Freud e a educação

Freud e a Educação: psicanálise aplicada ao ensino-aprendizagem

Posted on Posted in Psicanálise e Cultura

Neste trabalho, desenvolveremos a relação entre Freud e a educação. Vamos estudar o conceito de educação aplicado sobre a ótica da psicanálise. Tal conceito que se expressa de forma análoga a outras pedagogias.

Freud como educador não teceu uma nova abordagem sobre metodologia pedagógica para o ensino, mas sim desenvolveu a psicanálise como uma ética para uma possível prática pedagógica.

Freud e a educação

Tal questão se faz atual, mas não se trata de psicanalisar alunos dentro da sala de aula e sim de usar a psicanálise como instrumento pedagógico para reflexão sobre atuação do professor na sala de aula. Tal trabalho é uma referência instrucional sobre a obra de Maria Cristina Kupfer: Freud e a educação: O mestre do impossível. Pretendo aqui fazer um apanhado das principais teses da autora e de sua obra como um todo.

Situando Freud como educador

Sigmund Freud nasceu em Freiburg pequena cidade da Morávia na antiga Áustria, hoje situada na República Checa, no ano de 1856, aos 4 anos de idade se mudou para Viena onde passou a maior parte de sua vida, desde pequeno demonstrou habilidades consideráveis a uma grande genialidade precoce. Sua educação foi muito rígida sob auspícios de se tornar uma grande pessoa em sua época. Tal desejo prefigurado a educação de Freud por seus pais o fizeram ser uma alma muito exigente desde sua infância lendo os grandes clássicos de sua época como Goethe, Shakespeare entre outros grandes literatos de sua época.

Ao frequentar a universidade escolheu a medicina como profissão passando por diversos mestres e trabalhos para manter seu sustento como estudante. Entre seus grandes mestres destaca-se Jean-Martin Charcot (1825-1893) onde pode com o mesmo se inserir na clínica das histerias e aprender a hipnose e Josef Breuer (1842-1925) o qual foi precursor do método psicanalítico. Freud para continuar seu trabalho teve de abandonar seus mestres tal como o rompimento com Breuer a respeito da sua tese de que existiria para Freud uma sexualidade na infância.

Freud teve um longo percurso de estudos até o ponto que chegou à conclusão que teria de se tornar mestre de si mesmo ao desenvolver a psicanálise. O mesmo era considerado um mestre rígido e autoritário por muitos, mas esse foi o preço para manter o desenvolvimento da psicanálise. Teve muitos colaboradores no desenvolvimento da psicanálise tal como: Wilhelm Fliess (1858-1928) e Oskar Pfister (1873-1956) mas por vezes era resistente demasiadamente com seus discípulos em vista de não distorcer seus ensinamentos. Freud ao final de sua carreira sob perseguição do nazismo se mudou para a Inglaterra em 1939 onde viveu seu último ano de vida vindo a falecer devido ao seu câncer de boca que desenvolveu durante o tempo.

Freud e a educação: ideias

Freud desenvolveu suas ideias primordiais com Breuer na obra estudos sobre a histeria (1895) ali ficando marcado seu trato com pacientes histéricas (tal nome associado a uma doença do deslocamento do útero) teve pacientes tais como Lucy R. onde a mesma tinha crises de caráter olfativo dado ao odor de charutos e que a mesma crise em verdade se desencadeou pela mesma ser reprimida por seu patrão o qual ela mesma achava-se correspondida (O mesmo fumava charutos perto dela). O núcleo da repressão sexual foi associado às obras de Freud bem cedo tal ideia trazia que todos os fenômenos ligados às patologias mentais eram ligados a um núcleo de ideias formados através da repressão sexual de suas pacientes, tal ideia traz a concepção de que a educação de época de Freud era muito rígida no sentido de boicotar as manifestações sexuais existentes em todos, Freud mesmo via essa educação como ineficiente e prejudicial por desenvolver demasiadamente as neuroses.

Mais tarde em seu trabalho ele percebe que a repressão também seria útil pois a civilização dependeria delas para seu desenvolvimento. A repressão seria fator importante para não formar crianças perversas ausentes de leis e de moral, vendo assim o mesmo preferia um equilíbrio entre a repressão e sua ausência para formar o eu do indivíduo. Dentre as doenças a serem analisadas a histeria foi a privilegiada de Freud que junto com Breuer escreveram um livro juntos: estudos sobre a histeria, nesse a histeria é identificada a partir do recalcamento de ideias (de um trauma) que possuem energia libidinal dentro da psique sendo deslocada para o inconsciente mas mesmo assim não parando de se manifestar através dos sintomas da patologia da histeria que incluía desde paralisia de membros, alucinações, cegueira, vômitos etc.

Diferente dos outros médicos, Freud não estava tão preocupado com a doença em si mas sim com suas origens. Freud discorda de Breuer a ponto de perder sua amizade de que as ideias que eram deslocadas eram de origem sexual um grande choque para toda a medicina da época. Freud acreditava que a repressão dessas ideias se dava pelo fato de que vivia numa época de grande repressão das ideias sexuais. Tal repressão que se dava a moral da época vitoriana de seu tempo. Ideias de impedir práticas sexuais antes do casamento.

Freud e a educação da era vitoriana

A educação da era vitoriana para Freud era a responsável por todos esses complexos mentais aos quais tinha de lidar na sua clínica. Ele assim se vê entre um paradigma pois toda repressão era necessária também para o pleno funcionamento da civilização. De alunos neuróticos com a repressão demasiada poder-se-ia ter alunos perversos onde a moral civilizatória não ocuparia algum lugar. Freud percebe que deve existir um meio termo para a repressão escolar. Freud identificou um fenômeno chamado de pulsões e entre elas as pulsões parciais que as formam.

Tais pulsões são relativas as perversões encontradas na infância que após passarem pelo crivo da moral e dos costumes civilizatórios são deslocadas e investidas de força libidinal destinada às fases de desenvolvimento psicossexual. As parciais início são investidas de caráter perverso onde no caráter oral marcada pela sucção, anal são manipuladas as fezes, a escópica onde olhar para o sexo do outro como voyer, fálica onde a masturbação predomina, todas essas mais tarde constituem o que Freud denomina de pulsão sexual. Freud identificou que as pulsões poderiam ser manipuladas e desviadas para outros focos como na educação.

Tal fenômeno se denominaria de sublimação, nessa encontramos o deslocamento de utilidade de cada pulsão tal como a escópica que se transformaria em vontade de conhecer. A sublimação seria a passagem de algo sexual para outro não sexual tal como o uso da argila para evitar a manipulação das fezes na fase anal. Freud dizia ser a educação uma atividade impossível, pois deve o educador promover atividades inconscientes sendo essas impossíveis, assim o educador pode ter de se lembrar de como era quando criança mas devido a seus recalques já esqueceu de como era ser criança, deve este também promover a sublimação mas sabe-se que isso é uma tarefa impossível.

Os pós Freudianos e a educação

O inconsciente para Freud é resultado da luta entre forças psíquicas, está entre o eu e forças inconscientes. O Eu é o responsável por lidar com o Supereu (superego) e do ID e com o princípio da realidade. Através do inconsciente, ou seja, da parte oculta de nossa psique Freud pode determinar sintomas como os atos falhos que demonstram que não somos donos de nossa consciência e que por vezes ela se expressa sem a nossa permissão.

Existem 3 tentativas de se formular uma pedagogia unida a psicanálise. As primeiras tentativas foram de Oskar Pfister e Hans Zulliger (1893-1965) que praticamente psicanalisavam seus alunos. Pfister era pastor protestante e tentou unir a ação do efeito do psicanalisar alunos de sua instituição com a moral religiosa de seu tempo. Esse criou uma chamada pedoanalise, nesse procedimento seus alunos de sua paróquia eram analisados e enaltecidos com os bons princípios da moral cristã como guia para suas vidas. Hans Zullinger incorporou o uso da psicanálise com seus alunos na escola onde era professor.

Leu bem as obras de Freud e fazia análise, livrou muitos alunos de diversos sintomas e também proibiu castigos severos que de nada adiantavam na educação dos jovens, entre esses o de colocar um infrator numa sala escura sem nada, isso para Zulliger somente reforçava o desejo de infligir regras. As outras tentativas foram de Anna Freud (1895-1982) e de Melanie Klein (1882-1960) de que se poderia educar os pais através da análise para que esses soubessem lidar com os problemas de seus filhos, mas tal tentativa tinha seus problemas ao exemplo do complexo de édipo onde um pai bem esclarecido a respeito poderia se tornar muito rígido ou mesmo ficar sem reação se seus traumas anteriores possam ter feito ter problemas ao passar por tal fase de desenvolvimento.

A autoridade do analista

Ambas autoras se ocuparam com problemas relacionados à educação mas visto que Anna Freud também como Pfister queria submeter a criança a autoridade do analista a fazendo entender que estava doente e que necessitava de ajuda, já Melanie Klein se dedica a uma clínica infantil se debruçando sobre os fenômenos relacionados às fantasias infantis e o ato de brincar como ponte para análise.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    Ambas autoras não se dedicam a uma pedagogia da psicanálise mas ao endereçamento dos pais e professores para ajudar eliminar as neuroses dos alunos problema na escola. Catherine Millot é uma autora contemporânea que se dedica a como seria uma pedagogia psicanalítica.

    Ela destaca que uma relação de análise com alunos seria algo impossível de realizar pelos professores já que não lhes cabe esse papel. A educação e a psicanálise permitem-se a sua coexistência quando a psicanálise é uma ferramenta para perceber-se as relações existentes entre inconscientes de alunos e professores.

    A transferência e a relação com a educação na psicanálise

    O conceito de transferência inicialmente para Freud foi elaborado no livro a interpretação dos sonhos onde o mesmo se referia a um processo de onde se transfere restos diurnos (eventos cotidianos do dia) para o sonho os elaborando sobre outras camadas dando significado e formas distintas da experiência original. Um exemplo claro seria de um homem que sonha com uma mulher toda vestida de branco sob uma imensidão de luz branca, nesse sonho o sonhador se refere a uma antiga namorada chamada Branca.

    O conceito de transferência na obra freudiana recebe um imenso valor dado que esta é talvez o mais importante para que se ocorra a análise. Na análise o conceito se dá de forma que o desejo incumbido a uma pessoa se transfere para outra, se dá de forma que uma pessoa do passado é revista na pessoa do analista criando uma imagem virtual do mesmo. É muito comum em análises ocorrer o fenômeno de transferência erótica onde todo o desejo de amar e ser amado se transfere para a figura do analista. O conceito de transferência pode também ser aplicado no que diz respeito à educação onde o desejo de saber do aluno(a) se transfere para o professor(a).

    É muito comum professores marcarem nossa vida de uma forma que escolhemos quem vamos ser em nosso futuro. O acontecimento de um aluno gostar de uma matéria como filosofia inspirado na figura de um mestre pode fazer com que o mesmo procure cursar filosofia na faculdade. Esse desejo de transferência porventura é dado de modo inconsciente de modo que o aluno o tenha e que não se necessite que o mestre saiba de sua existência sendo a única importância é de o mestre estar na sua posição de transferidor do saber.

    Conclusão: sobre Freud e a educação

    É importante acrescentar a nossa breve aventura sobre a obra de Maria Cristina Kupfer que a tarefa do professor em sala de aula sob os auspícios da psicanálise se faz distinta da maioria do que as pedagogias pregam. A autora teve a pretensão de que de uma forma universal o professor pudesse se embasar na existência da psicanálise e dessa fazer uso dentro da sala de aula divergindo do que seria um setting analítico, tal sentido nos faz questionar qual afinal seria a função do professor sobre uma pedagogia psicanalítica? Tal figura de mestre dotado de tantos saberes psicanalíticos os poderia utilizar de que forma?

    A figura de mestre embasado nos saberes psicanalíticos é uma persona distinta dos outros pedagogos pois este embasado na teoria freudiana do inconsciente agora sabe que seus alunos ocupam um lugar bem diferente e que ele mesmo professor tem seu lugar de desejo do saber. Todo professor implicado nessa ética psicanalítica sabe que existe um desejo de saber de seus alunos e sabe que o inconsciente do mesmo é uma lugar indomável e que age por conta própria, assim o professor orientado psicanaliticamente sabe que todo saber que ele transfere vai ser manipulado e transformado conforme o inconsciente de cada aluno operar.

    Tal posição de mestre o faz aniquilar-se a si mesmo ao tentar obrigar a seus alunos a saberem um determinado conteúdo de forma rígida e singular e sim abre espaço para que seus alunos possam ter suas próprias interpretações.

    Referências bibliográficas

    KUPFER, MARIA CRISTINA. Freud e a educação: O mestre do impossível. São Paulo: Editora Scipione, 1992.

    Este artigo sobre Freud e a Educação foi escrito por JOSÉ ROBERTO ZANETTI SAMPAIO.

    One thought on “Freud e a Educação: psicanálise aplicada ao ensino-aprendizagem

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *