Ética e Psicanálise

Ética e Psicanálise: o ofício do terapeuta psicanalista

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Hoje falaremos sobre a Ética e Psicanálise. O ofício do terapeuta ou do analista deve ser permeado de ética, e esta deve acompanhá-lo em sua vida dentro e fora do consultório. Lidar com o ser humano sobretudo em um estado de vulnerabilidade, em que muitas vezes se encontra o paciente/analisando durante a terapia, exige uma atitude bastante respeitosa e ética do terapeuta com aquele indivíduo, independente da abordagem seguida.

Entendendo sobre a Ética e Psicanálise

A ciência filosófica disserta muitas teorias sobre o conceito de ética, mas em sua essência a ética é entendida como um conjunto de atitudes que prezam pelo respeito, verdade e dignidade a si mesmo e a todos os demais. Esse conceito difere da ideia de moral, que é algo relacionado a concepções do que é considerado certo e errado, podendo variar de uma cultura para outra, ou ainda de uma época histórica para outra.

A ética no ofício do terapeuta/analista começa desde a sua formação profissional, na verdade, desde antes, com sua formação enquanto pessoa e ser humano, porém isso abrange questões existenciais e fenomenológicas, que tornaria esse pequeno artigo muito longo, o que não é a intenção. Portanto, partiremos da formação profissional. Para se tornar terapeuta em Psicanálise é necessário que o indivíduo realize um curso de graduação em Psicologia, com ênfase em Psicanálise, ou um curso de formação na referida área, desenvolvido por instituições sérias e reconhecidas.

O curso deve ter como base a Teoria (embasamento teórico e científico dessa área de conhecimento), a Prática (pautada na supervisão e acompanhamento de um analista superior/professor) e a Análise/Autoanálise (estudo e autocompreensão profunda do próprio processo de vida). Após essa etapa, que pode durar cerca de 1 ou 2 anos, é necessário que o analista formado registre-se em uma instituição ou associação de Psicanálise, e sobretudo, continue estudando, agregando conhecimento a sua prática e realizando (auto)análise, pois como em qualquer ofício, a formação de fato é algo contínuo.

Ética e Psicanálise: o início do atendimentos

Quando o terapeuta inicia seus atendimentos é de suma importância que sua prática seja pautada nos seguintes códigos de ética: o sigilo profissional, o respeito à identidade e história de vida dos seus analisandos/clientes, o compromisso com o horário da sessão e o contrato terapêutico. O sigilo profissional diz respeito a confidencialidade que deve haver em todo o processo terapêutico, ou seja, o analista deve manter sigilo sobre o nome e os detalhes de vida de seus analisandos/clientes.

Não é ético que o terapeuta comente sobre as informações particulares e emocionais das pessoas que atende com terceiros, a não ser que seja em caso de palestra, supervisão ou estudos de caso que abordem as situações clínicas, e ainda assim somente pode fazer se houver a autorização por escrito dos indivíduos e usando pseudônimos para referi-los. É de enorme relevância também que o terapeuta respeite a história de vida de cada pessoa que atende, assim como suas escolhas, cultura, religiosidade, identidade de gênero ou orientação sexual.

Não cabe ao terapeuta julgar nenhum desses fatores da vida do analisando/cliente, mesmo que tenha suas próprias opiniões e concepções, o julgamento não é a prática da análise nem de qualquer terapia que aborde o campo psicoemocional. O ofício do psicanalista é auxiliar o seu analisando a descobrir sobre si mesmo ou, segundo os termos da Psicanálise, a tornar consciente o seu inconsciente, e dessa forma compreender melhor sua trajetória de vida, olhando para si e o mundo com um novo olhar, com mais compaixão e clareza.

O compromisso do psicanalista

É igualmente importante que o terapeuta mantenha a seriedade e compromisso com os horários da sessão, respeitando os acordos do contrato terapêutico, que devem ser bem esclarecidos desde o primeiro encontro ou entrevista inicial entre analista e analisando. Não é ético que se altere os horários do atendimento muitas vezes seguidas ou se cancele a sessão, sem razão maior (e esse ponto vale para ambas as partes).

Cobrar de forma justa os honorários dos atendimentos, cujo valor e as possibilidades de pagamento devem ser esclarecidas desde a entrevista inicial, sem um valor exorbitante e tampouco irrisório, pois cabe ao terapeuta (e também ao analisando/cliente) valorizar o serviço que está sendo oferecido. Existem outros códigos de ética recomendados para a prática terapêutica, tanto relacionados a parte do analista como do analisando, porém a maioria deriva desses principais que foram acima mencionados.

Há ainda o código de ética que deve existir entre terapeutas, que visa principalmente respeitar a prática e abordagem de cada analista ou terapeuta, levando em consideração que cada um possui um estilo ou metodologia particular, ainda que seja embasada em uma área de conhecimento específica. Ademais, é sempre válido relembrar o conceito essencial de Ética, como foi citado no início deste artigo, como um conjunto de atitudes que preze pelo respeito, verdade e dignidade à própria vida e de outros seres. E que essa ética perpasse não só o campo profissional, mas o pessoal como um todo.

Conclusão

Na sociedade em que vivemos, urge cada vez mais a necessidade de as pessoas buscarem por tratamento na psicoterapia, pois vem se expandindo a compreensão, tanto na ciência como na sociedade, de que a saúde integra corpo, mente e alma. A Psicanálise é um vasto ramo de conhecimento acerca do ser humano e, portanto, oferece um caminho de grande transformação.

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Como afirma Regina Schnaiderman, a atividade analítica é um processo de autotransformação e apresenta um caminho prático-poético, pois é em si um processo de elucidação, palavra que em seu sentido profundo remonta à ideia de “trazer luz à ação”, e essa ação vem do “Eu”, da consciência. E este é o grande e belo desafio do ofício do terapeuta psicanalista.

O presente artigo sobre Ética e Psicanálise foi escrito por Mayra Faro: Graduada e mestra em Ciências da Religião (UEPA), especialista em Psicologia Analítica Junguiana/Arquetípica (Unyleya/DF), Psicanalista em formação (IBPC). Atualmente reside em Belém/PA. Realiza estudos a respeito da dança circular e sagrada, dançaterapia, mitopoética e o arquétipo do Feminino Ancestral. Email p/ contato: [email protected]

2 thoughts on “Ética e Psicanálise: o ofício do terapeuta psicanalista

  1. Qdo o psiquiatra, psicólogo se envolve com o paciente(a), ele deve abandonar a profissão?

  2. Mizael Carvalho disse:

    Muito bom artigo! Todos profissionais têm que ter seu código de ética. Para que consiga permanecer na área escolhida profissionalmente!

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