cura para angústia

Há cura para angústia, segundo a psicanálise?

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Hoje falaremos sobre a cura para angústia. Não há como negar que a condição humana nos coloca, a todos indistintamente, em maior ou menor grau, como seres angustiados.

No reino animal os seres dito irracionais contentam-se basicamente com a satisfação de suas necessidades fisiológicas. Nós não. Nós somos eternos insatisfeitos. Entenda o que é a angústia para a psicanálise!

A cura para angústia na Psicanálise

Para Jacques Lacan a nossa satisfação é sempre parcial, pois somos seres faltosos por natureza. Nesse compasso, ainda que a pessoa tenha preenchido o padrão social estabelecido como modelo a ser seguido, de família de propaganda de margarina, geralmente permanece o sentimento de vazio, de incompletude. Isto também explica porque estudos psicológicos revelam que milionários ganhadores de prêmios de loterias não mantêm o nível de felicidade inicial por muito tempo.

A angústia, portanto, é uma condição existencial própria do ser humano, ligada a vários fatores: a indagação sobre o propósito da vida; a necessidade de fazer escolhas que sempre implicam em renúncias; o envelhecimento do corpo e a finitude da vida; o relacionamento com os outros homens. Quanto a este último fator, de se destacar a comparação como grande causadora de angústia, mormente na atualidade, pela ampla exposição em redes sociais de vidas felizes e aparentemente perfeitas.

Na obra O mal-estar na civilização, Freud enfatizou o pacto social como fator de mal-estar, eis que as pessoas precisaram abrir mão de seus desejos e individualidades em prol da segurança da vida em sociedade. No mesmo livro, quanto ao propósito da vida, Freud aponta que só a religião é capaz de resolver essa questão. O sentimento constante de falta/insuficiência nos leva a buscar situações que nos transmitam sensações de perfeição e realização. Vale dizer, sensações falsas e passageiras, uma vez que a plenitude nunca será atingida.

Há cura para a angústia?

A psicanálise entende a angústia como sintoma do inconsciente, ou seja, formas pelo qual o inconsciente se expressa, assim como o medo. A angústia sempre foi uma preocupação da obra de Freud, que a partir de 1890 introduziu a temática em seu campo de estudo. Encontrou a angústia como causa de sintomas físicos em seus pacientes, como dispneias, arritmias, fobias, crises de pânico e pesadelos. Sobre medo e angústia, embora possam estar relacionados, Freud os diferenciou pela ausência de objeto da angústia, enquanto o medo tem um objeto fóbico definido, como o medo de baratas, por exemplo.

Inicialmente, chegou a propor a existência da “neurose de angústia”, supostamente causada pelo acúmulo de tensão sexual, não descarregada tampouco elaborada pelo sistema psíquico. Ou seja, o agente provocador seria a abstinência sexual. Posteriormente, reformulou o conceito de angústia em Inibição, sintoma e angustia (1926), que estaria associada a uma defesa do ego frente a uma situação de perigo. Sobre a origem da angústia, Lacan inverteu o raciocínio de Freud, para pontuar que a angústia não é um sinal de perigo da perda de um objeto, mas um indicativo da “falta da falta”.

Melhor explicando, não seria a ausência da mãe que provocaria a angústia na criança, mas a presença constante que não lhe permitiu lidar com a falta. Mas enquanto como sintoma a angústia possa acarretar sofrimento, tem o seu papel de impulsionar a pessoa para novas descobertas, tal como o medo tem importância para a autopreservação.

Conclusão

Para Lacan, em seu Seminário 10, a angústia também está ligada ao desejo, pois “é depois de superada a angústia, e fundamentado no tempo da angústia, que o desejo se constitui”. Ou seja, a angústia serve para sustentar o desejo, representando uma diferenciação entre o buscado e o obtido.

Logo, diferentemente do que tende a pensar grande parte das pessoas, a psicanálise não pretende a eliminação da angústia, mas a elaboração desse sintoma. Assim como ocorre com as pulsões, a angústia pode ser canalizada para atividades produtivas – como trabalho, cultura, artes – o que foi chamado de sublimação para a teoria Freudiana.

O presente artigo foi escrito por Maria Luiza Garcia. Servidora pública, formada em Direito e em psicanálise. Insta: psicanalista_malu.garcia

6 thoughts on “Há cura para angústia, segundo a psicanálise?

  1. Maura Alessandra Ferreira da Silva disse:

    Adorei como foi colocado o assunto sobre a angústia. Parabéns para psicanalista que escreveu.

  2. Penso que as pessoas andam angustiadas pela falta de gratidão e, nessa de sentirem-se Incompletas, acabam litigando ao ponto de perceberem sem qualquer razão! Ai que entraria a questão da suposta carência sexual: não que ela não exista, mas nessa competição de gêneros no mercado de trabalho, foi diminuindo o “desnudar-se” além da roupa! A novela Poliana Moça tem trazido bem sutil essa questão: quando o casal era também colegas, “familia margarina”. Quando ele galgou a direção da empresa, a esposa se posicionou na máxima: “em casa, eu mando” e virou do contra, ao que o marido sugere a dois! Então, que haja mais gratidão pelo que tem e, menos comparação: quando há comparação deixa de haver crescimento pessoal! Já dizia meu avô quando percebia, essa “competição” via “comparação”: “Seja doutor, na atividade que se propuser a fazer”!

  3. Mizael Carvalho disse:

    Muito bom artigo! É da natureza humana as pessoas serem insatisfeitas. O problema é a falta de equilíbrio, a insatisfação quando é nivelada ou seja, equilibrada, ela é positiva, pois a pessoa alcança o seu objetivo.

  4. Cristiane Marques disse:

    Excelente artigo! Me auxiliou bastante na compreensão da angústia, de maneira leve e de fácil compreensão.

  5. Jesebel Sbrana Silva disse:

    Bom saber que a psicanálise oferece direcionamento.

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