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Tipos de Personalidade: mitos e verdade segundo a Psicanálise

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Hoje falaremos sobre os tipos de personalidade. Com a aceitação e popularização da Psicanálise alguns termos e frases começaram a ter uso comum na linguagem. Porém, as pessoas, em geral, usam e alteram termos psicanalíticos com pouca compreensão sobre seu real significado ou origem. Neste ensaio, vamos comentar os termos que são mais frequentemente usados, em geral de maneira incorreta.

Falamos sobre introvertidos e extrovertidos, narcisistas e personalidade tipo A. Mas o mais próximo que essas ideias chegam da verdade é a identificação de características muito amplas – como a consciência – que todos nós compartilhamos em maior ou menor grau.

Entendendo os tipos de personalidade

Nossas personalidades estão longe de ser fixas, pois, em certo sentido estamos todos cheios de inconsistências e nossas características mudam muito ao longo de nossas vidas, à medida em que aprendemos e nos adaptamos aos eventos e relacionamentos sociais.

Quais os Tipos de Personalidade?

O “tipo de personalidade” é um termo usado na Psicologia para descrever um conjunto distinto de características de personalidade que tendem a ocorrer juntas em um indivíduo. Essas características podem incluir padrões de pensamento, sentimento e comportamento. Os tipos de personalidade são frequentemente usados para ajudar a entender as diferenças individuais e prever como as pessoas provavelmente se comportarão em diferentes situações.

Existem várias teorias e modelos de tipos de personalidade, sendo os seguintes os mais conhecidos:

  • Tipos de personalidade de Myers-Briggs: identifica 16 tipos de personalidade, cada um representado por uma combinação de quatro letras: E (Extrovertido) ou I (Introvertido), S (Sensação) ou N (Intuição), T (Pensamento) ou F (Sentimento), e J (Julgamento) ou P (Percepção).
  • Tipos de personalidade de Big Five: descreve cinco dimensões principais da personalidade: abertura à experiência, conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo. Cada pessoa pode ser pontuada em cada uma dessas dimensões, resultando em um perfil de personalidade único.
  • Tipos de personalidade de Enneagram: é um sistema que identifica nove tipos de personalidade, cada um com suas próprias motivações, medos e desejos. Os tipos são numerados de 1 a 9 e incluem descrições como “O Reformador”, “O Ajudante”, “O Realizador”, e assim por diante.
  • Tipos de personalidade de quatro temperamentos: originado na antiguidade com os trabalhos de Hipócrates e Galeno. Os quatro temperamentos são sanguíneo (otimista e social), colérico (curto prazo e irritável), melancólico (analítico e quieto) e fleumático (relaxado e pacífico).

Embora os tipos de personalidade possam ser úteis para entender as diferenças individuais, eles são simplificações e não capturam toda a complexidade da personalidade humana. A personalidade de uma pessoa pode mudar ao longo do tempo e em diferentes contextos. Portanto, os tipos de personalidade devem ser usados como uma ferramenta para ajudar a entender, e não para rotular ou limitar as pessoas.

Psicótico

O assassino psicótico é um dos tropos comuns do cinema. Mas para a Psicanálise, “psicótico” não é sinônimo de perigoso ou raivoso e não tem nada a ver com assassinos em série. Na Psicanálise o termo psicose é refere-se a um conjunto de experiências às vezes angustiantes, como ouvir vozes, crenças incomuns e fala confusa, que geralmente não estão associadas, necessariamente, a impulsos assassinos.

A psicose é um termo clínico usado para descrever uma condição mental que é caracterizada por uma desconexão da realidade. Isso pode incluir alucinações (ver ou ouvir coisas que não estão realmente lá), delírios (crenças falsas) e pensamento desorganizado. A psicose pode ser um sintoma de várias condições, incluindo esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão maior. O uso incorreto desse termo ocorre quando é usado para descrever alguém que está agindo de forma irracional ou imprevisível.

Histeria

Historicamente, a histeria era uma condição que era acreditada para afetar principalmente as mulheres e era associada a uma variedade de sintomas, incluindo convulsões, paralisia e distúrbios emocionais.

Para a Psicanálise, os sintomas que antes eram atribuídos à histeria podem ser mais bem explicados por uma variedade de outras condições, como transtorno de conversão ou transtorno de personalidade histriônica. O uso incorreto desse termo ocorre quando é usado para descrever alguém que está sendo excessivamente dramático ou emocional.

Em círculos psicanalíticos científicos, evitamos usar o termo histérico porque a associação de feminilidade com vulnerabilidade psicológica é tão insultuosa quanto incorreta.

Modernidade e os tipos de personalidade

Muitas sociedades são notavelmente desiguais nas oportunidades oferecidas aos gêneros, mas a ideia de que as mulheres, em virtude de seu gênero, são propensas a emoções histéricas é um mito degradante, iniciado pelos gregos antigos e perpetuado pelos vitorianos, chegando, infelizmente, até a modernidade atual.

Personalidade Dividida

Os roteiristas de cinema adoram o conceito de “personalidade dividida”, a ideia de que uma pessoa pode ter as personalidades operando de forma independente, sem saber uma da outra. É certamente verdade que todos nós mudamos e alteramos nosso estado de humor. Mesmo nossas “personalidades” são muito menos fixas do que supomos e talvez mais inconsistentes do que gostaríamos de acreditar.

Algumas pessoas descobrem que suas emoções e autoestima variam muito e, ocasionalmente, isso causa problemas. Algumas pessoas acham que sua percepção de “quem são” flutua tanto que se descrevem como tendo duas ou mais personalidades, mas isso é muito raro e, por isso, um tanto controverso.

Esse tipo de experiência é geralmente uma consequência de experiências traumáticas da infância, deixando a pessoa com problemas para entender suas próprias emoções e relacionamentos. É importante reconhecer que o trauma da infância pode ter consequências para a vida toda.

Identidade e os tipos de personalidade

A expressão “dividir a personalidade” é frequentemente usada de maneira informal para descrever uma situação em que uma pessoa parece ter duas ou mais personalidades distintas. No entanto, em um contexto clínico, essa expressão pode se referir a um transtorno mental específico conhecido como transtorno dissociativo de identidade (TDI), anteriormente conhecido como transtorno de personalidade múltipla.

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    O TDI é uma condição psiquiátrica complexa e controversa caracterizada pela presença de duas ou mais identidades ou estados de personalidade distintos que assumem o controle do comportamento de uma pessoa. Cada personalidade pode ter suas próprias memórias, comportamentos, preferências e maneira de ver o mundo. A pessoa pode alternar entre essas personalidades, muitas vezes sem se lembrar do que aconteceu enquanto a outra personalidade estava no controle.

    Acredita-se que o TDI seja geralmente o resultado de trauma ou abuso extremo durante a infância. A divisão da personalidade pode ser uma estratégia de sobrevivência que permite à pessoa se dissociar ou se distanciar das experiências traumáticas.

    Dividir a personalidade

    A expressão “dividir a personalidade” também pode ser usada de maneira menos precisa para descrever outras condições que envolvem alterações no comportamento ou na personalidade. Por exemplo, pode ser usado para descrever o comportamento de uma pessoa com transtorno bipolar durante episódios de mania ou depressão, ou o comportamento de uma pessoa com transtorno de personalidade borderline, que pode ter mudanças rápidas e extremas no humor e no comportamento.

    A personalidade de uma pessoa é complexa e multifacetada, e mudanças no comportamento ou no humor não necessariamente indicam a presença de múltiplas personalidades. Além disso, apenas um profissional de saúde mental qualificado (de preferência um psicanalista ou psiquiatra) pode diagnosticar condições como TDI, transtorno bipolar ou transtorno de personalidade borderline.

    Neurótico

    Neurose (ou neurótico) é mais uma daquelas palavras técnicas da Psicanálise que, ao longo do tempo, viu o seu significado mudar, foi incorporada na linguagem do dia a dia e depois foi usada como insulto.

    Originalmente, as “neuroses” eram problemas de saúde mental caracterizados por emoções angustiantes, como ansiedade e depressão, e distintas das “psicoses”, caracterizadas por experiências como ouvir vozes ou ter crenças incomuns. Com o tempo, esse significado se estendeu para se referir a um traço de personalidade caracterizado por ansiedade, mau humor, preocupação, inveja e ciúme.

    Mas, é cientificamente inadequado e insultuoso referir-se a alguém como “neurótico”, quando a ciência dos traços de personalidade simplesmente não apoia tal descrição. Alguns de nós são mais propensos à ansiedade e depressão, e essa é provavelmente uma maneira correta e respeitosa de expressar isso.

    Conclusão

    No contexto da clínica psicanalítica, a neurose é um termo que foi usado para descrever uma classe de distúrbios mentais que distorcem a realidade, mas não o suficiente para impedir o funcionamento normal ou o contato com a realidade. As pessoas com neuroses tendem a ter ansiedade, depressão, fobias e obsessões. O uso incorreto desse termo ocorre quando é usado de forma pejorativa ou para descrever alguém que é excessivamente ansioso ou preocupado.

    Referências bibliográficas

    KINDERMAN, Peter. Six ‘Psychological’ Terms That Psychologists Never Use. The Conversation. Aug. 8, 2018. Disponível em: https://theconversation.com/six-psychological-terms-that-psychologists-never-use-100917. Consulta em 31abril 2021.

    IBPC – INSTITUTO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE CLÍNICA. Curso de Formação em Psicanálise – Módulo II – LIBIDO, PULSÕES E SEXUALIDADE. Disponível em: https://membros.psicanaliseclinica.com/modulo03. Acesso em: 31 mar. 2021.

    Este texto sobre tipos de personalidades foi escrito por Romilson Juluso, formado em Psicanálise Clínica no IBPC (fale comigo: [email protected]; WhatsApp: 61 999736135). É bacharel e mestre em Economia (UnB) e pós-graduado em Avaliação de Políticas Públicas (UFRJ), Política e Estratégia (UnB) e Governança e Accountability (CCAF/Canadá). É Diretor-Presidente da Clínica Juluso de Psicanálise Integral, que decidiu criar para unir seus mais de vinte anos de experiência como analisando, professor universitário e auditor para atuar como psicanalista. A Clínica Juluso faz atendimentos presenciais e online. Também atua como psicanalista voluntário no Projeto Escutas Cuidadoras, atendendo pacientes de baixa renda.

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