filme Augustine

Filme Augustine (2012): resumo e análise

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O objetivo aqui é apresentar uma análise do filme Augustine (2012), da roteirista e diretora Alice Winocour. Para quem quer imaginar o ambiente acadêmico do final do século XIX, que serviu de pano de fundo para o surgimento da Psicanálise, é interessante assistir ao filme, que tem boa parte da sua trama acontecendo no Salpêtrière, o conhecido hospital psiquiátrico e asilo feminino na cidade de Paris, onde trabalhava o neurologista Jean-Martin Charcot (1825-1893).

Charcot e o filme Augustine

Charcot estudou diversas condições, em pesquisas importantes que o tornaram famoso, como a histeria, que é a matéria desse filme. Charcot é interpretado pelo ator Vincent Lindon, que encarna com seriedade o papel do médico do século XIX preocupado em garantir investimentos para suas pesquisas.

Vemos as aulas ministradas por Charcot, onde ele trata e investiga mulheres histéricas, também usando a hipnose.

No auditório do hospital médicos e personalidades observam Charcot realizar hipnoses e induzir reações, como um espetáculo vivo, estranho e único, dentro de um meio fechado e sem tantas cores, que faz o ritmo do filme.

Entendendo o filme Augustine

Louise Augustine Gleizes foi uma paciente real de Charcot, conhecida à época como A. ou Augustine. Embora poucos tenham tido contato com Augustine, seus ataques histéricos ficaram conhecidos através da imprensa.

Augustine é interpretada pela artista conhecida como Soko. Ela parece no filme como uma jovem francesa, trabalhando como empregada numa casa de bom nível socioeconômico. Vemos nas primeiras cenas do filme que o trabalho parece ter seu efeito psíquico em Augustine.

Ela começa observando, intrigada, um caranguejo tentar sobreviver numa panela com água fervente. Percebe-se a normalização da violência de fundo. O que acontece com um indivíduo na casa, os outros não querem saber.

Os episódios de Augustine

Quando vai servir à mesa numa reunião na casa onde trabalha, Augustine recebe olhares de “interesse” de um homem por ela. Logo depois, começa a ter reações incontroláveis, sua mão treme. De repente, o som do caranguejo sendo comido parece insuportável.

Ela cai ao chão levando parte da refeição dos convidados, tendo convulsões. Uma mulher parece pensar que ela está endemoniada. Um vexame. Depois disso, ela não consegue abrir a pálpebra direita. É levada ao Salpêtrière por sua prima, onde é asilada.

O Salpêtrière aparece como uma visão desolada de vários grupos de mulheres que também precisam trabalhar lá dentro para sobreviver. Elas compartilham alas e dormitórios, ansiosas por encontrarem Charcot, já que somente ele pode dizer o que elas têm.

A insensibilidade no filme Augustine

Um dia, Augustine está na cozinha do hospital e vê Charcot passar. Tem outra convulsão enquanto ele vai embora, falando sobre “a necessidade de carne”.

As suas convulsões chamam a atenção de Charcot, que passa a analisá-la, já avaliando sua insensibilidade no lado direito do corpo.

O filme passa a tratar da trajetória de Augustine como paciente. Augustine começa a falar, mesmo que seja para fazer perguntas que ninguém vai responder.

Histeria

A palavra histeria vem do grego “histeros”, útero. É um termo de Hipócrates para uma condição que ele pensava ser o movimento de sangue do útero para o cérebro, causando desequilíbrio emocional e reações físicas. Assim, acreditava-se que somente mulheres fossem afetadas por ela. Augustine é considerada uma jovem histérica.

Um dia, é levada para o auditório de aulas de Charcot. Sob hipnose, ela tem novamente convulsões, fazendo uma demonstração autoerótica que impressiona. Quando a aula acaba, ela é levada numa maca, e escutamos muitos aplausos no Salpêtrière. Augustine passa a demonstrar suas manifestações histéricas – que no filme incluem contrações e posturas eróticas – para atrair investimentos para pesquisas.

A história da Augustine real revela que ela já havia sofrido diversas agressões, físicas e sexuais, antes de começar a demonstrar conversão histérica e ser levada ao Salpêtrière, em 1875. Não é mostrado no filme, mas com Charcot Freud observará a hipnose sendo usada no estudo da histeria. Ele verificará que a histeria não atinge somente mulheres, mas também homens, e é fruto de conflitos inconscientes, reprimidos. O conceito de inconsciente será desenvolvido por Freud no começo do século XX.

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    Vestido rubro como sangue

    Numa cena, Augustine tem que matar uma galinha, mas reluta. Quando a golpeia e vê sangue correr, desmaia. Quando recupera a consciência, já consegue abrir seu olho direito. Mas a descarga emocional muda de lugar, agora o lado esquerdo é afetado, e sua mão esquerda está paralisada. Entre outros efeitos, seu olho do lado afetado passa a distinguir somente o tom vermelho.

    Charcot cita a natureza amorosa e impressionável de Augustine, e que ela não menstrua, embora tenha se desenvolvido fisicamente para tal. Ela menstruará, mas somente após ter sonhos com “bichos mortos e sangue”. Parece até que algum conflito interno de Augustine se reflete nas suas escolhas no filme.

    Ela aparece em cena com um vestido avermelhado, contrastando com o fundo melancólico e frio do ambiente. Sorrateiramente, ela esconde naquela roupa uma “maçã vermelha”, ainda que Charcot tenha lhe proibido levar o fruto da sua sala. Augustine também “esconde e leva consigo” algo, que estaria na origem da histeria. Ela revive convulsões, porque poderia estar reprimindo um evento ou fantasia, como o “pecado original” ou “fruto proibido”, simbolizado pela maçã, algo insuportável de ser lembrado.

    Jogos inconscientes no filme Augustine

    Após um teste doloroso, Augustine manifesta a vontade de sair do hospital, mas Charcot avisa que ela não conseguirá emprego, portanto, não deve ir. Ela se sente humilhada. Mais tarde, ao cair de uma escadaria, usa involuntariamente sua mão paralisada para se proteger. É quando o inconsciente atua, mostrando que manda.

    Durante uma apresentação importante ela, então, revela aquela sua mão já boa a Charcot. Parece que ali, no meio de tantas pessoas importantes, ela também dissesse que não tem poder para arranjar um emprego, mas dispõe de poder para ajudá-lo ou não, por isso, ele deve lhe dar valor. Talvez uma histérica fosse buscar isso.

    A histérica buscaria o falo, o símbolo do poder, “que falta à mãe” (Zimerman, 2007, p.208) . As intenções inconscientes da histérica no filme também poderiam ser vistas como parte de um jogo de conquistas, a vontade de ser amada, desejada. Em todo caso, naquela apresentação importante, Augustine ainda se predispõe a ajudar Charcot, de quem ganha atenção e a quem no filme oferece de volta o “fruto proibido”.

    A sobrevivência

    O filme mostra uma reconstituição de época, um pouco de uma política científica, e como a histeria era vista, analisada.

    Vemos dois polos: homens que estudam e mulheres histéricas, isoladas pela sociedade. Todos eles precisam sobreviver dentro e fora do hospital, embora não se saiba ainda como lidar com aquelas questões mentais.

    Ao fim, Augustine foge do hospital para tentar sobreviver na sociedade que não entende pessoas como ela.

    Bibliografia

    ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos [recurso eletrônico]: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática/David E. Zimerman. Dados eletrônicos. Porto Alegre: Artmed, 2007.

    O presente artigo foi escrito por Regina Ulrich([email protected]). É autora de livros, poesias, tem PhD em Neurociências, e gosta de contribuir em atividades de voluntariado.

     

    One thought on “Filme Augustine (2012): resumo e análise

    1. Arnaldo Alves Batista da Silva disse:

      Olá..
      Estou fazendo psicologia e precisava de uma ajuda por meio para fazer umas observações desse filme “Augustine”

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