Cura Gay

Cura Gay: uma questão polêmica

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Você já ouviu falar em cura gay? Vamos examinar nesse enfoque (pequeno artigo) um tema recorrente desafiante, que novamente veio à ordem do dia, depois da publicação de uma pesquisa sobre a sexualidade dos brasileiros pela Globo News, que foi feita pelo IBGE.

Na esteira da pesquisa se apresentam na sociedade os que afirmam que curam gays geralmente ligados às religiões. A incidência da homossexualidade tem sido muito grande no mundo todo, e em especial, no Brasil, em ambos os sexos. Vamos responder a questão proposta: ‘Existe e é possível a chamada cura gay?’

O que se define como cura gay?

Você já deve ter acompanhado a questão polemica pela mídia, falada e escrita, em geral, sobre a propalada ‘cura gay’, quando um operador de religião veio a público e afirmou categoricamente que curava gays. O tema deflagrou de imediato um debate de prós versus contras acalorados com impropérios e insultos, de ambos os lados. O tema meio que arrefeceu.

Porém, recentemente, o tema se tornou recorrente e desafiante face à divulgação sobre uma pesquisa tratando da sexualidade dos brasileiros, na Globo News, que foi feita pelo IBGE. Na esteira da pesquisa se apresentam na sociedade e nas comunidades os que afirmam que curam gays geralmente ligados às religiões. A incidência da homossexualidade tem sido muito grande no mundo todo, em especial no Brasil, em ambos os sexos.

Neste enfoque vamos abordar a pesquisa do IBGE, entender a questão sob o prisma da Psicanálise, examinar a interface com a religião e como se posiciona o MSL, ‘Movimento Social Libertário’, e seu contra ponto dialético, a ‘Teoria da Cultura da Morte’, bem como a percepção do ‘Diálogo Social Amplo’. Vamos por derradeiro responder a questão proposta: ‘Existe e é possível a chamada cura gay?

A pesquisa do IBGE

O tema retornou ao tecido social após a divulgação de uma pesquisa do IBGE, publicada no Brasil, meados de maio/2022, com uma sondagem sobre a orientação sexual dos brasileiros e foi, inicialmente, veiculada pela Globo News, canal 40.

A pesquisa a contrário senso popular, apontou que 98,8 % dos brasileiros são heterossexuais. Que 1,2% são homossexuais. Estimam que 0,7 % da população são bissexuais e 0,1% tem outras opções de parafilias.

Cerca de 1,1% responderam que não sabem ainda, porém, não foi informada faixa etária, deduzindo em teoria, que sejam adolescentes, isso ‘a priori e em tese’, e que 2,3% das pessoas entrevistadas no universo técnico da pesquisa se negaram a responder.

IBGE e a cura gay

Quando referimos a contrario senso popular foi no sentido de que muitos se negam a acreditar na veracidade das pesquisas porque acreditam que o país tem milhares de gays tendo o percentual de 1,2% uma dimensão muito maior do que é a realidade.

Muitas pessoas são desconfiadas com pesquisas. E na esteira da pesquisa sempre aparecem os que afirmam categoricamente que curam gays na esfera religiosa com sessões especiais. E o tema sempre ganha contornos sociais fortes e geram dúvidas. Vamos entender a questão sob o prisma da Psicanálise.

Entendendo a questão sob o prisma psicanalítico

Os estudiosos de Psicanálise, entre outras ciências ‘P’ (Psicologia, Psiquiatria e Psicoterapias em geral, onde a Psicanálise encontra-se inserida) além de outros campos do saber como Filosofia Clínica, Sociologia Clínica, Antropologia Cultural, Teologia Clínica, enfim, se debruçaram e ainda se debruçam, em tentar entender a questão. Porém, foi sob o prisma da Psicanálise Clínica através de seu pesquisador e sistematizador Sigmund Freud (1865-1939) que finalmente levantou o véu que havia sobre a questão que é um tema clássico tremendamente atual.

Vale salientar que Freud respondeu a uma carta de uma mãe muita aflita que questionava se poderia haver na prática, uma cura de seu filho gay. Freud se posiciona onde podemos depreender que ele também entendia, em tese e a priori, não haver cura gay, após seus estudos aprofundados. Freud conseguiu decifrar essa situação sexual quando apresentou a sua teoria sobre as fases do desenvolvimento psicossexual.

A teoria do desenvolvimento psicossexual – TDP, (1905) foi a responsável direta por grandes mudanças globais, mas, frise-se bem que em nações mais democráticas ou semidemocráticas com ou sem constituição federal, ganhou o tema alta tolerância em países que tem foco teológico muito forte. Freud apresentou seus trabalhos em bases bem científicas, lastreados pela Medicina, trabalhando inicialmente os conceitos de libido e pulsão.

Um energia pulsional

Ele salienta que temos as fases oral, anal, fálica, fase de latência, fase genital onde a energia pulsional, a ‘catexis’ flui até chegar num ápice e ser resolvida, geralmente nos complexos de Édipo (sic, mais tarde, também Electra). Quando a energia se fixa numa fase e não flui até ser resolvida no complexo de Édipo (ou Electra), a pessoa vai herdar o perfil e as característica daquela fase onde estacionou a energia pulsional. Não se resolveu.

A pessoa cresce com aquela situação travada naquela fase. Depois fica difícil de destravar a energia pulsional e fazer ela circular e a pessoa então ficar resolvida. A pessoa vai envelhecer sempre lutando contra essa energia fixada na fase onde ela esta retida, travada, herdando as características daquela fase como já exposto. Pesquisas realizadas comprovaram o fenômeno. Não existe ainda uma maneira de destravar essa energia pulsional.

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Alguns neurologistas e psiquiatras de uma escola, entendem que poderiam resolver a questão via ação invasiva no cérebro com cirurgia nos molde da lobotomia. Porém, não lograram êxitos ainda. A pessoa que tem essa condição existencial ela pode quem sabe até deixar a prática sob muito sofrimento, e fazer uma repressão, porém, corre riscos de uma catarse fortíssima e até terminar numa crise muito grave.

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    A cura gay e a concepção de parafilias

    A pessoa que tem a condição não consegue segurar a reação se não satisfazer o desejo. Não existe como superar tal condição de forma gradativa natural se a pessoa não se resolveu. Vale destacar que o termo remissão tem sido mais usado do que cura, em que pese, não seja considerado mais doença. Porém, ainda existe a concepção de parafilias. Alguns pesquisadores colocam como superação de mera condição existencial, mas não tem tido sucesso.

    Porque a homossexualidade não é uma condição de vicio como café, álcool, ou tabagismo ou drogas ilícitas que mediante internação as remissões tem sido mais eficientes. A condição sexual envolve pulsão e libido. E contra essas forças biopsiiquicas até o presente não existe como superar.

    Talvez no futuro com ajuda da R;M. ressonância eletromagnética de duas pessoas em ato, com parametrização, registrados pontos ativados no cérebro possam tentar neutralizar as pontes de neurônios e desligar áreas no cérebro mas ainda carecemos de tais estudos aprofundados. Freud foi magnifico em levantar esse mecanismo entre outros, como a batalha do eros versus o tanatos na formação da maldade humana.

    A interface com a religião

    Essa subparte tem sido muito polêmica e um dilema, porque existem operadores de religiões diversas, que argumentam que curam gays, masculinos e femininos. Inclusive na Africa fazem extirpações e partes genitais, como clitóris e testículos. Para tais segmentos a condição seria também espiritual, ou seja, uma legião de espíritos maus, atormentando a alma/espírito da pessoa que precisam mediante uma sessão, chamada de ‘descarrego’, ou ‘desobsessão’ serem tais espíritos defenestrados.

    Buscaram embasamentos tanto no Velho com no Novo Testamento e na tradição oral e prática de diversas manifestações religiosas espíritas. Em que pese ocorrerem às chamadas sessões de depoimentos ou testemunhos, não existem casos comprovados. Muitas pessoas portadoras da condição que concordaram e se submeteram a tais sessões acabaram em seguida recaindo.

    Algumas se reprimiram tanto que recorreram a atos extremos até de ideação. O sofrimento psíquico ficou muito grave. Fatos estudados revelam que não existe essa metodologia, ela é uma mera expectativa de ficção. Não surte efeito porque estão lidando com a energia pulsional e libido e deseja, com as descargas nos neurônios e tem sua resolução cerebral.

    Os movimentos ‘MSL’ e seu contraponto dialético, a ‘TCM’

    O chamado Movimento Social Libertário, que é uma categoria sociológica e um grande guarda-chuva geral e global de movimentos nacionais , estabeleceu sua agenda e pauta de lutas e conseguindo muitas vitórias até as reformas do CID-10 que é a 10ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde bem como o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5.ª edição) além de uma farta legislação até constitucional via Parlamentos pelo planeta todo.

    Seu contraponto dialético, a Teoria da Cultura da Morte entende que defender essas práticas é caminhar para morte e passou a chamar o MSL de Movimento Social ‘Libertino’. O TCM buscou um embasamento bíblico nos livros do Pentateuco, em especial no Deuteronômio onde consta às chamadas ‘maldições’. Uma delas, expressa ‘maldito o homem que deita com homem, mulher com mulher, ou com animais, ou com irmã e sogra.

    Porém, perdeu força motriz face MSL, Movimento Social Libertário ser muito forte no mundo toda e ganhar tração diante de reformas culturais rumo a pós-modernidade dos tempos líquidos. Inclusive postulam que a transmodernidade sucederá, em tese, a pós-modernidade e irá instaurar um novo sistema que segundo seus defensores, será a superação total da condição existencial dos gays.

    A visão da teoria do ‘DAS’

    Uma nova teoria emergiu no tecido social com a eleição do Papa ‘Chico’, o Papa do Fim do Mundo (Francisco, S.J – que é o cardeal Jorge Mario Bergoglio, nascido em 1936, em Flores, Buenos Aires), o 266.º Papa da Igreja Católica e atual Chefe de Estado da Cidade do Vaticano, que sucedeu Papa Bento XVI, que abdicou ao papado em 28 de fevereiro de 2013, em razão até do fortalecimento do MSL e crise profunda do TCM.

    O Papa Chico concebe a TDSA (Teoria do Diálogo Social Amplo) mais conhecida como ‘DAS’ e tenta compor com o ‘MSL’ uma saída face o enfraquecimento da ‘TCM’ que levou a queda do Papa Bento em razão do MSL ter adentrado no âmago da própria Igreja de forma devastadora. A teoria DAS passa a competir com a TDH, Teoria dos Direitos Humanos da ONU e não se revelou eficiente para neutralizar o grande avanço do MSL, Movimento Social Libertário, chamado de Libertino pelos críticos que conseguiram retirar até crucifixos das repartições públicas.

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    O MSL imprimiu uma derrota devastadora aos preceitos religiosos e continua avançando. Em alguns países foi barrada com violência, como no Irã que enforca ainda homossexuais, não aceita aborto, poliamor, barriga de aluguel, liberação das drogas, casamento e adoção gay e tudo mais. O MSL tenta furar o bloqueio e entrar nessas terras.

    Conclusão sobre a cura gay

    Diante de tudo o que foi exposto e arrolado, vamos responder a questão proposta: ‘Existe e é possível a chamada cura gay ?’ Devemos destacar que o termo ‘cura’ pode ser entendido como remissão, superação ou fim da condição. O termo ‘cura’, provém do latim cūra, que significava primordialmente «cuidado, diligência» e, por extensão de sentido, «direção, administração», «cuidados com um doente, tratamento», A cura seria o fim com a remissão da situação ou condição.

    Entendemos que, não existe a chamada cura gay e nem é possível essa remissão porque é uma energia pulsional (a catéxis) estacionada numa fase da evolução psicossexual onde a pessoa vai desenvolver as características daquela fase e se expressar como tal. Tanto é uma verdade técnica científica que quando a catéxis se fixa na ‘fase oral’, a pessoa só terá prazer pela oralidade, boca, não pratica atos fora da sua configuração por não encontrar a linha ou vaso de comunicação e vazão da libido que esta atrelada a fase.

    Se ficar na anal, será homossexual, e assim por diante. A cura só seria possível se e somente se, houvesse condição de destravar a energia pulsional desalojando ela da fase onde esta enclavada. E, isso depende de outros fatores, a idade, os país ainda vivos, o meio que esta, enfim. Passou daquele momento de detecção e possível reação para tentar destravar a energia pulsional, não tem mais como fazer a remissão da condição existencial, ela vai se enraizar.

    Um viés bem cronoanalógico

    Depois, a pessoa vai se convencer de sua condição, vai assimilar e vai se direcionar para procurar parceiros e criar suas relações peculiares, casar e ter filhos adotados e vai viver assim até o seu óbito. Não existe cura e nem remissão dessa condição se a ‘catexis’ se fixar e não manejada no momento certo. E o tempo é complicado, ele não para.

    Quem herdou ou herdar essa condição tem que assumir sua realidade para evitar um sofrimento maior. No futuro poderão ocorrer avanços via atos invasivos cerebrais, mas jamais haverão remédios alopáticos ou psicoterapia ou ações religiosas eficazes.

    A energia pulsional fixada numa fase que não evoluiu é uma condição insuperável, a pessoa infelizmente não chegou no complexo de Edipo, se menino, (ou Electra) se menina, e não se resolveu. Freud foi genial ao desvelar a evolução psicossexual, um clássico tremendamente atual e, por alguns analistas, ainda considerado um dilema humano eterno.

    Este artigo escrito por Edson Fernando Lima de Oliveira, formado em História e Filosofia. PG em Psicanálise. Realizando PG em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacológica, especialização em Filosofia Clínica e Estudos de Psicanálise Clinica. Contato via e-mail: [email protected]. Os artigos são de responsabilidade dos respectivos autores, não expressam necessariamente a opinião do site.

    4 thoughts on “Cura Gay: uma questão polêmica

    1. Edson Fernando Lima de Oliveira disse:

      Caros amigos, este artigo (enfoque) foi realizado face ter sido feito um outro anterior a este, e em face da temática, que é polêmica e enfrenta dilemas, e também é um desafio, pessoas contataram para que fosse feito um enfoque mais claro, mais lapidado, mais esclarecedor, mais didático possível. Importante salientar, que o termo ‘cura’ é usado por pessoas ligadas a certas propostas de curas e tal, mas não é uma doença; é uma condição existencial, que S Freud analisou com maestria, ele é que foi o gênio das ciências P (Psiquiatria, Psicologia e Psicanálise). Os créditos são dele. Ele foi um grande pesquisador. . Ele mesmo numa carta dirigida a uma mãe aflita deixou claro e é um legado dele tal carta, de que é uma condição existencial. Sob o enfoque psiquico não seria, em tese, uma doença já naquela época. Mas, devemos lembrar que existem as chamadas ‘parafilias’. Vale salientar que Freud é um clássico tremendamente atual e foi ele que levantou o véu sobre a questão que era enigmática no passado. Freud continua insuperável em várias questões que ele conseguiu descobrir porque elas surgiram na humanidade. Fica esse registro.

    2. O Hetero é digamos mais difundido porque a ele é atrelada a Reprodução, mas a própria Sociedade que o “defende”, traz convenções sociais, por gênero, a exemplo, dos banheiros, até hoje, em Aeroportos, inclusive! E o que dizer da adolescência, quando hormônios a “mil” ouvi de um aluno de série superior a minha (isso final dos anos 70), que anus não “entra” nos órgãos sexuais e ele havia me desejado no ânus e me proporcionou prazer quando me fez oral “ali”! Ai comentamos se o pênis é excretor e sexualizado, porque não incluir o ânus! E me reporto ao trazido na mensagem anterior: depois de haver tido experiência homo, com ereção e prazer, como querer questionar as relações futuras entre o mesmo gênero. E trago a reflexão noutro contexto: um marido, heteronormativo, chega ao trabalho, depois de duas ou três horas, de trânsito, vai ao banheiro por gênero que assim encontramos e da aquela olhada para o bumbum de quem está no box urinando e deixa a porta entreaberta: a mensagem é clara e os feronomios sinalizaram: quer ser encoxado quem está no box e quem quis reparar queria extravasar a preferência, dita nacional, numa bunda!

    3. Que sofrimento vc se refere???? Acreditar que “Não existe cura e nem remissão dessa condição se a ‘catexis’ se fixar e não manejada no momento certo” é entender que o desejo por alguém de qual sexo for seja de alguma maneira sofrimento, o que não é….. a não ser para fundamentalistas religiosos, o que não combina com ciência, o determinismo histórico e religioso imposto no qual apenas existam “cisgenero” é ultrajante e por demais retrogrado.

      1. Boa tarde, Carlos. Com respeito a Adversidade, até por estarmos no dia dela, mas no meu ponto de vista e até vivência: gênero e sexualidade Não são “reciprocos” no sentido que cisgeneros sejam, predominantemente, heteros e, na prática se verifica é que, geralmente, transexuais acabam namorando pessoas do gênero biológico que tinham, ou seja, não que rejeitassem o gênero biológico, mas um “pensamento obsessivo” de ter que ser “trans” para viver a homossexualidade, sob o perfil hetero: “ter a mulher e o homem”! Sou cisgenero e já me relacionei com outro cisgenero (gêneros iguais) e Nunca houve aquele “papinho” de “sem penetracao” ou só “preliminares”. Havia penetracao e, Sem papéis definidos: a gente sabia que se “complementava”! E detalhe, mesmo entre gêneros iguais, ereção mutua, via de regra acontecia!

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