Hoje falaremos sobre as faces do não. O sim e o não são respostas tão curtas e aparentemente tão simples de apresentar diante de perguntas diversas que são feitas a todo momento e em diversos contextos. Entretanto, na prática, às vezes, muitas pessoas não se sentem confortáveis em dizer somente um não ou um sim sem justificar ou dar mais detalhes acompanhando tal resposta.
Entendendo sobre as faces do não
Essa dificuldade na realidade costuma ocorrer mais quando se trata do “não”. Quantos “sins” podem ser expressos quando na verdade se quer dizer um certeiro “não”; o que leva muitas pessoas a dizerem “não” somente para agradar às outras, mesmo se sentindo anuladas ao tomarem tal atitude?
Podemos citar a necessidade de ser aceito nos mais variados contextos sociais. Seja essa razão supracitada ou outra, o início desse tipo de atitude recorrente pode ter suas raízes na infância. Ser altruísta é uma ação bastante nobre e necessária nas relações interpessoais.
O problema surge quando esse altruísmo se torna uma prática recorrente e insubstituível de forma que o indivíduo em nenhum momento observa as suas próprias necessidades e opiniões.
As faces do não e as vontades
Essa atitude faz com que a pessoa coloque suas vontades ou necessidades abaixo da vontade de todos e viva frustrado durante toda a vida sem saber por que age assim ou como fazer diferente.
Há pessoas que até já perceberam que cometem essa ação repetitiva e inconsciente, no entanto, ainda não encontraram um meio de mudar esse cenário. A vontade de dizer um não é latente, porém falta coragem, pois nunca ou poucas vezes agiu assim e, por essa razão, torna-se tão difícil o fazer.
Um firme “não” no momento certo pode fortalecer uma personalidade como pode também mostrar aos indivíduos que convivem com esta pessoa como lidarem com ela; um simples não pode conquistar o respeito de todo um grupo ou, na falta dele, o desrespeito.
Ponto de vista emocional
Se de um lado há pessoas que possuem enorme dificuldade em dizer não, do outro há quem tenha pavor de ouvi-lo. Este caso também representa uma preocupação do ponto de vista emocional.
Um sujeito que foi acostumado a ouvir, na maioria das vezes, respostas positivas desde a infância, certamente será um adulto com muita dificuldade em lidar com situações desafiadoras da vida, ou seja, não saberá como agir ao terem seus pedidos negados seja lá por quem for.
Cada ser humano reage de maneiras muito peculiares ao ser exposto a respostas negativas. Enquanto alguns superam um “não” em questão de minutos e logo partem para um possível plano “B”, outros ficam severamente frustrados, tristes e levam até anos para superar.
As faces do não e a injustiça
Estes gastam tempo tentando compreender o motivo do não ou são tomados por um sentimento de injustiça e, ainda que de fato este indivíduo tenha sido injustiçado, o foco aqui é analisar a maneira como ele lida com a frustração.
No caso do sujeito que “não consegue” expor suas necessidades e se coloca sempre em último lugar, dando prioridade às necessidades e vontades alheias, é possível traçar duas situações igualmente complexas, mas de origem divergentes.
Ao ser conivente com situações que são desfavoráveis ou que até lhe machucam emocionalmente falando como por exemplo a dificuldade em abandonar relacionamentos tóxicos, a pessoa pode simplesmente estar sofrendo muito e necessitando de ajuda para alterar esse padrão de comportamento ou pode estar “beirando” o masoquismo.
A perversão
Tal transtorno é classificado como uma variante da personalidade predominante chamada de perversão; “uma pessoa cujo prazer sexual está ligado à dor física, ao sofrimento, à humilhação. Mas que também busca o sofrimento e a humilhação em relações, independente de ter alguma relação com a sexualidade ou não.” (VALÉRIA, Ormastroni).
Um indivíduo que insiste em se manter em relacionamentos que o fazem sofrer, sejam amorosos, profissionais ou de qualquer tipo, pode ser diagnosticado com masoquismo. Uma das características possíveis desse sujeito é a dificuldade em se negar a fazer o outro feliz, ainda que isso custe a sua paz ou satisfação. Essa possível perversão pode inclusive, gerar repetições de escolhas ruins e frustrantes. Tal comportamento é algo inconsciente segundo a psicanálise.
Voltando ao fato da expressão de um “não” em hora propícia, pode-se dizer que tal atitude é libertadora.
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As faces do não e padrões comportamentais
Uma vez que o indivíduo toma ciência de tal padrão comportamental e decide agir de maneira diferente, suas ações convergentes à superação podem iniciar de maneira discreta, porém os efeitos dessa mudança em suas ações serão indubitavelmente recompensadoras, pois além da paz que este indivíduo gozará por meio dessa prática de escolhas mais racionais e certeiras, os relacionamentos em geral passarão a ser mais leves, já que haverá mais respeito por parte das pessoas que convivem com ele.
Impor limites nas relações é uma ação muito necessária na promoção da harmonia de qualquer espaço. Por outro lado, aquele sujeito que ainda não aprendeu a lidar com as respostas negativas que recebe, tende a viver se desgastando emocionalmente com algo que muitas vezes não está em seu controle.
Com isso pode-se afirmar que, é importante promover, ainda na infância, situações nas quais o indivíduo possa exercitar as duas ações, dizer e ouvir um não sem sofrer tanto com isso. Dessa forma, talvez, na fase adulta, haja menos problemas relacionais de origem emocional.
Este artigo sobre as faces do “não” foi escrito por Roberta Cléa Cardoso, graduada em Letras Vernáculas (UESB), pós-graduada no Ensino de Língua Portuguesa e Literatura, Coordenação Pedagógica e Gestão Escolar, Psicanalista em formação, baiana e cristã. Instagram: @clea.psicanalista (Roberta Cléa).
One thought on “Duas faces do Não: Dificuldades em Dizer e Reação ao Ouvir”
Muito bom seu texto. Parabéns.