trauma estruturado como linguagem

O trauma estruturado como linguagem

Publicado em Publicado em Transtornos e Doenças

Entenda sobre o trauma estruturado como linguagem. Ouvimos dentro e fora da clínica as pessoas falarem sobre suas dores, angústias, questões que as acompanham de forma a atrapalhar a fluidez de suas vidas. Normalmente, atribuem seus incômodos a alguém, como a figura materna, paterna ou então a situações, objetos externos.

Entendendo sobre o trauma estruturado como linguagem

De certa forma, essa máxima não está equivocada, entretanto cabe aqui acrescentar como esse afeto, que podemos nomear como trauma, tem sua estrutura, seu endereçamento pessoal, em primeira instância não podendo ser simbolizado, traduzido como linguagem.

Inicio aqui a minha explanação com o responsável por armazenar não somente nossas dores, mas também por direcionar a maior parte de nossos atos, pensamentos rotineiros e escolhas fundamentais de nossa longa trajetória. A fundamental, norteante instância psíquica chamada inconsciente.

Sigmund Freud, soube representar, de forma didática, as camadas da nossa mente, de maneira representativa, através de um iceberg.

O trauma estruturado como linguagem e a psicanálise

Decifrando esse simbólico, sabemos que a parte maior desse bloco de gelo, encontra-se submersa, ou seja, não temos um fácil acesso, tampouco, a priori, um conhecimento convicto. Enquanto a menor parcela dessa geleira, situa-se na parte externa, podemos dizer, aos nossos “olhos”, em nossa ligeira percepção.

Cada ser humano é percebido com um inconsciente, aqui não cabe generalização, tampouco percepções prontas para diferentes sujeitos em relação aos acontecimentos da vida. Da mesma forma, não existe uma cartilha para um psicanalista, por exemplo, basear-se nos traumas do paciente, fazendo um laço com possíveis causas.

Essa citação vejo como fundamental, primordial a ser entendida por um sujeito que inicia na clínica como profissional de saúde mental. Tratamos o sujeito como único, sua percepção de mundo é unívoca e cada psique interpreta algo que o impele, o convoca por um viés.

Os sintomas indizíveis

Elucido esse argumento com um exemplo, tornando-o mais didático, duas pessoas expondo sobre acontecimentos que marcaram as suas vidas, de forma exponencial, podemos chamá-los de traumas, gerando angústias e sintomas indizíveis para cada qual.

Contudo, ambas são irmãs, criadas pelos mesmos pais, e, conforme seus relatos, cada uma com uma percepção de cada acontecimento que as envolveram de forma igualitária. De certo, devemos observar que os traumas incutidos em cada sujeito tem uma predisposição a ocorrer em sua estrutura psíquica, podendo ser interpretado de forma significativa na construção, no emolduramento de sua personalidade.

Na perspectiva da explicação empírica dessa inclinação do sujeito a desenvolver ou não um trauma, a seguir, no próximo parágrafo, uma informação valorosa.

O trauma estruturado como linguagem e o sujeito

Novos estudos apontam, conforme mencionado neste curso de especialização, que portamos em nossa filogenética, cerca de 50% de nossa personalidade, por esse motivo, podemos inferir, por exemplo, que pessoas mais reativas, entre outras mais inibidas, podem ter essa identidade pelo fato de terem recebido em sua base biológica essas características.

Em que pese, essa máxima não é determinante, indelével na constituição do sujeito, pois sabemos a descoberta irrefutável da epigenética, a qual veio para mostrar-nos o nosso livre arbítrio em relação à constituição de nossa “persona”.

Esse descobrimento recente, esclarece e indaga algumas conjecturas, as quais podem embasar alguns pensamentos pré concebidos pelas pessoas do consenso comum e profissionais da área da saúde mental.

Hábitos identitários

O fato de conhecermos pessoas com certos hábitos identitários, que, quando investigamos seus familiares, percebemos que esses são repetidos, ou seja, extensivos aos mesmos, portanto faz concluirmos que temos duas vertentes que embasam essas condutas, a primeira explica que suas ações partem da premissa de sua base genética e a segunda, por terem causas, experiências passadas, as quais com esse exemplo de abranger toda a família torna-se mais remota.

Cito essa constatação mais recente, trazendo para a nossa percepção a seguinte questão para atentarmo-nos no pensamento de que nem sempre, um sujeito apresenta-se por determinada posição perante a vida, pelo fato de ter sido, em seu passado, atravessado por cenários que corroboraram com sua conduta, traumas e acontecimentos relevantes vivenciados por ele.

Contudo, nesse artigo, a minha ideia é trazer uma breve explicação sobre a angústia que atravessa algumas pessoas, uma sensação nebulosa, destituída de palavras e sentidos.

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    O aparelho psíquico

    As influências dos traumas na formação de nossas idiossincrasias podem ser inúmeras e determinantes no modo como enxergamos a vida e como interagimos com o meio em que vivemos. Cabe sinalizar com palavras a definição de trauma e seu reflexo em nosso aparelho psíquico.

    Lacan mencionou a seguinte frase: O inconsciente é estruturado como uma linguagem. Partindo desse pressuposto do autor, podemos inferir que o trauma é a forma que o nosso inconsciente decifrou de forma simbólica algo que nos atravessou, algo que faltou nos primeiros anos de vida ou até mesmo alguma coisa que não fez sentido lá atrás, podendo, por exemplo, ser uma falta de atenção, informação dos cuidadores primários.

    O trauma pode ser interpretado com um sintoma de angústia, algo indizível, que a priori não é encontrado palavras para descrevê-lo. Nesse caso, pode-se dizer que está na ordem do real, sem representação do simbólico, tornando-se um entrave para ser decifrado, colocado em palavras.

    O paciente e o analista

    Dentro dessa perspectiva, do trauma podendo estar em uma representação de algo que não encontra-se palavras, no campo da angústia, aqui encontra-se um desafio para o paciente e para o analista dentro da análise.

    O entendimento de um trauma pode chegar a consciência do analisando, no âmbito de sua ocorrência, de suas causas, entretanto sendo um obstáculo em colocar, explicar em palavras o sentimento de angústia e, por esse viés, a angústia permanece até ser decifrada.

    A angústia, como citei anteriormente, é do campo do real e pode manifestar-se com dores no corpo, sintomas psicossomáticos, que poderão ser eliminados no campo da consciência. Adentrando na análise psicanalítica, o sujeito terá um período para entrar no campo do imaginário, a fim de explorar sua fala até trazer sentido para as suas queixas, suas angústias e, então, o simbólico será construído.

    Conclusão sobre o trauma estruturado como linguagem

    Encerro aqui esse artigo com a certeza de que o tratamento analítico pode proporcionar ao sujeito doente uma diminuição de suas afasias, palavra que refere-se a priori uma doença orgânica, entretanto aqui, nesse artigo, refiro-me como sendo uma dificuldade em encontrar símbolos, vocabulário, para expressar-se.

    De tal maneira que decifre, conforme suas possibilidades linguísticas, de um modo mais favorável às suas angústias que representam os traumas em questão.

    Sobre a autora: Sou a Camile Martins, psicanalista clínica e especialista em relacionamentos. Realizo atendimentos individuais e de casal, de forma online. A sessão é marcada pelo Whatsapp (51) 9923.70393.

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