Hoje falaremos sobre a dependência emocional. O excesso de algo é sempre o indicativo de uma falta significativa, a dependência emocional que se caracteriza por um apego doentio por algo ou alguém não é diferente.
Aqui o indivíduo se anula completamente para agradar e suprir as necessidades de outras pessoas:
- aqui o indivíduo não sabe dizer não por medo de desagradar ou ser abandonado, – aqui o indivíduo repete vivências antigas em determinados tipos de relações que lhe causam angústia, seja com objetos, substâncias, ideais ou pessoas,
- aqui o indivíduo não sabe que todas essas vivências estão querendo dizer algo, algo sobre seu passado que já lhe trouxe as mesmas sensações de desamparo e necessidade gritante de se sentir seguro a um vínculo.
Falaremos um pouco sobre como e porque se desenvolve todo esse sofrimento, o porque as repetições nocivas acontecem, o porquê da pessoa sentir tanta necessidade em se agarrar a uma situação, objeto ou pessoa já com um medo intenso de não poder viver sem aquilo, e do perigo de não buscar novas formas de lidar com tudo isso.
Primeiro abordaremos sobre o que é depender do outro, se existe algum grau saudável e natural de dependência, segundo sobre as origens, como se desenvolve e por que, terceiro sobre como identificar os sinais de alerta em pessoas adultas, e quatro, formas de tratamentos eficazes para lidar melhor com a dependência emocional, como a psicanálise pode ter um papel fundamental em todo esse processo.
O que é dependência emocional e depender do outro?
Antes de falarmos sobre dependência emocional, acredito ser muito relevante entendermos primeiro sobre o que não é dependência, afinal, estamos expostos a uma cultura de amor que costuma romantizar o amor dependente. Somos ensinados a acreditar que o amor verdadeiro é um amor de pura dependência, onde você não vive sem a pessoa, onde a pessoa é tudo pra você, aonde você precisa aceitar todos os podres da outra pessoa, onde você faz tudo pelo outro e não sabe dizer não.
Mas isso não passa de uma idealização fantasiosa e projetada do que de fato é amor. Sim, nós somos seres dependentes de vínculos para sobreviver e para ter uma boa saúde mental, também sentimos medo de ficar sem aquele bem material ou ficar sem determinadas pessoas em nossas vidas, é normal que desejemos objetos e pessoas. Tudo isso faz parte do pacote de nossa experiência como ser humano, o apego faz parte da nossa maneira de viver e se vincular com o outro.
Isso significa que até certo ponto, existir um grau de dependência é considerado normal, é natural, faz parte, então nesse caso aqui estamos falando de um apego saudável, que também podemos chamar de dependência natural.
A dependência emocional e o apego
Agora falando sobre a dependência emocional, que se caracteriza sobre você não poder viver sem a presença de uma determinada pessoa, é você não conseguir cortar uma relação mesmo quando essa relação te fere, depender é você abdicar de si mesmo(a) para suprir as necessidades de outras pessoas. Depender é você sentir que sua vida não pode continuar sem aquele bem material que tanto significa para você, mesmo no fundo sabendo que a maioria dos bens materiais possuem um prazo de validade, mesmo sabendo que com o tempo perdem o valor, que se desgastam, que param de funcionar, mesmo assim, só de pensar na possibilidade de ficar sem aquilo isso já gera muitos sentimentos de angústia em você.
Vamos usar um exemplo simples fictício de uma mulher que é completamente dependente emocionalmente de seu marido, essa mulher não consegue conversar sobre seus desejos e necessidades porque está sempre colocando as necessidades de seu marido em primeiro lugar, por conta disso, está sempre negligenciando e reprimindo suas necessidades, desejos, e não conversa com ele sobre certos comportamentos que a não agrada por medo de incomodá-lo.
Em nenhuma ocasião ela consegue dizer não para ele sem sentir uma culpa opressora sobre seus ombros, o dia dela apenas é bom quando recebe elogios do marido, quando ele demonstra afeto, quando lhe dá atenção, ela não consegue dar conta de viver sozinha sem esse homem, ela não consegue ver a sua vida com outra pessoa sem ser aquela pessoa que está com ela neste momento, curiosamente a mesma situação que nos encontramos quando somos bebês.
O sustento emocional
Nos primeiros anos de vida, a criança é completamente dependente de seus cuidadores em todos os âmbitos de sua vida para conseguir sobreviver, a criança obrigatoriamente necessita que um adulto que seja capaz de prover tanto sustento físico quanto emocional esteja disponível para ela, pois sozinho o bebê é totalmente incapaz de se manter vivo. Portanto, todos nós em nossos primeiros anos de vida, somos totalmente dependentes de uma ou mais pessoas de nosso convívio, em especial, a figura materna.
Donald Winnicott, o renomado psicanalista inglês chama essa fase de: “Dependência absoluta”. Porém, quando se trata de um adulto, se espera que esse sujeito seja capaz de suportar o rompimento de vínculos, por mais que sejam importantes, por mais que machuque, espera-se que esse sujeito seja capaz de seguir em frente, e até mesmo buscar sozinho suas fontes de sobrevivência, suponhamos que um adulto seja capaz de dizer não para uma outra pessoa, suponhamos que um adulto não negligencie se prejudique para beneficiar outras pessoas.
Caso essa pessoa não seja capaz de seguir em frente sem aquela determinada relação, caso a pessoa se anule por completo por terceiros, caso essa pessoa de conseguir fontes de sobrevivência sem depender do outro, essa pessoa se encaixa como alguém que sofre de dependência emocional. Mas tem um porém, a dependência emocional por alguém, por algum bem material, por comidas ou por substâncias químicas somente é um sintoma de algo muito mais profundo, esse sintoma é apenas a ponta do iceberg, é somente a cereja do bolo.
A dependência emocional e o sofrimento afetivo
O motivo de toda essa dependência está escondida nas experiências passadas que desencadearam sofrimento afetivo nesse sujeito.
Por trás de toda relação de dependência existe uma história no passado desse indivíduo que o faz necessitar depender, uma situação traumática que essa pessoa está tentando resolver utilizando a dependência por algo ou alguém como salvação para esse trauma, ela tenta reelaborar através dos seus relacionamentos, seja com pessoas, objetivos ou substâncias suas experiências traumáticas referente a parte afetiva ao ponto de não conseguir imaginar sua vida sem a presença disso, e é sobre isso que falaremos a seguir.
Porque se desenvolve a dependência emocional?
Para falar sobre isso, vamos precisar acessar camadas mais profundas, pois isso vem lá dos nossos primeiros momentos de vida. Quando somos bebês, tudo é uma grande novidade para nós, pois não temos noção da mundo ao nosso redor, ainda não temos senso de eu, não entendemos o outro, não entendemos nada sobre limites, precisamos que nossas necessidades básicas sejam satisfeitas imediatamente, e quase tudo que acontece ao nosso redor gera uma grande carga de estímulo.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Afinal, estamos conhecendo o mundo, essa fase é a fase de desenvolvimento, aquelas são nossas primeiras experiências de fato, e por mais que não lembremos delas na fase adulta. Tudo isso ainda existe dentro de nós e significa algo marcante em nossas vidas que regem nossos comportamentos atualmente.
Os gostos, toques físicos, sentimentos, emoções, sensações, escuta, descobrir o que há no mundo e como conviver nesse mundo, tudo isso é novo e fundamental para nosso desenvolvimento. É através da relação que criamos com esses elementos que vamos nos desenvolvendo como seres humanos.
O desenvolvimento da criança e a dependência emocional
Se durante esse processo de desenvolvimento uma criança não recebe a devida atenção, foi criada em um ambiente hostil e violento, foi abandonada, sofreu abusos, teve cuidadores rígidos, distante emocional e fisicamente, impacientes, pouco afetuosos, que não demonstravam a compaixão necessária para sua criação, o primeiro contato que essa criança teve com o amor, é de um amor difícil que machuca, bagunçado, confuso, desamparado, que gera tristeza.
Essa criança se desenvolve conhecendo o amor de um jeito que não é saudável para nenhuma pessoa, um amor inseguro que culmina em um vazio de amor. Suas primeiras experiências nesse mundo novo, suas primeiras experiências com o outro foram marcadas por insegurança. Para ficar mais claro, vamos utilizar dois exemplos fictícios, João, filho único cresceu em uma família com pais emocionalmente distantes, pouco amorosos em um ambiente que parecia estar sempre em constante tensão, quando João chorava por fome, ou por estar incomodado com a fralda suja, sua mãe não o acolhia por algum motivo.
João quase não via seu pai, pois ele estava sempre ocupado em longas viagens de trabalho, e quando estava ali, não brincava com ele, não era presente emocionalmente em sua vida, e quando ele chorava por qualquer motivo, levava inúmeras broncas. Com o passar dos anos, João vai crescendo e seus pais continuam distantes e pouco carinhosos com ele, ele brinca e leva bronca, ele chora e é ignorado, ele busca afeto e não o recebe devidamente…
Segurança e amor
Seus pais estão sempre pouco pacientes e não transmitem segurança e amor na maneira de se comunicar com João, durante essa fase de desenvolvimento, os gestos e sinais de amor são transmitidos através do toque, não apenas físicos, mas com tom da palavra, com a vibração do som que sai da boca do cuidador, o tom acolhedor, de aconchego, que quer prover e ensinar a essa criança que necessita de tantos cuidados básicos e amor verdadeiro.
Se a vibração de cada palavra e gestos forem frios, raivosos, que despertam desconfiança e medo na criança, se suas primeiras relações de vínculos afetivos são instáveis, tensos, que ela não pode confiar porque ela tem constantemente a impressão de que tudo pode mudar a qualquer momento, essa criança se desenvolve com o amor inseguro.
Passando por essas situações pode acontecer duas coisas, ou a criança pode se tornar alguém com comportamentos mais frios emocionalmente e muito independente como um mecanismo de defesa, ou uma pessoa que sofrerá de apego excessivo ao longo da vida, alguém que se apega demais a coisas e a pessoas, depende muito do outro para ter momentos de felicidade e apresenta sofrimento por isso.
A criança interior e a dependência emocional
A criança interior desse sujeito não atingiu um bom nível de desenvolvimento, então durante a adolescência e na fase adulta a pessoa fica regredindo aos sintomas que a sua criança sentia ao buscar atenção e afeto e não recebia. Então, quando adulto normalmente transfere a necessidade de depender do outro para o(a) parceiro(a) amoroso(a), para amizades ou até mesmo um bem material ou pertencimento a uma ideologia, que de alguma forma faça com esse pessoa se sinta preenchida de afeto finalmente.
Em suas relações adultas, mesmo fora do relacionamento com seus pais, essa insegurança em vínculos afetivos transborda para o mundo trazendo certas consequências em suas outras convivências. Para suprir essa ausência de afeto e carinho da infância, muito provavelmente ela vai usar suas relações para tentar tapar esse buraco deixado pelos pais, essa ausência de amor precisará ser suprida por algo, então é aí que aparece o apego exagerado e não saudável, pois essa criança estava sempre buscando abrigo e aconchego, mas nunca o encontrava, agora em seus relacionamentos adultos, ela busca ser salva, ela acredita que eles tiraram esse conforto e segurança que ela nunca teve.
Totalmente o oposto do apego seguro, que é o apego que se desenvolve pela segurança de afeto, pela atenção devida, pelos cuidados, pelo carinho e conforto que esse indivíduo se acostumou a receber desde sempre, portanto um indivíduo que cresceu diante de um ambiente estável, dificilmente desenvolve uma carência excessiva por alguém ou por qualquer coisa. Mas, não é apenas a negligência emocional dos pais, rigidez, distanciamento físico ou violência que pode acabar desenvolvendo dependência emocional em uma pessoa.
Pais superprotetores
Pais superprotetores costumam criar filhos que se tornam subdesenvolvidos quando precisam se jogar na vida adulta, pois esses pais estão constantemente passando a mensagem (mesmo que não seja a intenção) de que seus filhos não são fortes e capazes de encarar a vida sozinhos.
Esses indivíduos encontram muita dificuldade em se desvincular do conforto exercido pelos pais, desenvolvem ansiedade social, não conseguem fazer tarefas sozinhos, tomar decisões, tendência a ter baixa autoestima, a esperar sempre atitudes do outro, e claro, dependência emocional quando encontram um parceiro.
Tudo isso acaba transbordando em seus relacionamentos adultos também, costumam agir com muita infantilidade, insegurança e esperam de atenção e afetos exagerados do outro, algo que adoece suas relações trazendo muita infelicidade.
Sintomas de dependência emocional em adultos
Eis aqui alguns dos principais sinais de alerta de dependência emocional em pessoas adultas:
● Idealizar seus relacionamentos.
● Busca constante por segurança, conforto e pertencimento.
● Depender do(a) parceiro(a) para ter autoestima e confiança
. ● Pensar que não encontrará nenhuma felicidade, segurança e razão de viver longe do(a) parceiro (a).
● Desamparo emocional.
● Autoestima baixa.
● Falta de autoconfiança.
● Medo intenso de rejeição.
● Medo de ficar sozinho(a).
● Exigência de atenção.
● Dificuldade em tomar decisões sozinho(a).
● Dificuldade em dizer não.
● Dificuldade em regular as próprias emoções sozinho(a), e acaba buscando outras pessoas para exercer esse papel em sua vida.
● Negligência das próprias necessidades para suprir as necessidades de outras pessoas.
● Não assumir grandes responsabilidades na vida.
● Forte insegurança em relacionamentos.
● Padrões de repetição em relacionamentos com pessoas distantes.
● Ciúmes em excesso.
● Submissão.
● Possessividade.
Quais áreas mais se manifestam a dependência emocional?
A busca por preenchimento pode se espalhar por diferentes setores da vida dependendo de onde o vazio de amor foi instalado, podemos separar essas formas nocivas de apegos em duas categorias: A primeira e mais comum, é a dependência em relacionamentos afetivos: seja em relações amorosas, familiares ou amizades, as relações do sujeito dependente se resumem em:
- muita insegurança em si mesmo e em sobre seus vínculos,
- necessita de muita validação e atenção demasiada,
- dificuldade em comunicar seus limites,
- faz de tudo para agradar, ou seja, dificuldade em dizer não mesmo querendo,
- não consegue tomar decisões sem influência de terceiros,
- vive com um constante medo de rejeição e abandono,
- não se sente digno daquele relacionamento, como na submissão extrema,
- ciúmes constantes,
- pensa exageradamente em como pode melhorar o dia do outro, esquecendo-se de sua própria vida.
As substâncias psíquicas e a dependência emocional
A segunda forma de manifestação de dependência pode é através de substâncias químicas, álcool, ideais, comidas e bens materiais: como já percebemos bem, as pessoas se apegam a relações e ao mundo externo por se sentirem constantemente inseguras e desamparadas referente a amor, então acabam transferindo essa necessidade de serem preenchidas por esse sentimento através de diversas fontes.
Tudo em busca de se sentirem seguras a um vínculo, algo que muito provavelmente se vasculharmos com atenção o passado dessa pessoa, iremos descobrir que segurança em vínculos é uma sensação que ela nunca foi capaz de sentir desde quando ainda era muito pequena e indefesa, seja pela superproteção ou negligência emocional e física dos cuidadores, ou por violências e abusos vividos e presenciados.
Claro que essa falta de um amor seguro, não se resumiria apenas em laços afetivos com outras pessoas, mas também, a vícios e a necessidade exagerada de pertencer a um grupo que as deixam cegas e fanáticas pelo ideal desse grupo. Podemos usar a identificação exacerbada por um partido políticos, seguir cegamente uma religião, e o fanatismo por futebol como exemplos bem óbvios de dependência por pertencimento a um ideal.
Formas de começar a trabalhar a própria dependência emocional
Podemos começar a trabalhar a dependência emocional começando por: treinar o desapego. Aqui, basicamente a pessoa terá que trabalhar a sua capacidade de entender, aceitar e a viver bem com uma das leis naturais mais importantes da vida, que nem tudo que entra em nossa vida, é pra ficar, e está tudo bem!
Grande parte das coisas e pessoas que passam pelas nossas vidas (por mais que tenhamos apego por aquilo), em algum momento aquele bem material não vai prestar mais e você terá que se desfazer dele ou alguém vai tirá-lo de você, porém, aqui você aceita que ele é apenas um bem material, que pode ser conquistado de novo depois e que sua vida não depende dele, ele é apenas um complemento.
Em algum momento aquela pessoa querida pode nos deixar, e mesmo doendo muito, precisamos ter a força e a resiliência de seguir em frente, não vale a pena e nem faz sentido acabar com a sua vida por isso, o único caminho é seguir seguir em frente, até porque, nenhum de nós somos eternos na vida de ninguém. Essa pessoa não representa nossa identidade, ela não tem comando sobre nossa vida (a não ser que dermos esse poder a ela), e ela não é mais importante do que nós mesmos independentemente de quem seja, porque já somos completos e não precisamos ser completados por nada e ninguém.
A angústia
Uma maneira bem simples de treinar o desapego, é fazer um exercício que te faça usar a angústia a seu favor para ganhar resistência. Literalmente de um passo para trás, se afaste um pouco de situações, bens materiais e pessoas que você acredita não conseguir viver sem elas, e se obrigue por um curto período de tempo a viver sem elas.
- Não apenas se imagine sem essas coisas, mas aprenda na prática a viver sem elas, expandindo a sua mente você começa a enxergar a situação com outros olhos, e a distância permite isso, sinta as sensações de ficar longe daquilo e se questione toda vez que lembrar delas…
- “O que isso traz de bom para minha vida?”
- “Porque eu deveria manter essa pessoa na minha vida, o que de bom ela me trás?
- “Será que eu apenas não estou usando essa situação, esse bem material, essa substância, esse ideal de pertencimento ou essa pessoa para me manter apegado a algo só para continuar revivendo esse trauma de medo de rejeição, medo de abandono, medo de perda, medo de fazer as coisas sozinho(a)?”
O ponto é que, quando estamos vivendo rotineiramente aquela situação, nós não entendemos o porque daquilo e fazemos no piloto automático, agora quando nos afastamos dessas situações de apego, podemos enxergar aquilo por outros ângulos e refletir para tirar novas conclusões e realmente ter uma vivência prática de que não vamos morrer sem nada disso. Esse exercício ensina muito sobre desapego, e como usá-lo na prática. É normal sim sentirmos desejo por algo, não querer ficar sem aquela pessoa, mas o mais importante, é saber que você não depende de nada daquilo para ser completo e desfrutar de uma boa vida.
Agora vamos trabalhar a autoestima através da sua individualidade particular
Se você é alguém com dependência afetiva, muito provavelmente você coloca as necessidades do outro em primeiro lugar, você está sempre refletindo compulsivamente sobre a relação de vocês, provavelmente você deixa com que os outros tomem decisões por você, e você se coloca em uma posição extrema de submissão.
A partir de agora, você vai se forçar (não, não é se esforçar, não, é se forçar mesmo) a fazer mais tarefas sozinho(a), sair sozinho(a), resolver pequenos problemas sozinho(a), quem sabe no meio dessa transformação toda começar um novo projeto. O importante é que na medida do possível a pessoa consiga se individualizar através de pequenas atitudes diárias, desde se responsabilizar por colocar o lixo para fora e lavar as próprias roupas, há encerrar um relacionamento que te faz mal ou até tirar do papel aquele grande projeto e focar o máximo de energia vital possível nele.
E a partir de agora, sempre quando alguém te pedir algo, você vai refletir por um tempo (mesmo que leve um dia inteiro) sobre a seguinte questão: “eu recebo algum benefício fazendo isso?” E se a resposta for não, não hesite em dizer não! Egoísmo saudável faz com que as pessoas nos respeitem mais, aumenta nossa autoestima e coloca uma barreira de limites, que explica até onde o outro pode invadir e até onde nós permitimos ser útil para alguém, aqui acrescentamos valor a nós mesmos, sentimos esse valor e autoestima naturalmente cresce.
E por último, buscar ajuda terapêutica para um autoconhecimento maior de si mesmo
Importante ser entendido que nada dessas sensações vão desaparecer da noite para o dia apenas aplicando esses processos de autoconhecimento, isso ainda existirá dentro da pessoa, mas ela aprende a ter mais autonomia e controle sobre os próprios impulsos de dependência.
Como a psicanálise ajuda o paciente a tratar a dependência emocional?
O método terapêutico psicanalítico trabalha principalmente com as partes dentro de nós que não temos consciência, essa parte da mente chama-se inconsciente. É dentro do inconsciente que se encontram as raízes do adoecimento psíquico que nos faz necessitar de ajuda. As causas que nos geram angústia, ansiedade, depressão, dificuldades para dormir, comportamentos repetitivos, busca por relacionamentos tóxicos, dependência emocional, medos, inseguranças, crenças, sensações primitivas reprimidas, todos os nossos sintomas estão armazenados dentro do inconsciente.
Todos esses sintomas foram desenvolvidos na personalidade de um indivíduo ao longo de sua vida, todas as experiências que tivemos desde o útero de nossa mãe até o dia de hoje interagem todos os dias com a gente, desde as experiências mais belas até as mais difíceis se comunicam através de desejos, pensamentos, sensações, medos, crenças.
Justamente por não conseguirmos lidar, por não conseguirmos dar conta de todos esses conteúdos, acabamos reprimindo eles do nosso campo de consciência, e ao reprimir qualquer uma dessas sensações, elas são armazenadas no inconsciente.
Indesejos inconscientes
Demanda muita energia psíquica para manter esses conteúdos indesejados no inconsciente, e isso acaba gerando adoecimento em nós, afinal, todo conteúdo armazenado continua buscando a sua manifestação mesmo reprimido, e quando ignorado, não costuma fazer isso de uma forma fofa e saudável. Eles ficam o tempo todo tentando retornar a força para consciência, por isso gastamos tanta energia para mantê-los quietinhos por lá, porém, por mais que gastamos muita e energia para mantê-los lá, eles sempre encontram algum jeitinho de vazar e se manifestam em nossas vidas contra nossa vontade, trazendo assim, problemas emocionais.
E a principal função da psicanálise aqui, é nos ajudar a perceber quais são os conteúdos inconscientes que estão causando adoecimento emocional em nós. Através da associação livre método criado por Sigmund Freud, pai da psicanálise, o paciente fala sobre tudo que vem a sua cabeça sem filtros para poder acessar sem barreiras os conteúdos reprimidos que existem dentro do seu inconsciente.
Juntos analista e analisando podem descobrir as origens dos conteúdos ali armazenados e assim mudar crenças pesadas, ressignificar vivências traumáticas, mudar padrões de repetições e encontrar um espaço legítimo e saudável para que seus conteúdos reprimidos possam se manifestar sem causar sofrimento no indivíduo trazendo eles para a consciência.
A dependência emocional e comportamentos
Se aprendermos a acolher nossos conteúdos armazenados no inconsciente, eles não precisaríamos mais recorrer à doença para conseguirem fazer parte de nossas vidas. Portanto, se você aprende a acolher e a ressignificar aquele sentimento constante de desamparo referente a amor e afeto que te faz ter relacionamentos doentes, que te faz se anular pelo outro, que transforma em uma pessoa completamente submissa às necessidades dos outros por medo de ficar só, ciumenta, possessiva.
Você possa a ter consciência dos caminhos que sempre te levam ao mesmo lugar de dor, então pode aos poucos ir deixando de ter certos comportamentos, buscar aquele perfil amoroso que te causa essa sensação de abandono e rejeição, começa a aplicar novos comportamentos, adquiri mais confiança e autonomia para a partir daí, seguir um novo caminho.
É por isso que a psicanálise funciona, e pode ajudar todos nós a ter um relacionamento completamente diferente com nós mesmos e com a vida, promovendo um autoconhecimento profundo de nós mesmos.
Conclusão: entendendo a dependência emocional
Percebemos o quão importante e necessário é um desenvolvimento suficientemente bom para um indivíduo, pois todas as experiências que ocorrem durante toda a nossa vida ficam armazenadas em nós, em especial, as primeiras experiências, as primeiras sensações, as primeiras relações.
São essas que mais determinam a nossa maneira de viver quando adultos, se uma criança for privada de um amor saudável independente do motivo, essa criança tende fortemente a entender o amor como algo que machuca, algo inacessível, algo que ela não pode soltar se não a vida dela acaba. Portanto, passa a vida revivendo esse trauma através de seus conteúdos internos enquanto buscam sua manifestação à força, trazendo sofrimento e experiências de relacionamentos doentes para esse sujeito.
Relações de extremo apego, aquele apego exagerado não são nada saudável e jamais deve ser normalizado, existe uma linha tênue entre gostar de algo ou alguém e não querer ficar sem porque a presença disso traz boas experiências de vida para essa pessoa, e ter um relacionamento doentio baseado em toxicidade e dor, são coisas completamente distintas.
O autoconhecimento
O autoconhecimento é chave para encontrar o melhor caminho para suas sombras poderem ser integradas de maneira saudável em sua vida, e de poder mudar certos comportamentos que já não cabem mais, a abordagem psicanalítica promove tudo isso, autoconhecimento profundo e novas formas de ressignificar tudo o que já viveu descobrindo a origem de todo o sofrimento, promovendo assim uma mudança consciente em todos os âmbitos que forem necessários.
Referências bibliográficas
HOSPITALS, Cadabam’s. A Dependência Emocional. [Online]. Disponível em: <https://saudementalatibaia.com.br/blog/a-dependencia-emocional/>. Acesso em: fev. 2023.
MUNDOS DOS PSICÓLOGOS. Dependência Emocional. [Online]. Disponível em: <https://br.mundopsicologos.com/dependencia-emocional>. Acesso em: mar. 2023.
GERMANO, Fernanda. Dependência emocional: o apego excessivo que adoece. [Online]. Disponível em: <https://www.psicanaliseclinica.com/dependencia-emocional/> Acesso em: mar. 2023.
MACK, Laura. Transferência da necessidade (de regredir à dependência). [Online]. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302018000200004>. Acesso em: mar. 2023.
NAPOLI, Lucas. Dependência emocional: quando o outro parece imprescindível. [Online]. Disponível em: <https://lucasnapoli.com/2021/04/29/dependencia-emocional-quando-o-outro-parece-imprescindivel/>. Acesso em: mar. 2023.
Este artigo sobre a dependência emocional foi escrito por Alex Sandro Palma([email protected]), concluinte do curso de formação em psicanálise clínica. Deixe suas dúvidas, sugestões e comentários abaixo.
1 thoughts on “Dependência Emocional: definição, exemplos e tratamentos”
conteudo simplesmente maravilhoso