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Filosofia clínica: o que é qual relação com a psicanálise

Publicado em Publicado em Filosofia e Psicanálise

Frequentemente aparece no horizonte dos debates na esfera das ciências denominadas ‘psi’ ou ciências ‘P’ (Psiquiatria, Psicologia, Psicoterapias) uma pergunta que reclama uma resposta que seja compreensível do que trata afinal a Filosofia clínica e qual é a sua relação com a Psiquiatria, com a Psicologia e com todas as Psicoterapias, mas em especial com a Psicanálise.

E nesses debates travados na esfera acadêmica e no tecido social em geral que buscam se esclarecer esferas de conhecimentos, a Psicanálise já assume a sua posição existencial de psicoterapia. Porém, questionam muitos: “É possível a Filosofia ser uma psicoterapia ou é apenas uma filosofia terapêutica?

Relações entre Psicanálise Clínica e Filosofia Clinica

E a Psicanálise seria uma filosofia terapêutica como alguns correntes se posicionam ou é uma psicoterapia ?” Os debates culminam digladiando-se em tese versus antíteses na busca de uma síntese, portanto, são debates dialéticos. E todos devem recordar que muitos confundiam a dialética, que é uma ferramenta de debate, com marxismo, uma das teorias de interpretação da História. Isso já foi superado.

Dialética que foi sistematizada por ‘Hegel’ (Georg Wilhelm Friedrich Hegel, 1770/1831) nunca foi um instrumento marxista. Muito pelo contrário, também foi utilizada por Karl Marx (1818-1883) a dialética como instrumentos em suas análises e a dialética nunca deixou de ser um ferramenta clássica ainda tremendamente atual. Todas as grandes análises e os debates são realizados com base no emprego da dialética, havendo os convergentes e os divergentes.

Pois, o primeiro passo dentro do debate dialético sobre do que seja a Filosofia Clínica e qual a relação ‘em especial’ com a Psicanálise, uma das psicoterapias das muitas que possuímos, além da Psiquiatria e Psicologia, assentou seu foco inicial sobre a visão e percepção de seus objetos. O objeto da Psicanálise é o inconsciente, um fato incontestável e já bem consolidado.

O objeto da Filosofia Clínica

O objeto da Filosofia Clínica não é o inconsciente e sim ‘a condição existencial’. A diferença dos objetos. Porém, antes desta questão com o olhar posto sobre o objeto já indagavam como seriam os ‘sujeitos’ desses ramos do saber psíquico e como eles poderiam ser denominados. A Psicanálise firmou posição de que o seu objeto é o inconsciente e o sujeito é o analisando pelo analista, o par analista/analisando.

Quanto a posição ou classificação da Psicanálise ou posição taxinômica ela buscou o seu ‘lócus’ na moldura geral das ciências, artes, técnicas e métodos como uma ‘psicoterapia’. A proposta e o estatuto da Psicanálise é uma forma de psicoterapia. Dentro da complexidade dos saberes e conhecimentos humanos a Psicanálise se firmou como uma psicoterapia no tecido social e na academia com grande expressão de produção literária.

A Psicanálise já tem assegurado o seu ‘lócus’ (local existencial) como psicoterapia de forma reconhecida ao lado de outras psicoterapias que foram também se consagrando no mundo ocidental e compõem um amplo catálogo como por exemplo Gestalt, Lacaniana, Fenomenologia, Psicologia Analítica, Cognitivista comportamental, Psicodrama entre outras vertentes. Estimam que possuímos no mundo todo, lado ocidental e oriental, em especial a Asia, mais de 100 (cem) tipos de psicoterapias. E mais, de 500 (quinhentos) tipos de filosofias terapêuticas.

Filosofia clínica terapêutica

A Filosofia Clínica é uma filosofia terapêutica. Não é e nunca foi uma psicoterapia. Cada um desses ramos do saber humano tem seus conjuntos de definições, conceitos, teorias, referenciais, técnicas, métodos e glossário peculiares dentro de suas especificidades. Com relação a denominação de seus sujeitos, na Psicanálise usam o termo para o par, analisando/analista como já referido. Alguns usam emprestado do ato médico o termo paciente.

Na Filosofia Clínica temos o par partilhante/partilhando. Não existe o termo paciente e nem analisando ou analista na Filosofia Clínica. Contudo, são ciência são todos considerados ‘investigados’. Também precisamos registrar neste enfoque que para a Filosofia Clínica, em tese, não existe patologia e cura, sim condição existencial e superação da condição pelo restabelecimento do equilibro da condição existencial.

Para a Psicanálise existem as psicopatologias conforme expressas no DSM (Diagnostico das Desordens Mentais) e no CID (Classificação Internacional de Doenças) codificadas onde buscam o prognostico de remissão ou cura. Assim como a Psicanálise procede em termos de não receitar remédios, a Filosofia Clínica também não realiza receituário de nada, mas estuda a psicofarmacologia.

Filosofia clínica e a relação com a psicanálise

A Psicanálise tem sua caixa de ferramentas bem peculiar, e usa muito associação de ideias e interpretação de sonhos. A Filosofia Clínica também tem sua caixa de ferramentas e utiliza os seus instrumentos, que são os exames categoriais pela via da busca da historicidade da pessoa, os dados divisórios, enraizamentos e procura compreender a estrutura de pensamento da pessoa, ou seja, o modo que existencialmente esta pessoa esta no ambiente e os seus submodos, que são as formas de intervenção, ou seja, da pessoa individualmente ou do partilhado que é terapeuta avaliando o partilhante e sua historicidade e recomendando ajustes e correções nos seus submodos.

A Psicanálise também tem o seu sistema próprio de abordagem retirando de sua caixa de ferramentas seus instrumentos e aplicando eles, na entrevista preliminar, que são o estabelecimento do vínculo pelo pacto contratual seja ele verbal ou escrito, pelo recolhimento da demanda e traçando as hipóteses após fazer uma anamnese, que uma entrevista do analista que tem como ponto inicial buscar um diagnóstico e uma resposta aos processos vitais e dar uma direção rumo a remissão ou cura, um prognostico.

A Filosofia Clínica parte da visão do assunto imediato e último que leva a pessoa a procurar a resolução de sua condição existencial, analisa as circunstâncias, o lugar, o espaço, a historicidade, o enraizamento da pessoa, traça dados divisórios e agendamentos mínimos. É a metodologia em síntese da Filosofia Clinica.

A relação com Lúcio Packter

Importante salientar ainda que a Filosofia Clinica cujo seu construto foi sistematizado por Lúcio Packter, década de 1980, enfrenta um embate de grandes críticas por parte de filósofos que não aceitam que a Filosofia seja uma forma de terapêutica, os chamados divergentes.

Na esteira da Filosofia Clinica que tem suas bases e referenciais na Filosofia Prática já proposta por outros pesquisadores, (Lou Marinoff n. 1952-Canadá) e (Marc Sautet. 1949-1998) surgindo novas propostas como de Sociologia Clínica, Teologia Clínica, Engenharia Clinica, Advocacia ou Direito Clínica, a Contabilidade Clínica entre outras vertentes.

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    Muitos desejaram nos seus campos de atuação ser clínicos. Ora, diziam, se a Filosofia pode ser clínica, a mãe de todos os saberes, porque não poderemos ser clínicos também ? Entretanto vale frisar e pontuar bem que nenhuma ciência, técnica, metodologia, arte, filosofia, metafísica ou mesmo mitos, além das diversas psicoterapias se firmaram sem uma interface com outros ramos emprestando seus olhares. A isso se denominou na modernidade chamar de relação ‘interdisciplinar’, que foi insuficiente.

    A pós modernidade

    Surgiu então para solucionar brechas a visão ‘pluri’ e ‘multidisciplinares’, que melhorou muito a relação e interação dos campos dos saberes humanos. Depois emergiu a visão ‘transdisciplinar’ que chegou a propor substituir a pós-modernidade pela transmodernidade que sofreu muitas resistências. Porém, o argumento era de que tudo estava ficando ‘trans’.

    A intersecção transdisciplinar foi uma espécie de coroamento ou a cereja do bolo no epílogo ou declínio da modernidade com o florescimento da pós-modernidade que trouxe consigo para o campo da percepção e visão dos saberes e conhecimentos humanos a interação ‘poli’ e ‘meta’ disciplinares, que é uma das marcas mais fortes da pós modernidade já emergindo também a ecodisciplinariedade vinculando quase tudo a sustentabilidade ambiental que será o grande vetor do mundo pós pandemia.

    E o argumento tem sido considerado extremamente forte deixa claro que sem oxigênio morrerá todo o planeta sem exceção. O planeta precisa ter uma agenda na pós-modernidade do chamado tempos líquidos e disruptura focada na preservação ambiental e todos os futuros esforços precisam convergir para a ecodisciplinariedade porque a humanidade estaria assassinando o planeta aos poucos.

    Considerações finais

    Para muitos analistas a pós-modernidade vai impor ao natural uma expansão das fronteiras dos conhecimentos e uma interação muito forte dos diversos saberes e conhecimentos emprestando seus olhares.

    Então, não existe conflito algum entre as ciências, técnicas e métodos, filosofias e psicoterapias por este prisma do empréstimo dos olhares numa interface poli, meta e eco disciplinar por causa do princípio da sinergia, ou seja, todos devem somar esforços cada qual na sua esfera para a sustentabilidade dos ciclos vitais o que na teoria muitos especialistas maduros já concordam.

    O mundo pós-moderno nós levará a grandes mudanças com a advento das sociedades líquidas, da disruptura e pela emergência era do algoritmo, onde a analógico esta cada dia falecendo dando lugar pleno ao digital e a consciência crítica ambiental. Senão, não sobreviveremos.

    O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima de Oliveira ([email protected]) é licenciado em Filosofia e História. Possui PG em Ciências Políticas, acadêmico e pesquisador de Psicanálise Clinica e Filosofia Clinica.

    1 thoughts on “Filosofia clínica: o que é qual relação com a psicanálise

    1. Edson Fernando Lima de Oliveira disse:

      Caros amigos e amigas do blog, prezados leitores. Vale destacar que pessoas que gostam de ler sobre ‘psicoterapias’, em especial sobre a ‘Psicanálise’, que uma das formas de psicoterapia, entre outras que existem e, que gostam, também, de ler sobre a emergente Filosofia Clinica (1980) possuem um entendimento que o ‘objeto’ da Psicanálise é o inconsciente, concordam plenamente; mas, que com relação ao objeto da Filosofia Clínica seria o ‘pensamento.’ Porém, importante esclarecer bem que a Filosofia Clínica é uma filosofia terapêutica que tem seu foco na condição existencial. Portanto, o objeto da Ficlin (Filosofia Clínica) seria não o pensamento humano, mas ‘a condição existencial’ até porque para a Ficlin não existe analista e analisando, mas partilhante e partilhado e não existe doença e cura e sim, condição existencial e reequilíbrio da condição existencial. Então este, em tese e a priori, é o objeto da Filosofia Clinica. Como surgiu tal questionamento ninguém melhor para responder do que o prof Lúcio Packter que foi quem sistematizou a Filosofia Clínica no Brasil e foi dirigido a ele um e-mail consulta que estamos aguardando. Ele vai dirimir esse pré questionamento com máxima certeza. Foi encaminhado para ele responder obviamente querendo e ele vai responder, um cara muito bacana e gentil, muito instruído e lê muito, e foram duas perguntas, Qual é o objeto da Filosofia Clinica ? na percepção e visão dele, se é o pensamento ou a condição existencial e se a se a FiClin na visão dele é uma filosofia terapêutica ou uma psicoterapia? Na modesta visão deste autor, entendemos que o objeto é a condição existencial e que a Filosofia Clinica não é uma psicoterapia como é a Psicanálise, é; que a Ficlin é uma filosofia terapêutica. Estou no aguardo do professor e tão logo ele se reporte e posicione a visão e os pressupostos dele, vamos publicar o enfoque na forma de um artigo para este conceituado blog. Segue para consideração de todos.

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