limites para crianças

Como estabelecer limites para crianças no século XXI?

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Hoje falaremos sobre como criar limites para crianças. Talvez a pergunta não deveria ser Como, mas sim Quando. Afinal, toda criança precisa conhecer os limites pessoais e sociais ao longo de seu desenvolvimento e construção como indivíduo.

Mas levando em consideração a estrutura social de hoje, quem está disposto a estabelecer esses limites?

Limites para crianças: como lidar?

Em Fevereiro de 2009 eu estava cursando meu último ano da graduação em Comunicação Social e um dos orientadores do TCC trouxe para debate em sala de aula a revista Veja que trazia na capa uma matéria colocando um adolescente segurando a mão dos pais, um de cada lado, sendo ele maior que os pais.

O teor da matéria era o Poder na Decisão de Compra e escolha da família, custam muito caro e estão mais desorientados do que adolescentes das gerações anteriores.

É incrível que uma década depois as crianças foram quem assumiram esse papel, sendo elas as decisoras de compra da família, são muito caras e estão, pela primeira vez na história da humanidade, menos inteligentes que seus pais. A que atribuir isso?

Possibilidades de estabelecer limites para crianças nos tempos atuais

Nos anos 1980, quando eu era criança, adorava cantar uma música que tinha um refrão que dizia: “Certo ou errado? Quem não cai da escada não aprende a levantar, não está com nada…”

Nos tempos de hoje parece que as crianças estão sendo criadas dentro de incubadoras, tamanha é a superproteção sobre elas. Do que esses pais têm medo?

Há anos atrás eu me lembro que meus pais tinham um casal de amigos e eles tinham uma única filha.

Sobre a infância

Eu e ela éramos quase da mesma idade, cheguei a brincar uma ou duas vezes com ela apenas, pois tanto o pai quanto a mãe não a deixava falar com meninos, não podia sentar no chão para não pegar friagem, tampouco abrir a geladeira.

A pobre garota não podia brincar com nada que a sujasse, não podia beber nada gelado, tudo isso para que não ficasse doente. Hoje em dia essa garota tornou-se uma mulher, professora, uma adulta com a saúde bem frágil, vive doente e está grávida de 4 meses.

Da mesma maneira que esses pais cercaram a filha de experimentar tudo que a infância proporciona, principalmente o desenvolvimento do sistema imunológico, outros pais fazem o contrário e dão a criança a responsabilidade por tudo, dizendo SIM e se rendendo a todos os caprichos de uma criança que ainda não possui maturidade suficiente para assumir responsabilidades de escolhas da família, pois sua formação de Moral e Caráter ainda encontra-se em processo.

Dizer “não”: sobre estabelecer os limites das crianças

Para muitos pais dizer NÃO ao filho é o mesmo que negar algo a sua própria criança interior, ou seja, a realização no filho de seus próprios desejos não realizados quando eram crianças. É muito comum ouvirem pais dizerem:

“Falar NÃO para um filho dói mais em mim do que nele.” De fato é o inconsciente falando por ele, a mais pura verdade. Certa vez um dos meus analisandos me disse em uma de suas análises:

-“Eu quero dar a oportunidade do meu filho ter tudo que eu não tive.”

Meu questionamento foi:

-“O que você não teve?”

Ele demorou um tempo pra responder, ficou pensativo, olhou para todos os lados e disse:

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    -“Quando eu era moleque eu não tinha uma chuteira para jogar futebol, tinha que jogar descalço… Meu pai não tinha como ficar comprando roupa sempre, então as roupas dos meus irmãos mais velhos passavam pra mim…”

    Ouvi atentamente o relato que ele fez e o deixei desabafar tudo aquilo que o angustiava. O ápice de sua tristeza no olhar foi quando ele relatou:

    -“Semana passada levei ele numa loja de futebol pra comprar o que ele quisesse, falei pra ele aproveitar porque eu gostaria que o meu pai tivesse feito aquilo por mim… Mas o moleque disse que não queria nada.”

    Foi quando eu o questionei:

    -Seu filho gosta de futebol tanto quanto você?

    -Não, ele não curte tanto quanto eu.

    Bom, ali já tinha ficado muito claro que nada daquilo era para o filho, mas sim para ele mesmo.

    – Do que seu filho gosta? – Perguntei.

    Parece que o peguei desprevenido. Ele pensou em silêncio por alguns momentos e não soube responder. O pai não conhecia o próprio filho, dizia SIM para tudo que a criança queria, não para agradar ao garoto, mas para não frustrar a criança interior que habitava nele e continuava mais viva do que nunca. Acredito que de todos os atendimentos que eu já realizei, esse foi, até hoje, o caso mais explícito da dificuldade do pai em dizer NÃO pelo seu real motivo.

    Afinal, ter filho compensa?

    Em entrevista ao programa Roda Viva, o professor Leandro Karnal responde a uma pergunta: ter filho compensa?

    Ele então respondeu que o filho não é um investimento que compensa, porque o alto capital investido não gera retorno. Ainda segundo Karnal, os filhos quando crescem acusam os pais na adolescência de serem monstros e quando adultos vão ao terapeuta culpar os pais pelo estrago em suas vidas.

    Seriam essas crianças as mesmas que cresceram sempre ouvindo SIM e na adolescência conheceram o NÃO? Foram essas as crianças que não caíram da escada e, por não saber levantar, foram parar em um set analítico? Bem vindos ao século XXI.

    Este artigo sobre estabelecer limites para crianças foi escrito por Luiz Sansao([email protected]). A Terapia surgiu na minha vida por necessidade de sobrevivência. Filho de um pai narcisista e uma mãe empata, sofri com torturas psicológicas na infância e isso me fez buscar, por conta própria, entendimento através das terapias. Desde então a Psicanálise foi se fazendo presente em minha vida e guiando meus passos até me tornar um Psicanalista. A partir daí não parei mais, buscando sempre novas ferramentas para incluir nas terapias conduzidas por mim.

    6 thoughts on “Como estabelecer limites para crianças no século XXI?

    1. Djaci carneiro disse:

      Dei ao meu filho o q eu podia dar, mas, ele precisava cair da escada, amparei, não deixe-o cair.
      .
      Tornou-se adulto mimado, acabou no set analítico, queixando- se da Mãe. ?

    2. Alvaro Santos disse:

      Ouvi por inúmeras vezes, creio que até do Içami Tiba, que na educação de filhos é melhor errar no excesso de disciplina, que no excesso de liberdade. Algo a se pensar!

    3. Mizael Carvalho disse:

      Assunto importantíssimo, hoje os pais não sabem criar seus filhos ou também nem querem saber! Jogando a responsabilidade para as professores, avós e até para instituições religiosas. Parabéns pelo trabalho!

    4. Maria Raimunda Quirino de Sousa disse:

      Achei muito interessante o tema . Parabéns!

    5. Sayonara Café disse:

      Excelente artigo ! Hoje em dia , à frente das relações líquidas, observa-se que os divórcios prevalecem e ensejam a criação , não rara, dos filhos pelos pais “ solo” ( pai ou mãe ). Penso que esse “ fenômeno “ acarreta muitos “ sim “ e poucos “ não “ aos filhos. É uma especie de “ compensação “ pela “culpa” consciente ou inconsciente pelo fato da relação conjugal haver fracassado . Nessa ótica. somente Freud para responder essa questão !

    6. Adriana Ferreira Godinho Bitarães disse:

      Um dos textos mais interessantes que li aqui. A forma que o analista abordou o tema, a criança interior que ainda vive nos pais, tudo que foi falado é interessante para refletir e mudar nossos significantes. Poderia ter mais textos como esse de análise. Outra questão é que os pais não sabem dizer não e terceirizam o ato de serem pais aos professores, parentes, empregados, vizinhos e terapeutas. Os pais se perderam nos seus papéis.

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