o que faz um psicoterapeuta

O que faz um Psicoterapeuta

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Hoje entenderemos sobre o que faz um psicoterapeuta. No âmbito da prática psicanalítica, na relação entre analisandos e analistas, temos, de início, o princípio da indecibilidade de origem, quer dizer, não se sabe muita coisa sobre o caminhar daquele processo: a origem dos sujeitos envolvidos, qual a formação do analista, em que situação atual encontra-se o analisando, de que forma o trabalho de um se realiza, qual o histórico de vida do outro.

O que faz um psicoterapeuta: papel do “não saber” na psicoterapia

É por meio desse “não saber” que se desenvolve a clínica psicanalítica. Interessante notar, ainda, que a psicanálise não deve se portar como um saber teleológico, onde os fins dos resultados do processo em si não estão colocados na forma de anterioridade tão pouco são antecipatórios em termos de diagnose.

Transferência e contratransferência

Há, no processo que se estabelece, um grau de angústia mútua, o que gera reações das mais diversas.

As duas principais reações da parte dos analisandos são as resistências e as projeções, que não deixa de ser uma forma de comunicação, mesmo que, em princípio, arcaicas em seu modo de expressão, proveniente mesmo do inconsciente. Essa performance do analisando, de uma maneira ou de outra, leva a reações do analista, movimento chamado de contrarreação.

De qualquer maneira, são esses movimentos trocados que abrem a possibilidade do estabelecimento de vínculos, sendo a oportunidade para se construir, de modo dialogado, algo significativo. Mas para que essas emoções sejam atingidas o analista não pode deixar-se enredar completamente pelas transferências do analisando, devendo manter-se numa postura que consiga gerar, também, o distanciamento, para que assim ele possa trabalhar a elaboração dos conteúdos psíquicos daquele. Esse movimento de aproximação e de distanciamento é constituinte do trabalho clínico.

O que faz um psicoterapeuta: um saber relacional e dialogado

As teorizações e a formação continuada são partes incontornáveis do bom trabalho psicanalítico. Elas fazem parte do seu gesto interpretativo, de assimilação dos conteúdos psíquicos dos analisandos.

Mas o trabalho do analista não deve se restringir ao movimento de assimilação, por meio da escuta, dos insights, das conjecturas racionais, das interpretações e afins. Ele deve avançar, em complemento, para o polo do analisando e abrir espaço para as incertezas que o Outro produz.

Seria uma operação de amortecimento das projeções do analisando, pari passu, com a retenção relativa dos conteúdos psíquicos em análise. O vínculo é importante, pois dele deriva um saber relacional e dialógico, impedindo uma espécie de imposição interpretativa por parte do analista

A elaboração psíquica tradicional e o trabalho do psicoterapeuta

A operação interpretativa tradicional, isto é, aquela que busca levar o inconsciente ao consciente, flexionando o processamento ativo, leva a elaboração de elementos trazidos ao campo.

O âmbito negativo, das incertezas, acaba sendo subutilizado, dado que o foco acaba sendo tão somente o conhecido, tanto no material psíquico em evidência quanto nas formulações teóricas mobilizadas.

O resultado desse trabalho estaria restrito ao que o aparelho do analisando tem capacidade de visibilizar. Dessa postura, seguindo as intuições de Jacques Rancière, resulta uma relação assimétrica, em que se tem um mestre sábio a conduzir e manejar os constructos dos pacientes.

O que faz um psicoterapeuta: Elogio do “não saber”

O não saber pode ser trazido, de todo modo, para o processo de análise de maneira virtuosa. O foco da psicanálise passa a ser a dúvida, a problematização, o que desestabiliza os conteúdos aparentes trazidos pelos analisandos e, correlatamente, a disposição de saber movimentada pelo analista.

Isso leva a um gesto mútuo de investigação constante, de desestabilização de verdades e de métodos. Além disso, as transferências e as contratransferências passam a ser elaboradas com maior significância, proporcionando crescimento mútuo.

Para que esse processo ocorra deve-se trabalhar com o “não saber”, com as incertezas, com as dúvidas, sem a necessidade de uma corrida pela verdade das coisas em termos objetivos, em termos de vida psíquica e em termos de abordagem psicanalítica.

Por uma teorização flutuante

Essa capacidade negativa da teoria, um modelo possível de clínica, se ampara na noção de teorização flutuante, dialogando com Piera Aulagnier. Uma teorização que leve em consideração a subjetividade do analista, que se movimente de forma adaptativa ante as demandas do analisando, evitando, assim, o determinismo metodológico.

É a criação de espaços de tolerância, de aliança, de relações, de composições, para que assim o self do paciente seja percebido não apenas pelo analista, mas por ele mesmo e a partir do vetor complexidade. É um elogio ao encontro, que não se dá por meio de padrões visíveis.

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    É uma ligação de pontos, um quebra cabeça, uma investigação continuada aberta à surpresa.

    Em busca da complexidade

    O que está em jogo é a busca da complexidade, tanto da técnica psicanalítica quanto das peculiaridades do aparelho psíquico do analisando. Esse gesto impede relações rápidas, e apressadas, entre sintomas e diagnósticos.

    Também retira o estatuto de mestre sábio do psicanalista, além de impor a diferença aos casos. O que se busca é complexificação da prática clínica e dos modos de perceber uma vida psíquica em específico.

    Se deseja modelos mais elásticos, mais flexíveis, articulando categorias porosas e não tomando as linguagens, derivadas de uma sintomatologia, como decalques da realidade psíquica. É um movimento, como já foi dito, que amplia as aptidões e a formação dos analistas e oferece maior dignidade a vida psíquica dos analisandos.

    Referências:

    KUNZ, Júlio César. Um ensaio sobre o não-saber como elemento do modelo estético de psicanálise. Revista CEPdePA, vol. 28, 2021.

    Este artigo sobre o que faz um psicoterapeuta foi escrito por Piero Detoni([email protected]), professor de História, graduado e Mestre em História pela UFOP, doutor em História Social pela USP e PD Júnior pela UNICAMP.

    4 thoughts on “O que faz um Psicoterapeuta

    1. Maria Auxiliadora Carvalho Roma disse:

      Parabéns PieroExcelente apresentação!!

    2. Achei o conteúdo meio complexo. Falou muito, mais não falou nada. Mas, o que faz um Psicoterapeuta?

      1. Achei o conteúdo meio complexo. Falou muito, mais não falou nada. Mas, “o que faz um Psicoterapeuta?”
        Seria um tema para distrinchar de forma que facilitasse o entendimente de quem ler. Um bom entendimento uma boa compreensão e uma boa aprendizagem.
        Mas valeu pelo conteúdo desafiador.

    3. Paula de Souza Ribeiro disse:

      Muito interessante a reflexão sobre o que move o psicoteraupeuta tornar-se, através de suas experiências práticas e teóricas, um profissional capaz de trabalhar diante das mais diversas situações. Excelente texto! Parabéns!

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