Na narrativa de seu livro “A coragem de ser imperfeito”, a autora Brené Brown, nos leva a diversas reflexões sobre um tema bastante atual: a vulnerabilidade. Com incrível habilidade de “contar histórias”, ela vai apresentando suas vivências, pesquisas e descobertas sobre o tema… lembrando que a narração é feita a partir das suas próprias experiências “nas arenas da vida”.
O senso comum, associa a ideia de vulnerabilidade à fraqueza, e a visão exposta neste livro, nos apresenta uma nova face, que, a meu ver, pode contribuir demasiadamente para uma vida mais saudável.
A Coragem de ser imperfeito: a vulnerabilidade sob o prisma de Brené Brown
“Ser “perfeito” e “à prova de bala” são conceitos bastante sedutores, mas que não existem na realidade humana. Devemos respirar fundo e entrar na arena, qualquer que seja ela: um novo relacionamento, um encontro importante, uma conversa difícil em família ou uma contribuição criativa. Em vez de nos sentarmos à beira do caminho e vivermos de julgamentos e críticas, nós devemos ousar aparecer e deixar que nos vejam. Isso é vulnerabilidade. Isso é a coragem de ser imperfeito. Isso é viver com ousadia”.
A sociedade contemporânea, vive em escassez, imersa no medo, na vergonha; “no casulo”. Medo de mostrar fragilidade, medo de “não dar conta”, medo de falar em público de expressar opiniões, enfim, medo da vulnerabilidade. De outro prisma, vemos aqueles que vivem de exposição, ou superexposição, principalmente, nas redes sociais, buscando a todo custo serem vistos, buscando seguidores. Ousar demais ou de menos, “eis a questão”! O que diz a autora Brené Brown sobre viver com ousadia? Ser uma pessoa plena?
Segundo Brown, o contrário de viver na escassez, não é cultivar o excesso, e sim o suficiente. Essa vida em equilíbrio, nem na escassez, nem no excesso, é o que ela chama de plenitude. Uma vida plena, cheia de sentido! “Viver plenamente quer dizer abraçar a vida a partir de um sentimento de amor-próprio.
Brené Brown e a sociedade da escassez
Isso significa cultivar coragem, compaixão e vínculos suficientes para acordar de manhã e dizer: ‘Não importa o que eu fizer hoje ou o que eu deixar de fazer, eu tenho meu valor. E ir para a cama a noite e dizer: sim, eu sou imperfeito, vulnerável e às vezes tenho medo, mas isso não muda a verdade de que também sou corajoso e merecedor de amor e aceitação.”
“Os elementos mais raros em uma sociedade da escassez são a disposição para assumir nossa vulnerabilidade”. Talvez, boa parte dessa fuga do reconhecimento de nossa vulnerabilidade aconteça, porque ainda temos muitos mitos em nossas culturas com relação a esse conceito.
Vulnerabilidade não é fraqueza
Esses conceitos não são sinônimos, como muitos acreditam. “É verdade que quando estamos vulneráveis ficamos totalmente expostos, sentimos que entramos numa câmara de tortura (que chamamos de incerteza) e assumimos um risco emocional enorme. Mas nada disso tem a ver com fraqueza”. Na pesquisa realizada pela autora, ela pediu para que os participantes completassem a frase: “A sensação de estar vulnerável é………………..”.
A resposta que mais apareceu foi: “Estar nu”. A meu ver, estar “nu” realmente caracteriza a vulnerabilidade de um indivíduo. Quando estamos nus, não temos nada que nos “proteja”, nem máscaras, nem escudos; como roupa, um telefone celular, uma carteira com cartões e dinheiro, enfim; sem nada para nos proteger!
Isso não caracteriza fraqueza, sim vulnerabilidade, exposição! “O desejo de nos expor nos transforma. Ele nos torna um pouco mais corajosos a cada vez”. A verdade é que sentimos muita vergonha de nos expor. Encontramos pessoas, todos os dias, que referem verdadeiro pavor de “aparecer”; de serem notadas. “A vergonha detesta ser o centro das atenções”. Faz tudo para não ser notada, passar desapercebida.
Sensação de proteção
Essa sensação de proteção enquanto não é notada, faz crescer a vergonha! É preciso falar sobre ela, deixá-la exposta. “A palavra e a conversa lançam luz sobre a vergonha e a destroem”. Sentir vergonha não é privilégio ou castigo para uma pessoa, não é exclusividade também!
“Todos sentimos vergonha”. “Se quisermos ser pessoas plenas, estar inteiramente conectados com a vida, precisamos ficar vulneráveis. E para isso temos que aprender a lidar com a vergonha”. Lembrando que: “Quanto menos falamos, mais a vergonha aumenta”.
As dores emocionais segundo Brené Brown
Por incrível que pareça, “Vergonha é uma dor real”. “Assim como temos dificuldade para definir a dor física, descrever a dor emocional também é muito difícil”. Depois de compreender o que é a vergonha, o que devo fazer? Para Brown, “A resposta está na resiliência”!
“A resiliência tem a ver com sair do sentimento de vergonha para esse afeto que chamamos de empatia – o verdadeiro antídoto da vergonha”. “Empatia significa conexão, é uma escada para fora do buraco da vergonha”. É bem desgastante, sofrido para nós, acreditarmos que somos fracas, porque nos sentimos vulneráveis.
Mudar esse paradigma é viver com ousadia. Aceitar nossa imperfeição, ser empática consigo e com os outros, traz leveza ao viver.”
Vulnerabilidade e a condição da mulher
Os achados da pesquisa de Brown demonstraram: “Como mulheres e homens vivenciam a vergonha de forma diferente”. Trouxe para esse artigo, o que se refere a nós, mulheres… “Relembrando as 12 áreas da vergonha (aparência e imagem corporal, dinheiro e trabalho, maternidade/paternidade, família, criação de filhos, saúde física e mental, vícios, sexo, velhice, religião, traumas e estigmas ou rótulos)”.
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“O primeiro gatilho para as mulheres, em termos de força e universalidade, é a primeira área: nossa aparência” (…) “ainda sentimos vergonha de não sermos magras, jovens ou bonitas o bastante”. “a maternidade está em segundo lugar”. Enfim, “todos esperam que nós sejamos perfeitas”!
Mas nós, definitivamente, não somos! Aceitar essa verdade com empatia, falar sobre o que te “envergonha” e ampliar horizontes sempre. E se eu tiver com vergonha? Vai com vergonha mesmo! Só assim vamos vencê-los e viver a plenitude!
Resiliência
“Para viver com ousadia é preciso andar na corda bamba, praticar a resiliência à vergonha e avaliar a realidade, bem como, contar com uma comunidade segura como rede de apoio”. Os desafios do texto continuam a fazer com que nós leitores reflitamos sobre nossa própria vulnerabilidade, como temos lidado com ela…
A questão que abre o último capítulo é: “Você é o adulto que deseja que seus filhos se tornem um dia”?
Brené Brown e sua relevância atual
Assim como afirma a autora, eu confesso que também gostaria de ter um verdadeiro “manual colorido e ilustrado que ensinasse como criar filhos e respondesse a todas as nossas perguntas, oferecendo garantias de acerto e reduzindo nossa vulnerabilidade”. Mais uma vez caminhamos na corda bamba, enfrentando, caindo e se levantando. Acertando e errando, ganhando e perdendo!
Mas vivendo com ousadia de quem busca acertar! Mudar, crescer! “Criar filhos é um campo minado de vergonha e julgamento precisamente porque muitos pais têm dificuldade em lidar com a incerteza e a dúvida nessa área da vida. Embora a vulnerabilidade da criação de filhos seja muitas vezes assustadora, não podemos nos armar contra ela nem a colocar de lado, pois ela é o solo mais rico e mais fértil para ensinar e cultivar vínculos, significados e amor” (…)
A vulnerabilidade está no centro da história familiar” (…) se quisermos que nossos filhos amem e se aceitem como são, nossa tarefa é amar e nos aceitar como nós somos”. Quando enfrentamos o medo, a vergonha, os julgamentos, estamos sendo resilientes e criando filhos corajosos! “Viver com ousadia não tem nada a ver com ganhar ou perder. Tem a ver com coragem. Em um mundo onde a escassez e a vergonha dominam e sentir medo tornou-se hábito, a vulnerabilidade é subversiva. Incômoda! (…)”
Conclusão
“E, sem dúvida, desnudar-se emocionalmente significa correr um risco muito maior de ser magoado. Mas quando faço uma retrospectiva de minha própria vida e do que viver com ousadia provocou em mim, posso dizer com sinceridade que nada é mais incômodo, perigoso e doloroso do que constatar que estou do lado de fora da minha vida, olhando para ela e imaginando como seria se eu tivesse a coragem de me mostrar e deixar que me vissem”.
Essa foi uma das grandes mensagens que encontrei nesse livro que compartilho com vocês. Espero que esse texto, desperte em você, leitor(a), o desejo de fazer a leitura completa do livro e o (a) “ajude a aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é”!
Este artigo sobre Brené Brown e uma nova visão sobre a vulnerabilidade foi escrito por Suzi Gomes Britto Barufi ([email protected]), Fonoaudióloga e Estudante de Psicologia.
One thought on “Brené Brown: uma nova visão sobre a vulnerabilidade”
Obrigado por expor os seus conhecimentos. Parabéns trabalho! Sabemos realmente que é correr um grande risco, em não sermos compreendido.