O superego é um conceito fundamental da teoria estrutural de Freud. Mas, o que é superego, como ele se forma, como ele funciona? Qual definição ou conceito de superego, de acordo com a teoria psicanalítica?
Por isso, neste artigo, vamos ver que o superego é uma parte da nossa mente (e da nossa personalidade), responsável pelos ditames morais. Em síntese, para Freud, representaria o pai e tudo o que fosse normativo. Isto é, é no superego que está nossa renúncia do prazer em prol do benefício da vida coletiva em sociedade.
Superego – elemento estrutural psíquico
Entender o que é superego não é difícil. Ele é um elemento estrutural do aparelho psíquico, responsável por imposição de sanções, normas, e padrões.
Tem sua formação pela introjeção dos conteúdos (superegóicos) advindos dos pais, e começa a se constituir com a resolução dos conflitos edípicos da fase fálica, a partir de cinco ou seis anos.
O superego envolve elementos:
- da moral socialmente partilhada: o sujeito percebe-se diante de interdições, proibições, leis, tabus etc. determinados pela sociedade, em que não poderá dar vazão a todos os seus desejos e impulsos;
- da idealização dos outros: o sujeito adota reverencia determinadas figuras (como o pai, um professor, um ídolo, um herói etc.);
- do ideal de eu: o sujeito se cobra para cumprir certas características e tarefas, então uma parte de seu “eu” cobrará a outra que não segue este padrão de exigência.
Diz-se que o superego é herdeiro do complexo de Édipo. Isso porque é no seio familiar que a criança percebe:
- as interdições (como os horários e tarefas a cumprir etc.), as repulsas (como o nojo ao incesto),
- o temor (ao pai, à castração etc.), a vergonha,
- a idealização do outro (normalmente quando a criança deixando de rivalizar com o adulto e toma-o como parâmetro de ser e de conduta).
O complexo de Édipo
Para a gente entender o que é superego, é preciso compreender também o Complexo de Édipo, que é conhecido como o filho que “mata” o pai para ficar com a mãe, mas sabe que ele mesmo se torna pai agora e vai poder ser morto também.
Para evitar isso, são criadas as normas sociais:
- o moral (o certo e o errado);
- a educação (para ensinar a cultura de não matar o novo “pai”);
- as leis;
- o divino;
- entre outros.
O herdeiro do complexo de Édipo
Considerado como herdeiro do complexo de Édipo, o superego começa a se constituir a partir do momento em que a criança renuncia ao pai/mãe, como objeto de amor e ódio.
Nesse momento a criança se desprende da figura dos pais e começa a valorizar a interação com outras pessoas. Além disso, nessa etapa também voltam suas atenções para relacionamentos com seus companheiros, nas atividades escolares, esportivas e tantas outras habilidades. (FADIMAN & FRAGER, 1986, p. 15)
Constituição do Superego
Assim, a constituição do superego vai contar com aparatos adquiridos com a passagem pelo complexo de Édipo, mas também com subsídios incorporados das imagens, falas e atitudes dos pais e pessoas que têm importância para o mundo infantil.
Diz-se que o complexo de Édipo foi bem resolvido quando o filho:
- deixa de desejar a mãe (surge o tabu do incesto) e
- deixa de rivalizar com o pai (adotando-o como ideal ou até mesmo “herói”).
Assim, o filho internaliza valores morais de maneira mais clara a partir do Édipo.
Na resolução do conflito edipiano, vai predominar na menina o superego materno e no menino, o superego paterno. Esta diferenciação entre o complexo de Édipo em meninos e em meninas foi debatido por Freud e está mais aprofundado em outro artigo nosso.
Embora conforme a cultura patriarcal ou matriarcal, o pai ou a mãe assuma o papel na formação do superego de ambos os sexos.
O superego surge também como noção de proteção e amor
O superego surge desse modo, como noção de certo e errado, não apenas como fonte de punição e ameaça, mas também de proteção e amor.
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Ele exerce autoridade moral sobre as ações e o pensamento, surgindo a partir de então atitudes como:
- vergonha;
- repulsa;
- e moralidade.
Afinal, essas características têm como objetivo fazer frente à tempestade ulterior da puberdade e a alicerçar o caminho dos desejos sexuais que vão despertando. (FADIMAN & FRAGER, 1986, p.15).
Princípio que rege o superego
“Pode-se então afirmar que o princípio que rege o superego é o moral, o que o torna responsável pela repreensão dos impulsos sexuais não resolvidos na fase fálica, (período entre cinco e dez anos denominado latência). Nessa fase os impulsos pré-genitais que não lograram êxito […] vão ser, a partir de então, recalcados ou transformados em atividades socialmente produtivas” (REIS; MAGALHÃES, GONÇALVES, 1984, p.40, 41).
O período de latência se caracteriza pelo desejo de aprender. A criança acumula conhecimento e se torna mais independente. Ou seja, começa a ter noções de certo e errado, e está mais apta a controlar seus impulsos destrutivos e anti-sociais.
O controle do Superego
Uma série de eventos acontecem com a finalidade de reforçar o controle do superego, dessa forma o antigo medo da castração é substituído pelo medo de:
- doenças;
- da perda;
- da morte;
- ou da solidão.
Nesse momento, nasce a internalização do sentimento de culpa ao considerar errado algo que para alguém é importante. A interdição passa a ser interna também e é realizada pelo superego.
Ou seja, é como se […] “ouvisse esta proibição dentro de si. Agora, não importa mais a ação para sentir-se culpado: o pensamento, o desejo de fazer algo mau se encarrega disso.” (BOCK, 2002, p.77).
O cuidado com o indivíduo na tenra idade
A maioria das crianças a partir de cinco anos já falam mesmo tendo um vocabulário limitado. Assim, nesse momento o que ela internaliza e ajuda a construir o superego, que é formado pelas respostas que recebe de seus pais e professores, a questionamentos levantados por elas, como por exemplo, sobre a vida, o tempo, a morte, o envelhecimento.
Por isso, 0 período de latência é uma fase de construção de valores que nortearão a conduta do indivíduo como nas demais fases.
Além disso, é importante responder com cuidado e responsabilidade as perguntas sobre sexualidade e morte, pois a criança está fortemente influenciada pela linguagem, evitando assim no futuro uma frustração pela resposta recebida.
Exemplificando a ação do superego
Para exemplificar a ação do superego na vida de um indivíduo, D’Andrea (1987) dá o seguinte exemplo:
[…] uma criança introjeta a figura de um pai que costuma dizer que o dinheiro é a coisa mais importante da vida. Então, no superego da criança cria-se o conceito de que o certo é ter dinheiro. Esta informação parcial obtida do pai pode ser mais tarde projetada numa figura do mundo externo […] esta mesma figura pode ser um usuário [pessoa gananciosa], ou mesmo um ladrão e por “imposição do superego” a criança se identificará negativamente. (D’ANDREA, 1987, p.77)
Manifestações do Superego
O superego é comparado a um filtro ou sensor, e é influenciado pelos princípios religiosos, cultural, história do povo, etc. Por isso, esse estatuto para “viver bem em relação” denomina-se “consciência” ou “voz da consciência”, e é o conhecido na nomenclatura psicanalítica, desde a publicação de o Ego e o Id, de Freud, em 1923.
O Superego é a terceira das instâncias em que consiste o aparelho psíquico na topografia hipotética de Freud. Por isso, a atividade do Superego pode se manifestar de várias maneiras. Assim, pode reger as atividades do Ego – em particular as atividades anti-instintivas, defensivas – de acordo com os seus padrões morais.
Dando origem a sentimentos punitivos
O Superego funciona, também, de maneira a dar origem, dentro do Ego, a um sentimento de culpa, de remorso, ou a um desejo de penitenciar-se ou de fazer reparação.
Podemos acrescentar que, constituem o Superego todo processo de educação e controle da sociedade, exercido de modo sistemático e assistemático.
Estas são as cinco funções do superego:
- auto-observação;
- a consciência moral;
- censura onírica;
- a influência principal na repressão;
- a exaltação dos ideais.
O superego rígido demais adoece
Costuma-se chamar de superego hiperrígido quando a mente segue regras morais e sociais muito numerosas, rigorosas, detalhistas. Com isso, o ego basicamente:
- só satisfaria o superego (idealizações, interdições, vergonhas, medos de frustrar os outros etc.) e
- não cederia a nada ou quase nada do id e do próprio desejo do sujeito.
No superego hiperrígido, apenas o desejo dos outros tem lugar na psique do sujeito. O sujeito, então, internaliza regras, interdições e idealizações que apagam outras dimensões do desejo que lhe seriam potencialmente próprias. Mesmo que isso seja uma “escolha livre” ou uma estruturação social vista como inescapável, o sujeito percebe uma tensão psíquica muito grande, que lhe gera sintomas (como ansiedade ou angústia).
O ego fragilizado pode ser em decorrência do superego muito rígido: o ego não negocia bem entre desejo individual e pressões sociais, pois só cede a estas últimas.
A questão seria, a cada analisando, entender:
- quais suas demandas de “cura”, isto é, quais motivos o levam a se tratar;
- como essas demandas afetam o analisando, ou seja, o que é para o analisando ter determinado sintoma;
- em que sentido o analisando está silenciando o próprio desejo para dar lugar ao desejo dos outros.
Com isso, tanto o superego muito rígido pode ceder, quanto o ego se fortalecer, porque teoricamente estará em uma condição de melhor conhecimento de si e de menor tensão psíquica. Isso pode ocorrer desde o início do tratamento (ou entrevistas preliminares) em psicanálise.
Uma pessoa pode ter uma moral muito rígida por motivos relacionados à criação familiar, à religião, à ideologia, entre outras razões.
A tarefa da terapia psicanalítica é o fortalecimento do ego, que seria:
- saber lidar com as questões psíquicas e com a realidade externa;
- saber colocar o seu desejo num lugar entre o id e o superego, isto é, num lugar confortável em que seja possível o gozo e o convívio;
- ressignificar sua trajetória de vida e seus projetos de futuro; e
- permitir o convívio razoável com os “egos” de outras pessoas.
Considerações finais sobre o superego
O Superego representa todas as restrições morais e todos os impulsos para a perfeição. Por isso, se nós trabalhamos com aspectos relativos à autoridade, como Estado, ciência, escola, polícia, religião, terapia etc., devemos compreender o que é o superego. E, assim, evitar que nossos ditames morais engessem a liberdade e a criatividade das pessoas.
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6 thoughts on “O que é Superego: conceito e funcionamento”
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