escolha da profissão na adolescência

A escolha da profissão na adolescência

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Hoje falaremos sobre a escolha da profissão na adolescência. Escolher faz parte da vida assim como mudar, respirar, comer, enfim, é algo inevitável e por isso, necessário. Realizar escolhas resulta em avaliar possibilidades que a vida nos dispõe, além de exigir algumas renúncias.

Entendendo sobre a escolha da profissão na adolescência

Fazer as escolhas certas, pode trazer sensações prazerosas, libertadoras. Porém, muitas vezes, só confirmamos que essa escolha realmente foi a correta depois de vivenciarmos a experiência, alertando que, fazer escolhas, significa também excluir algo ou alguém.

Por este motivo, nem sempre se está preparado para renunciar algo em prol da ‘melhor’ escolha a ser feita. Segundo Langaro (2020, p.1): “ Para que seja libertador é necessário entender que escolhemos o que entendemos como a melhor opção em determinado momento de nossas vidas”.

Na Psicanálise, entender como e por que cada paciente faz suas escolhas é fundamental para a clínica psicanalítica. Porém, ainda conhecemos muito pouco sobre os processos de escolha e seus motivos.

A escolha da profissão na adolescência e Freud

“Rastrear essa convergência de sensibilidades clássicas e contemporâneas iluminará elementos cruciais dos vários significados de fazer escolhas e da maneira como tais significados mudam no decurso do tratamento psicanalítico” (GREENBERG, 2009. p, 1).

Freud, revoluciona com o que se entendia sobre unidade, que era dominada pela razão através da consciência, apresenta-nos assim, o inconsciente e consequentemente a subjetividade do ser, que mostra que o sujeito não se confunde com o indivíduo. O conceito de ‘sujeito do inconsciente’ nos conduz a questionar a responsabilidade e a implicação do sujeito nas suas escolhas (LACAN, 1985).

Chatelard (2007) reflete no campo da psicanálise, sobre o determinismo psíquico, onde analisa que este determinismo poderia se confundir com a ‘desresponsabilização’ do sujeito diante de suas escolhas. Lacan (1998, p. 873), chama à observação que: A subjetividade é constituída de significantes que vêm do campo do Outro. Assim, por nossa posição de sujeito, sempre somos responsáveis.

O determinismo psíquico

Apesar do determinismo psíquico no enlaçamento do sujeito ao campo do Outro, as contingências oferecem ao sujeito escolhas em sua sincronia temporal. Há aí uma escolha, talvez insondável, do ser em seu posicionamento ante a sua existência”.

Essa afirmação complementa a anteriormente citada: “O inconsciente, mantido segundo nossa afirmação inaugural como efeito de significante e estruturado como uma linguagem, foi aqui retomado como pulsão temporal” (LACAN, 2001, p.187).

Quando tratamos de escolhas de profissão, no atual mundo do trabalho, não podemos deixar de contabilizar sobre os avanços da ciência – como uma das causas para jovens e adolescentes serem afetados, apresentando queixas de variadas manifestações psíquicas diante de suas escolhas profissionais.

A escolha da profissão na adolescência e as expectativas

Dentre os sofrimentos causados pelas expectativas dessas escolhas, cita-se algumas dessas queixas: dúvida, passividade, indecisão, procrastinação, paralisação e outras (COSTA; MEDEIROS; RIBEIRO, 2017).

As autoras ainda explicam que o modelo capitalista, transformou a educação formal em um modo de ‘comércio’, onde cada vez mais se exige especializações e qualificações profissionais, adiando a entrada de jovens e adolescentes no mundo do trabalho.

Mediante essa situação filhos saem da casa de seus pais cada vez mais tarde, gerando dependência financeira e/ou psicológica em relação aos pais, com proporções alarmantes dentro da nossa sociedade (COSTA; MEDEIROS; RIBEIRO, 2017).

A temporalidade de uma psicanálise

Lacan (2001, p.187) continua afirmando que na temporalidade de uma psicanálise, o que muda e o que faz rotação de perspectiva é a relação do sujeito com a castração:

A assunção da castração na experiência de uma psicanálise, de como o ser subjetiva a perda e a morte, a origem e a sexualidade. Castração que se articula à inscrição do sujeito na linguagem e marca a presença da finitude e da morte no homem. Trata-se, assim, nesse movimento da pulsão temporal, de ‘deixar-se perceber’.

De que modo então, fora da consciência, o sujeito em seu surgimento efêmero poderia se responsabilizar por seus atos, por suas escolhas de profissão, de parceiros, escolhas em sua posição sexuada, escolhas na vida, escolhas da sua morte? Uma vez que lidamos com o ser desejante da linguagem, do corpo simbólico e assim pulsional? (LACAN, 2001).

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    O mundo profissional

    Com essas reflexões trazidas por Lacan, analisamos o momento atual onde jovens e adolescentes sofrem uma exigência de estarem muito bem preparados para enfrentar esse mundo profissional, além das interferências de genitores e parentes sobre que profissão escolher.

    E ainda dependentes de seus pais, vivenciando as transformações físicas e psicológicas do ser adolescente, ao mesmo tempo, buscando libertar-se da infância para a entrada na adultez, experienciando esse conflito acentuado pelas perspectivas e pressões capitalistas.

    A partir dessas questões, Dantas (2002, apud Costa; Medeiros; Ribeiro, 2017) comentam, a expressão usada por Freud, “Sua majestade, o bebê”, para referir-se à relação narcísica da criança com os seus pais, poderia ser reescrita sob a forma “Sua majestade, o adolescente”, para dar conta desse sintoma social que o adolescente se tornou ao ocupar o lugar de ‘ideal cultural’ da sociedade do hoje.

    As ideias sociais e a escolha da profissão na adolescência

    Para Coutinho (2009, p. 20, apud Costa; Medeiros; Ribeiro, 2017, p.4), o ideal cultural da adolescência, planejado para a dispersão das referências simbólicas, traz sérias implicações em referência à construção dos ideais sociais dos adolescentes.

    Segundo citado pelas autoras, Costa; Medeiros; Ribeiro (2017, p.4), “sem pontos de ancoragem que propiciem novas identificações, torna-se mais difícil para o adolescente fixar para si próprio um ideal que lhe sirva de referência para encontrar possíveis meios de escoamento libidinal”.

    Freud (1930/1987d), em ‘O Mal-estar na Civilização’, quando associou trabalho a uma condição psíquica de neurose ou de normalidade do indivíduo, ressaltou a sua importância como forma de inserir adolescentes e jovens numa realidade social.

    O investimento libidinal

    Para Freud, o trabalho, além de meio de prender o homem à realidade, é também fonte de investimento libidinal, pois lhe oferece a possibilidade de deslocar uma grande quantidade de componentes libidinais, sejam eles narcísicos, agressivos ou mesmo eróticos (FREUD, 1930/1987d, p. 99).

    É possível afirmar então, que a história de vida do sujeito pode convergir na escolha da sua profissão, conforme ele tenha elaborado sua castração e suas identificações, além de como enfrentou as dimensões paradoxais do seu desejo edípico. Sendo assim, pode-se inferir que o inconsciente e o desejo são dimensões que determinam as escolhas do sujeito, obviamente incluindo as escolhas profissionais.

    Com isso, a Psicanálise reforça a importância da escuta ativa, do adolescente (o eu), diante das queixas trazidas, atentando para seu histórico de vida (Outro parental e/ou social), e as entrelinhas das respostas analisadas.

    Este artigo sobre escolhas profissionais na adolescência foi escrito por JOSIMARA EVANGELISTA DE SOUZA. Resido em Salvador BA , atuo como Psicanalista e em formação na área de Psicologia. Me encontre no Instagram @josimaraevangelistade para conversarmos.

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