Você sabe quais são a origem e o significado do divã? Neste artigo vamos fazer um enfoque sobre essa peça de mobília clássica e tão famosa que virou um ícone (símbolo) para a Psicanálise.
Divã na Psicanálise
Muitos operadores da Psicanálise, alguns dos quais usam ainda o tradicional ‘divã’, (peça de sofá sem braços e com uma das extremidades em aclive com ou sem almofada tipo travesseiro) em que pese, muitos optaram por poltronas substituindo os divãs e, ainda aqueles, que não sabem bem a origem do ‘divã’ e o quê ele significa, gostariam até de rememorar a história do divã de Sigmund Freud (1856-1939). Vamos nesse enfoque relembrar a origem e o significado do divã.
Vale salientar que existem analistas que estudaram a fundo a teoria psicanalítica e não sabem bem a história do divã do Freud. Este breve artigo visa entrar nessa brecha e fazer um enfoque. Entretanto, de forma preliminar vale e é interessante destacar também, que existem vários temas à descoberto que precisam de um novo olhar psicanalítico e que são flancos abertos bastando ‘prospectar’ bem para descobri-los.
Por exemplo, poderemos citar o ‘case’ da teoria do pansexualismo do médico e psiquiatra brasileiro Francisco Franco da Rocha (1864-1933), que foi objeto de pesquisa e estudos pela psicóloga Dra. Josiane Cantos Machado (mestre em psicologia clinica), uma pesquisadora com um trabalho espetacular publicado nas redes, via PUC/SP, sobre a Emergência da Psicanálise no Brasil.
Entendendo mais sobre o divã
Muitos analistas debateram o ‘pansexualismo’ e alguns não sabiam maiores dados da origem do divã e como o divã esta conectado a vários temas como este. O divã do Freud que já foi considerado um fetiche no século XX e, por analogia, um símbolo forte da vida dele, quase que um ‘monumento’ ao lado dele, em setembro de 2000 foi exibido pela primeira vez no Brasil, numa exposição “Freud: Cultura & Conflito”, organizada pela Biblioteca do Congresso, em Washington, EUA, que tinha o foco de ser itinerante e buscou muitas parcerias.
Foi considerada uma das maiores mostras já feita sobre o Freud no mundo ocidental à época, e um detalhe, foi primeiro no Rio de Janeiro, Brasil, e após foi para Buenos Aires, Argentina, que já era um polo de psicanálise muito respeitado com uma reputação muito forte em toda a América Latina com um bairro exclusivo com vários consultórios e uso do divã.
O Museu de Arte de São Paulo (MASP), com o patrocínio da Folha e da Petrobras e o apoio da Sociedade Brasileira de Psicanálise e da Associação Brasileira de Psicanálise fomentou amostras sobre a vida, objetos e biografia do Freud. O divã se integrou e passou a fazer parte da técnica psicanalítica do Freud e não poderia jamais ser dispensada uma análise sobre o móvel divã. O divã serve para favorecer o estado de livre associação de ideias no paciente e de atenção flutuante no analista, facilitando em ambos um estado regressivo de mente porque a pessoa relaxa e se sente como se estivesse no útero de sua genitora.
Freud, o paciente e o processo analítico
Para o Freud, o ato de se deitar no divã representa a entrega do paciente ao processo analítico, a permissão, ainda que inconsciente, para que a psicanálise seja desenvolvida tocando em seus pontos mais sensíveis, sem que haja qualquer julgamento ou hesitação por ambas as partes. O divã serve como um útero materno.
Com relação à adoção do divã por parte do Freud, relatam que chegou às mãos dele como um presente de uma de suas pacientes que viajou pela Turquia onde a ex-analisada quis fazer um carinho de afeto, agradecimento e reconhecimento pelo empenho, dele por ela, no plano do curso da análise e remissão do quadro patológico. E o fato ocorreu em 1890, quando a ex- paciente (analisada) conhecida como ‘Madame Benvenisti’ compra e doa ao Freud a peça de mobília.
E como na Berggasse 19, em Viena, Áustria, onde abrigava o consultório de Freud, entre 1891 e 1938, ano em que o psicanalista foi obrigado a fugir para Londres, escapando das garras do nazismo que haviam se apoderado da Áustria, o divã que lhe fora presenteado foi junto com Freud na mudança. Em Londres se tornou um ‘ícone’ que fez moda entre os operadores da psicanálise, psicologia e psiquiatria.
O divã de Freud e os tapetes turcos
Após ó óbito de Freud, sua filha Anna Freud (1895-1982) encaminhou a peça para o Freud Museum, em Londres, onde se encontra até os dias atuais; porém, já foi mostra itinerante para ser apreciado. O divã é visitado por mais de 40 mil pessoas por ano em Londres. O divã de Freud era coberto de tapetes turcos.
O primeiro tapete foi presenteado por mister Moritz, um parente distante e comerciante em Saxônica (também conhecida por Tessalônica, cidade portuária grega no golfo Termaico do mar Egeu). à época uma província do Império Turco e um centro do comércio. Mister Moritz adquiriu o tapete na cidade portuária turca de Izmir (atual Esmirna). Sabedor da idéia que os europeus faziam dos turcos em relação ao sexo, Moritz deu a conhecer a Freud sobre o uso nada incomum que faziam de tais tapetes, ao embrulhar nestes as mulheres para apresentar a pretendentes.
No Egito antigo as mulheres eram enroladas em tapetes e ofertadas como objeto de prazer à dignitários em visitas formais inclusive. Temos o emblemático registro registros de época, quando Cleópatra (69AC-30AC) se enrolada num tapete foi apresentada a Ptolomeu XIII (62AC-47AC) e depois tornaram-se amantes e tiveram um filho Ptolomeu XV (47AC-30AC). Importante frisar que o divã embora tenha escala de produção artesanal e pré-industrial forte na Turquia existem relatos de sua existência prévia na Grécia antiga e no Egito, mas aparece também em mobilas romanas muito apreciadas por imperadores e suas coortes em festas.
Considerações finais
Por fim, vale destacar que o ato de deitar-se e relaxar o corpo esticando as pernas e fechando os olhos ficaria muito melhor para se conecta com a historicidade e vida pregressa pessoal e se sentir como num útero para fluir melhor as lembranças. E o divã com muitos tapetes se traduzia num ponto acolhedor, quentinho, fazendo fluir melhor as ideias.
O divã por mais que alguns neguem sempre trouxe essa associação encaixada nas análises e Freud que soube configurar o espaço e gerar esse ambiente acolhedor.
Muitos analistas ainda continuam com o divã, em que pese outros tenham abolido com as reformas nos protocolos de análise, o divã ainda é um clássico tremendamente atual e aguarda por mais estudos aprofundados sobre a sua real origem na antiguidade clássica.
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O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima de Oliveira. Graduado com licenciatura em História e Filosofia. PG em Psicanálise. Realizando PG em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacológica; acadêmico e pesquisador de Psicanálise Clinica e Filosofia Clinica. Contato via e-mail: [email protected]