Fantasia

Fantasia: significado em psicanálise

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Nem sempre a realidade é como desejamos, pois vivemos em meio a contrariedades, realizações e fantasia. Planos que não deram certo. Amores inacabados ou impossíveis. Demissão do emprego. Falta de dinheiro para comprar um objeto de consumo. Traições. Falsas amizades. Pais repressores ou sem afetividade.

Portanto, algumas vezes, sem ter como suportar a realidade, o sujeito recorre a um mundo de fantasias para tornar a vida mais palatável e menos descartável.

Contos de Fadas e fantasia

Há quem siga fantasiando a vida inteira como forma de se defender das frustrações, fazendo da existência uma eterna mentira. Até um dia, precisar se deparar com as verdades reprimidas no inconsciente.

Na infância, por exemplo, os “Contos de Fadas” iludem as mentes fantasiosas e sonhadoras. Príncipes e Princesas formam o imaginário de adolescentes, dando a impressão de uma vida cor de rosa.

Ao se tornarem adultas, procuraram príncipes ao invés de homens reais, cheios de falhas e contradições como qualquer ser humano. Assim, tornam-se adultos infantilizados.

Inventando paixões e fantasia

O psicanalista Contardo Calligaris diz que “ As pessoas não se apaixonam por pessoas reais, desejamos uma fantasia criada por nós mesmos. Aproveitamos a presença do outro para tirar proveito dessa fantasia.”

Portanto, não amamos seres reais, de carne e osso, mas indivíduos criados na nossa mente, seres perfeitos e relações perfeitas passam a povoar o imaginário dos mais românticos. A poetisa norte- americana, Silvia Plath, nascida em Boston, termina o poema “ Canção de Amor da Jovem Louca “ com um verso onde coloca em dúvida a existência real do homem amado: “ Acho que te criei no interior da minha mente”.

Acostumada a escrever poesias românticas, de desencontros amorosos , suicidou-se em 1963, após ser abandonada pelo marido.

Amor Perfeito e projeções

Nem sempre fantasiar ou romantizar um amor, por exemplo, é a escolha mais acertada. Um dia a fantasia do amor perfeito, cai por terra abaixo. Principalmente porque, como ainda diz Contardo: “O amor sempre foi um baile de máscaras e quando essas máscaras caem nós estranhamos o resultado.” Com o fim da ilusão, o resultado é a decepção. Nem toda decepção, é óbvio, termina em suicídio, mas se deparar com a verdade, acaba levando a frustrações e angústias.

Portanto, a projeção da fantasia no outro, forma uma conexão irreal. Imaginamos uma relação ideal dentro de uma relação imperfeita. É preciso, sim, desejar, criar, sublimar a realidade, muitas vezes em forma de um trabalho criativo, através da arte, mas viver fora da realidade não é a melhor solução para fugir dos problemas. Em um momento ou outro da vida, os acontecimentos recalcados, acabam vindo à tona em forma de psicopatologias.

Em seu livro “ A Fantasia”, o psiquiatra e psicanalista argentino J. D Nasio escreve que nem sempre vemos a realidade como ela realmente é, justamente porque a realidade passa a ser um projeto dos nossos sonhos , das nossas fantasias e dos nossos desejos, nem sempre possível de ser realizado. Ele segue escrevendo que “ Não existe criatura capaz de amar outra criatura tal como ela é.” Então seria o amor uma fantasia das nossas mentes para tornar a vida mais atraente ? Portanto, quando a fantasia desmorona, é preciso criar outra fantasia para seguirmos fingindo e projetando nossos castelos de sonhos em outro indivíduo ou em um objeto prazeroso.

Durante o Sono a fantasia

Porém, estamos, quase sempre, projetando nossas expectativas ao longo da vida, em situações e pessoas erradas. Quase nunca corresponderão as nossas satisfações. As respostas nunca estarão naqueles ou naquilo nos quais projetamos nossas fantasias. As respostas, quase sempre, estão dentro de nós. E muitas destas respostas, aparecem desconexas e em forma de sonhos ao adormecermos.

Assim diz Freud, que os sonhos são a realização de desejos. Desejos desconhecidos por nós. Desejos que nos acompanham, desde a nossa infância. Mas não os percebemos, pois eles ficam recalcados em nosso inconsciente, fluindo em forma de sonho. Os sonhos funcionam como a água. Muitas vezes, a água fica represada no concreto e vai tentando, ao longo dos anos, encontrar brechas por onde passar.

Assim seriam então os nossos sonhos. Presos dentro de nosso inconsciente, eles tentam encontrar um lugar por onde passar. Enquanto não conseguem, geram angústias, dúvidas e sofrimentos. Como estão impedidos pelos nossos recalques de mandar um recado para o consciente, explodem em forma de sonhos. E muitas vezes, esses sonhos nos conectam a realidade perdida em meio as mais delirantes fantasias. Fantasias a respeito de nós mesmos, da nossa realidade ou do outro.

Verdades Ocultas

Pouco a pouco então, os sonhos vão desfolhando as verdades ocultadas pelas fantasias entranhadas dentro de nosso ser. Nem tudo é sempre fantasia. Verdade. Mas enquanto as fantasias existirem em nossas mentes, nos impedem de enxergar situações de cura para a nossa alma. Enquanto não curamos nossas almas, vamos então, nos completando através da fantasia.

Por isso as novelas, por exemplo, fazem tanto sucesso. É uma maneira de fugir da realidade, construindo realidades paralelas. Quem algum dia não se imaginou sendo ou vivendo uma situação protagonizada pela atriz ou ator principal de uma telenovela ? Fantasiar para poder viver. Fantasiar para existir num mundo cada vez mais espetaculoso, porém cheio de imperfeições .

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    A realidade é dura algumas vezes, porém, tomando consciência dela, as imperfeições podem ser buriladas. É no trabalho da desconstrução, através da análise, que vamos encontrar respostas para adquirir o autoconhecimento. E assim nos tornamos seres reconstruídos e integrais.

    Conclusão

    Mais cedo ou mais tarde, nossas fantasias vão cobrar o preço das nossas fugas e das nossas memórias recalcadas, muitas vezes, preciosas, guardadas em nosso inconsciente. Afinal, são essas memórias um caminho, nem sempre de cura, mas de um encontro com nossas verdades interiores.

    Obra de Referência: A Fantasia – J. D Nasio

    O presente artigo foi escrito por Celamar Maione ([email protected]). Bacharel em Comunicação Social – Pós em Direitos Humanos e Psicologia Forense – Autora de dois livros. Estudante de Psicanálise pelo IBPC.

    3 thoughts on “Fantasia: significado em psicanálise

    1. A questão é Amar uma pessoa, com a “Razão junto”. Ainda mais que o Bulbo que regula funções orgânicas é vizinho do Cérebro que “hospeda” a mente! É o que eu reflito: muitas vezes a gente, mesmo sendo homem, tem um “status” de menstruação: corpo se prepara para acolher quem se ama, mas a gente sabe (pela razão) que a entrega pode “machucar” a psique, pela sensação como se diz “de ter sido usado” para o prazer sexual, mesmo que seja com conhecidos! Não tivesse eu “feminilidade”, no “combo”: saber ouvir, carinhoso, afetuoso, talvez nunca teria transado com homem, porque além de cisgênero (fisicamente), também busco me superar enquanto profissional e pessoa, ser Independente! Já, mulheres sem feminilidade (muito pragmáticas), dificil manter um relacionamento conjugal, com homem mais “acomodado”, mesmo que proporcione excelente conjugal!

    2. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom texto! E é a realidade de muita gente que gosta de uma vida de fantasia.

    3. Pois é !
      Vamos fantasiar com a consciência desperta!
      A última de todas as artes!

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