Não são mais incomuns, pessoas do amplo espectro do complexo tecido capilar social no Brasil e no mundo inteiro, questionarem qual será o papel da Psicanálise na emergência da pós-modernidade dos tempos líquidos e da disruptura social que já estamos experimentando. Continue a leitura para entender mais sobre a evolução da Psicanálise.
A dúvida que paira sobre pesquisadores, aficionados e dedicados a este campo do saber humano como psicoterapia já consolidada e consagrada com várias escolas e linhas e extensa literatura vai se enquadrar e se moldar nesta nova configuração geopsicossocial.
A evolução da Psicanálise e a pós-modernidade
A pós-modernidade já é uma realidade. As ciências, técnicas, metodologias, artes e saberes metafísicos e filosóficos e os mitos, assim como o conhecimento de senso comum estão sendo compelidos à realizarem auto reflexão para fazer frente a esta nova realidade que se traduz numa verdade social bem concreta e irrefutável.
Uma ponte invisível vem surgindo por onde os campos de conhecimentos terão que passar no crivo desse filtro pós-moderno. Não tem mais escapatória. Será um caminho sem volta como esta sendo a tecnologia, o chip, o algoritmo. Já chamam de era do algorítimo, não tem mais com voltar a vida pregressa analógica saudosista para alguns.
O analógico esta cedendo dia a dia espaço para o digital. Nenhum campo do saber conseguirá ludibriar e sobreviver na pós-modernidade se não for aceito socialmente pelo emergente novo crivo das gerações do novo milênio, alguns chamam de geração Y e seus novos usos e costumes. O surgimento da pós-modernidade dos tempos líquidos e das sucessivas disrupturas sociais no mundo todo colocou em xeque os campos do conhecimento e muitos estão declinando e atingindo um ciclo vital final e novos campos estão surgindo.
A história e o papel da Psicanálise
A Psicanálise não ficou de fora desse arcabouço, nada tem ficado de fora porque o seu objeto é o inconsciente humano. Todas as ciências, artes, saberes, filosofias, religiões, mitos tem protelado enfrentar a ponte invisível e estão construindo tentativas de argumentos, porém, estão malogrando porque não passam no establishment dessa nova configuração.
Muitos atores sociais resolveram partir para o ataque argumento um juízo de valor, portanto, subjetivo, de que não existiria a pós-modernidade e seria um mera ficção, mas fracassaram.
Um dos primeiros campos do saber que enfrentou a ponte invisível foi o da História onde foi obrigada a se olhar no espelho e realizar revisionismos, autocriticas, cancelamentos e revalidações de fatos e atos históricos. Foi um processo doloroso e global.
O fim da História e o processo pós-moderno
Ocorreram expurgos em vários países, mudanças de livros didáticos, entre outros passos rumo a pós- modernidade. O revisionismo foi um dos eixos do processo muito forte. Alguns analistas e especialistas já mencionavam o fim da História como um processo pós-moderno em emergência.
Os críticos negacionistas deste novo momento crucial diziam que seria blefe e senso comum até ser publicado o artigo (1989) e após o livro (1992) ‘Fim da História’ do filósofo e economista Francis Fukuyama (EUA, Chicago -1952/68 anos).
Embora considerado neoconservadora, a obra revolucionou o planeta e foi a nível cognitivo nos establishment global da guerra fria (1947-1992) responsável por dar o empurrão final na queda do muro de Berlim (1989), no coração da Europa, algo impensável na antiga URSS, hoje Federação Russo e tudo mudou. Inclusive a Psiquiatria na Rússia, ela foi obrigada a mudar.
A evolução da Psicanálise e o inconsciente
A Psicanálise não sofreu grande abalos e vamos descobrir o por quê. A partir de 1990, o planeta começa a dar os primeiros passos rumo a pós-modernidade sepultando aos pouco a modernidade. Todos os saberes começaram a ser revisados, muitos validados e outros invalidados em razão do que havia acontecido com a História.
São teorias que não passam mais no crive dessa ‘ponte’ que liga a modernidade com a pós-modernidade. Este processo ainda está em vigência, muito novo, pois não estamos ainda bem dentro da pós-modernidade que foi amplamente estudada pelo filósofo e sociólogo Zigmunt Bauman (Polônia-1925/2017-Reino Unido). As questões levantadas sobre a Psicanálise só poderão avançar se houver a demarcação de seu ponto zero, que é seu objeto.
Afinal, qual seria o objeto (foco central) primordial da Psicanálise ?! Evidente que é o inconsciente! O inconsciente é o ponto chave e de partida para responder todas as demais indagações acima expostas de forma preambular. Porém, vale salientar que o inconsciente já era conhecido antes de Sigmund Freud (1896-1939) sistematizar a Psicanálise.
A evolução da Psicanálise como ciência psicológica
Quando Freud foi cursar medicina tomou conhecimento da tentativa do uso da hipnose para acessar o inconsciente e até tentou usar o método, porém criou o seu próprio método e sistema e denominou de Psicanálise, tratamento pela palavra, usando associações livres. Eis, portanto, o que seria a Psicanálise. Ele descarta o uso da hipnose para acessar o inconsciente usando um novo método que sistematizou.
A emergente Psicanálise se moldou dentro da ciência psicológica como um nova linha de ‘psicoterapia’, ou seja, de tratamento psicológico ao lado das que já existiam e das que posteriormente vieram a integrar o quadro geral das psicoterapias, como Parapsicologia, Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC); a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP); o Behaviorismo; Gestalt Terapia; Psicodrama; Psicologia Analítica de Jung, Psicoterapia Familiar; a Psicoterapia Positiva; a Logoterapia; Psicanalise Integrativa, entre outras linhas.
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Então, o Freud na realidade sistematizou uma nova linha de psicoterapia já aproveitando conceitos existentes numa interface com outras ciências e técnicas, notadamente da Psiquiatria e Neurologia. Este, portanto, seu enquadramento na nova moldura vigente pela interdisciplinaridade.
Freud e a evolução da Psicanálise como psicoterapia
Como ela surgiu foi pelas mãos do Freud em pesquisas com ajuda de seus professores mais imediatos e colegas de trabalho e pacientes, foi agregando valor e incorporando novos conceitos e definições surgindo os divergentes e naturalmente conservando os convergentes. Em todos os processos de saberes em construção sempre existiu e existirão os convergentes e divergentes.
Um dos grandes influenciadores de Freud em suas pesquisas foi o professor Jean-Martin Chacot (1825-1893), que foi um cientista francês psiquiatra e neurologista que já fazia experiências clínicas na tentativa de acessar o inconsciente das pessoas com hipnose. O foco da aplicação da Psicanálise esta ligado ao que a psicoterapia tem de atribuição.
A psicoterapia é um recurso psicológico que busca lidar com o sofrimento humano psíquico e suas repercussões somáticas (corporais) e a Psicanálise passaria então a integrar o rol das psicoterapias com seu método peculiar e específico, concebido por Freud. Era uma nova e emergente opção e alternativa colocada à disposição de interessados em manejar um novo método de acessar o inconsciente e buscar solução de problemas psicológicos tipicamente humanos que não desaparecerão na pós- modernidade.
O método de acessar o inconsciente e a evolução da Psicanálise
Esta é a vantagem diferencial da Psicanálise, que os problemas das relações não vão desaparecer. Haverá novos movimentos e limites com mudanças culturais, hábitos, virtudes e vícios, porém, não vão desaparecer como a busca da felicidade, traumas, doenças, crises de angústias, ansiedades, melancolias, fé, amor, normalidade, mecanismo de defesas, uniões de pessoas, depressões, entre outros temas sociais que não vão desaparecer na pós modernidade.
A Psicanálise passa a ser entendida como um novo sistema de tratamento que visa entrar e sondar o inconsciente, usando uma porta de acesso, no caso associações livres, e não a hipnose; posto assim. O inconsciente passa a ser o objeto por excelência desse novo campo de atuação objetivando trazer a tona, ao consciente, as situações vivenciadas pelo analisando, coisas ou conteúdo existenciais que se acham recalcadas e dar um novo rumo e sentido através de seu entendimento e reelaboração ou também chamado de resolução psíquica.
A aplicação da Psicanálise, portanto, esta ajustada aos objetivos da psicoterapia e vai ser muito decisiva no futuro pós-moderno. Já a Psiquiatria e Psicologia terão problemas com seus objetos. A Psiquiatria já se debate com a Neurologia. E a Psicologia não conseguir firma como objeto somente o comportamento humanos e seus mecanismos de defesa.
A relação analisando-analista na evolução da Psicanálise
Freud entendia que a Psicanálise com seu método inovador conseguiria melhores resultados dentro dos objetivos da psicoterapia com passar dos tempos. E um dos aspectos bem explorado por ele foi a melhoria da relação analisando-analista com o divã. Para ele, a realização de uma ‘anamnese’ bem criteriosa e uma monitoração do perfil de desempenho clinica do paciente, seria muito importante para compor a equação do sucesso no processo todo e estaria ligado ao contrato psicanalítico.
Por fim, resta avaliar como esta a Psicanálise nesta ponte que liga a modernidade em declínio com a pós-modernidade emergente. O conceito inconsciente não foi refutado, continua firme e bem consolidado. A tentativa de negar que inexiste o inconsciente fracassou. As várias contribuições de novos atores e pesquisadores se incorporaram, mas não invalidaram o núcleo da Psicanálise. Novos conceitos foram aglutinados.
O método psicanalítico incorporou mudanças, mas cada vez mais continua demonstrando que é importante face uma sociedade fragmentada onde a farmacopsicoterapia tem sido colocada em xeque. Idem os mecanismos de defesa frente estratégias de coping.
O novo cenário pós-moderno da pandemia
O novo cenário pós-moderno da pandemia colocará a Psicanálise em evidência na fase pós-pandemia e na pós-modernidade dos tempos líquidos. E tudo o que vir será um processo aberto e em construção ainda sem uma previsão.
Muitos analistas entendem que ainda é cedo para se avaliar se a Psicanálise e suas ferramentas serão plenamente validadas e passarão tudo na ponte que divide a modernidade com a pós-modernidade porque estamos apenas dando um primeiro passo nesse particular com relação a Psicanálise.
Outros campos do saber estão nesse processo de dilema com seus objetos, também de transição. Saberes serão validados e outros descartados não apropriados e nem encaixados na nova configuração.
Considerações finais
Algumas vertentes estão sendo invalidadas, como pseudociências ou consideradas apenas uma mera arte cultural e perdendo tração.
E a tentativa de colocarem a Psicanálise num alinhamento e nivelamento com o mesmo status da Psicologia e Psiquiatria como uma graduação autônoma tirando da sua posição de linha na psicoterapia não produziu bons frutos no meio acadêmico que reagiu, mas, não significa que não será validada ao passar a ponte que divide os dois grandes momentos históricos da humanidade e a Psiquiatria e Psicologia venham a ter a invalidação de muitas de suas teorias também.
São vários os tópicos sendo reavaliados, como eletrochoque, manicómios, psico-fármacos, camisa de força, lobotomia, gêneros humanos, enfim, são vários pontos. A pós-modernidade esta intimamente ligada a revolução tecnológica e era do algorítmico.
O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima Oliveira([email protected]), licenciados em História, com PG em História; licenciado em Filosofia; PG Ciências Políticas, acadêmico de Psicanálise e Filosofia Clínica.