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Psicanálise e Hipnose, sem “versus”, sem X: Psicanálise É Hipnose

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Escrever sobre Hipnose em um portal ou blog de Psicanálise Clínica como aquele do IBPC – que por sinal é o maior do Brasil – pode parecer algo contraditório, e alguns psicanalistas ortodoxos poderão até torcer o nariz. Sem embargo, a própria Psicanálise é, ela mesma, uma forma peculiar de Hipnose. “herege!!”, exclamarão alguns. “Ele blasfema!”, afirmarão outros fanáticos do freudismo radical.

Antes de me apedrejar, porém, tenham calma que já vou explicar. A explanação – ou melhor, a argumentação – passa necessariamente pelo funcionamento psíquico do ser humano, e por uma reflexão sobre o que seria, afinal, essa tal de Hipnose.

Entendendo sobre a hipnose

De acordo com o dicionário online Dicio.com, trata-se de um “estado semelhante ao sono, gerado por um processo de indução, no qual o indivíduo fica muito suscetível à sugestão do hipnotizador”, onde antes do significado, o dicionário sublinha se tratar de algo inerente ao campo (Bourdieu explica) da Psicologia. Ainda, o mesmo dicionário sugere outra definição, complementar à primeira, a saber: “todo estado de passividade semelhante ao do sono, artificialmente provocado numa pessoa pela absorção de produtos químicos ou esp. por meio da sugestão”.

As definições acima confirmam que o impasse, as posições radicais e as divergências de posição se devem à etimologia próprio termo, Hipnose. De acordo com o site www.hipnose.com.br, a etimologia remonta ao grego hipnos = “sono” + latim “osis” = ação ou processo. Trata-se então de algo cuja complexidade é enfatizada até mesmo pela etimologia culturalmente sincrética, ao associar grego antigo e latim. Por outro lado, a definição etimológica é unívoca e, ela mesma aponta para um lugar comum, um simplismo, e algo que, enfim, contradiz a própria natureza humana e, pior, o funcionamento psíquico do ser humano.

Notadamente, os simplismos, as generalizações e os lugares comuns precisam ser superados no âmbito científico, já que a ciência, justamente, serve para a humanidade evoluir de uma forma sistemática e alheia ao “achismo”, à postura acrítica e a mera repetição e reprodução de trivialidades, ou estereótipos que se queira. Quando algo se torna consensual, principalmente em sua utilização corriqueira, tanto no âmbito científico como naquele popular e da linguagem cotidiana, é extremamente difícil sustentar algo contrário à tendência, que no caso específico é a aceitação universal de um termo e sua associação a um estado passivo, que com Anna Freud, remete inexoravelmente para o “entorpecimento” do Ego.

Platão e a hipnose

Afinal, o ser humano precisa de certezas, necessita preencher seu vazio existencial com algumas verdades, por isso é tão difícil contrariar a manada, assim como fora tão bem exemplificado por Platão através da Alegoria da Caverna. Pois é, “o sol é aquele brilho que criaturas amarradas e orientadas para o fundo da caverna enxergam no final da tarde no corrego que atravessa a gruta”. Pelo menos até que um deles se libertar das correntes (vale frisar, imaginárias), sai da caverna e, após um período de cegueira, finalmente entende que a luz vislumbrada pelos colegas acorrentados dentro da caverna não passa de um reflexo. Todavia, “vai explicar aos demais…”! O risco é ser moído, ou apedrejado, linchado, enfim.

O Mestre dos Mestres – como é chamado pelo psiquiatra e psicanalista Augusto Cury – sabe muito bem disso, sentiu na pele. Ele veio bater de frente com uma corja de fanáticos, obsessivos-compulsivos, que conheciam o texto sagrado de cor em todas suas letras, palavras, versículos e períodos, mas eram totalmente incapazes de ler nas entrelinhas (que é o mais importante), simbolizar, e principalmente, estar preenchidos de amor em seu coração. Duros como as pedras que atiravam em quem ousasse contrariar a Lei de Deus. Bom, eles não sabiam que Deus é amor, como escreve João na que, segundo o pregador indiano Pe. Rufus Pereira, é o menor sermão da história, formado por apenas três palavras.

Pereira escreveu uma tese de doutorado sobre aquele versículo do “Apostolo amado”. Uma tese sobre três palavras? Sim. Fechei parêntese, voltemos para a Hipnose, mas antes passemos pela Psicanálise (E são duas coisas separadas? Segundo os hiper-analíticos, que gostam de separar até aquilo que é inseparável, sim!). O ser humano precisa de certezas, de postulados universalmente aceitos, como o fato da Hipnose se tratar de algo passivo, e ligado ao sono. Por que o ser humano precisa dessas “verdades”? E por que as reproduz de forma acrítica, inclusive dentro da Academia? Medo…“Horror vacui”, medo do vazio, medo do desconhecido…enfim, medo da morte.

Medo da morte

Medo da morte ENQUANTO desconhecido. Daí a alegoria da caverna. Conforta manter certas crenças (e lembremos, crença é distinto de Fé). Os acorrentados do antro platônico sentem certo prazer (mórbido, sim senhoras e senhores) em “achar” que o sol é aquele reflexo no córrego que perpassa a guarida. Errado, mas…sendo lugar comum…deixa quieto! Melhor do que ser moído. Miguel de Cervantes e seu Dom Quixote de la Mancha mandam lembranças! Até mesmo minha mente altamente associativa e um tanto digressiva está me impelindo para chegar ao ponto, então tá, me absterei de abrir ulteriores janelas ou parênteses, pelo menos durante as próximas duas laudas. Bom, vou tentar, mas antes, só mais uma, prometo!

O símbolo (ou mesmo arquétipo) que define o funcionamento da minha mente é a Matrioska. De acordo com o site www.etimologia.com.br, símbolo tem a seguinte derivação, ou melhor, derivações: “Evidenciado no latim como symbŏlus, sobre o grego sýmbolos, formado pelo prefixo sin-, em referência a articulação grega syn-, que indica a ideia de encontro ou união, baseado no indo-europeia *sun-, interpretado como o conector com, e -bolo, associado ao verbo ballein, que se refere a lançar ou arremeter, com raiz no indo-europeu *gwele-, por lançar”. Enfim, símbolo é algo que agrega, que “lança junto”.

Nesses termos, é algo que caracteriza. Minha mente funciona assim: é a coisa dentro da coisa, que dialoga com a coisa, e claro, com a sobrecoisa. Daí a Matrioska. Mas…e a Hipnose, Riccardo? Sim, a Hipnose! Hipnose é um estado da mente, é algo inerente ao funcionamento de nosso aparelho psíquico. Não há Hipnose sem transe. O transe é a “conditio sine qua non” da Hipnose. O que falta explicar para os acorrentados da caverna é que esse processo psíquico ocorre…sem hipnotizador. Nesse momento tive um insight e, finalmente, compreendi em um nível mais profundo o filme de David Lynch chamado “Mulholland Drive” (título original, que em português foi lançado como “Cidade dos Sonhos”). Enfim, “no hay banda, no hay orquesta”.

A hipnose e a Psicanálise

Nós nos autohipnotizamos em continuação, “ad nauseam”, “ad infinitum”! Como há psicanalistas raiz e fanáticos da ortodoxia freudiana, há hipnoterapeutas um tanto radicais. O professor e hypnotist inglês Dan Jones (2014), junto ao qual estou completando mais uma formação em Hipnose, no caso, em Hipnose Ericksoniana, afirma que toda a gente, sempre, está em transe. “Terra em transe”, diria Glauber Rocha! Pois é. Discordo desse meu teacher (Dan Jones), explico brevemente: nem sempre estamos em transe. Sim, porque o transe, assim como o próprio Dan Jones sustenta, é um processo atrelado a um estado de profunda concentração.

Com Jones, o transe é inerente ao estreitamento do campo de atenção. Quanto mais foco em uma coisa só, mais intenso será meu transe. Esta mesma ponderação é reiterada pelos demais professores junto aos quais tive o privilégio de aprender sobre a arte da Hipnose Clínica, a saber: de Scott Jansen (Inglaterra) a Biodun Ogunyemi (Escócia), e passando pelos brazucas Lucas Naves, Jefferson Amorim, Tomás Corrêa e Edson Irala. Se a ocorrência do transe é a condição fundamental da Hipnose, e se ele requer o estreitamento da atenção para um único objeto (sensação, palavra, situação…), então, evidentemente, nem sempre estamos em transe.

Mas com frequência, isso sim. Entramos em transe inúmeras vezes por dia, e não sabemos. Não sabemos, devido ao fato de não sabermos o que é Hipnose, e o que é transe. Ignorância nossa, enfim! Toda vez que entramos em transe é como se tudo parasse, simplesmente porque focamos em apenas uma coisa naquele momento. Entramos em transe ao praticar um esporte, lavar os pratos, dirigir o carro, fazer amor, estudar e…escrever, que é o que estou fazendo nesse momento. Lamento por desmistificar, por revelar que Hipnose não é só aquela fascinante prática exercida por um hipnoterapeuta, seja com um pêndulo, ou por meio de técnicas de indução.

O hipnoterapeuta

Hipnose é algo que ocorre em nosso dia a dia, sem hipnoterapeuta e sem indução. Dito isso, quanto à hipnose terapêutica, Dan Jones afirma que ela existe em praticamente todas as formas de psicoterapia, inclusive na Psicanálise e, no caso específico: a livre associação de ideias é uma forma de hipnose, assim como a interpretação dos sonhos. Trocando em miúdos: toda vez que, com ou sem a ajuda de outrem eu consigo focar intensamente em algo, estou entrando em um estado de transe e, portanto, trata-se de Hipnose.

Logo, associar livremente é uma forma de hipnose, pois estou sendo levado a olhar dentro de mim, e não para o psicanalista que, supostamente, está por trás do divã. Ao interpretar meus sonhos estarei focando para o meu mundo intrapsíquico e, eventualmente, estarei criando associações entre o dentro e o fora, meu mundo inconsciente e aquele consciente, assim como entre o eu e o não-eu, ou mundo externo que se queira chamar. Está explicado?

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    Dan Jones destaca que o nosso Pai psicanalítico (Herr Sigmund Freud) se sentia desconfortável com a que hoje chamamos de Hipnose Clássica, aquela atualmente atribuída a Dave Elman, embora antes dele teve inúmeros outros hipnoterapeutas que abriam o acesso ao inconsciente por meio da indução a um estado semelhante ao sono. Freud provavelmente teve algumas frustrações. De fato, há pessoas não “hipnotizáveis”, muito resistentes. Há pessoas que, mesmo aplicando uma técnica de indução de maneira impecável, nos olharão com os olhos bem abertos e pior, nos dirão: “e aí?”. Claro, isso mata um hipnoterapeuta, sua autoestima e sua autoridade. Ou não!

    Uma conexão profunda

    O hipnoterapeuta precisa entender que a “culpa” não é sua. Para que a Hipnose ocorra, é preciso se ter estabelecido uma conexão profunda, pautada na confiança e no respeito recíproco. A Hipnose via indução é, praticamente, um faz de conta. O paciente precisa se entregar, é necessário que ele ou ela entenda que o processo objetiva o seu próprio bem. Se se entregar, o hipnoterapeuta poderá acessar sua mente subconsciente e, assim, terá como reprogramar. A indução visa, justamente, alcançar um estado que Dan Jones chama de “estado de aprendizagem ideal” (optimal state of learning).

    Sim, porque uma vez que, independente da técnica aplicada, o hipnoterapeuta consegue acessar a parte “submersa do iceberg”, é ali que encontra os programas que fazem funcionar (ou não funcionar) o paciente. Nosso comportamento é um reflexo das nossas crenças, que por sua vez podem estar atreladas a traumas, reais ou imaginários. Como bem sabemos, a mente inconsciente (pré-consciente + inconsciente propriamente dito, com a primeira tópica freudiana) não discerne entre realidade e fantasia.

    Por isso que estamos cheios de crenças que nos limitam, nos travam, nos atrapalham. Aquelas crenças não passam de fantasias nas quais nossa mente profunda em certo momento começou a acreditar. Por meio da hipnoterapia é possível retirar “softwares” mentais que nos limitam e trocar por outros “softwares” que nos fortalecem e nos permitem viver uma vida plena e abundante. Afinal, tudo começa em nossa mente e é interessante observar que a chamada Lei da Atração é confirmada tanto pela Neurociência, como pela Bíblia Sagrada.

    A hipnose e a teoria psicanalítica

    Mais uma vez citarei o Mestre dos Mestres: “Por isso (…) crede que o recebestes e será a assim convosco” (Marcos 11, 24) Vale frisar que o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Ele está utilizando, em uma única frase, tempos verbais que remetem respectivamente para presente, passado e futuro. Notadamente, para quem estuda a Teoria Psicanalítica, o inconsciente não distingue entre momentos cronológicos, quer dizer, ele é atemporal. O tempo não existe, ou melhor, é anulado e, como a própria frase do Cristo ressalta, só existe o presente, porque passado e futuro se anulam.

    Sem embargo, é preciso efetuar um esforço criativo e sentir na pele que aquilo que queremos já aconteceu. Demorou, como diz o tal do paulista, e querendo citar um cantor célebre daqueles arredores, o título de certa música do Criolo Doido é, justamente, “Demorô”. Demorou, enfim, está aí explicado algo que vai além até mesmo da causalidade que, supostamente, permeia e sustenta a Lei da Atração: Causalidade explica em parte. Mas há algo mais, e Yeshua explica: sincronicidade.

    Presente + passado + futuro = presente. Sejamos redundantes: “Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede (presente) que o recebestes (passado) e será assim convosco (futuro)” (Marcos 11, 24). Demorou! A fé é a chave. É preciso ter 100% de convicção, assim como nas afirmações que sugerimos aos nossos pacientes em estado de Hipnose. Se for 99% não funciona. É como uma chave que não abre. Para abrir, a fé (convicção) deve ser 100%. Convicção gera disposição.

    A fé cura

    Dito, explicado e demonstrado que Hipnose é uma ocorrência extra-terapêutica, isto é, cotidiana, por sua vez atrelada ao estado de transe, falta frisar que esse estado não ocorre apenas quando estamos de olhos fechados. Assim como afirma o meu professor Biodun Ogunyemi, um dos maiores hipnoterapeutas do Reino Unido, “pedimos para fechar os olhos apenas para limitar as distrações”. Mas o transe não ocorre apenas quando estamos de olhos fechados. O chamado “daydreaming” (sonhar de olhos abertos) é um exemplo.

    A prática corporativa chamada de brainstorming é outro exemplo. Quando você deixa fluir sem censuras, estará indo além da mente consciente, racional, analítica, crítica e julgadora. Lamento ser redundante, tenho ciência de ter feito essa mesma citação em diversos outros artigos, mas não resisto…quando vamos além da mente consciente, estaremos praticando aquela linda e tão significativa asserção lacaniana: Penso onde não sou, logo existo onde não penso. Minha prática clínica enquanto psicanalista e hipnoterapeuta – sim, os dois, porque em realidade não se tratam de coisas distintas! – me permite afirmar que por trás de muitas perturbações e aflições psíquicas há, justamente, uma mente racional hiperativa e despótica, pois ela quer, de fato, assumir o papel de centro de nosso eu, e como bem falara Lacan, não é, já que existo justamente onde não penso!

    A mente racional é uma importantíssima ferramenta, mas é isso é só isso, uma ferramenta. E ferramenta é um instrumento, enfim, algo que precisamos utilizar…e não sermos utilizados por ele. O problema começa na educação formal e, apesar do mundo corporativo e empresarial já ter ciência da preponderância da inteligência emocional sobre aquela racional, a escola continua insistindo em criar seres desequilibrados, hiper-mentais, seres centrados na mente pensante, seres que, com Jaques Lacan, não são, porque pensamos onde não existimos!

    Hipnose clínica

    Precisamos realçar, com Dan Jones, que há dois tipos de transe: um transe mais leve, onde a atenção é compartilhada com outros “objetos”; e um transe profundo, onde a atenção é completamente dirigida para um único “objeto”. No âmbito terapêutico, a psicoterapia comporta auxiliar o paciente a dirigir essa atenção para dentro de si (“inward”). Já que a Hipnose ocorre em continuação em nossas vidas – fico rindo quando ouço pessoas que dizem ter medo de serem hipnotizadas! – e o transe é um processo psíquico peculiar do ser humano, vale enfatizar que esse transe acontece a partir de inúmeros objetos-estímulos.

    Com Dan Jones, podemos enumerar os seguintes: emoções (raiva é um estado de transe, assim como o amor ou mesmo a tristeza); meditação e relaxamento; sacadas e insight, entre outros. Quanto à Hipnose clínica, Jones (2014) sustenta que há inúmeras maneiras para induzirmos o estado de transe, a saber:

    1. Guiando a atenção, sendo que o autor destaca que não é tão importante, para o hipnoterapeuta, onde a atenção começa, o que importa é guiar essa atenção rumo a uma direção que possa, de fato, ajudar o paciente;
    2. Focando a atenção, a questão é qual transe e o quão profunda ela vai ser, mas o objeto pode ser definido pelo hipnoterapeuta, sendo um pensamento, ideia, sentimento…;
    3. Ritmo, o que remete a duas questões: a primeira é que o terapeuta utiliza, ele mesmo, um ritmo, além de um tom de voz, notadamente hipnótico. E a segunda é que podemos utilizar sons e batidas. Vou abrir um breve parêntese, citando o psiquiatra Dr. Stanislav Grof, que desde a década de 1960 trabalha com a indução de transe através de batidas tribais e outras, e associa o uso de LSD, claro, com finalidades terapêuticas e sob a sua estreita supervisão. Além disso, a respiração e a batida do coração também são inerentes ao ritmo, e nós, hipnoterapeutas, podemos induzir o paciente a respirar de uma certa maneira, acelerando ou reduzindo o ritmo da respiração e, também, a do coração;

    Toque

    Tocar gentilmente determinados pontos pode ajudar o paciente a focar sua atenção em algo que vai trabalhar interiormente. Além disso, por exemplo, em uma regressão, ao vermos a paciente perturbada e profundamente aflita, na medida em que ela revive certa situação traumática, iremos imediatamente guiá-la para um contexto imaginário de amparo, sossego e proteção, e é aconselhável apoiar a mão no ombro dela, de maneira respeitosa, mas ao mesmo tempo, empática. Esse toque a fará sentir melhor, proporcionando um conforto imediato.

    O toque é peculiar de linhas psicoterápicas quais a bioenergética, entre outras. No caso da Hipnose, vemos que o ramo chamado de Mesmerismo (e fascinação) trabalha também com o toque, por exemplo, da região do plexo solar, que é considerada como um segundo cérebro, já que lá jaz a esfera emocional, e há uma ligação com o cérebro através do nervo vago.

    No Youtube é possível assistir a execução de técnicas de indução mesmérica por parte do Dr. Marco Paret, onde além de praticar a fascinação pelo olhar, como Paret aprendeu com, entre outros, seu grande professor Erminio di Pisa, o hipnoterapeuta também pratica rápidos toques gentis nos pacientes;

    Movimento, Imobilidade, Memória

    Nesse quesito, vale mencionar a prática hipnótica oriunda da cultura Sufi e praticada pelos dervixes, que costumam redopiar em rituais específicos visando a união com o Divino. Eles, de fato, entram em transe profundo por meio do movimento repetitivo e circular.

    Jones sugere que ao pedirmos para alguém que costuma gesticular muito para falar sem se mexer, essa pessoa entrará em estado de transe.

    Memória: quando alguém recupera alguma memória, especialmente se ligada a alguma emoção intensa e profunda, esse alguém estará interiorizando e, logo, em trará em transe.

    Imaginação

    Tanto faz, segundo Jones, se a pessoa for solicitada a imaginar algo inerente ao seu problema, a solução, ou mesmo algo alheio a ambos, na medida em que a prática imaginativa é algo que leva a pessoa à interiorização. Vale frisar, nesse ponto, que a imaginação e criatividade são algo inerente à esfera espiritual, que é a camada mais profunda do ser humano (se enxergarmos o ser humano como uma cebola, teremos as seguintes camadas: o corpo, a mente intelectual, a esfera emocional e, enfim, o núcleo, que é a esfera espiritual, onde se encontra a alma, que é a essência da pessoa, contendo seu propósito de vida e sua real sabedoria.

    Até Freud, supostamente ateu, tanto falara sobre o fator anímico, reconhecendo sua importância para o equilíbrio psíquico da pessoa). Finalmente, podemos resumir, com Jones, que Hipnose é a arte de guiar o transe e, dessa forma, interagir com o inconsciente da pessoa. Para tanto, existem inúmeras linhas e escolas de hipnoterapia, e que, resumidamente, vão da prática da indução hipnótica direta àquela indireta. O uso de indução hipnótica direta ocorre tanto dentro da escola clássica atribuída a Dave Elman, como, ao menos em parte, na escola Ericksoniana.

    O psiquiatra Dr. Milton Erickson, notadamente, costumava utilizar metáforas e histórias – material apreciado pelo nosso inconsciente – e dessa maneira, ele praticava um tipo de Hipnose predominantemente conversacional. Quando induzia, Erickson o fazia de maneira mais leve, trabalhando em uma frequência de ondas cerebrais chamada de estado Hipnoidal. Quer dizer, ele não costumava induzir o paciente a entrar num estado sonambúlico. Todavia, há relatos, como aquele do hipnoterapeuta escocês e meu professor, Biodun Ogunyemi, de que “ninguém queria apertar a mão do Dr. Erickson, já que ele colocava todo mundo para dormir!”

    Transe hipnótico

    Basicamente, uma das maneiras de provocar o transe hipnótico é praticando uma quebra de padrão, isto é, algo inesperado, que produz uma situação de confusão mental no paciente, que consequentemente trava a mente consciente e suas resistências. Dr Erickson aproveitava dessa peculiaridade humana e, ao supostamente querer apertar a mão de alguém, ele agarrava gentilmente a mão da pessoa com a outra mão, aplicava uma técnica de indução e dava o comando: “dorme!”.

    Vale frisar que, mesmo dentro da linha conhecida como Hipnose Ericksoniana, há algumas vertentes distintas. Nesse contexto, apenas para concluir esse artigo e fechar o círculo que abri nas primeiras linhas desse “paper”, destacarei uma delas, que é ensinada pelo meu professor Scott Jansen (também um dos maiores hipnoterapeutas do Reino Unido) e por ele chamada de “Emotional trance method”. O método de Jansen é emblemático, e mui pertinente nesse contexto, pois é o real ponto de encontro e equilíbrio entre Hipnose e Psicanálise (por isso considero as duas como complementares).

    Segundo Jansen, a indução é prejudicial, porque ela pode provocar um sentimento de responsabilidade exacerbada no hipnoterapeuta, ou seja, o terapeuta acaba sentindo o peso de ter que “curar” o paciente. Isso gera certa ansiedade, sem contar que, como nós psicanalistas bem sabemos, a cura trata-se de um processo interior, quer dizer, ela brota de dentro do paciente, sendo que, portanto, nós não somos bem “curadores”, e sim, “facilitadores” do processo de cura que é ativado dentro do paciente. Scott Jansen propõe uma metodologia menos interventiva e fundamentada na mesma verdade sustentada por Dan Jones: Hipnose é um processo que ocorre frequentemente em nosso dia a dia, e sem a presença do hipnoterapeuta.

    Um momento inconsciente e a hipnose

    E claro, ela ocorre por meio do transe. Já que entramos em transe por nós mesmos, propõe Scott Jansen, então não há necessidade de induzirmos os pacientes. Explico melhor: em algum momento o paciente manifestará, por ele mesmo, algum sinal de transe, que Jansen chama de “momento inconsciente”. A sacada desse meu professor é a seguinte: ao invés de induzir, observo o paciente e, assim que o momento inconsciente se manifestar, farei de maneira a enfatizar esse momento, dizendo algo como “olha só”, ou “está acontecendo”, ou ainda, provocarei o paciente fazendo-lhe notar seu gesto inconsciente e dessa maneira o levarei a tomar consciência de algo inconsciente inerente ao seu Eu.

    Enfim, a finalidade é aproveitar a chance oferecida pelo “momento inconsciente” para colocar o paciente em contato com seu próprio inconsciente. É criar uma circunstância e deixar que o paciente encontre as respostas dentro de si. Ou melhor, é ajudar o paciente a, com Jung, “integrar a sombra”. Nosso papel, segundo Scott Jansen, é o de amplificar algo que já ocorre no paciente sem a nossa intervenção. Quando aquilo ocorre, nós apenas cutucaremos o paciente de maneira que ele interiorize mais e mais, até que ele, parafraseando o filme Matrix (o primeiro, o melhor…) “veja por si só”, ao deixar aflorar outros conteúdos inconscientes até enxergar, de fato, o “desenho por completo”.

    E é isso aí, o processo de cura está ativado, enfim: “les jeux sont faits”, “bingo”, “kaputt”, “auf Wiedersehen”! Fico aqui me questionando sobre a razão pela qual, após escrevermos um artigo, precisamos fazer uma conclusão na qual, resumidamente, repetimos aquilo que já temos falado. É algo didático, sim, mas pedante! Mas tá bom, vou ser disciplinado… Nesse artigo desmistifiquei a Hipnose e o chamado transe, expliquei que se trata de um processo que ocorre em nossa vida cotidiana, e diversas vezes por dia, fato pelo qual a chamada Hipnose não é apenas aquela prática através da qual um terapeuta coloca seus pacientes num estado sonambúlico, pautado no entorpecimento do Ego.

    Um estado psíquico

    Hipnose acontece diariamente sem hipnoterapeuta, e transe é um estado psíquico que não acontece de olhos fechados! O hipnoterapeuta é alguém que, para auxiliar um paciente a reprogramar certos padrões de comportamento atrelados a determinados estados de ânimo, induz o paciente, ou aproveita sua “Hipnose natural” e, por meio do “estado ideal de aprendizagem”, pode atuar como um engenheiro de software que remove um programa disfuncional ou perturbador e o substitui por outro benéfico para a vida daquele sujeito.

    Já que o nosso comportamento depende de nossa mente subconsciente e das crenças que ali estão armazenadas, por meio da Hipnose Clínica é possível substituir crenças limitantes por crenças fortalecedoras. Da mesma maneira, é possível ajudar a pessoa a abandonar vícios pautados em automatismos (por sua vez oriundos de traumas reais ou imaginários), ao lhe oferecer, como dizia e fazia o Dr. Milton Erickson, um leque de possibilidades outras, de modo que o paciente acaba se convencendo, inconscientemente, de que pode soltar, deixar ir, deixar desmoronar a estrutura psíquica mórbida, que estava sendo fomentada e sustentada pelo chamado ganho secundário.

    Tratando-se, afinal, de ferramentas que nos ajudam a ajudar os nossos pacientes a viverem melhor consigo e com os o mundo exterior – isto é, com o não-eu – pessoalmente me declaro psicanalista e hipnoterapeuta, hipnoterapeuta e psicanalista. Lamento pelos ortodoxos e fanáticos de plantão. Expliquei o porquê nesse paper e finalizo ressaltando que, afinal, o que conta é o bem estar do paciente, quer dizer, a evolução de seu quadro clínico. O resto é só blá blá blá…isto é, vaidade!

    O presente artigo foi escrito por Riccardo Migliore (PhD). Psicanalista Clínico filiado pelo IBPC e filiado ao mesmo Instituto. Pós-graduado em Psicanálise. Master em Hipnoterapia. Atendo presencial na Clínica Espaço VC de Campina Grande, e online. Cartão de visita digital: https://taggo.one/institutoportaldaalma

    2 thoughts on “Psicanálise e Hipnose, sem “versus”, sem X: Psicanálise É Hipnose

    1. Edson Fernando Lima de Oliveira disse:

      Li este enfoque,(artigo) e o tema é instigante. Porém, não partilho da premissa de que a ‘Psicanalise seja hipnose’. O autor expressa, Psicanálise é hipnose. Não partilho com base em S Freud(1865-1939) que tentou usar a ‘hipnose’ para acessar o ‘inconsciente’ e depois ele descartou e buscou outro método de acesso, focado em atos falhos, lapsos, chistes. sonhos, reações, mecanismos de defesa e tudo mais. Ele usou outro método de acesso ao inconsciente. Existe ainda a hipnose usada por muitos. Mas a Psicanálise é uma teoria, arte, método e técnica de atuação na investigação dos processos psíquicos inconscientes, que tem repercussão na vida psico-emocional singular e busca com sua técnica própria interpretar os transtornos e conflitos mentais internos e os conexos,(ligados a externalidade), balizados pela fala, associando palavras e ideias pela via cognitiva. Ela é arte porque usa a arte, tem gente que fala através das arte.Tem pessoa que mandam sua mensagem, seu pedido de apoio ou mostram algo somente pela arte em suas várias formas. A Psicanálise é um método investigativo, é uma técnica terapêutica com luz própria, visão bem solo, linha própria e é uma teoria e arte porque depende da linguagem. A hipnose é apenas um dos meios de tentativa de acesso ao inconsciente. A única coisa que não concordo e não usar remédio quando necessário. Muitas vezes tem que usar remédio em certos casos. Isso vi na prática que tem casos que é preciso do remédio mas com muito critério. Interessante o enfoque porque estimula o debate e a discussão.

    2. Noutro site até de Psicologia, um paciente trouxe a questão de ter ficado sonolento e não se lembrar da sessão e que a psicóloga não lhe explicou o motivo do ocorrido. Sutilmente o psicólogo, do site, sugeriu ele buscar fazer sessões com outro profissional! A cautela que devemos ter, em especial, é em ambientes com mais pessoas, estarmos “sempre alerta”. Tem acontecido quando chego ao prédio que moro, do porteiro (diurno) dar um “bloqueio” em minha mente, quando estabeleço comunicação com quem esteja na portaria com ele, como aconteceu na 4a. feira, depois de cumprimentar o colega dele (noturno) que já havia chegado. Depois de cumprimenta-lo tive dificuldade em fazer a pergunta se ele já tinha feito café (chega mais cedo e prepara café, para eles)! Ainda pensei como há muitos vizinhos idosos, quantos podem já ter passado por isso, pensando tratar-se de falha na memória ou da fala! Por isso, a cautela de quem tenha mediunidade ou vidência em nunca se descuidarem em ficarem “vulneráveis”! Nunca se imagina que quem deveria zelar pela nossa segurança, por exemplo, poderia estar interessado em deixar a nossa mente em “baixa frequência”.

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