o cultural; o normal e o patológico. Revela uma dinâmica energética complexa entre pulsões de vida e pulsões de morte, Eros e Tânatos, sempre em intrincada tessitura.

    Seguindo o fio teórico das pulsões, psicanalistas investigam desde traumas infantis aos conflitos da política internacional. Desvendam tanto uma compulsão à repetição quanto um ato criativo singular. Mergulham nas idiossincrasias passionais dos amantes e líderes.

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    One thought on “Teoria das Pulsões para Freud e a Psicanálise

    1. A Psicanálise e um Oceano de possibilidades, aventuras, ilusões, realidades….Sem fim

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