mulheres que correm com lobos

Mulheres que correm com lobos: análise do livro de Clarissa Pinkola Estés

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O livro Mulheres que correm com lobos teve sua primeira versão publicada em 1992, foi escrito por Clarissa Pinkola Estés, nascida no ano de 1945, psicanalista junguiana.

Assim, como a própria se define, além de psicanalista é também uma contadora de histórias. Foi adotada por uma família de húngaros refugiados.

A trajetória da autora Clarissa Pinkola Estés

Cresceu na fronteira entre os estados de Michigan e Indiana nos EUA. Lá vivia em meio a natureza em seu estado mais puro, o que a fez crescer em um ambiente de liberdade, criatividade e imaginação livre, traços estes que estão diretamente ligados aos termos como “a la que sabe” ou mulher selvagem” que vemos em seu livro.

O livro não se trata de uma psicologia tradicional. A mulher selvagem está relacionada a instinto, que também é humano e animal. Também não podemos dizer que é um livro de auto-ajuda.

Isso porque ele tem uma intenção muito maior do que dar passos de como se tornar isso e aquilo, ele convoca mulheres a pensarem fora dos padrões, a questionarem o porquê de certas regras e determinações.

A inspiração do livro Mulheres que correm com lobos

Pinkola observou e percebeu que lobos saudáveis e mulheres saudáveis possuem certos detalhes psíquicos em comum. Mostrou que lobos servem como inspiração para mulheres dispostas a conhecer sua natureza selvagem.

  • Ambos possuem:
  • percepção aguçada;
  • resistência e força;
  • intuição aguçada;
  • grande preocupação com filhos;
  • se adaptam facilmente a situações;
  • possuem enorme determinação e coragem;
  • tanto um quanto outro foram perseguidos e marginalizados em algum momento da história.

O selvagem no livro Mulheres que correm com lobos

A autora naturaliza o selvagem e o afasta de ser algo ruim. Toda mulher ao ouvir a expressão “mulher selvagem” se identifica com algo, acessa alguma lembrança.

Toda mulher possui intuições e pressentimentos, mas só é possível ouvi-los se estiver atenta, com selvagem livre. Durante o livro a mulher vai acessar o que é a mulher selvagem, a partir de histórias e mitos contados.

Através dessas histórias contadas, Pinkola vai fazendo associações com simbolismos escondidos em mínimos detalhes das histórias como o Barba-azul, a menina dos fósforos, o patinho feio, tocaia ao intruso, entre outras. Essas histórias são analisadas e colocadas como alerta sobre a forma que a sociedade lida com o self selvagem da mulher, como algo ruim, que deva ser dominado.

A análise da psique feminina

O livro nos traz reflexões profundas sobre a psique feminina e como ela é direcionada. Vivemos em uma sociedade patriarcal, onde todas as normas e regras foram criadas por homens para homens, apenas os favorecendo. Hegemonia do poder. Tudo o que conhecemos e somos ensinadas desde que nascemos: fisiologia, psicologia, espiritualidade foi produzido por homens.

Existe um processo de alienação da mulher com ela mesma. E, seguindo essa lógica de se tornar mulher, vamos nos distanciando de no mesmas, do lado mais primitivo e verdadeiro. Viramos fantoches de nós mesmas para estar em sociedade.

As performances de feminilidade são uma castração do feminino, servem para estrangular a potencialidade do que é ser mulher e, isso é grave. Traz consequências psíquicas como baixo autoestima, depressão, ansiedade, síndrome da impostora, etc.

Mulheres que correm com lobos e o livre Barba-azul

Um dos contos mais famosos e conhecidos do livro é o do Barba-azul, onde Pinkola afirma que o Barba-azul representa um inimigo da psique feminina e está sempre esperando a oportunidade para atacar. Ele escolhe não por acaso a moça mais nova e inocente.

Suas irmãs já haviam enxergado seu lado ruim, já a caçula, se deixou levar pelo ego. “Muitas mulheres viveram literalmente o conto do Barba-azul. Elas se casam enquanto ainda são ingênuas a respeito de predadores, e escolhem um parceiro que é destrutivo para com a sua vida. Elas se sentem determinadas a “curar” aquele a quem amam. Estão, sob certo aspecto,

“brincando de casinha”. Poderíamos dizer que elas passaram muito tempo dizendo que a barba dele afinal não é tão azul assim […]. Quando uma alma jovem se casa com o predador, é capturada ou reprimida durante uma fase da sua vida que deveria ser de desdobramento. Em vez de viver livremente, ela começa a viver falsamente. A promessa enganosa do predador diz que a mulher será rainha de algum modo, quando de fato o que se planeja é seu assassinato. Há uma saída para evitar isso tudo, mas é preciso que se tenha a chave.” (PINKOLA, 2014, p. 65)

No conto a chave tem papel de conhecimento, da importância de se manter o insisto selvagem

Quando o Barba-azul ordena que ela não use a chave, é o mesmo que proibir ela de ter acesso a sua consciência, de chegar a mulher selvagem. Sentenciando a mulher a uma vida de obediência e servidão.

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    Grandes lições do livro Mulheres que correm com lobos

    Vemos a porta como barreira psíquica que esconde segredos. E para que ela abra é preciso ter a pergunta correta, aquela que provoca a transformação do ser. Depois que a verdade é exposta, não há mais voltas.

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    Quando mulheres abrem portas de sua liberdade e tomam posse se suas vidas, percebendo que estavam presas a relações por convenções cabem a elas aceitar a realidade vivida que se mostra a sua frente, fugir, pedir ajuda ou acabar com toda a situação. No conto a jovem ouviu a própria intuição e resolveu acabar com sua prisão, a ajuda de suas irmãs, mulheres também, mostra claramente o poder da mulher selvagem.

    É preciso sentir mais do que pensar, dar atenção a essas sensibilidades para se reconectar com esses avisos internos. A curiosidade e inquietude são sinais de alerta, da mulher atenta. Não é preciso temer portas! Não conseguiremos mediar o outro! O que podemos fazer é que o outro não tenha cúmplices dentro de nós mesmas. É preciso lidar com os predadores internos.

    Todas as mulheres são capazes de seguir os passos mostrados por Pinkola:

    • capacidade de farejar,
    • descobrir armadilhas,
    • reunir energia para a luta e
    • destruir o inimigo.

    O predador não morre, mas enfraquece!

    A estrutura do livro de Clarissa Pinkola Estés

    Clarissa vai capítulo a capítulo mostrando os passos para o resgate da intuição, do que é real, do desejo verdadeiro e não o imposto que existe dentro de cada mulher. É visível que este não é um caminho fácil, mas é o único para a liberdade feminina.

    Com a história da Vasalisa a autora nos convoca a esse resgate da intuição. A boneca dada pela mãe é uma potência de intuição. Ela dá tarefas a serem seguidas para que seja feito esse resgate.

    Ela diz que é preciso matar a mãe-boa-demais, que aquela que nos cerca de proteção (padrões sociais). Colocar limites, de forma positiva e sem medo. Mergulhar dentro de si, em suas sombras, parar de tentar ser “boazinha”, purificar e limpar de tudo aquilo que atrasa, seja sentimento ou coisas, andar com as próprias vontades e não dar força aos “predadores”.

    Conclusão

    Babayaga surge como a própria intuição, quanto mais ouvimos nossa intuição, maior ela fica dentro de nós. Lembrando que o ideal é o que é necessário em cada momento.

    O livro nos faz romper com o papel social feminino estabelecido pelas normas sociais e acaba por fazer uma chamada aos instintos mais primitivos e o encontro com o self selvagem.

    Lembrando que é impossível excluir o selvagem da vida. É preciso ser um canal de manifestação da vida! Uivar é dar salvas a vida!

    Este artigo foi escrito por Pamella Gualter(pamellagualterleite2017@gmail.com), estudante de Psicopedagogia e Psicanálise. Amo descobrir e conhecer como funciona a mente humana para a partir disso junto com o indivíduo chegarmos a um equilíbrio entre o que se é e, o que precisa ser para convivermos em sociedade, evitando sempre anular nossos desejos reais.

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