Como se tornar um bom terapeuta na área de psicanálise, psicologia e outras psicoterapias? A mente humana sempre despertou a curiosidade de diversos cientistas, desde Freud até seus contemporâneos.
Desvendar os meandros desta máquina dotada da capacidade de pensar, tem sido o interesse dos estudiosos no assunto. Do mesmo modo, a função da Psicanálise também pode e deve ser entendida como uma forma de conhecer a realidade psíquica do inconsciente, utilizando-se de determinadas teorias, capazes de despertar no analisando uma determinada realidade dolorosa que, por estar oculta, é motivo de sofrimento e dor.
Como ser bom terapeuta
Mas não é tão-somente a teoria que tem o condão de criar uma mudança psíquica, há um plus, um algo a mais, uma espécie de mistério na relação do analista com o analisando que se torna quase que impossível de se traduzir em palavras.
Nesse sentido, o presente artigo tem a vocação de tentar colocar em palavras a arte de se tornar um bom analista, essa alquimia, capaz de criar uma catarse, tanto no analisando quanto no analista, possibilitando, dessa forma, uma mudança que beneficia a ambos, guardadas as devidas diferenças nas personalidades contidas no setting analítico.
O período de estudo para ser um bom terapeuta
Por trás de toda carreira existe alguém que empregou grandes esforços para atingir um grau de excelência na profissão escolhida. Foram dias e mais dias estudando, os gastos com livros, sem contar o tempo dedicado e tudo o mais necessário para obter aquele saber, ou seja, uma autodoação de tal monta que somente quem se dedicou com afinco é capaz de saber.
Ninguém inicia uma carreira pensando na questão monetária ou num possível status que a profissão pode oferecer; é bem provável que essas questões surjam algum tempo depois. O que se tem em mente, no início, é o apelo afetivo, a tal da vocação, o quanto aquilo que se almeja é apaixonante e motivante.
OS atributos de um bom analista
No caso da Psicanálise, em especial, são necessárias algumas características próprias do futuro psicanalista, a saber: domínio próprio, autocontrole, saber ouvir, paciência, empatia, inteligência emocional, dentre outras qualidades de igual relevo. Sim, porque na frente do analista, no divã, estará sentado um outro ser humano, cheio de questionamentos, que precisa ser ouvido e compreendido, que tomado de machucados na alma, necessita de um band-aid no seu ego ferido.
Essa pessoa procurou uma terapia pois carece de encontrar a si próprio, no emaranhado de muitas atitudes que tomou sem entender o porquê. Enfim, será necessário ouvi-lo com empatia, sem questionamentos que o façam se sentir embaraçado, ouvir seus conflitos e problemas de cunho emocional com um distanciamento preciso, de forma a não invadir aquele espaço que pertence ao outro, mas de alguma forma agora é seu (do terapeuta).
Para isso é preciso cuidado, carinho, atenção e uma grande dose de benevolência e respeito ao próximo. Contudo, é preciso estar atento ao fato de que o terapeuta também é gente, e como tal está sujeito a sentimentos, dores e fraquezas.
Psiquiatra, psicólogo, psicanalista: diferenças
O psiquiatra é um profissional formado em Medicina (como foi Freud), e possui uma especialização em Psiquiatria, o que o torna apto a prescrever medicamentos e tratar psicopatologias, como é o caso da esquizofrenia e outras doenças psiquiátricas. Já o psicólogo é formado em Psicologia e se utiliza de algumas linhas de abordagens teóricas, como é o caso da Psicologia Comportamental.
“Compete a este profissional somente fazer psicoterapia, laudos técnicos, aplicação de testes, avaliações psicológicas, dentre outros”. (https://psicanaliseclinica.com). Já o trabalho de um psicanalista, embora seja parecido com o do psicólogo, apresenta uma abordagem diferente, uma vez que este estimula o analisando a focar em suas memórias internas, a rememorar seus sonhos, por mais bizarros que tenham sido, a lembrar algum trauma, enfim, tudo que possa trazer à tona algum sentimento reprimido no seu sistema inconsciente.
Tal abordagem é devida a Freud, para quem o inconsciente corresponderia ao depósito de memórias ocultas, local onde estariam hermeticamente guardados os traumas ocorridos na mais tenra infância, ou seja, um lugar da mente encoberto, uma espécie de organizador do psiquismo humano, o qual só se teria acesso mediante atos falhos, sonhos, chistes, dentre outros mecanismos alheios a vontade do sujeito. Sua formação é feita mediante um curso livre e de relevo, necessitando de uma graduação em qualquer área do conhecimento.
O espaço analítico e como ser bom terapeuta
Cabe ressaltar que, alguns detalhes também devem ser observados no espaço terapêutico destinado a atender os pacientes; tudo deve ser muito discreto: um divã, que deve ser confortável e de cor neutra, paredes claras e sem enfeites que chamem atenção, ou seja, o local reservado à terapia deve ser bem clean e sem exageros. A própria indumentária do psicanalista deve ser recatada, sóbria e sem grandes detalhes. Enfim, uma pequena e confortável sala, sem nenhum exagero, simples, onde a sobriedade deve ser a palavra de ordem, de modo que nada externo venha chamar a atenção do analisando.
Outro ponto importante a ser colocado diz respeito à formação do psicanalista e sua atitude clínica. Um bom terapeuta, “mais do que uma necessária bagagem de conhecimentos (provindos de seminários e estudos continuados), de uma, igualmente necessária, competente habilidade (resultante de supervisões), o analista deve possuir uma adequada atitude psicanalítica (mercê de seus atributos naturais, e aqueles desenvolvidos pela análise pessoal)”. (Zimerman, 1999; p.451).
Daí a necessidade premente do psicanalista possuir também um terapeuta para cuidar de sua própria saúde mental, tendo em vista o autocuidado necessário que a profissão exige. Um fator de extrema importância, reside no fato de que o terapeuta deve aceitar o analisando tal como de fato este é, e não como gostaria que ele fosse, uma vez que deve respeitar as características do analisando. “É importante observar que a postulação de que uma análise exige uma comunhão entre analista e paciente, não deve significar que o analista perca o seu lugar, a sua autonomia, e muito menos que fiquem borradas as diferenças e a manutenção dos necessários limite entre ambos (Zimerman, p. 452).
Considerações finais
Conforme demonstrado linhas acima, ser um bom analista requer não apenas um excelente arcabouço teórico, exige dedicação, empatia, inteligência emocional, dentre outros atributos de igual importância. É um profissional que, se bem-preparado, é capaz de buscar no íntimo da psique do analisando seus mais profundos sofrimentos e angústias, capacitando-o para o autoconhecimento e uma vida plena e livre das amarras do passado, numa espécie de alquimia propícia a transformar vidas.
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Referências bibliográficas
Diferenças psicólogo, psiquiatra, psicanalista. In https://psicanaliseclinica.com. Acesso em 11 de abril de 2022. ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.
O presente artigo foi escrito por Vany Leston Pessione([email protected]). Advogada criminal, Mestre em Criminologia e Direito Penal. Pós-Graduada em Segurança Pública. Graduanda em Psicanálise. Graduanda em Psicologia.
1 thoughts on “A arte de se tornar um bom terapeuta”
Muito boa explicação! Muito obrigado pelas orientações.