Bronislaw Malinowski foi um importante etnógrafo polonês naturalizado inglês, que em sua obra “Argonautas do pacífico ocidental”, analisou as manifestações culturais das tribos nativas do arquipélago de Trobriand, na Nova Guiné Melanésia. Seu trabalho de campo teve início durante a primeira metade do século XX.
Entendendo Bronislaw Malinowski
Malinowski escolheu como seu objeto de estudo a instituição Kula, e a partir dela, observar elementos culturais como, a estrutura social, o misticismo, as formas de trabalho, dentre ouras estruturas culturais. De uma modo geral, o Kula não possuía um viés econômico, mas sim um ritual de cunho social de trocas de presentes entre as diferentes tribos do arquipélago e até mesmo entre outras ilhas mais distantes, em determinadas época do ano.
A escolha de Bronislaw deste elemento cultural como objeto de estudo se deve a grandiosidade do Kula, em seu número de tribos que o praticavam e o entusiasmo de seus participantes, sendo assim a maior instituição de toda Nova Guiné Melanésia. Em sua obra, Bronislaw Malinowski possuiu um cuidado infindável em expor de maneira clara os métodos por ele utilizados em sua pesquisa.
Dentre esses pode-se ressaltar dois de maior importância: Primeiramente o autor discorreu sobre o método “Imponderáveis da vida real”, o método estava pautado na observação do etnógrafo, sem a utilização massiva de questionários, ou documentação estatística, onde a imersão do pesquisador na sociedade estudada seria o ponto chave, pois desta maneira poderia se investigar de perto os costumes, as falas e comentários dos nativos, sem induzi-los a falar sobre algo, sendo assim o cientista obteria uma noção real das concepções e valores da tribo.
Bronislaw Malinowski e um segundo método
Para tanto ainda apontou que acontecimentos ocorridos como um casamento, ou um crime cometido, seria motivo de comentários e conversas, então o etnógrafo deve estar atento a suas anotações. A atenção da população estando dirigida para acontecimentos, como uma festividade que se aproxima, ou um rito de passagem que está por vir, é nesse momento que perguntas sucintas e comentários devem ser feitos pelo pesquisador, a fim de estimular aos habitantes a comentar sobre o que está ocorrendo, pois toda a psicologia da tribo estaria voltada para o determinado evento.
Um segundo método no qual pode ser classificado como “A regra de ouro antropológica”, consiste basicamente que o pesquisador nunca utilize preceitos, prenoções, ou juízos de valores próprios, existentes em seu meio, na sua sociedade, pois a visão de mundo da sua civilização, será muito diferente do visão do seu objeto de estudo, no caso de Malinowski, sua sociedade europeia em comparação a tribos tidas como primitivas.
O cientista deve ter o cuidado de analisar uma cultura conforme as concepções de quem a pratica, da sociedade que a possui. Muitos estudiosos pensaram sobre essa regra, como Durkheim, Franz Boas, Levi Strauss, dentre outros, além do próprio Malinowski. Em suma, a imparcialidade do pesquisador é o seu maior desafio. Apesar de haverem diversas técnicas para um trabalho deste porte, essas duas são as que melhor representam a essência da etnologia. Guardada as devidas proporções, relativizando, pode-se adaptar esses métodos à prática clínica do psicanalista.
Bronislaw Malinowski e o “Imponderáveis da vida real”
Em relação ao primeiro “Imponderáveis da vida real”, o analista durante a associação livre, deve deixar o paciente falar abertamente, livremente sobre seu problema, havendo mínimas interferências do psicanalista, afim apenas de conduzir, influenciar, perante observação e investigação, o caminho pelo qual a fala deve seguir.
No caso de perguntas diretas, pode ocorrer do paciente dar uma mera resposta somente para responder ao analista o que foi lhe perguntado, tendo dessa forma uma resposta, uma visão amarra a sua pergunta, uma resposta rápida no caso de uma terapia é inconcebível, será perdida toda as pormenorizações proporcionadas pela fala livre.
Este método sendo utilizado auxiliará na rememoração no processo catártico, para que se haja então a ab-reação e a possiblidade de cura de um trauma passado. Ainda sobre a associação livre, ou seja, processo em que o paciente discorre sobre suas neuroses, o psicanalista deve se valer do segundo método etnológico “A regra de ouro antropológica”, tendo em vista que o analista ao estar munido de seus próprios preceitos, prenoções e valores, terá uma visão contaminada, pré-moldada e maquiada, por ele mesmo do seu objeto de estudo.
Considerações finais
A busca pela maior imparcialidade possível possibilitará ao psicanalista informações puras e reais sobre uma doença. A etnologia além de estar intimamente relacionada à psicanálise, pode contribuir em muito para esta. As duas ciências fazem as mesmas perguntas, respectivamente uma questiona a ação psíquica coletiva, e a outra a ação de uma psique especifica.
Émile Durkheim em sua obra intitulada “As regras do método sociológico” apresenta dificuldades em dissociar a sociologia do estudo da psique. Como ele mesmo aponta, todas as manifestações coletivas são fruto a priori, de uma psicologia individual.
Um estudo coerente, responsável, de cunho inovador, reformulando, introduzindo e retirando muitos elementos das técnicas etnológicas, pode auxiliar no desenvolvimento da jovem ciência psicanalítica.
O presente artigo foi escrito por Jonas Félix de Mendonça, professor titular de cargo em sociologia pele rede pública do Estado de São Paulo. Escrevo por hobby, porém com intenções profissionais.Me aventuro entre contos de terror, romance, política, sociologia, filosofia e psicanalise. contato : Whatsapp- 17996569880 Email: [email protected]