Ao longo dos desenvolvimentos psicanalíticos diversas estruturas psicanalíticas são estudadas e descritas para compor a base das psicopatologias, são elas: neurose, psicose e perversão. O estudo dos fatores constitucionais permite identificar o que ocorre nas experiências humanas, suas fixações e traumas dentro do desenvolvimento, o que irá formar os diversos traços de caráter.
O desfecho do complexo de édipo e a dinâmica de relacionamento das instâncias psíquicas permitirão compreender o destino das pulsões e como a elas serão dirigidos os mecanismos de defesa do Ego.
Estruturas psicanalíticas e a segunda tópica
Para uma compreensão dessas estruturas e após toda a descrição da primeira tópica no livro sétimo da “Interpretação dos sonhos” (1900), Freud, em 1923, introduz em “O Eu e o Id” a sua segunda tópica, onde passará a descrever as instâncias envolvidas nesses processos, suas atuações e relações.
O ID é a sede da libido, que será desprendida das funções básicas instintuais, é ele a base e o sistema fundamental da personalidade, nascemos totalmente ID. É a nascente de todos os desejos, sendo irracional e imaturo é também inconsciente e amoral, busca a satisfação o “princípio do prazer”.
O EGO, diferenciado do ID ao longo do desenvolvimento, torna-se a instância psíquica executora da vontade em consonância com o princípio da realidade, é o agente da censura utilizando-se de mecanismos de defesa. É ainda o responsável pelos processos mentais básicos dos pensamentos, da memória, da identidade, da percepção dentre outros. É em sua estrutura consciente e inconsciente.
Estruturas psicanalíticas e o Superego
Segundo Freud, o superego é o herdeiro do complexo de Édipo, é responsável pelo código interno de conduta, representa a “voz da consciência” e a ideação do EGO pela internalização da lei no desfecho de tal complexo. Atua pela relação culpa x autoestima e é parte consciente e inconsciente.
O desenvolvimento infantil
A divisão do desenvolvimento infantil em suas respectivas fases anal, oral, fálica e genital, além da descrição do período de latência – que ocorre entre as duas últimas –, permitirá a Freud descrever e situar o complexo de Édipo que será em seu desenlace o elemento crucial para a saúde mental e para o desenvolvimento emocional do ser humano.
A descrição do complexo de castração, elemento fundamental do desenvolvimento do Édipo, permitirá a posterior compreensão das principais estruturas psicanalíticas e as consequências psicológicas delas advindas. Dentro do desenvolvimento psíquico humano essas estruturas conduzirão as relações dos indivíduos sejam elas intrapsíquicas ou interpsíquicas.
Uma repressão excessiva e uma castração ameaçadora estarão na base da estrutura neurótica, assim, “o grande conflito do neurótico encontra-se entre a necessidade em obter a satisfação do seu desejo (pulsão libidinal) e a impossibilidade de realiza-lo imediatamente (mecanismo de defesa do EGO)” .
A Estrutura Neurótica
O neurótico possui consciência e juízo de realidade, tem um EGO estruturado, e um ID normal, o seu SUPERGO é rigoroso, sofre com sentimento de culpa e tem medo da castração destrutiva.
Os mecanismos de defesa utilizados pelo EGO, na tentativa de evitar os conflitos psíquicos são: recalcamento ou repressão; negação (renegação/denegação/recusa); regressão; conversão orgânica; projeção; deslocamento; racionalização; formação reativa; sublimação.
No quadro geral das neuroses temos: as fobias ou histerias de angústias que se caracterizam pela “combinação de pulsões, fantasias, angústias, defesas do EGO e identificações patógenas” (ZIMERMAN, 1999 apud Módulo III – Curso de Formação em Psicanálise, p 27).
A Obsessão-Compulsão
Tal quadro pode ter tamanha influência nas ações do indivíduo a ponto de bloquear e até mesmo incapacita-lo em suas relações; temos a Obsessão-Compulsão que pode fazer com que o indivíduo possua um quadro sadio e positivo como respeito, moral, disciplina e ordem, ou desenvolver um quadro patológico de rituais obstinados, atos compulsivos que podem atrapalhar e incapacitar suas relações; temos ainda o quadro histérico que varia em suas formas podendo gerar uma formação histérica da personalidade ou acometimentos mais severos que limitarão a vida do indivíduo.
Estrutura Psicótica
Um não reconhecimento da função paterna e seu papel na imposição da lei terá como consequência uma estrutura de personalidade psicótica. Tal quadro advém de “uma perturbação primária da relação libidinal com a realidade, onde a maioria dos sintomas são tentativas secundárias de restauração do laço objetal” .
É um conflito estabelecido entre um EGO desorganizado e fragmentado e a realidade, utiliza delírio e alucinações para a criação de uma nova realidade, para que o indivíduo possa suportar todo o seu sofrimento.
Possui consciência e juízo de realidade desestruturados, o SUPEREGO e o ID são normais, sua estrutura remete a uma organização primitiva com experiências dos desenvolvimentos mais iniciais, tendo por estruturas principais a esquizofrenia, a paranoia e a melancolia. Seus mecanismos de defesa são: forclusão, recusa, dissociação, projeção, introjeção, idealização e identificação projetiva.
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Estrutura Perversa e as Estruturas psicanalíticas
Uma gratificação excessiva à revelia de qualquer interdição fundamentará uma estrutura perversa. A busca de prazer e satisfação estaria vinculada a outros objetos sexuais, a outras zonas erógenas corporais ou subordinadas imperiosamente a situações externas. Encontramos uma consciência e juízo sobre a realidade intactos, possui um EGO estruturado e um ID livre e “normal”, contudo o SUPEREGO é permissivo, mesmo reconhecendo a castração “passa por cima”.
Não possui sentimento de culpa e sofrimento, atua o seu gozo nas transgressões e na dor do outro, com comportamentos antissociais e desvios sexuais. A perversão não pode ser confundida com perversidade. A primeira denota uma mudança de ênfase, sentido e uso, enquanto a segunda denota violência extrema até mesmo diversa do sadismo e do masoquismo.
Dentre as descrições e tipos psicanalíticos das perversões temos: fetichismo, sadismo e masoquismo. Usa como principal mecanismo de defesa a recusa/renegação, recusa em reconhecer a ausência do falo no outro (confronto com o corpo da mãe), pois o perverso realiza seu desejo sem sentimento de culpa e sente horror ao se deparar com a castração.
Considerações finais
Vimos a descrição, o desenvolvimento e as consequências das estruturas clínicas como foram pensadas por Freud. Elas permitiram a organização sistemática e, podemos dizer, pedagógica dos quadros patológicos fundamentais.
Contudo, tais estruturas não são rígidas, ocorrendo casos limítrofes e comunicantes. Nancy McWilliams em sua obra “Diagnóstico Psicanalítico” nos fala: “uma vez que se aprendeu a observar os padrões clínicos que foram estudados por décadas, se pode jogar o livro pela janela e saborear a unicidade individual”.
E referente à utilidade e ao cuidado que se deve ter, continua: “Termos diagnósticos podem ser usados de forma objetiva ou insultante. No entanto, se eu obtiver sucesso ao transmitir as diferenças individuais com respeito, os leitores não irão recorrer aos termos diagnósticos a fim de se sentirem superiores a outras pessoas” (McWilliams, 2014, p. 25).
Referências
LIBIDO, PULSÕES E SEXUALIDADE. Campinas: Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica. Revisão 2020-2021. Disponível em: psicanaliseclinica.com PSICO-PATOLOGIAS I. Campinas: Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica. Revisão 2020-2021. Disponível em: psicanaliseclinica.com McWilliams, Nancy. Diagnóstico Psicanalítico: entendendo a estrutura da personalidade no processo clínico. Tradução: Gabriela Wondracek Linck; revisão técnica: Inúbia Duarte. 2ª. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
O presente artigo foi escrito por Edson Oliveira, estudante de psicologia da faculdade Mauríco de Nassau, licenciado em filosofia pela FAERPI-PI.