Contratransferência

Contratransferência como dor e cura do terapeuta

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Quando um paciente busca por um analista e as sessões terapêuticas tem início, começam também uma série de processos que podem se instalar e dentre eles há o processo de transferência e contratransferência.

Entendendo a o processo de contratransferência

O processo de contratransferência se instala no analista a partir do processo de transferência do analisando. Mas o que é o processo de transferência? A transferência poderá se instalar através da atribuição do paciente para com o analista ao atribuir a esse último, inconscientemente, características de algum membro da família e etc. Transferência são sentimentos, atitudes e/ou fantasias que um paciente experimenta na situação analítica para com o Psicanalista que surgem através de processos inconscientes.

Por exemplo: características de mãe, pai, irmão e outros são atribuídas ao analista. Até esse ponto está tudo bem e o analista está habilitado para reconhecer e lidar com esse enlace analítico puramente profissional e terapêutico. Mas, como o analista também é outro ser humano, com suas particularidades, suas experiências e também suas dores, ele poderá se deparar com o processo de contratransferência. Denomina-se de Contratransferência o processo pelo qual se dá através do conjunto de inconscientes reações do analista em relação aos conteúdos transferenciais do analisando.

A contratransferência nada tem a ver com o analisando em si, mas com os processos que ele traz durante a análise. Podem ser atitudes, fantasias e até algum sentimento que o analista experimenta, de modo inconsciente, acerca de seus conflitos e necessidades. Então, assim podemos compreender que, a contratransferência é uma resposta emocional que o analista produz diante dos conteúdos do paciente. São problemas não resolvidos do Psicanalista, de forma inconsciente ou não, que vêm à tona quando este está olhando para o conteúdo transferencial do analisado.

Contratransferência e o analista

O analista, pela formação e por toda a base de dados e estudos disponíveis no universo psicanalítico, possui conhecimento para identificar e conduzir o paciente para uma boa abordagem terapêutica seguida de êxito quanto ao processo transferencial. Porém, chamamos a atenção do analista para que ele esteja igualmente atento ao processo de contratransferência que pode vir a acontecer com ele durante a carreira.

O esforço do analista deve ser constante na identificação e na cura de suas próprias dores e enfrentamentos para que não haja prejuízo no relacionamento com a clínica psicanalítica, que trabalha em benefício do paciente e seus processos. Como se tornar um profissional Psicanalista? Apesar de não haver graduação em Psicanálise por ser um curso Livre, a Psicanálise é amparada por lei e decreto e apenas Institutos e sociedades psicanalíticas como a Psicanálise Clínica estão habilitados a formar novos profissionais baseando-se no tripé psicanalítico que são: Educação Teórica, Supervisão e Análise.

Freud, o considerado Pai da Psicanálise escreveu em 1910 que o analista só vai até onde permitem seus próprios complexos e resistências, ou seja, é fundamental que o analista passe pelo tripé psicanalítico e que continue, mesmo sendo profissional, a ser analisado a fim de trabalhar seus próprios processos para que, pegando a frase acima de Freud como verdade, o analista vá a fundo em seus próprios processos para que seja um profissional altamente capacitado em beneficiar o paciente e, de modo geral, a sociedade.

Contratransferência, prática psicanalítica e a transferência

Outros estudiosos que vieram depois de Freud, com a própria prática psicanalítica, possuem outro entendimento sobre o conceito de contratransferência. De um lado temos quem defenda que o processo de contratransferência está ligado a todo e qualquer conteúdo (consciente ou inconsciente) que interfira na individualidade do analista. Do outro lado temos outro grupo defendendo que a contratransferência se dá apenas quando a transferência do paciente toca nos conteúdos inconscientes do analisando.

A transferência do paciente e a contratransferência do terapeuta psicanalista são processos bem parecidos onde cada um deles experiência, inconscientemente, o processo do outro como sendo alguém importante dentro de suas vidas mas há uma diferença clara que deve ser evidenciada: O analista tem estudo, preparo e consciência de todo o processo e sabe conduzir tanto a relação terapêutica quanto a projeção denominada contratransferência.

O saber consciente do analista não elimina a importância do tripé psicanalítico indicado não apenas para o período no qual o analista está se formando, mas sim durante todo o exercício da profissão, ou seja, a análise pessoal deve ser rotina na vida do terapeuta. É sabido que na Psicanálise a empatia é um dos canais para se criar o vínculo terapêutico e começar o processo de transferência por parte do paciente. Mas há de se considerar também que a empatia é importante também para o terapeuta lidar melhor com o paciente e sua abordagem pois, quando não há empatia e o vínculo terapêutico é, de certa forma, frágil, o terapeuta tende a seguir por alguns caminhos.

Considerações finais

Um caminho provável é se sentir penalizado e culpado por não ter experienciado, dentro de sua própria vida, situação parecida e assim não saber conduzir a sessão, tornando-se réu, ficando à mercê da condução terapêutica baseada nos traumas vividos pelo paciente. Dentre esses caminhos terapêuticos é válido trazer para a discussão a traumatização vicária que, por conceito, atrela-se de certa forma com a contratransferência pois são os efeitos que advém do envolvimento empático do terapeuta com os eventos traumáticos e dolorosos dos pacientes.

À medida que o terapeuta toma contato com esses eventos, eles podem durar mais ou menos, de acordo com o processo de cada um e ao mesmo tempo dos dois envolvidos (terapeuta e paciente). O terapeuta deve buscar estar sempre aberto e à disposição para ajudar o paciente pela busca da verdade sobre si mesmo inserido no mundo mas deve estar ciente que essa abertura e a empatia estabelecida tendem a ser um ponto vulnerável uma vez que o psicanalista vai ser levado a lidar, cedo ou tarde, com suas crenças, controles, senso de justiça e segurança.

Os processos citados aqui de contratransferência e também de transferência e empatia são ferramentas para que o terapeuta possa estabelecer uma relação terapêutica saudável, além de ser também um estabelecimento de vínculo e resgate da confiança e segurança dos pacientes.

O presente artigo foi escrito por Alana Carvalho, estudante de Psicanálise Clínica. Trabalha como terapeuta Reikiana (@alanacarvalhoreiki) e o curso de Psicanálise está expandindo seus horizontes e ajudando com o processo de autoconhecimento.

2 thoughts on “Contratransferência como dor e cura do terapeuta

  1. Um dos meus irmãos diz que o psicólogo busca tal formação para “se entender” e, um dos meus colegas do então segundo grau, se graduou e exerceu a profissão e chegou a pedir cancelamento do registro, começando outra graduação depois dos 50 anos! Mas não são apenas Terapeutas que buscam na base teórica de sua formação o entender de si. Há na Medicina, uma espécie de “armário velado” em grande parte dos especialistas nas áreas de proctologia e urologia. Por serem áreas “unissex”, poucos admitem uma espécie de “contratransferencia”, havendo até o “merchandising”: ” gayfriendy”! Já na urologia, surgiu o “braço”: “saúde do homem: Andrologista” que ai se percebe a autenticidade, muitas vezes, no testemunho de gostar da medicina, mas também da área a ser examinada, avalizada pela ereção fisiologica (devido examinar área pela qual sente atração, semelhante encontrar na rua, alguém que faça o “seu tipo”, como se diz)! Contudo, a midia “vende o peixe” ser tabu do paciente, em fazer exame do toque!

  2. Mizael Carvalho disse:

    Muito bom artigo! Tem que existir um laço entre o analista e o analisando, para que haja um bom resultado!

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