The Sinner cativou o público por sua narrativa profunda, sombria e bastante instigante.
O drama vivido pela protagonista de Jessica Biel nos faz remeter a como a Psicanálise trabalharia em cima.
Com isso, vamos olhar para cinco conceitos psicanalíticos que foram utilizados e memorados na produção.
O inconsciente
Em The Sinner, a história realmente começa quando Cora Tannetti age de forma impulsiva e inexplicável. Durante um dia na praia, ao ouvir uma música que a irrita, ela comete um assassinato sem aparente motivo. Logo após o ato, a expressão de choque no rosto dela mostra que nem ela entende o que fez.
Freud explica que nossa consciência não controla totalmente nossas ações. Elementos guardados no inconsciente continuam a influenciar nosso comportamento, mesmo que não percebamos. Tudo o que reprimimos e deixamos “escondido” ainda exerce impacto sobre nós.
É isso que ocorre com Cora. O passado traumático dela ficou trancado em uma parte obscura de sua mente, a ponto de ela mesma não ter acesso a essas lembranças. Um detalhe intrigante é que, supostamente por conta de drogas, ela perdeu dois meses de memória.
O assassinato que Cora comete não é apenas um ato de raiva momentânea, mas sim um reflexo profundo do seu inconsciente, resultado de traumas e memórias que foram reprimidas.
Teste de Rorschach
Moldado por Hermann Rorschach, psicoterapeuta, oteste de Rorschach é o famoso “teste do borrão”.
O analista perguntará ao paciente o que ele vê nas pranchas com manchas de tinta.
Cada resposta ajuda a traçar um quadro psicológico do paciente. As manchas em si não importam, mas, sim, as respostas.
O teste de Rorschach trabalha em cima do conceito de “projeção” montado por Freud.
Basicamente, o indivíduo atribui para as manchas formas originadas por seu inconsciente.
Dessa forma, libera características de sua própria personalidade em outros objetos e pessoas.
A ideia é fazer com que se chegue em seu inconsciente sem dificuldades.
Logo na abertura de The Sinner, uma animação remete às pranchas e inclui o rosto da protagonista.
Quem se familiariza com o assunto associa instantaneamente à complexidade da personagem.
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Assim, a série coloca o inconsciente de Cora no centro, aguardando ser desvendado.
Dissociação
A dissociação é um mecanismo de defesa em que a mente bloqueia memórias traumáticas para proteger o indivíduo dos impactos negativos dessas experiências. Isso pode fazer com que a pessoa não se lembre de eventos ou pensamentos dolorosos.
No caso de Cora, ela apresenta um apagão mental que deixa dois meses de sua vida em branco. Esse esquecimento é resultado de três fatores principais:
- Estresse pós-traumático: Cora carrega traumas profundos que moldaram seu futuro. Para conseguir viver uma vida “normal”, ela enterrou essas lembranças em sua mente. Porém, como traumas reprimidos continuam a nos influenciar, esses acontecimentos afetam suas escolhas, inclusive o crime que cometeu.
- Distúrbios de personalidade: Em The Sinner, fica claro o quanto a mente de Cora está fragmentada. Isso cria confusão em sua identidade e percepção de si mesma. Sua reação de choque após o crime mostra como seu inconsciente tomou o controle.
- Uso de drogas: Cora tem uma ligação com substâncias psicoativas, e isso pode ter contribuído para a lacuna em sua memória. Para protegê-la, sua mente isolou essas lembranças em um espaço inacessível à consciência.
Ego, Superego e ID
De forma subjetiva, The Sinner trabalha um dos conceitos mais famosos da Psicanálise.
Freud construiu a mente com três instâncias de dinâmicas opostas e conflitantes.
Na série, podemos traçar um paralelo, onde cada uma é representada por um personagem.
Começamos pelo:
Superego
O superego representa a moralidade em um indivíduo, de modo a reprimir seus instintos mais proibidos.
Isso acaba ficando claro na imagem da mãe de Cora, religiosa fervorosa e constante recorredora da bíblia.
Assim, a mãe acaba introjetando na filha conceitos do que é moralmente aceito ou não, reprimindo ela, como o superego.
Id
A irmã de Cora, Phoebe, representa o Id. Doente e fisicamente limitada, ela incita a irmã a viver perigosamente, buscando prazeres imediatos.
Com isso, a irmã assume o posto de Id, fazendo com que sua irmã tenha prazeres de forma inconsequente.
Contudo, isso a leva a situações de perigo.
Ego
Este é representado pela própria Cora, já que vivia sufocada pela repressão materna e liberdade exigida pela irmã.
Por causa disso, a mesma não teve oportunidade de construir sua identidade de modo mais limpo e saudável.
Cora não aprendeu a se equilibrar com seus impulsos e com as regras da sociedade.
Culpa
Freud defendia que a culpa impedia com que nos tornássemos indivíduos egoístas em detrimento da sociedade.
Ademais, afirmava que precisávamos construir relações em sociedade pois isso permitiria que sobrevivêssemos.
Assim, não deveríamos prejudicar qualquer pessoa ao nosso redor.
Em The Sinner vemos que a protagonista viveu permeada em culpa por conta de sua infância.
A repressão da mãe, aliada com a condição da irmã, a faziam crer que ela tinha privilégios.
Com isso, Cora evitava ter prazeres na vida para que isso não a afastasse da família. O egoísmo não era um ferramenta a ser cogitada.
Comentários finais sobre The Sinner
Enfim, The Sinner se trata de um estudo instigante a respeito de como a mente humana funciona.
Apesar da simplicidade inicial do roteiro, fazendo um background, entendemos o que motiva as ações da personagem principal.
O seu inconsciente também é protagonista, já que guarda as respostas que todos procuram.
Além da série The Sinner, indicamos um aprendizado mais robusto sobre o comportamento humano em nosso curso de Psicanálise online.
Aprendendo diretamente da fonte, entenda o que fomenta as ações e comportamentos de todo indivíduo, esteja ele doente ou sadio.
Complementarmente, trabalhe em si mesmo de forma a construir um rico processo de autoconhecimento!