conceito de psicose

Conceito de Psicose: sentido e manejo em psicanálise

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À época, Freud denominará a estrutura clínica do conceito de psicose, ou as psicoses, de neuroses narcisistas; e estas não se enquadravam no método psicanalítico, visto a extrema dificuldade, ou inexistência total, de transferência. Continue a leitura do artigo e entenda mais sobre o assunto.

O narcisismo antes de entender o conceito de psicose

“O conceito de narcisismo possui um papel fundamental no desenvolvimento da teoria psicanalítica das psicoses: foi por meio dele que Freud formulou a categoria das neuroses narcísicas, a partir da qual se origina, pelo menos em parte, a categoria psicanalítica das psicoses.

Cabe frisar que, embora a expressão neurose narcísica tenha tido uma existência efêmera, sua importância consiste em ser uma categoria genuinamente freudiana, fundamentada em um conceito recém-formado por Freud, e em abarcar o que mais tarde será denominado psicose. ” (Calazans et al, 2014)

Assim, sinteticamente, à época, Freud distingue a neurose de angústia e a neurastenia como neuroses atuais; ambas enquadradas na falta ou alguma inadequação da satisfação sexual (característica marcadamente somática); e, em outro “lado” de seus constructos, as neuroses de defesa (característica de uma representação de excitação psíquica), dentre elas a obsessão, a paranoia, a histeria e a psicose ou neurose narcísica.

O conceito de psicose e o seu manejo

Houve necessária evolução em especial – no que tange à psicanálise – no conceito e na possibilidade de manejo da psicose, em especial nas subcategorias dos estados psicóticos e condições psicóticas.

Para uma designação didático-científica, Zimerman (2008) classifica as psicoses em três subcategorias: “1) Psicoses (propriamente ditas), 2) estados psicóticos e 3) condições psicóticas”.

  • Psicoses (propriamente ditas): é o caso, exemplificando, das esquizofrenias crônicas; portanto trata-se de uma condição cujo ego apresenta, em graus variáveis, prejuízo latente de contato com a realidade visto uma deterioração de suas funções.
  • Estados psicóticos: neste caso, considera-se que há a preservação de parte do ego que permite um relativo contato com o meio e a realidade; como é, exemplificando, o caso de estruturas paranoides ou narcísicas e pacientes “borderline”; além de possíveis estados de perversão ou neuroses graves.
  • Condições psicóticas: Neste caso, configura-se a condição daqueles que, apesar de uma aparente adaptação ao meio, são portadores de condições psíquicas potencialmente psicóticas; ou seja, exemplificando, podem apresentar constantemente episódios que fazem emergir núcleos psicóticos de natureza excessivamente obsessiva, fóbica ou somatizadora. Zimerman (2008), para estes casos, cita que “estes episódios podem estar funcionando como uma última e instável barreira defensiva contra a permanente ameaça de descompensação psicótica, diante de um assustador incremento de uma primitiva ansiedade de aniquilamento.”

Foraclusão e o conceito de psicose

Imprescindível inserir, neste ponto, brevemente, o conceito de foraclusão, que busca “explicar”, em construção teórica, o mecanismo psíquico na origem da psicose; visto que essas manifestações clínicas, mesmo que transitórias, seriam ocasionadas por uma espécie de desordem na simbolização da experiência de castração.

Segundo Nasio (1997), “a foraclusão, na psicanálise, conceitua a falta de inscrição, no inconsciente, da experiência crucial da castração que, na medida em que é simbolizada – portanto, ocorre -, permite à criança assumir sua própria identidade e, desse modo, tornar-se capaz de reconhecer limites. ”

Assim, tendo como base (inclusive, desde Freud) também o conceito de foraclusão, a psicose “é uma defesa inadequada e mórbida contra o perigo da lembrança da castração. ” (Nasio 1997)

O manejo da Psicose

Esta evolução tem demonstrado, sem intuito algum de se generalizar, que um possível caminho exitoso no manejo das psicoses é alcançado através de uma “aliança terapêutica” com a parte do ego não psicótica do paciente. Neste caso, a aliança terapêutica, mesmo com dificuldades, como a possibilidade de inúmeras identificações projetivas do paciente na pessoa do analista – o que tem que ser manejado com cuidado – traz resultados ao percurso.

Como bem cita Zimerman (2008), é “uma excelente bússola empática” que, no entanto, não é possível, ainda, conhecer-se para onde guiará o par analítico, mas é um caminho… Sem intenção alguma de qualquer tipo de “diagnóstico”; mas, tão somente para direcionar possíveis construções psicanalíticas e para estudar cientificamente esta condição clínica, buscou-se rever e basear, mais pontualmente em Zimerman (2008) e Nasio (1997), a seguinte listagem de possíveis “características” e traços psicóticos.

  1. Característica incapacitante;
  2. Fantasia e realidade se confundem;
  3. Aceitação do estado psicótico;
  4. Certa perda de contato com a realidade;
  5. Pensamento desorganizado;
  6. Algum descontrole psicomotor;
  7. Sentimento de angústia;
  8. Depressão, insônia;
  9. Falta de crítica e perspicácia;
  10. Questões incompreensíveis;
  11. Vivências bizarras;
  12. Sem alterações primárias cognitivas (memória);
  13. Paranoia (pensamentos projetivos em outras pessoas);
  14. Tenta analisar e não ser analisada;
  15. Racionaliza. Não há o que escape a sua compreensão;
  16. Pouca ou nenhuma transferência;
  17. Mania de perseguição;
  18. Característica narcisista.

Há riscos e dificuldades a serem enfrentadas com extremo cuidado

Lista-se a seguir algumas, geralmente percebidas na prática clínica e que conferem com a literatura:

  • Preservação do setting: é comum haver excessivas identificações projetivas tentando uma espécie de “testar limites” do psicanalista; o que provoca contratransferências a serem enfrentadas. Ocorre excesso de relatos simbolizados ou reais de manifestações psicossomáticas;
  • Idealização extremada: ocorrem seguidamente por parte do paciente esta questão de idealização da pessoa do psicanalista. É necessário se buscar um equilíbrio para que não haja uma interrupção abrupta desta idealização e que tampouco ela seja perpetuada;
  • Contínuos movimentos de resistência: há a constante tentativa de formação de conluios inconscientes (“você não é só meu analista, é meu amigo”); assim como, por vezes, uma negação – tipo foraclusão – ao método. Percebe-se aqui a necessidade de trabalhar-se esta resistência com o objetivo de, cada vez, mais “conhecer” sobre o ego do paciente;
  • Nem tudo é fantasia ou “mentira”: fato essencial. O compromisso com a busca da verdade na fala do sujeito é condição “sine qua non” e difícil neste percurso com as partes do ego do paciente. Vale ressaltar, aqui, uma citação de Zimerman (2008) que orienta quanto ao manejo deste tipo de estrutura clínica, “que o analista não é uma mãe substituta, tampouco professor, conselheiro, amigo, confessor… […]. O terapeuta não é nada disso, embora, temporariamente, possa ser um pouco disso tudo. ”
  • O paciente reconhece que seu ego tem “partes” opostas: talvez a questão mais importante desta proposta de manejo, em hipótese de paciente psicótico. Há a clara predominância da pulsão de morte; neste contexto deve-se, com cuidadosa intuição, através da aliança terapêutica adquirida, contrapor aspectos construtivos (“acessando” a parte saudável do ego) de êxito do paciente em sua vida e de seu percurso na análise.

Considerações finais

Com o objetivo único de suscitar o contínuo estudo a respeito, finaliza-se com a seguinte citação:

“Em algum lugar da situação analítica, soterrado por uma massa de psicose, ou neuroses e afins, existe um ser humano que pugna por nascer; o analista está comprometido com a tarefa de auxiliar a libertar o adulto que palpita dentro do paciente, a um mesmo tempo que mostre a esse adulto a criança que ele ainda é”. (Zimerman, 2008 apud Bion, 1992)

Referências bibliográficas

CALAZANS. R.; REIS. L. N. O conceito de paranoia em Freud. Psicologia científica. vol.34 no.1 Brasília Jan./Mar. 2014, Print version ISSN 1414-9893, https://doi.org/10.1590/S1414-98932014000100007, São João Del Rey, 2014.

NASIO. J.-D. Lições sobre os sete conceitos cruciais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.

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    ZIMERMAN. David E. Manual de técnica psicanalítica: uma re-visão. Porto Alegre: Artmed, 2008.

    O presente artigo foi escrito pelo autor Marcos Castro – Psicanalista clínico, pesquisador, professor, escritor, palestrante. Residente em Ouro Fino – Sul de Minas Gerais. Atendimento presencial e online Contato: Instagram – @marcos_castro_castro

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